Dos sintomas ao efeito da vacinação, 5 respostas sobre a Covid prolongada

Falta de ar, fadiga ou falta de memória são alguns dos sintomas que persistem e, em certos casos, estão a ser associados à Covid prolongada. O ECO preparou um guia com 5 respostas sobre o tema.

A maioria das pessoas que foi infetada pelo SARS-CoV-2 recupera totalmente. Contudo, há vários milhões de recuperados um pouco por todo o mundo que continuam a desenvolver sintomas, que vão desde à fadiga extrema e falta de ar, à perda de paladar e olfato, até à “confusão mental”, e chegam a perdurar longos meses após a infeção.

Em causa está a Covid prolongada (ou “long Covid” na expressão em inglês), isto é, as sequelas que ficam após uma infeção por SARS-CoV-2. Ainda não existe uma definição universalmente aceite sobre o assunto, ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) se tenha referido pela primeira vez a esta condição, em outubro do ano passado, como “condição pós-Covid-19”.

As causas estão também ainda pouco definidas, havendo a possibilidade de “um reservatório do coronavírus permanecer após a infeção aguda em vários tecidos, como o intestino, fígado ou cérebro, e continuar a causar danos”, ou até a “resposta desencadeada pela infeção inicial poder gerar anticorpos e outros mecanismos imunológicos contra os próprios tecidos” e continuar a causar complicações após a infeção ter sido eliminada, de acordo com um artigo publicado na revista científica Nature, a 23 de novembro de 2021.

Mas afinal, o que é a Covid prolongada, que sintomas estão associados a esta condição e qual é o papel da vacinação na prevenção? O ECO preparou um guia com cinco perguntas e respostas sobre o tema.

1. Qual é a definição de Covid prolongada?

Ainda não há uma definição universalmente aceite sobre esta condição. Não obstante, a 6 de outubro de 2021, a OMS considerou que a “condição pós Covid” ocorre em “indivíduos com histórico de infeção provável ou confirmada por SARS-CoV-2, geralmente três meses após o início da Covid com sintomas e que duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo“.

Não obstante, no relatório publicado na altura, a entidade liderada por Tedros Adhanom Ghebreyesus sublinhou que esta definição “irá provavelmente sofrer alterações à medida que surgirem novas evidências científicas”, dado que ainda há muitas questões sem resposta relativamente a esta doença e às suas sequelas. Apesar da definição da OMS, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, por exemplo, apelida de “contínuo sintomático Covid” os pacientes que tenham sintomas que duram mais de quatro semanas e de “síndrome pós-Covid” se os sintomas durarem mais de 12 semanas.

2. Que sintomas são conhecidos e associados a esta condição?

Há uma panóplia de sintomas que estão a ser associados à Covid prolongada. A título de exemplo, um estudo realizado pela University College London identificou mais de 200 sintomas, perante a análise de 3.762 pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 provenientes de 56 países e cujos sintomas prevaleciam após 28 dias. Nesta investigação, os cientistas identificaram 203 sintomas diferentes, dos quais 66 foram monitorizados ao longo de sete meses, segundo o estudo publicado na revista científica The Lancet, em julho do ano passado.

Em outubro do ano passado, a OMS revelou que os sintomas mais comuns incluem fadiga, falta de ar, disfunção cognitiva, os quais podem surgir após a recuperação inicial de um episódio agudo de Covid-19 ou persistir desde o início da infeção. No entanto, esta lista tem sido alargada, sendo que atualmente há quem reporte sintomas ao nível respiratório e cardiovascular, como falta de ar, tosse, aperto ou dor no peito e palpitações, sintomas mais generalizados como febre, dores musculares ou nas articulações, problemas do foro neurológico, como perda de memória ou de concentração, perturbação do sono, dormência, tonturas ou delírios (em idosos), bem como problemas gastrointestinais, como náuseas ou diarreia, segundo a Bloomberg.

Assim, para alguns doentes indivíduos, os sintomas associados à Covid prolongada são suaves, contudo para outros afetam em, larga medida, o seu dia-a-dia, levando, inclusivamente, a mudanças de vida. Quase um terço dos pacientes com Covid prolongada que estavam a ser acompanhados na clínica do cientista e fisioterapeuta David Putrino relataram que desenvolveram graves dificuldades cognitivas que afetaram a sua capacidade para se concentrarem, falarem ou de memória, que não estavam presentes antes de contraírem o vírus, segundo relatou o investigador à revista Nature. Além disso, cerca de 60% dos pacientes de Putrino relatam que tiveram que mudar de emprego ou parar de trabalhar em resultado da doença.

3. A Covid é necessariamente a causa destes sintomas? E qual é a sua duração?

Importa sublinhar que o surgimento destes sintomas podem não ser necessariamente causados pela infeção prévia por SARS-CoV-2. Alguns destes sintomas podem surgir sem qualquer causa necessária ou serem desencadeados por um período de maior stress ou ansiedade. Além disso, as restrições impostas para conter a pandemia, como o encerramento de várias atividades, as restrições de viagens e os lockdowns, afetaram em larga escala a saúde mental dos cidadãos, pelo que isso poderá refletir-se.

Quanto à duração dos sintomas é ainda uma das incógnitas, podendo esta variar de pessoa para pessoa e chegar a durar vários meses. Um estudo do Reino Unido revelou que entre 7% a 18% que contraíram Covid continuaram a ter sintomas pelo menos durante as cinco semanas, após a infeção. Ao mesmo tempo, um outro estudo feito em larga escala e publicado em novembro pelo departamento responsável pelos veteranos dos EUA estima que 7% das pessoas que foram infetadas tenham desenvolvido pelo menos um sintoma de “long Covid” seis meses após a infeção, segundo a Bloomberg. Além disso, os investigadores encontraram também diferenças nos sintomas em face da etnia, idade, sexo ou estado de saúde inicial dos pacientes.

4. O que é que as pessoas que sofrem este tipo de sintomas devem fazer?

Em declarações ao ECO, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) assinala que o “primeiro passo é ir ao médico de família”, sinalizando que “infelizmente ainda não existem muitas consultas” para fazer o acompanhamento desta patologia em Portugal. No entanto, Gustavo Tato Borges adianta que “nos principais hospitais do país já começa a haver consultas que permitem ter alguma capacidade de resposta” quer num âmbito interventivo, isto é, para “recuperar e minimizar as capacidades perdidas”, mas também para “estudar e perceber o que foi afetado”.

Nesse sentido, o presidente da ANMSP defende que o estudo desta condição deve contar com a participação de várias áreas, nomeadamente da cardiologia, neurologia, infecciologia, pneumologia e medicina interna. No Reino Unido, por exemplo, um grupo de investigadores propuseram, em julho, que fosse criado um programa nacional de triagem, com o intuito de ajudar a compreender quantas pessoas estão nesta situação, bem como que tipo de apoio de que necessitam. O ECO questionou a DGS sobre se, eventualmente, uma iniciativa semelhante estava em cima da mesa, mas o organismo referiu apenas que “está a acompanhar a evolução do conhecimento científico sobre este tema”.

5. Vacinados têm menor probabilidade de desenvolver Covid prolongada?

Já está cientificamente comprovado que as vacinas reduzem, em larga medida, o risco de desenvolver doença grave por Covid-19. Não obstante, os estudos recentes apontam também que as vacinas reduzem o risco de desenvolver Covid prolongada. A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido concluiu na quarta-feira, perante a análise a 15 estudos britânicos e internacionais, que os indivíduos vacinados têm menor probabilidade de desenvolver Covid prolongada, bem como aqueles que foram infetados e depois vacinados, em comparação com indivíduos não vacinados.

Uma das explicações apontadas pelos cientistas é que a vacina pode ajudar “a limpar os reservatórios de vírus que ainda existam no corpo, ou fragmentos de vírus que provoquem inflamação contínua”, escreve o The Guardian. Estas conclusões estão, deste modo, em linha com outros estudos já realizados, que sugerem que a probabilidade de desenvolver Covid prolongada é reduzida para metade nos vacinados que foram previamente infetados, segundo a Nature.

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