Portugal obtém juros mais baixos a cinco anos, mas superiores na emissão a 12 anos
A cinco anos, Portugal conseguiu emitir com juros mais baixos, mas no prazo mais longo, a doze anos, os investidores exigiram um juro maior face à emissão anterior comparável.
Na primeira emissão desde que a guerra voltou à Europa com a invasão russa na Ucrânia, o IGCP foi esta quarta-feira aos mercados financeiros emitir mil milhões de euros de dívida pública portuguesa de cinco e doze anos. No prazo mais curto, a cinco anos, a taxa de juro pedida pelos investidores foi inferior à da anterior emissão comparável. Contudo, no prazo mais longo, a 12 anos, os mercados exigiram uma taxa de juro maior do que no leilão anterior comparável.
De acordo com os dados da Reuters, nos títulos com maturidade de cinco anos, o IGCP financiou-se em 500 milhões de euros, com uma taxa de 0,217%, em comparação com 0,603% no leilão anterior. A oferta superou em 2,04 vezes a procura, face a 2,06 vezes no leilão anterior.
Nos títulos com maturidade de 12 anos, o IGCP financiou-se também em 500 milhões de euros, com uma taxa de 1,154%, face a 0,841% no leilão anterior. A oferta superou em 1,58 vezes a procura, menos do que o rácio de 1,68 do leilão anterior.
A agência que gere a dívida pública portuguesa conseguiu captar o montante máximo pretendido de mil milhões de euros, tal como anunciado na semana passada. Na última emissão a longo prazo, em fevereiro, a instituição liderada por Cristina Casalinho tinha emitido dívida a 9 anos com um juro de 1,008%. Neste momento, os juros da dívida a 10 anos no mercado secundário estão à volta de 1%.
Por um lado, os resultados do duplo leilão desta quarta-feira sugerem que, em comparação com a altura do último leilão comparável, os investidores estão a antecipar um processo de normalização da política monetária — com menos aquisição de dívida pública por parte do Banco Central Europeu (BCE) e eventuais subidas de juro — mais lento do que anteriormente por causa da instabilidade geopolítica e os potenciais efeitos da subida dos preços, particularmente da energia, na atividade económica. Daí que os juros pedidos a cinco anos tenham registado uma queda.
Por outro lado, a subida dos juros a 12 anos indicam que os mercados financeiros não têm dúvidas de que o “preço” do dinheiro terá de subir nos próximos anos para combater a aceleração da taxa de inflação na Zona Euro, podendo o novo equilíbrio dos juros fixar-se num patamar superior ao esperado anteriormente.
Em reação aos resultados deste leilão, Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, começa por dizer que “as taxas da dívida soberana europeia, vinham a apresentar desde o início do ano uma tendência ascendente, o que implica prémios de risco mais elevados para os diferentes emitentes“. Contudo, “os atuais conflitos entre a Rússia e a Ucrânia vieram inverter, pelo menos no curto prazo, esta tendência o que acabou por permitir que o leilão de hoje acabasse com taxas mais baixas para Portugal” a cinco anos.
Esta semana será particularmente importante para o rumo da política monetária (e, por isso, dos juros exigidos pelos investidores a Portugal) com a reunião do BCE marcada para esta quinta-feira. O conselho de governadores terá à sua disposição as novas projeções do staff dos bancos centrais e irá digerir os recentes desenvolvimentos geopolíticos e da dinâmica de preços nos mercados financeiros. “Aguarda-se com alguma expectativa a próxima reunião do Banco Central Europeu para perceber que medidas irão ser adotadas, numa fase em que nos debatemos com inflação elevada e um conflito às portas da Europa, que direta ou indiretamente acabam por afetar todas as geografias”, acrescenta Filipe Silva.
Ainda esta terça-feira, em declarações ao ECO, o ex-vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, dizia que os “juros vão iniciar ciclo de aumentos”, mas recomendava um “sensato gradualismo”. Há meses que, perante a escalada dos preços da energia, a presidente do BCE, Christine Lagarde, tem prometido flexibilidade e gradualismo na política monetária. Este ano os juros das dívidas públicas tinham subido no mercado secundário por causa da aceleração da taxa de inflação, mas nas últimas duas semanas aliviaram por causa da guerra na Europa.
(Notícia atualizada às 11h30 com mais informação)
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