Imobiliário lamenta falta de apoios nos edifícios sustentáveis. “Fazemos um investimento brutal e temos zero benefícios”

Numa altura em que cada vez mais se fala em sustentabilidade e certificação energética no imobiliário, o setor defende mais apoio do Estado, através, por exemplo, da redução do IVA.

É um dos temas mais falados e já chegou a todos os setores. A sustentabilidade está presente em tudo, até mesmo no imobiliário, e o Estado tem alguns apoios criados de forma a incentivar os privados a entrarem nesta realidade urgente. Mas as grandes empresas também reclamam apoios, e não necessariamente em forma de cheques. Construir ou reabilitar um prédio assente nos critérios de sustentabilidade implica um “investimento brutal” que, claro, será compensado no futuro. Mas o setor pede mais, sobretudo numa altura em que os custos de construção estão a disparar.

“Já estamos tão preocupados e pressionados pelo aumento dos custos de construção que podemos ter de enfrentar um atraso real com estes desafios da certificação energética e da sustentabilidade”, diz ao ECO Pedro Vicente, administrador da Habitat Invest. “A pressão de que estamos a ser vítimas está a comprometer business plans que já estavam fechados”, acrescenta.

A Habitat Invest é focada no mercado residencial e conta com 15 projetos, num total de 430 milhões de euros investidos. O próximo lançamento são 407 apartamentos, naquele que será o primeiro edifício da empresa com certificação BREEAM, o primeiro sistema de avaliação da sustentabilidade na construção a oferecer um selo ambiental para edifícios. “Estamos sempre preocupados com essa matéria [sustentabilidade]”, diz Pedro Vicente, notando, contudo, que isso tem custos.

Com a situação em que vivemos, de uma pressão nos preços da construção, com uma repercussão dramática no preço da habitação, só mesmo com políticas públicas. Precisávamos de uma reação mais musculada nesse sentido.

Pedro Vicente

Administrador da Habitat Invest

“Era importante que houvesse políticas públicas destinadas a incentivar ações nesse sentido e que pudessem apoiar os promotores”, explica o responsável, notando que “há critérios ambientais que já são obrigatórios e que têm vindo a apertar”. “Com a situação em que vivemos, de uma pressão nos preços da construção, com uma repercussão dramática no preço da habitação, só mesmo com políticas públicas. Precisávamos de uma reação mais musculada nesse sentido“, acrescenta.

No mercado de escritórios, a situação é semelhante. “Se eu for um particular e quiser trocar uma janela, se calhar consigo ter algum apoio do Estado, mas o impacto real no ambiente é mínimo”, diz Tiago Brandão, diretor-geral da Incus Capital, referindo-se ao programa “Edifícios + Sustentáveis”. “Comparando com um edifício inteiro, eu faço um investimento brutal e tenho zero benefícios”, acrescenta.

O responsável defende, assim, “algum apoio ou incentivo”, até “porque o imobiliário é responsável por uma grande produção de CO2”. E os apoios não precisam de ser em forma de cheque, diz, dando como exemplo uma redução no IVA ou até mesmo no IMI. Além disso, “a parte da regulamentação bancária também podia ajudar”, através de custos de financiamento mais baixos. “Seria uma forma de incentivar os bancos a financiarem projetos mais verdes e terem mais promotores no mercado de financiamento”, diz Tiago Brandão.

Ainda no mercado de escritórios, mas com um pé no setor do retalho (Almada Fórum), a espanhola Merlin Properties adianta que 90% dos edifícios que tem “estão certificados”. “Não o fazemos à espera que o Estado nos financie de alguma maneira, fazemo-lo por responsabilidade social e porque temos a certeza que edifícios mais sustentáveis permitem maiores poupanças energéticas“, diz ao ECO o diretor-geral da Merlin em Portugal.

Um benefício ou um apoio via redução da tributação (por exemplo sobre IVA) seria bastante interessante para este tipo de intervenções, da mesma maneira que existe para a reabilitação.

Telmo Antunes

Arquiteto da Merlin Properties

Apesar disso, a empresa reconhece que um apoio do Estado seria bem-vindo. “Um benefício ou um apoio via redução da tributação (por exemplo sobre IVA) seria bastante interessante para este tipo de intervenções, da mesma maneira que existe para a reabilitação”, diz Telmo Antunes, arquiteto da Merlin. Mas o investimento que se faz na sustentabilidade “é tendo em conta o retorno”, uma vez que “resulta numa redução do consumo energético”.

Uma opinião diferente tem Pedro Coelho, CEO da Square AM, dona de vários centros comerciais no país, que considera que não há necessidade de o Estado apoiar as empresas neste campo. “Prefiro não pedir nada ao Estado. E, por outro lado, os atores são mais profissionais e tem obrigação de saber gerir melhor [o investimento]“, diz ao ECO, referindo-se às ajudas do Governo para os pequenos proprietários.

Pedro Coelho acredita, assim, que “se o IVA [por exemplo] for reduzido nisto, vai ter de ser aumentado noutra coisa”. “A médio-prazo, quem tiver investido em imobiliário sustentável vai ser compensado. Obviamente a longo prazo os ativos vão ser mais valorizados”, remata o responsável.

O Governo criou em 2020 o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis, com uma verba inicial de 9,5 milhões de euros, para apoiar investimentos em equipamentos que tornem as habitações mais sustentáveis do ponto de vista energético, tais como janelas eficientes ou painéis solares. A iniciativa tem tido tanta adesão que o Executivo já reforçou a sua dotação várias vezes.

O ECO questionou o Ministério do Ambiente para saber se equaciona avançar com algum tipo de apoio ou incentivo à reabilitação/construção em grande escala, mas este respondeu que “não estão previstos incentivos” e que “a prioridade, em termos de apoios, passa pela renovação do edificado (ex.: Programa Edifícios mais Sustentáveis), e não pela nova construção”.

O Ministério de João Pedro Matos Fernandes disse ainda que não acredita que os promotores imobiliários apostem menos na sustentabilidade tendo em conta o aumento dos custos de construção. E afirma que “o setor da construção irá necessariamente acompanhar o esforço nacional de descarbonização, pelo que o caminho será de um setor que empregará cada vez mais técnicas de construção sustentável“.

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