Navio Felicity Ace: perda da carga pode custar 500 milhões às seguradoras

  • ECO Seguros
  • 20 Fevereiro 2022

Operadora do navio espera que, 7 dias após alerta de incêndio, esteja no local do sinistro equipamento enviado de Roterdão para combater o fogo e contar salvados entre milhares carros de luxo a bordo.

A perda quase certa de milhares de automóveis transportados no navio Felicity Ace – à deriva próximo da ilha do Faial, nos Açores – devido a um incêndio a bordo, poderá custar cerca de 500 milhões de dólares à indústria de (re)seguro, avança notícia do portal Reinsurance News, com base em cálculos da Skytek, tecnológica irlandesa que é consultora em sinistro marítimo e também especialista em software para indústria aeroespacial, segurança e gestão de crise.

Alegadamente com 3 965 automóveis a bordo (uma carga inteiramente composta de viaturas de marcas do grupo Volkswagen AG, incluindo modelos Porsche, Audi, Lamborghini e Bentley), a embarcação da classe RoRo cumpria voyage de Emden (Alemanha) com destino ao porto de Davisville, em Rhode Island (EUA).

Felicity Ace incendiado próximo dos Açores. Imagem @Marinha PortuguesaMarinha Portuguesa

O navio, operado pela Mitsui OSK Lines (MOL), tem a Snowcape Car Carriers como proprietário registado. Em nota divulgada três dias depois do resgate da tripulação, a MOL (Singapura) confirmou que a embarcação continuava a arder, esperando que a 23-24 de fevereiro chegue ao local do sinistro equipamento, vindo de Roterdão, para resolver o incêndio iniciado 7-8 dias antes.

Incêndios a bordo e carros elétricos, fogo difícil de extinguir

Na semana do sinistro envolvendo o Felicity Age, outro incêndio deflagrou no porão de um segundo navio (Euroferry Olympia, propriedade da Grimaldi), en route de Grécia para Itália. O ferry, com 239 passageiros a bordo e cerca de 50 tripulantes, transportava mais de 150 veículos pesados e 32 ligeiros. O fogo teve origem na garagem (do navio). 11 pessoas ainda eram dadas como desaparecidas no dia seguinte.

Se neste caso não se refere existência de veículos elétricos (EV), no sinistro do Felicity sim. As seguradoras (P&I Clubs) e a academia já têm sinalizado preocupação com incêndios envolvendo riscos associados à queima das baterias de lítio que equipam os automóveis elétricos (EV), pela toxicidade dos gases libertados e extrema dificuldade de extinguir o fogo, sobretudo quando os carros são armazenados ou transportados, às vezes em modo de recarga, em grandes quantidades em espaços fechados de difícil acesso, como porões.

Um documento do UK P&I Club NV (subsidiária europeia da UK P&I estabelecida nos Países Baixos para operar na UE após o Brexit), aborda os riscos acrescidos nos incêndios a bordo de navios que transportam EV. No artigo, a mútua britânica de Proteção e Indemnização apresenta breve resumo de sinistros semelhantes ao do barco que ardeu perto dos Açores, um dos quais aconteceu no Pacífico, há cerca de 3 anos, com outro navio operado pela MOL, o Sincerity Ace. Incendiou-se com 3 500 viaturas a bordo, a tripulação foi resgatada e o navio ardeu, sendo depois rebocado para o Japão.

Incêndios causa de perda total em navios atingem recorde de 10 anos

Embora as perdas por sinistros no transporte marítimo tenham diminuído 50% na última década, os incêndios a bordo de navios continuam a ser uma das maiores preocupações em matéria de segurança em consequência de incremento significativo ao longo de muitos anos.

Nos últimos dez anos, segundo a AGCS (braço do grupo Allianz para grandes riscos), os incêndios foram a terceira maior causa de perdas em navios, e os incêndios que resultam em perdas totais atingiram um máximo de 10 anos no final de 2020. No entanto, apontando tendência, “a indústria naval viu o seu histórico de segurança melhorar significativamente durante a última década, com o número de perdas totais agora em mínimos históricos”, acrescenta o site Reinsurance News citando o capitão Rahul Khanna, Global Head of Marine Risk Consulting na AGCS.

O Felicity Ace, um navio da classe RoRo (embarcações concebidas para o transporte de veículos), navegava o Atlântico quando emitiu um alerta de “fogo ativo no porão de carga”, na passada quarta-feira. Na altura do incidente, o barco – medindo 200 metros (da proa à popa), calado (altura) próximo de 15 metros e arqueação bruta (GT) superior a 60 100 t – posicionava-se a 90 milhas náuticas (cerca de 170 quilómetros) a sudoeste da ilha do Faial. Os 22 tripulantes da embarcação foram resgatados em segurança em operação de Marinha e Força Aérea portuguesas e alojados em unidade hoteleira, na Horta.

O navio ficou à deriva no mar com o fogo a alastrar pelos compartimentos de carga. “O armador do navio Felicity Ace está em contacto com o agente logístico no sentido de ser delineado plano de reboque do navio,” indicou a Marinha no dia seguinte ao resgate dos tripulantes.

Acompanhando a evolução da situação do barco no mar dos Açores, a Marinha referia na 5ª feira: “O fogo continua ativo a bordo” do Felicity Ace. O navio patrulha oceânico NRP Setúbal permanece no local a acompanhar a situação, “não sendo visíveis, até ao momento, quaisquer vestígios de poluição na área”, documenta nota divulgada no sítio eletrónico da Armada.

O capitão do Porto da Horta, João Mendes Cabeças disse à Agência Lusa que “todo o navio, desde a proa à popa está a arder”, mas sem problemas de poluição, pelo que o “principal perigo” residia no facto de “estar à deriva,” totalmente descomandado. Segundo explicou o oficial de marinha, “tendo em conta o material que o navio transporta, nomeadamente automóveis, a maioria dos quais elétricos, as baterias vão continuar a arder.”

Entretanto, sexta-feira, já estavam na cidade da Horta (Faial) cerca de 10 técnicos da empresa holandesa SMIT Salvage prontos para embarcar para o local das operações, para avaliar a situação, noticiou a Lusa indicando que a empresa Royal Boskalis Westminster NV, responsável pelo envio da equipa de salvamento, apresenta-se como “especialista global em salvamento marítimo e possui várias parcerias estratégicas em serviços de reboque e terminais portuários”.

 

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