Juros da dívida afundam com investidores à espera de BCE mais cauteloso com guerra na Ucrânia

Taxas das obrigações dos países da Zona Euro registaram quedas significativas esta terça, com os investidores a ajustarem-se a uma expectativa de um BCE mais cauteloso no aperto da política monetária.

Os juros da dívida dos governos da Zona Euro registaram um autêntico afundanço na última sessão, refletindo um movimento de ajustamento de expectativas bastante agressivo por parte dos investidores em relação a subidas dos juros do Banco Central Europeu (BCE), que poderão agora ocorrer mais tarde do que o previsto tendo em conta as consequências económicas da invasão militar da Rússia na Ucrânia.

A yield associada às obrigações do Tesouro a dez anos de Portugal tombou cerca de 30 pontos base esta terça-feira, passando dos 1,032% para 0,734% em poucas horas de negociação no mercado secundário, estabilizando na sessão desta quarta.

O mesmo aconteceu com os títulos italianos, espanhóis e alemães. No caso das obrigações germânicas, a referência no mercado, a taxa voltou a terreno negativo, passando dos 0,159% para -0,071%, naquela que foi a maior queda desde 2011.

Os juros italianos no mesmo prazo caíram de 1,741% para 1,394%, uma descida de 35 pontos base, enquanto a taxa espanhola cedeu 28 pontos base para 0,848%, antes de estabilizarem hoje.

Os mercados monetários da Zona Euro estão agora a contar com uma subida de menos de 20 pontos base dos juros do BCE até dezembro, prevendo um aumento de dez pontos até outubro, quando dantes previam subidas mais drásticas e mais rápidas para fazer face à aceleração dos preços. Contudo, a guerra na Ucrânia veio baralhar todas as contas.

Juros afundam

Fonte: Reuters

Os decisores de política monetária admitem que o banco central deve ter uma abordagem mais cautelosa face à incerteza relacionada com o conflito militar no leste europeu, adiando a retirada dos estímulos até se perceber a extensão das consequências e o custo da guerra e das sanções na economia da Zona Euro.

“Seria imprudente avançar [com o fim dos estímulos] até que tenhamos uma forte confirmação de que tanto a inflação real quanto a esperada se estão a fixar de forma duradoura em 2% num mundo de condições de financiamento mais apertadas”, afirmou Fabio Panetta, membro do board do BCE, citado pela agência Reuters.

Mário Centeno disse em entrevista à agência Bloomberg na passada segunda-feira que um cenário de estagflação na Zona Euro não está fora das possibilidades e que é preciso ajustar a política a essa ameaça.

“Parece que os mercados começaram a reavaliar as perspetivas da política monetária. O foco estava no impacto da guerra na inflação que manteria o BCE no caminho de aumentos de juros e fim das compras de ativos”, disse Jan von Gerich, analista do Nordea. “Agora, o pensamento é que a perspetiva (política) não mudará tão rapidamente e, portanto, os juros estão a cair e os spreads apertarem”, acrescentou.

Com o mercado estabilizado na sessão desta quarta-feira, os investidores ficaram a saber que a taxa de inflação na Zona Euro subiu para 5,8% em fevereiro, acima dos 5,5% esperados pelos analistas sondados pela Reuters.

A próxima reunião de política monetária do BCE está agendada para o próximo dia 10, onde é expectável que Christine Lagarde forneça mais pistas sobre qual vai ser a postura do banco central perante os últimos desenvolvimentos.

“As taxas negativas [do BCE] provavelmente persistirão um pouco mais do que esperávamos inicialmente, devido ao grande grau de incerteza”, sublinhou o analista do JPMorgan Private Bank Madison Fuller.

Ninguém podem esperar seriamente que o BCE comece a normalizar a sua política monetária num momento de elevada incerteza como este“, antecipa Carsten Brzeski, do banco ING.

(Notícia atualizada às 11h33)

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