O novo mundo do trabalho
Neste pós-pandemia, será determinante para as empresas e para os seus líderes, saberem lidar com a adoção do teletrabalho para o bem-estar dos negócios, mas, principalmente, dos colaboradores.
“The Great Resignation”, o fenómeno de despedimentos que teve início nos Estados Unidos da América parece estar mais estabilizado. Na Europa estamos agora focados em apoiar as pessoas que, face aos acontecimentos geopolíticos, se viram obrigadas a deixar a sua nação. Estaremos a assistir a mais uma revolução na geografia política do mundo? É muito provável que sim, que tudo seja diferente a partir de agora.
Enquanto os governos começam a preparar e a apresentar as suas propostas para aliviar as medidas de restrição impostas pela COVID-19, temos um novo desafio geopolítico, geoestratégico e geoeconómico pela frente: milhões de pessoas estão a precisar do apoio de governos, empresas e cidadãos de vários países e, em particular, dos europeus. Também os impactos das sanções económicas começam a sentir-se no dia a dia.
E as empresas, as suas culturas organizacionais e os modelos de trabalho serão, igualmente, impactados? A conexão de proximidade do mundo — a chamada globalização –, tem evidenciado que acontecimentos relevantes não afetam exclusivamente a geografia onde têm origem, mas propagam-se velozmente pelo mundo, impondo respostas e mudanças que se configurem adequadas. Isto leva-me a crer que sim, é inevitável que o impacto se verifique, com maior incidência nuns determinados pontos do globo do que noutros, por virtude de características sociais, económicas e culturais.
Mas, recuemos um pouco no tempo. Um dos aspetos que a pandemia alterou, profundamente, foi o modelo de trabalho. O teletrabalho, adotado no início da pandemia em todo o mundo – em março e abril de 2020 –, como resposta para conter os contágios, foi um dos pontos de partida para uma grande mudança no mundo laboral. Em meados de 2021, nos Estados Unidos da América, o movimento “The Great Resignation” – a grande resignação se quisermos traduzir à letra – levou à renúncia em massa de colaboradores, por iniciativa dos próprios. Segundo dados do U.S Bureau of Labor Statistics, entre setembro e dezembro de 2021, a média mensal de renúncias de trabalho foi de 4,3 milhões, sendo que, em novembro, foi atingido o pico de 4,5 milhões. Os especialistas acreditam que este movimento se vai manter na América do Norte em 2022, mas com números bem mais reduzidos.
Porquê a “Great Resignation”? Mais do que uma questão salarial, falamos de cidadãos norte-americanos, de diferentes setores de atividade, que deixaram de se rever no trabalho que desenvolviam, que começaram a refletir sobre o que realmente os fazia sentir felizes e, principalmente, porque não se reviam num trabalho que os obrigava a estar fechados num escritório oito horas por dia, cinco dias por semana.
Atrevo-me a dizer que este pensamento deve ser transversal a todas as pessoas que experienciaram, devido à pandemia, o trabalho a partir de casa. A pandemia fez-nos refletir sobre as nossas prioridades e o papel do trabalho nas nossas vidas, levando-nos a questionar onde, como e porque trabalhamos. Se algumas pessoas descobriram novas paixões e procuram fazer uma transição de carreira profissional, outras querem passar a ter o controlo da sua vida pessoal e do seu trabalho, que antes não sentiam ter. O equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional passou a ser uma frase de conteúdo efetivo, com propósito.
Neste pós-pandemia, será determinante para as empresas e para os seus líderes, saberem lidar com a adoção do teletrabalho para o bem-estar dos negócios, mas, principalmente, para o bem-estar dos colaboradores e das equipas. As pessoas dão cada vez maior ênfase à saúde mental e sentem necessidade de encontrar um trabalho em que o empregador se preocupe em proporcionar um maior equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal.
A flexibilidade, que trará melhor equilíbrio e contribuirá para a saúde mental, felicidade e produtividade, consegue-se com culturas organizacionais inclusivas e diversas, que atendem às expectativas dos colaboradores de forma personalizada. A cultura flexível pode ser uma das ferramentas para a retenção de talento, especialmente nestes momentos de céleres mudanças que continuamos a viver.
Quem somos como empresa, o que defendemos, o que queremos mudar no mundo e o que damos em troca a quem se quiser juntar a nós, são perguntas que os líderes têm que fazer e responder. De que forma respondemos à pandemia, à crise climática ou às ondas de imigração são outras perguntas que urge encontrar respostas.
Neste momento desafiante que atravessamos será oportuno refletirmos e redesenharmos novos modelos de trabalho, apostando em propósitos individuais e coletivos onde todos sintamos que estamos a fazer a nossa parte para um mundo melhor.
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