Ryanair: Mesmo com reservas “muito fortes”, subir preços dos bilhetes “é inevitável”
Michael O'Leary afirma ser "inevitável" que os preços dos bilhetes aéreos aumentem, “principalmente das outras” transportadoras.
Apesar de estar a registar reservas “muito fortes” para o verão em Portugal, a Ryanair admite que “é inevitável” que os preços dos bilhetes aéreos aumentem, “principalmente das outras” transportadoras, devido à atual situação mundial.
“Penso que é inevitável que os preços subam no verão, particularmente se o petróleo se mantiver a 100 dólares por barril”, afirma o CEO Michael O’Leary, em entrevista à Lusa. Ainda assim, “a Ryanair está numa situação bastante favorável, na medida em que cobrimos cerca de 80% do nosso combustível até março de 2023 [comprado] a entre 64 e 73 dólares por barril, pelo que pelo menos comprámos o nosso combustível”, acrescenta.
Numa altura em que os valores do Brent batem máximos, Michael O’Leary diz prever “aumentos de preços provenientes principalmente das outras companhias aéreas que não estão bem cobertas e que terão de repercutir estes preços muito mais elevados do petróleo”. “Nós não somos price takers [empresas que aceitam o preço formado no mercado] e, por isso, gerimos o nosso negócio para preencher os nossos voos”, ressalvou Michael O’Leary.
A inflação é, por estes dias, mais acentuada no que toca aos preços energéticos, tendo os preços dos combustíveis disparado nas últimas semanas e alcançado os níveis mais altos da última década devido aos receios de redução na oferta provocada pela invasão russa da Ucrânia. Este aumento dos combustíveis pressiona também o setor da aviação, que ainda está a tentar recuperar das consequências da pandemia, o que poderá resultar em bilhetes de avião mais caros. O combustível representa até 35% dos custos operacionais das companhias aéreas.
Na entrevista à Lusa, Michael O’Leary revela ainda que a guerra da Ucrânia levou ao cancelamento dos voos da companhia aérea de baixo custo de e para o país, num total de mais de 2.000 voos cancelados entre 24 de fevereiro e 26 de março (com média de 50 rotas diárias) e num total de cerca de 300 mil passageiros só em março. Além disso, “tem havido um declínio no tráfego com destino à Europa Oriental, como para a Polónia, e o número de visitantes para a Polónia, para a Eslováquia e Roménia e os Estados Bálticos estão em baixa”, destaca.
Por seu lado, “há um aumento do número de voos para fora desses países, principalmente de refugiados ucranianos que tentam encontrar-se com amigos e familiares por toda a Europa”, conclui o responsável irlandês. As mais recentes previsões internacionais indicam que as transportadoras aéreas europeias não deverão apresentar lucros até 2023 ou 2024, na melhor das hipóteses.
Ryanair com reservas “muito fortes” para verão em Portugal dada a conjuntura
A Ryanair garante ter reservas “muito fortes” de voos para Portugal este verão, considerando que o turismo balnear português será “um dos beneficiários” da recuperação pós-pandemia e das tensões geopolíticas causadas pela guerra da Ucrânia, dada a localização. “Neste momento, as reservas para lugares como Portugal e Espanha […] estão muito fortes para este verão. As praias da Europa Ocidental serão as principais beneficiárias tanto da recuperação da covid-19 como da guerra na Ucrânia”, declara o Michael O’Leary, em entrevista à Lusa, em Bruxelas.
Assim, “haverá menos pessoas a viajar na Europa de Leste e mais pessoas na Europa Ocidental, mas ainda não tenho números”, acrescenta o responsável da companhia aérea irlandesa de baixo custo.
Segundo Michael O’Leary, antes do início da guerra da Ucrânia, a Ryanair esperava aumentar, este ano, o tráfego aéreo em toda a Europa para 10% acima do que se assistia no pré-pandemia, mas há risco de “essa meta não ser alcançada”. “Antes do covid-19, transportámos 149 milhões de passageiros e esperávamos transportar 175 milhões de passageiros este ano, mas esse número é muito frágil” e depende “se há más notícias na Ucrânia ou sobre o covid-19 no próximo inverno”, reconhece.
Já em Portugal, a Ryanair está convicta numa atividade operacional superior ao pré-pandemia. “Irá crescer acima dos níveis de tráfego antes da covid-19”, prevê Michael O’Leary, lembrando ainda a nova base com duas aeronaves na Madeira.
O setor da aviação foi um dos mais afetados pela pandemia, tendo as companhias aéreas europeias perdido cerca de 500 milhões de passageiros entre 2020-2021 em comparação com 2019 e despedido 150 mil funcionários. Mas com 72,4% da população total na UE com o esquema de vacinação anticovid completo e 52,5% com dose adicional de reforço, o setor aéreo já vê sinais de recuperação, que é afetada contudo pelas tensões geopolíticas.
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