ONU Turismo posiciona o setor como motor da paz mundial

  • Servimedia
  • 27 Setembro 2024

O Dia Mundial do Turismo de 2024, organizado pela ONU Turismo em Tbilisi, na Geórgia, coloca em destaque o tema crucial “Turismo e Paz”.

Este evento global reúne figuras de destaque dos setores público e privado, decisores políticos e peritos de todo o mundo para explorar a forma como o turismo pode servir de catalisador para a paz, a compreensão cultural e o desenvolvimento sustentável. A Geórgia acolheu 472 participantes, 51 países, 13 ministros e 8 ministros georgianos na celebração do Dia Mundial do Turismo.

O setor do turismo é reconhecido há muito tempo pelo seu poder económico, criando emprego, impulsionando as economias e contribuindo para o desenvolvimento sustentável. No entanto, o seu papel como força de paz está a ser cada vez mais reconhecido”.

O setor é também um catalisador do intercâmbio cultural e da construção da paz. Tal como salientado pelos principais oradores e líderes de opinião na conferência, “o turismo tem a capacidade única de aproximar pessoas de diferentes origens. À medida que as viagens e o turismo continuam a crescer a nível mundial, proporcionam uma plataforma para promover o diálogo e a compreensão mútua entre diferentes culturas, lançando as bases para uma coexistência pacífica.

O Diálogo Ministerial de Alto Nível do evento explorou a forma como o turismo internacional pode ser um instrumento estratégico para construir pontes entre as nações e promover a paz no meio de tensões geopolíticas crescentes. “O turismo é mais do que uma potência económica”, afirmou o Secretário-Geral do Turismo da ONU, Zurab Pololikashvili, durante o discurso de abertura. “É um meio de promover a compreensão internacional, o intercâmbio cultural e, em última análise, a paz mundial. Este ano, o nosso objetivo é mostrar como o turismo pode contribuir para a resolução de conflitos, apoiar a reconciliação e prevenir futuras tensões”.

PROMOVER A PAZ

Um aspeto fundamental do evento deste ano centrou-se no papel do setor privado na promoção da paz através de práticas de turismo responsáveis e sustentáveis. Dado que as empresas continuam a expandir-se globalmente, o setor privado tem o potencial de criar interações pacíficas e sustentáveis através do turismo. Oradores de organizações proeminentes, como Jerry Inzerillo, da Diriyah Company, e David Ruetz, da Messe Berlin, sublinharam a importância de soluções inovadoras para aproveitar os benefícios económicos do turismo, promovendo simultaneamente a coesão social e a prevenção de conflitos.

“Temos visto repetidamente como o turismo pode transformar regiões pós-conflito, criar emprego e promover iniciativas empresariais. O setor privado deve continuar empenhado em utilizar os seus recursos para construir a paz e criar oportunidades em regiões emergentes e vulneráveis”, afirmou Natalia Bayona, Diretora Executiva da ONU Turismo, durante o seu discurso.

Ao longo da história, o turismo tem desempenhado um papel fundamental na diplomacia, promovendo intercâmbios culturais que ajudaram a fomentar a compreensão internacional. As missões diplomáticas e as organizações internacionais continuam a utilizar o turismo para promover a paz, com iniciativas como a criação de “rotas de paz” em regiões afetadas por conflitos. Estes projetos procuram restabelecer a confiança e promover o diálogo entre comunidades divididas por conflitos

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O dia em direto nos mercados e na economia – 27 de setembro

  • ECO
  • 27 Setembro 2024

Ao longo desta sexta-feira, 27 de setembro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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“A marca Portugal não pode ser um colecionável de virtudes”, alerta Duarte Vilaça

O fundador da Born destaca ainda que “sem uma visão estratégica não haverá marca possível.” Desta forma, "sobra o sol, o fado e o Cristiano Ronaldo", diz.

“É um tema recorrente da nossa governação e do nosso mercado. Continuo a aplaudir — naturalmente — mas tenho todas as reservas que saímos do campo das intenções”. O ceticismo de Duarte Vilaça é sobre o objetivo anunciado pelo Governo de “afirmar a marca Portugal no contexto global”, uma das 60 medidas apresentadas em julho para dinamizar a economia.

As reservas do fundador e partner da Born traduzem-se na ideia de que a meta apresentada pelo Governo “requer uma combinação de visão, coragem e consistência“.

Indo por partes. A “visão” de uma marca, explica, traduz-se numa estratégia e de um posicionamento. Ora, “o programa apresentado pelo Governo fala sobre turismo, sustentabilidade, tecnologia e conhecimento. Há muito a fazer nesses campos, mas diria que 70% dos países poderiam falar da mesma coisa. Sem uma visão estratégica não haverá marca possível”.

Onde entra o tema da coragem? “Olhe-se para o tema do turismo, por exemplo. A aposta feita há cerca de 10 anos no surf e golfe, em detrimento de muitos outros clusters, teve sucesso”, aponta. Mas, “a marca Portugal não pode ser um colecionável de virtudes. Tem de estar assente num set de valores relevantes para os territórios onde nos queremos posicionar, deixando outros de fora”. Para o especialista em marcas, o turismo é um adquirido e a aposta no talento devia ser core, enumera.

O último ponto é o da “consistência”. Segundo o fundador da Born, “vigora em muitos casos a política da terra queimada. Novo Governo, nova estratégia. Enquanto assim se mantiver, poderá falar-se em marca como algo de orgânico, que resulta daquilo que dizem de nós pelo mundo fora, não numa estratégia de marca.”

Vigora em muitos casos a política da terra queimada. Novo governo, nova estratégia. Enquanto assim se mantiver, poderá falar-se em marca como algo de orgânico, que resulta daquilo que dizem de nós pelo mundo fora, não numa estratégia de marca.

Duarte Vilaça

Partner da Born

A ideia dada a conhecer pelo Governo no início do verão passado estaca assente na “elaboração de um plano de ação para o desenvolvimento do conceito ‘Marca Portugal’ de forma transversal a todos os setores económicos do país, de maneira a afirmar os seus produtos e serviços com maior valor acrescentado nas cadeias globais”. O plano, prossegue o Executivo, “será assente em dimensões como o conhecimento, inovação, segurança, criatividade, qualidade e sustentabilidade”.

Cerca de dois meses e meio após o anúncio — feito em pleno início de verão, é certo –, e o caderno de encargos ainda não foi divulgado, mas o tema continua a ser afirmado como uma prioridade.

O Ministério da Economia está empenhado e comprometido com o desenvolvimento de uma proposta de valor robusta para fortalecer a marca Portugal num cenário global”, responde o ministério liderado por Pedro Reis ao +M, quando questionado sobre a evolução da medida.

“Estamos a trabalhar internamente, baseados nas melhores práticas implementadas em diversos setores exportadores, e lado a lado com alguns dos nossos organismos, em particular com a AICEP, na abordagem deste tema”, conclui o ministério.

Sem mais dados, Duarte Vilaça alerta para possíveis erros a evitar. “Os dois piores erros são acreditar que a marca é o começo de uma estratégia, quando no limite é um fim, e achar que a marca deve ser tudo, uma espécie de enumeração infinita de virtudes”, acredita.

Em resumo, justifica, a marca tem de ser um resumo orientado para potenciar uma estratégia previamente definida. “Imagine-se que o caminho passa por atrair a fixação de empresas estrangeiras: qual a política fiscal para elas e para os seus colaboradores, qual o nível de burocracia a que estamos disponíveis a abdicar, etc”, dá como exemplo.

“Parece-me que nada disto é visto como um todo. Por isso sobra o sol, o fado e o Cristiano Ronaldo…”, critica o responsável da agência de branding.

Quanto ao que é hoje a “marca Portugal”, na avaliação de Duarte Vilaça, beneficia indiretamente da emergência das marcas Lisboa, Porto e Algarve e do “bom trabalho de promoção e do ambiente de incentivos, criado no passado para o investimento no setor imobiliário”.

Beneficia, em suma, “de ativos extraordinários para o qual nenhum de nós contribuiu, como a nossa geografia, clima e hospitalidade histórica”. “Quanto é que da boa reputação deriva da nossa estratégia? Diria que muito pouco. Quanto haveria que aproveitar? Imenso”.

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La Fageda abre uma loja temporária na Gran Vía, em Madrid, onde os seus iogurtes estarão expostos para degustação

  • Servimedia
  • 27 Setembro 2024

La Fageda, o projeto de economia social conhecido pela integração sócio-ocupacional de pessoas de grupos vulneráveis, abre uma loja temporária pop-up na Gran Vía onde oferecerá os seus iogurtes.

Segundo La Fageda, o espaço foi inaugurado esta quinta-feira com a participação de Sílvia Domènech, diretora-geral de La Fageda, e Francesc Galí, diretor de Marketing e Vendas, que sublinharam “a importância de levar o nosso projeto social e os nossos produtos a Madrid, um território estratégico para La Fageda”.

A iniciativa tem como objetivo dar a conhecer o seu trabalho e os seus iogurtes “extraordinariamente diferentes” em Madrid, um mercado em que entrou há pouco mais de um ano.

Durante cinco dias, os visitantes poderão conhecer as chaves e a evolução deste projeto social, que cuida e acompanha pessoas em situação de vulnerabilidade graças à produção de iogurtes e sobremesas lácteas, entre outras atividades. O espaço pretende criar uma experiência imersiva para todos os que o desejarem visitar, com o objetivo de partilhar os valores de La Fageda e permitir-lhes experimentar os seus produtos.

A loja será também palco de sorteios e concursos. O espaço alberga um “photocall” de iogurte gigante, uma roleta com prémios e um concurso para um fim de semana no Parque Natural da Zona Vulcânica da Garrotxa, onde se encontra La Fageda. Os visitantes poderão também provar os iogurtes La Fageda que, a partir do início de 2023, serão igualmente comercializados na Comunidade de Madrid através de BM Supermercados, AhorraMas, El Corte Inglés, Suma e Supermercados Plaza.

Na loja, a La Fageda irá destacar a sua “diferença extraordinária”, o conceito que define o seu novo posicionamento no mercado. Um conceito que é a soma de cinco atributos que estão na base do posicionamento de La Fageda: o seu propósito como projeto ao serviço de pessoas em situação de vulnerabilidade (pessoas com perturbações mentais, deficiências intelectuais e outras em risco de exclusão), o seu compromisso como empresa social sem fins lucrativos, a sua história única que começou nas condições de vida dos hospitais psiquiátricos, a sua localização na floresta emblemática de La Fageda d’en Jordà no Parque Natural da Garrotxa e a qualidade dos seus produtos.

Com esta ativação, La Fageda pretende continuar a ganhar protagonismo em Madrid, território em que desembarcou há menos de dois anos com os iogurtes grego, natural, de morango e de limão, aos quais acrescentou o iogurte natural sem lactose e o pudim de baunilha. Os seus iogurtes são uma referência na Catalunha, com uma quota de 7,4% em valor até ao final de 2023 e uma produção de mais de 86 milhões de unidades de iogurtes e sobremesas lácteas. Agora, La Fageda procura continuar a crescer em Madrid com o objetivo de apoiar e expandir o seu projeto social para continuar a servir grupos com necessidades especiais.

 

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Eurofirms aposta em formação para ajudar a resolver escassez de trabalhadores no turismo

Formação "é fulcral" para resolver carência de trabalhadores no turismo, defende a country leader da Eurofirms, empresa que lançou um programa para dar competências a quem queira apostar nesse setor.

O problema está diagnosticado há vários anos, mas continua por resolver: faltam milhares de trabalhadores ao setor do turismo. Para ajudar a mitigar esta escassez, a multinacional Eurofirms lançou um programa de formação gratuito, que dá competências técnicas a quem esteja interessado em trabalhar em hotelaria.

Em dois anos, foram formados 350 trabalhadores, mas a country leader, Sara Pimpão, deixa claro que, para resolver este dilema, não basta dar competências ao talento. É mesmo preciso tornar o setor mais atrativo, o que passa por dar mais estabilidade, melhores salários e maior flexibilidade nos horários aos trabalhadores, avisa.

Comecemos pela formação. A Academia de Hotelaria surgiu logo após a pandemia, “numa altura em que não existiam pessoas qualificadas para trabalhar nas áreas de food & beverage e housekeeping [comida e bebida, e limpeza]”, relata Sara Pimpão, em declarações ao ECO.

“Os colaboradores deste setor, que foram obrigados a parar de trabalhar durante a pandemia, não queriam regressar a esta área, pois havia maior flexibilidade de horário e eram melhor remunerados noutras áreas“, explica.

A Academia de Hotelaria nasceu, portanto, para garantir mão de obra de qualidade às unidades hoteleiras. A formação é gratuita e está aberta a qualquer pessoa que esteja motivada para trabalhar no setor (as candidaturas devem ser feitas online). “O único requisito para participar é a motivação. Para funções de empregado de mesa pode ser necessário ter um determinado nível de inglês, mas os nossos formadores ensinam o vocabulário técnico para exercer a função“, adianta a country leader.

As nossas formações oferecem um contexto histórico sobre a hotelaria, abordam os perfis dos funcionários , ensinamos técnicas de serviço e transmitimos dicas úteis. Também damos ênfase à abordagem ao cliente.

Sara Pimpão

Country leader da Eurofirms

Estão, neste momento, disponíveis dois cursos, para o segmento de comida e bebida e para o segmento de limpeza, que incluem um contexto histórico sobre a hotelaria, “desde o seu nascimento”, mas também abordam os perfis dos funcionários deste setor (os perfis de empregados de mesa ou os perfis de empregados de andares), ensinam técnicas de serviço e transmitem “dicas úteis”.

“E, claro, também damos ênfase à abordagem ao cliente, que é muito importante. Trabalhamos competências como a disciplina, o brio, o trabalho em equipa e a comunicação”, detalha Sara Pimpão.

Além da componente teórica, os formandos têm também à disposição uma componente de experiência de trabalho, que lhes “proporciona um contacto real com o mundo hoteleiro“. “Os nossos formandos ficam assim a conhecer melhor os procedimentos dos hotéis e testemunham em primeira mão como funciona a estrutura de uma unidade hoteleira“, indica a responsável já mencionada.

Neste momento, a Academia de Hotelaria tem presença em Lisboa, no Porto, e em Évora, estando também no horizonte a expansão para mais cidades portuguesas (especialmente, na região Centro), de acordo com Sara Pimpão.

Quanto ao perfil dos formandos, a maioria dos que passaram, até agora, por este programa tem entre 18 a 30 anos. São estudantes que procuram ter um emprego para conjugar com os seus estudos ou imigrantes que procuram uma oportunidade de trabalho, identifica a mesma responsável.

Se lhes for dada maior estabilidade, melhores condições financeiras e se lhes proporcionarem uma melhor flexibilidade de horários, acredito que o turismo assume-se como mais atrativo para os trabalhadores.

Sara Pimpão

Country leader da Eurofirms

Dos 350 trabalhadores formados até agora, cerca de 100 já foram contratados, ainda que a prazo, conforme é tendência neste setor, observa a mesma responsável. Essa instabilidade laboral é, de resto, um dos motivos para o turismo não ser atrativo para os trabalhadores, a par dos salários “baixos” e os horários praticados, enumera Sara Pimpão.

“São fatores que pesam quando as pessoas procuram trabalho. Em 2022, realizámos um estudo do setor. Neste estudo, mais de 58% dos inquiridos afirmaram que não se viam a trabalhar em hotelaria no espaço de cinco anos. Os trabalhadores deste setor procuram ter maior estabilidade e assegurar contratos com maior durabilidade“, sublinha.

Perante estes dados, a country leader não tem dúvidas: “é urgente dignificar os profissionais” do turismo. Torná-lo mais atrativo passa por dar “maior estabilidade e segurança, melhores condições em termos financeiros e proporcionar uma melhor flexibilidade de horários“, defende.

“Também podem ser concedidos mais benefícios aos colaboradores, tanto a nível de formação, como no alojamento, por exemplo. Estes gestos, estas ações, a preocupação com os colaboradores, tudo isto será essencial para os manter a trabalhar no setor do turismo“, remata Sara Pimpão.

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Regulador da água investiga faturas com grandes acertos no Seixal

Regulador investiga reclamações junto da Câmara Municipal do Seixal, que gere a água no município. O ECO teve acesso a uma fatura que disparou de 110 euros mensais para os 2300 euros.

A Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) afirma que está a investigar quais os motivos para vários residentes do Seixal terem reportado faturas com valores acima do habitual.

João Martins, nome fictício, residente no Seixal, mudou de casa em setembro de 2022, e a primeira leitura que a Câmara fez foi em maio de 2023. Até essa data, tinha pago cerca de 15 euros mensais, pelo que em maio foi confrontado com um acerto de 500 euros, os quais pagou. A partir desse momento, passou a receber faturas com uma estimativa de 110 euros mensais, e não voltou a ter uma leitura presencial. Em agosto, chegou uma surpresa: uma fatura de 2300 euros, à qual o Eco teve acesso. “Não percebemos”, queixa-se o munícipe.

No Seixal, a entidade responsável pelos serviços de abastecimento de água é a Câmara Municipal. Questionada sobre o volume de faturas da água cujo valor mais do que duplicou nos últimos meses, a Câmara Municipal não quantifica. Confirma apenas que fez acertos na contagem e que “nalguns casos se verificou um aumento do valor da fatura”, sendo que os acertos abarcaram em torno de 20% dos consumidores. “Não houve nenhum aumento do preço da água, houve apenas acertos de faturação entre o valor estimado da fatura e o valor real de consumo”, afirma a Câmara, em declarações ao ECO/Capital Verde.

Na sequência de cerca de uma dezena de reclamações efetuadas por consumidores à Câmara Municipal do Seixal desde o final de agosto, associadas à emissão de faturas com acertos de valores para um período que remonta a 2022, e às quais a ERSAR teve acesso, o regulador indica que “estão a ser solicitados esclarecimentos à Câmara Municipal do Seixal no sentido de apurar as exatas circunstâncias que levaram à emissão destas faturas”, seguindo o procedimento habitual de gestão de reclamações.

De acordo com o regulador, está a ser averiguado se foram respeitadas as regras aplicáveis a este tipo de situações e “se há necessidade de correção de procedimentos”. O regulador também pretende apurar se a situação se estende a faturas e consumidores além do vertido nas reclamações, assumindo que as reclamações recebidas indiciam que estas situações podem não ser pontuais. Deverá ser a entidade gestora a responder às reclamações, mas cabe ao regulador acompanhar a forma como a entidade, neste caso a Câmara Municipal do Seixal, gere a situação.

As faturas referem-se a consumos reais, pelo que entendemos que a cobrança é devida”, defende a Câmara Municipal. A mesma informa que qualquer um dos consumidores que notaram um acerto de consumos pode fazer acordos de pagamento com a Câmara, sem juros, os quais podem ir até 36 meses, conforme o valor da fatura. “Vamos chegar a acordo com todos os consumidores e por isso não vão haver consequências”, afirma a Câmara, confrontada com as possíveis repercussões nos consumidores que optem por não pagar as faturas com os acertos.

Quais são as regras para a emissão e cobrança de faturas?

As faturas devem ser emitidas, por regra, com uma periodicidade mensal, indica a ERSAR. Estas podem basear-se em valores de consumo lidos pela entidade gestora ou comunicados pelos consumidores, ou ainda apresentar valores de consumo estimados, tendo por base o histórico de consumos.

Quando se realiza uma leitura do contador, os valores anteriormente faturados por estimativa são sujeitos a um acerto, calculando-se o valor devido para todo o período entre leituras. Se a leitura apresentar um valor mais baixo que o estimado, deve descontar-se o valor já pago, “de forma que não haja prejuízo para o consumidor”.

Pelo contrário, se a leitura implicar a necessidade de um pagamento adicional por parte do consumidor, e se este for de valor superior ao consumo médio mensal, a entidade gestora deve facultar ao consumidor a possibilidade de pagamento fracionado, realça o regulador. O valor mensal a pagar decorrente do acerto de faturação não deve ultrapassar em mais de 25% o consumo médio mensal registado nos últimos seis meses. Para além disso, nos casos em que os consumos estimados sejam inferiores aos consumos reais, a lei apenas permite o acerto das faturas que tenham sido pagas nos seis meses anteriores.

Para evitar desencontros entre a estimativa e a leitura, a entidade gestora deve realizar, no mínimo, duas leituras por ano ao contador. Sempre que, por indisponibilidade do consumidor, não seja possível, por duas vezes consecutivas, o acesso ao contador por parte da entidade gestora, esta deve avisar o consumidor, por carta registada ou meio equivalente, de uma nova data. Esta deve ser apresentada com uma antecedência mínima de dez dias a contar desde a terceira deslocação para a realização de leitura. No aviso deve ainda constar que, caso não seja possível a leitura na data indicada ou caso o consumidor não indique data alternativa, a entidade gestora pode interromper o serviço. Neste caso, fica em suspenso o prazo de caducidade para a realização dos acertos.

Na eventualidade de serem emitidas faturas de acerto que não respeitem as regras tal como descrito, o consumidor deve reclamar, aconselha a ERSAR. Contudo, a reclamação não suspende o prazo de pagamento da fatura. Ainda assim, o pagamento não prejudica o direito do consumidor à devolução de valores quando se comprove que não foi respeitado o prazo de caducidade para os acertos de faturação.

Para aqueles que considerem não pagar a fatura, face aos valores avultados, a ERSAR avisa que podem deparar-se com a suspensão do serviço. A entidade gestora pode fazê-lo, desde que envie aviso escrito, “com uma antecedência mínima de 20 dias”. Uma vez pagos os valores em dívida, o serviço deve ser restabelecido no prazo máximo de 24 horas.

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Pedra portuguesa “rola” até Itália a exportar quase 500 milhões e a valer 14 mil empregos

Portugal é o sétimo maior produtor e extrator de pedra natural a nível mundial. Mais de meia centena de empresas nacionais estão em Verona a participar na Marmomac, a mais importante feira do setor.

Mais de meia centena de empresas (57) do setor da pedra natural voaram até Verona, em Itália, para marcar presença na Marmomac 2024, a mais importante feira internacional dedicada à fileira, que termina esta sexta-feira. Portugal ocupa a sétima posição dos principais produtores e extratores de pedra natural a nível mundial. No ano passado, o país exportou 488 milhões de euros, essencialmente para França, China e Espanha, equivalendo a 0,6% das vendas de bens portugueses no exterior.

Fonte: Assimagra

O presidente da Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais (Assimagra) estima ao ECO que o setor faturou 1,2 mil milhões de euros no ano passado. Em 2022 contabilizava 2.066 empresas (1.652 de transformação e 414 de extração) e 14.052 colaboradores (10.537 da indústria transformadora e 3.515 da extração). “Somos dos setores de atividade que mais valor acrescenta à economia portuguesa, afirma Miguel Goulão.

Somos dos setores de atividade que mais valor acrescenta à economia portuguesa.

Miguel Goulão

Presidente da Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais

Sobre esta participação das empresas nacionais na Marmomac, Miguel Goulão expressa que é o “evento mais importante que se realiza no mundo no setor das rochas ornamentais” e nota que “as empresas portuguesas têm ganho cada vez mais expressão ao longo dos anos no evento”.

O presidente da Assimagra reforça que a presença nesta feira italiana “constitui uma oportunidade estratégica para as empresas portuguesas se posicionarem no epicentro do setor a nível internacional, permitindo-lhes estabelecer ligações com outros profissionais, explorar novas tendências e tecnologias, e consolidar a sua presença global como líderes na indústria da pedra natural”.

Miguel Goulão, presidente da Assimagra

Das 57 empresas portuguesas presentes, 34 são apoiadas pela Assimagra através do projeto conjunto de internacionalização que visa promover e fortalecer a posição nacional no mercado global com o apoio do Portugal2030, Compete2030 e União Europeia, através do Feder.

A Assimagra lidera o projeto Broot – Dialogues from Within que tem o propósito representar alguns dos principais materiais tradicionais portugueses nas mais importantes feiras do setor. Nesta primeira edição da Coleção Broot serão apresentadas 25 peças originais criadas por cinco artistas contemporâneos, entre designers, artistas e arquitetos.

Com curadoria de Gisella Tortoriello, a primeira coleção intitula-se “Dialogues” estreou-se este mês na INDEX Saudi Arabia. Segue-se a Maison et Objet (janeiro 2025), a Milan Design Week (abril 2025), a NYCxDesign (maio 2025) e a Expo Osaka (abril a outubro 2025).

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Inapa. Administrador judicial decide se há insolvência “culposa” que pode responsabilizar gestão

Assembleia de credores da Inapa decide esta sexta-feira o destino da histórica distribuidora de papel portuguesa. Há duas propostas de compra por ativos da holding superiores a 20 milhões de euros.

A assembleia de credores da Inapa decide esta sexta-feira o destino da histórica distribuidora de papel portuguesa, que se apresentou à insolvência a 29 de julho, com duas propostas de compra por ativos da holding superiores a 20 milhões de euros. Um valor que supera largamente os 12 milhões de euros de que precisava para evitar a falência da empresa na Alemanha e, consequentemente, em Portugal. Algo que está a levar os investidores a atirar, mais uma vez, a responsabilidade pelo colapso do grupo para a anterior gestão, que poderia ter avançado com a venda antes da falência, salvaguardando a empresa e os investidores. Cabe agora ao administrador de insolvência avaliar se a insolvência foi “culposa” e agir judicialmente contra a gestão.

O anúncio da falência da Inapa, a um domingo, surpreendeu o mercado. Foi através de um comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) — e já depois de as ações terem sido suspensas a 11 de julho até a empresa revelar que iria adiar o reembolso de uma linha de obrigações — que a Inapa comunicou que o colapso na Alemanha era inevitável, uma vez que não conseguiu aprovação da Parpública, o seu maior acionista, para uma injeção de emergência de 12 milhões de euros, o teria repercussão na atividade da holding, puxando-a também para a falência.

Os contornos do desfecho foram sendo revelados nas semanas seguintes, com a anterior gestão liderada por Frederico Lupi a atirar responsabilidades à Parpública, a quem pedia desde 2020 que participasse num plano de recapitalização da empresa, tendo feito “mais de 50 contactos” com o maior acionista entre 2020 e 2023. Conhecidas foram também as negociações com potenciais interessados na empresa, nomeadamente pelo negócio em França e Portugal.

Os japoneses da Japan Pulp and Paper, que formalizaram esta semana uma oferta de 25 milhões de euros pela Inapa França, admitindo ainda incluir as operações em Portugal na oferta, esteve a negociar com a gestão da Inapa a aquisição do grupo na semana anterior ao fatídico fim de semana do anúncio da falência. E existiam potenciais compradores para a operação de packaging em França — a assembleia de credores vai ainda discutir outra oferta de 20 milhões de euros da Next Pack pela Inapa Packaging. Ofertas que acabaram por não se materializar, mas que, segundo uma associação de pequenos investidores, confirma que a empresa era viável e a insolvência poderia ter sido evitada.

A Inapa França poderia ter sido vendida, cobrindo a injeção de 12 milhões de euros que era precisa”, atira Octávio Viana. Para o presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM), estas ofertas confirmam que “houve hipóteses de evitar esta insolvência e só não houve porque a gestão não quis“. Diz que a gestão “não foi diligente” e deveria, no mínimo, ter “posto à consideração dos acionistas” as possibilidades em cima da mesa para o futuro da empresa. A Nova Expressão, que detém 10,85% da empresa, chegou a pedir uma Assembleia Geral, mas que acabou por ser retirada após a entrada do processo.

Octávio Viana realça que, “perante estas evidências” estava na mão da gestão, pelo menos, colocar essa informação à disposição dos acionistas”, atestando que o administrador de insolvência da Inapa tem “legitimidade para intentar contra a gestão”. “A gestão falhou em tudo”, acusa.

Instalações da Inapa Portugal, em Sintra.

Ao contrário de outros grandes acionistas, como a Parpública (44,89%), a Nova Expressão (10,85%) e o Novobanco (6,55%), que reuniram com a administração para discutir uma solução para a empresa conseguir o financiamento de 12 milhões de que precisava para evitar o colapso na Alemanha, com repercussão na atividade em Portugal, a Carisvalor, apesar de ter uma posição de quase 5% no capital, bem como outros pequenos acionistas, desconhecia os problemas da empresa. “Não tinha informação. Devia ter sido feita uma AG e propostos caminhos que envolvessem todos os acionistas”, aponta o representante da sociedade, que está a processar individualmente todos os membros da antiga administração e, numa ação popular, a PwC, por não ter colocado reservas à informação divulgada pela empresa.

No relatório e contas relativo ao exercício de 2023, a gestão garantia a continuidade das operações, assegurando que “a administração concluiu que a empresa dispõe de recursos adequados para manter as atividades, não havendo intenção de cessar as atividades no curto prazo, pelo que considerou adequado o uso o pressuposto da continuidade das operações na preparação das demonstrações financeiras.” O documento garantia ainda que existia liquidez suficiente para assegurar a continuidade nos próximos 12 meses. Um relatório que foi aprovado sem reservas pelo auditor.

Durante o processo de insolvência, o administrador de insolvência tem legitimidade para propor ações de responsabilidade civil contra os antigos administradores.

José Costa Pinto

Sócio fundador da Costa Pinto Advogados

Com o processo da Inapa agora em mãos, o administrador Bruno Costa Pereira poderá averiguar se houve gestão culposa. “Durante o processo de insolvência, o administrador de insolvência tem legitimidade para propor ações de responsabilidade civil contra os antigos administradores”, explica José Costa Pinto. Segundo o sócio fundador da Costa Pinto Advogados “existe ainda a possibilidade de o administrador de insolvência requerer a qualificação da insolvência como “culposa”, o que depende sempre dos fatos apurados em concreto, e terá consequências pessoais para os antigos administradores, como sejam a possível inabilitação para exercer cargos de administração ou direção em empresas por determinado período, a responsabilização pessoal pelas dívidas aos credores da sociedade ou mesmo a aplicação de sanções penais em caso de se provar a prática de quaisquer crimes, como fraude ou falsificação de contas”.

Segundo o jurista, “a atuação dos administradores está vinculada a deveres de cuidado e lealdade na gestão das sociedades, deveres esses que são concretizados na factualidade concreta de cada caso”. “Estes deveres orientam a atuação dos administradores. É fundamental avaliar se neste caso concreto houve falhas por parte dos administradores, seja por ação ou omissão, no que respeita à qualidade e à veracidade da informação que partilharam com os acionistas, com o regulador e com os interessados em geral“. E existindo situações de omissão de prestação de informações ou divulgação de informações incorretas ou mesmo falsas, “tais ações podem resultar na responsabilidade pessoal dos administradores”, completa.

Investidores “vão receber zero”

Na assembleia de credores agendada para esta sexta-feira será decidida a sorte da empresa, nomeadamente se a companhia é liquidada e os seus ativos vendidos, ou se segue para PER (Processo Especial de Revitalização). Num caso ou no outro, Octávio Viana alerta que para os investidores o mais certo é não recuperarem nada dos seus investimentos.

Mesmo que se vá para PER, a probabilidade de [os investidores] recuperarem uma parte que seja dos investimentos é muito diminuta.

Octávio Viana

Presidente da ATM

“Mesmo que se vá para PER, a probabilidade de [os investidores] recuperarem uma parte que seja dos investimentos é muito diminuta”, avisa. “Os acionistas não vão recuperar absolutamente nada. Nem há garantia que os credores recebam nada”, reforça o representante da associação de pequenos investidores.

Num processo de insolvência, os pequenos investidores, que detêm 37,7% da empresa, são os últimos a receber. Em primeiro lugar está o próprio Estado e os trabalhadores, seguindo-se os detentores de dívida sénior, subordinada, as ações preferenciais e, em último, as ações ordinárias. Uma vez iniciado o processo de insolvência, o próximo passo será a liquidação do património da empresa e a repartição do produto obtido pelos credores, processo este que poderá demorar, por lei, até três anos.

Do BES à Papelaria Fernandes

Apesar de esta falência ser mais mediatizada, este não é um caso único na bolsa portuguesa. Têm sido vários os casos em que os investidores nacionais são confrontados com situações em que veem as suas posições reduzidas a zero. Além do colapso do Grupo BES, no verão de 2014, com repercussões na Portugal Telecom, há várias outras empresas na bolsa que estiveram envolvidas em processos criminosos ou em que houve responsabilidade da gestão.

Desde logo na banca, nomes como o BPP ou o BPN são exemplos disso mesmo. Entre as mais pequenas, casos como a Orey Antunes ou a Papelaria Fernandes, em 2009, também terminaram com processos de insolvência.

Octávio Viana destaca, porém, que hoje “há regras mais pesadas, até sobre os auditores”, que estão agora sobre a alçada da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Em relação ao caso concreto da Inapa, o supervisor do mercado de capitais não confirma nem desmente que esteja a desenvolver qualquer ação de investigação à PwC no âmbito do seu papel enquanto auditor das contas da Inapa, que recentemente abriu falência.

Sem mencionar qualquer situação específica, José Miguel Almeida, administrador da CMVM, referiu apenas que o regulador “não pode ficar indiferente” face a situações de “grande impacto” no mercado.

“A Inapa, como qualquer sociedade cotada, tem o dever de regularmente apresentar um conjunto de informação à entidade reguladora, que no caso é a Comissão de Mercado dos Valores Imobiliários, e essa informação, obviamente, tem de ser uma informação atual, tem de refletir exatamente a situação concreta da empresa de forma transparente e credível”, explica José Costa Pina. “O que a CMVM pode fazer é aumentar o grau de monitorização da sociedade, pedindo informações, verificando o cumprimento dos prazos de envio de informação que estão previstos na lei”, acrescenta.

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Lisboa, Oeiras e Setúbal lideram absorção de fundos do PRR

De acordo com os cálculos da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, com dados até agosto, a primeira empresa surge em 15.º e é a Bondalti.

São três os municípios que lideram a absorção de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR): Lisboa, Oeiras e Setúbal. De acordo com os cálculos elaborados pela Comissão Nacional de Acompanhamento (CNA) da bazuca europeia, para encontrar os cinco maiores beneficiários finais do PRR em cada Comunidade Intermunicipal (CIM), a primeira empresa surge em 15.º e é a Bondalti, na região de Aveiro. Mas, se a avaliação for feita com base no grupo Bondalti, então este sobe para sexto lugar.

Apesar de esta ser uma fotografia estática, já que ainda estão em curso candidaturas, concursos e execuções, é possível fazer algumas leituras que “podem servir de base para reflexão de todos os atores públicos e privados e dos decisores políticos”, explica Pedro Dominguinhos.

Identificando os cinco maiores beneficiários finais do PRR em cada Comunidade Intermunicipal (CIM) do continente – as regiões autónomas ficaram de fora devido à forma como as verbas são pagas, explicou Dominguinhos ao ECO – é possível concluir, com dados até agosto, que as 11 primeiras entidades fazem parte da Área Metropolitana de Lisboa, da Área Metropolitana do Porto, da Região de Aveiro e da Região de Coimbra.

Num ranking composto por 115 entidades (cinco por CIM), 45 são câmaras municipais e concentram 1,5 mil milhões de euros comprometidos, ou seja, 44% do valor total. Lisboa lidera o pódio com 200,8 milhões de euros, seguida de Oeiras (169 milhões), Setúbal (150,9 milhões) e Matosinhos (96,5 milhões).

Esta predominância dos municípios contraria as primeiras críticas dos autarcas de que havia poucas verbas dirigidas aos municípios e é um reflexo do reforço das verbas para escolas e centros de saúde, conseguido no âmbito da reprogramação da bazuca. Precisamente, as áreas alvo de descentralização de competências e que ajudaram a apaziguar os autarcas mais insatisfeitos. “É uma reforma do PRR a dar resultados”, sublinha ao ECO Pedro Dominguinhos, sublinhando que os números revelam as câmaras que “tiveram maior capacidade e dinamismo para criar sinergias entre diferentes programas numa lógica de coesão territorial”, acrescentou.

Já com o novo Executivo, os autarcas assinaram um termo de responsabilidade para acelerar a execução do PRR, ao nível da construção de habitações a custos controlados, substituindo-se ao Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) na análise das candidaturas. Entre 5 junho e 18 de setembro, os pagamentos aos municípios e áreas metropolitanas aumentaram 31,22%, enquanto às empresas subiram 1,4%, de acordo com a monitorização semanal da estrutura de missão Recuperar Portugal.

A análise aos maiores beneficiários finais do PRR em cada Comunidade Intermunicipal do continente feito pela CNA mostra que as 115 entidades identificadas representam 30,2% do valor total comprometido à data da análise (11,2 mil milhões de euros). Globalmente, no final de agosto, os beneficiários finais do PRR com projetos financiados eram mais de 155 mil. Destas 115 entidades, 26 são empresas com 522 milhões (15,3% do valor total).

A Bondalti Chemicals e a Bondalti H2, que integram várias agendas mobilizadoras, são as duas empresas (do mesmo grupo) que mais fundos têm atribuídos (57,65 e 56,25 milhões de euros, respetivamente). A primeira integra três agendas mobilizadoras e a segunda partilha uma delas. O objetivo é criar uma fábrica, juntamente com a Air Liquide, para produzir hidrogénio verde. A Bondalti Chemicals pretende incorporar energias renováveis em processos intensivos em energia, para reduzir o impacto ambiental dos processos produtivos do complexo industrial de Estarreja e criar um novo ecossistema tecnológico na área das baterias que pretende destacar a indústria nacional no mercado global.

Segue-se a Caima com 31,8 milhões de euros, fruto da sua participação em duas agendas mobilizadoras distintas: uma que visa criar e consolidar uma fileira nacional da indústria têxtil e vestuário inovadora, sustentável e circular, através do desenvolvimento de produtos e materiais têxteis rastreáveis, de origem biológica, renovável e outra que pretende gerar uma mudança estrutural do setor florestal, intervindo em toda a cadeia de valor rumo à transição digital, resiliência económica e neutralidade carbónica, impulsionando a sustentabilidade da floresta.

E em quarto lugar está a Somicor com 30,16 milhões de euros que representam 22% dos fundos da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo. A empresa que explora cobre e zinco nas minas de Neves Corvo tem apoio para comprar novos equipamentos que garantam a execução de processos energeticamente e ambientalmente mais sustentáveis e que maximizem positivamente o impacto social.

Mas esta é uma identificação por líderes nas CIM. Ou seja, a Navigator que tem inúmeros projetos espalhados pelo país, é uma das maiores beneficiárias do PRR com 149,98 milhões de euros comprometidos, mas não surge no TOP5 de todas asCIM onde está presente. Logo a atrás do município de Setúbal e à frente CEIIA – Centro de engenharia e desenvolvimento (142,69 milhões de euros).

O PRR, através das agendas mobilizadoras, foi uma oportunidade para as grandes empresas poderem aceder a apoios europeus, alavancando consigo PME e instituições do ensino superior, já que, salvo em casos de copromoção, não podem aceder ao Portugal 2030. Pedro Dominguinhos recorda ainda que o efeito multiplicador dos incentivos às empresas é muito maior. “Se os municípios, instituições de ensino superior e centro tecnológicos muitas vezes têm o seu investimento financiado a 100%, as empresas têm taxas de cofinanciamento de 35% ou até mesmo 15%. Logo o mesmo incentivo representa um efeito reprodutivo muito maior”, explica.

O levantamento mostra ainda que 21 instituições de ensino superior concentram 832 milhões de euros, ou seja, 24% do valor total, com as Universidades de Aveiro (102,38 milhões de euros), do Porto (95,93 milhões), de Coimbra (85,82 milhões) e Universidade Nova de Lisboa (79,79 milhões). “São instituições que revelam uma grande experiência e maturidade em candidaturas a programas competitivos, revelando um elevado grau de eficiência na absorção dos mesmos e que deveriam ser um exemplo para quem prossegue políticas públicas”, sublinhou Pedro Dominguinhos. Com candidaturas aprovadas de dois a 20 milhões de euros, o presidente da CNA frisa que a o mérito não é uma questão de dimensão, mas sim de capacitação institucional muito relevante. “Uma lição a aprender”, conclui.

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Orçamento aprovado garante Governo no poder pelo menos até 2026

Marcelo não pode dissolver o Parlamento a partir do segundo semestre de 2025, devido a eleições presidenciais em janeiro.

O calendário tornou-se (mais uma vez) uma peça determinante no xadrez da política portuguesa, tendo desta vez Marcelo Rebelo de Sousa na posição central. As eleições presidenciais de 2026 condicionam o espaço de manobra e só há uma certeza: se o Orçamento do Estado for viabilizado, o Governo tem o seu futuro garantido pelo menos até 2026, mesmo que a proposta orçamental referente a esse ano fique pelo caminho.

A Constituição Portuguesa estipula que a Assembleia da República não pode ser dissolvida no último semestre do mandato do Presidente da República, ou seja, Marcelo Rebelo de Sousa só tem até ao final de junho de 2025 para o fazer, uma vez que as presidenciais estão previstas para janeiro de 2026. Significa isto que caso o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) seja viabilizado, o Governo ficará em funções pelo menos até 2026, mesmo que em outubro de 2025 a proposta orçamental para 2026 fique pelo caminho.

Por outro lado, se não houver Orçamento, Marcelo Rebelo de Sousa já sinalizou que “há crise política e económica”. Os politólogos consultados pelo ECO consideram que a convocação de eleições antecipadas pelo Chefe de Estado é uma questão de “coerência” face ao passado.

Do ponto de vista constitucional [Marcelo Rebelo de Sousa] não é obrigado a convocar eleições. Do ponto de vista da coerência política uma vez que já o fez anteriormente, por outro Orçamento não ter sido aprovado em 2022, há já um precedente em que o fez“, considera Paula Espírito Santo, investigadora do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP).

Para a politóloga, isto “não constituí nenhuma norma, nem aspeto formal, mas politicamente o mesmo PR já teve essa iniciativa”.

Na mesma linha, André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, afirma que “o Presidente da República está refém das próprias decisões no passado”, considerando que “não tem de convocar, mas será difícil face ao que tem sido o perfil da sua atuação que não convoque“.

“Foi o próprio Presidente, ao contrário do que fez Cavaco Silva, que não exigiu que a Aliança Democrática para governar tivesse uma plataforma estável. Aceitou não só que não governasse sem maioria absoluta, como é uma maioria exígua”, disse, considerando que está em causa também uma questão de “consistência” face ao passado.

André Azevedo Alves considera também que, “em especial nos últimos dias, as pressões que tem feito – principalmente sobre o PS -, em que procura aumentar as probabilidades”, podem ter o efeito contrário ao “colocar Pedro Nuno Santos numa situação difícil no PS”.

É prudente não gerar posição de humilhação e pressão de tal ordem sobre Pedro Nuno Santos para que viabilize o Orçamento“, argumenta.

No entanto, José Adelino Maltez, cientista político e professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade de Lisboa, considera que “o Presidente está com medo”, porque “não quer acabar com o registo de três dissoluções, um recorde“. O politólogo considera que o Presidente é “irrelevante neste processo”, porque “são os dois partidos que estão a ponderar o que fazer” consoante “os microestudos/sondagens internas que tenham”.

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O que dizem os empresários e gestores sobre a viabilização do Orçamento do Estado? Leia aqui as respostas

  • ECO
  • 27 Setembro 2024

Aprovar o Orçamento do Estado para 2025 é "fundamental" para garantir a estabilidade de que as empresas precisam, alertam os líderes empresariais ouvidos pelo ECO.

 

Mais de quatro dezenas de empresários e gestores ouvidos pelo ECO concordam que é preciso aprovar o Orçamento do Estado para 2025, de forma a garantir um quadro de estabilidade e evitar mergulhar o país numa nova situação de ingovernabilidade. Já num hipotético cenário de chumbo da proposta do Executivo, as opiniões dividem-se entre a opção de governar em duodécimos e a convocação de eleições antecipadas.

Percorra a fotogaleria para ler a opinião dos líderes empresariais sobre o OE2025.

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Empresários e gestores ‘exigem’ aprovação do orçamento. Estabilidade acima de divergências políticas

Mais de quatro dezenas de empresários, gestores e líderes associativos afirmam que a aprovação do Orçamento é "fundamental" para garantir estabilidade e previsibilidade para as empresas e economia.

As negociações para a viabilização do Orçamento do Estado entram esta sexta-feira num momento crucial, com o encontro entre o primeiro-ministro Luís Montenegro e o líder do partido socialista, Pedro Nuno Santos, a dominar a agenda. Desta reunião poderá sair (ou não) um entendimento para trabalhar numa proposta que permita a aprovação do Orçamento para 2025. Questionados pelo ECO, mais de quatro dezenas de decisores empresariais não têm dúvidas: É preciso aprovar o Orçamento e garantir um quadro de estabilidade, evitando conduzir o país a uma situação de ingovernabilidade. Num cenário de chumbo do diploma, as opiniões dividem-se entre a opção pela governação em duodécimos e a convocação de eleições antecipadas.

O ECO ouviu 44 empresários, gestores e presidentes de associações empresariais sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2025. Questionados sobre se a proposta deve ser aprovado, a resposta é (praticamente) unânime: Aprovar o Orçamento é “fundamental” para garantir a estabilidade essencial para as empresas desenvolverem a sua atividade. Mas, o que fazer caso não seja aprovado? Aqui, as respostas dividem-se quase a meio: Uns dizem que sem orçamento não há outra solução a não ser marcar novas eleições, enquanto outros defendem a manutenção do Governo com duodécimos ou outros entendimentos na Assembleia da República.

Carlos Mota Santos é líder do maior grupo de infraestruturas nacional, a Mota-Engil, com negócios em vários continentes. “Acho que temos de ter um Orçamento do Estado para 2025 e que não deve haver eleições. O país não pode andar sistematicamente em eleições e com tudo parado. É inviável para a economia e para as empresas”. E o gestor deixa um pedido, implicitamente dirigido a Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. “Espero que haja sentido de responsabilidade de todos“.

O país não pode andar sistematicamente em eleições e com tudo parado. É inviável para a economia e para as empresas.

Carlos Mota Santos

Os empresários, neste momento, preferem um Orçamento do Estado aprovado, mesmo que possam ter discordâncias de diversa ordem em relação a várias das medidas que preconize“, sentencia João Vieira Lopes. Para o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), a esmagadora maioria dos empresários “não simpatiza com a ideia de haver um novo ato eleitoral a curto prazo, até porque os indícios que nos dão as sondagens apontam para que não será provável uma grande alteração nos resultados das mesmas.”

“Deve haver um orçamento aprovado para que não se provoque uma crise política e económica desnecessária”, reforça Stephan Morais. Para o Presidente da direção da APCRI, Associação Portuguesa De Capital De Risco, “o investimento necessita de estabilidade e sem orçamento isso não é possível. Há boas propostas base para incentivar o investimento em PMEs e startups neste orçamento, mas ainda há espaço para melhorar o ambiente de investimento de forma geral.”

Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, clama que “as empresas precisam de estabilidade e previsibilidade, muito importantes no mundo dos negócios.” “Já basta o elevado clima de incerteza de origem internacional, nomeadamente de cariz geopolítico, pelo que tudo o que depender de nós (contexto nacional) deve ser bem acautelado. E a aprovação do Orçamento do Estado é precisamente um exemplo”. “Este Governo está a fazer o caminho que deve ser feito e o Orçamento do Estado deve ser aprovado. É preciso ter um Orçamento para ter o país a ser gerido“, reforça José Germano de Sousa, presidente da Associação de Empresas Familiares.

Portugal e os portugueses têm feito um esforço muito significativo para chegarmos ao ponto onde estamos. Estamos melhor do que estávamos há vários anos, mas ainda temos muito a fazer pela frente.

João Pedro Oliveira e Costa

CEO do BPI

Depois de uma troca de farpas trocadas entre o primeiro-ministro e o líder da oposição, Luís Montenegro reúne-se esta sexta com Pedro Nuno Santos, quatro dias depois de Montenegro já ter recebido, em S. Bento, os presidentes do Chega e da Iniciativa Liberal. Este encontro é especialmente importante, uma vez que o Presidente da República já avisou que tudo o que seja não ter um orçamento é uma má solução. Já o primeiro-ministro, em resposta às acusações de Pedro Nuno Santos sobre a falta de uma “vontade séria” para negociar o Orçamento, disse estar disposto para dialogar e explorar todas as possibilidades para um entendimento, garantindo que “o Governo vai esgotar de forma paciente, de forma empenhada, de forma aberta, de forma dialogante todas as possibilidades para que, na Assembleia da República, a proposta não seja inviabilizada”. Esta é também a vontade dos empresários, que querem ver o Governo aprovado.

Qualquer situação que crie instabilidade política reflete-se e é crítica para o regular funcionamento dos agentes económicos e descredibiliza-nos internacionalmente.

Pedro Leitão

CEO do Banco Montepio

“Portugal e os portugueses têm feito um esforço muito significativo para chegarmos ao ponto onde estamos. Estamos melhor do que estávamos há vários anos, mas ainda temos muito a fazer pela frente”, realça João Pedro Oliveira e Costa. Para o CEO do BPI, “o momento atual é uma oportunidade que não nos podemos dar ao luxo de perder e as futuras gerações não nos vão perdoar. Seria imperdoável que o OE não fosse aprovado.”

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, concorda com o líder do BPI, mostrando-se preocupado com a instabilidade. “Qualquer situação que crie instabilidade política reflete-se e é crítica para o regular funcionamento dos agentes económicos e descredibiliza-nos internacionalmente, por exemplo, perante as agências de notação financeira, pelo que acredito ser do interesse nacional que o Governo e os partidos com assento parlamentar cheguem a um consenso rapidamente.”

Sendo este o primeiro orçamento deste Governo como de qualquer primeiro orçamento de qualquer Governo, naturalmente deve ser aprovado ou por maioria ou por efeito de uma abstenção generalizada. Votar contra só se justifica se existir uma maioria alternativa capaz de aprovar um outro orçamento“, justifica o gestor António Ramalho, advisor da consultora Alvarez & Marsal. Mas, e o que se deve passar a seguir? “⁠Caso o orçamento não seja aprovado, considero negativo o recurso imediato a eleições. Depois de Mota Pinto, depois de António Costa, um terceiro recurso a eleições por efeito do chumbo do orçamento torna a sua apresentação uma autêntica moção de confiança. E colocar qualquer governo atual ou futuro perante moções de confiança anuais não só representa uma subversão constitucional como contribui para a instabilidade do nosso sistema político“.

Este Governo está a fazer o caminho que deve ser feito e o Orçamento do Estado deve ser aprovado. É preciso ter um Orçamento para ter o país a ser gerido.

José Germano de Sousa

Presidente da Associação das Empresas Familiares

Mais do que discussões palacianas, ilustradas por coreografias bacocas sobre encontros, reuniões ou ‘traições encapotadas’ que só descredibilizam a política (ainda mais) os partidos deveriam sentar-se e falar abertamente sobre os temas em questão. Com a responsabilidade que devem a quem os elegeu e a quem paga impostos”, atira Carlos Lobo, economista, especialista em Finanças Públicas e impostos, e professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, apelando a um entendimento ao Centro, entre a AD e o PS.

Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, insiste na estabilidade política. “A proposta deve ser negociada, tendo em conta o quadro parlamentar que resultou das eleições e suporta o atual Governo. E fundamental que haja condições de governabilidade, viabilizando o orçamento que sair da negociação. E viabilizar deve ser entendido como responsabilizar quem governa“.

Perante o contexto geopolítico global, Nuno Fernandes Thomaz, não tem dúvidas sobre o que deve ser o desfecho deste processo. “A proposta do OE tem que ser aprovada! Acrescentar outro nível de incerteza (nacional) ao contexto internacional complexo seria não só irresponsável como grave para os portugueses“. O gestor, partner da sociedade CoreCapital, assinala outro ponto. “Além disso o que separa o Governo e o principal partido da oposição no OE não é assim tão significativo e insanável”. Mas Fernandes Thomaz entende, ainda assim, que um chumbo do orçamento não deve conduzir a eleições antecipadas. “Se a proposta de OE não for aprovada o Governo deve manter-se em funções. Ter 3 eleições em 3 anos seria uma loucura.

Ingovernabilidade compromete PRR e futuro do país

Um dos temas que afasta mais o Governo e o PS é o IRS Jovem, um diploma que já foi enviada ao Parlamento, e deverá atirar as contas públicas novamente para o défice dentro de dois anos. Este tema é considerado uma das “prioridades” do Governo e um dos dossiês mais contestados pelo partido socialista. Mas PS e Governo têm ainda outras discórdias naquilo que são as medidas fiscais do Executivo.

O Governo quer baixar a taxa do IRC de 21% para 15% à razão de dois pontos percentuais ao ano até ao final da legislatura. Face à imediata oposição do PS, o Governo decidiu retirar a matéria do âmbito da discussão do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) e enviou para o Parlamento propostas de autorização legislativa. O objetivo seria viabilizar a descida do IRC com o apoio do Chega e da IL à margem do OE, através de diplomas autónomos. Os projetos já deram entrada nos serviços da Assembleia da República ainda antes das férias do verão, mas ainda não foram agendados para debate, deixando assim margem de manobra para um possível entendimento entre Governo e socialistas.

Já o novo IRS Jovem destina-se a pessoas até aos 35 anos de idade e prevê uma redução para um terço das taxas de IRS atualmente em vigor, até um máximo de 15% para quem aufira rendimentos coletáveis até ao 8.º escalão.

O orçamento prevê também a continuação dos apoios diretos às famílias, nomeadamente através da redução das taxas de IRS para os rendimentos médios e baixos. Isso é especialmente relevante num período de alta inflação, ajudando as famílias a manter o seu poder de compra.

Ricardo Costa

CEO do Grupo Bernardo da Costa

José Theotónio alerta para um dos maiores riscos associados ao chumbo do Orçamento. “A proposta deve ser aprovada, o que o país menos precisa é de voltar a ter eleições. A execução do PRR está toda atrasada e se não houver um esforço grande para o recuperar perdemos aquilo a que todos chamam como a nossa última oportunidade”. Por isso, afirma o CEO do grupo Pestana, “deve haver um esforço efetivo de negociação entre o governo e a oposição mas o governo tem de se rever no orçamento, não pode governar com um orçamento de outros“. Assim, gestor do maior grupo hoteleiro nacional afirma que se deve evitar novas eleições. Mas admite o regresso às urnas num cenário extremo: “Só com um parlamento a aprovar leis contra as políticas do Governo em funções, porque isso criaria uma situação insustentável e ter-se-ia que ir para novo ato eleitoral, que muito provavelmente resultaria num quadro parlamentar muito semelhante e por isso não resolveria nada“.

“O orçamento prevê também a continuação dos apoios diretos às famílias, nomeadamente através da redução das taxas de IRS para os rendimentos médios e baixos. Isso é especialmente relevante num período de alta inflação, ajudando as famílias a manter o seu poder de compra”, argumenta Ricardo Costa. Para o CEO do Grupo Bernardo da Costa, “rejeitar este orçamento não seria apenas rejeitar um conjunto de medidas financeiras, mas recusar investimentos fundamentais na saúde, educação e bem-estar das pessoas, além de negar ao Governo eleito a possibilidade de implementar plenamente o seu programa.”

Ao nível das empresas, o Governo avançou com um pacote com 60 medidas para a Economia. Para Luís Cabaço Martins, presidente da ANTROP — Associação Nacional de Transportes de Passageiros, “o Orçamento de Estado não pode deixar de ter uma marca clara de apoio ao tecido empresarial que é o motor da economia, e medidas de incentivo ao investimento. A componente fiscal é absolutamente essencial, seja ao nível do IRC, em que defendemos uma redução gradual das taxas, assim como na eliminação das tributações autónomas, e uma redução da tributação da Segurança social em algumas rubricas salariais”. Estas medidas, associadas a alguns incentivos ao nível dos benefícios fiscais, que levarão a uma melhoria dos aumentos salariais, “estaremos assim a criar um ciclo virtuoso na economia, favorável ao desenvolvimento sustentado do nosso país.”

O país precisa de um Orçamento do Estado que promova a confiança e crie condições de atratividade para investidores, nacionais e internacionais, permitindo que áreas estratégicas, como o imobiliário e o turismo – cada vez mais qualificado e de qualidade – continuem a ser motores de desenvolvimento.

José Cardoso Botelho

CEO da Vanguard Properties

“O país precisa de um Orçamento do Estado que promova a confiança e crie condições de atratividade para investidores, nacionais e internacionais, permitindo que áreas estratégicas, como o imobiliário e o turismo – cada vez mais qualificado e de qualidade – continuem a ser motores de desenvolvimento e que impulsionem outros setores com capacidade de gerar maior valor acrescentado”, acrescenta José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties.

José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), destaca que “seria fundamental aproveitar o Orçamento do Estado para se introduzirem estímulos fiscais à poupança para a reforma, atentos os cenários de redução previsível do valor das pensões públicas a curto/médio prazo, e também de incentivos para a contratação de seguros de saúde que possam ajudar a ultrapassar as dificuldades que o país sente em matéria de acesso a cuidados de saúde.”

É importante termos um governo a trabalhar com um orçamento aprovado que promova o crescimento económico (desde logo aproveitando o PRR) e que tenha a preocupação de manter as contas públicas equilibradas com redução do crescimento da despesa.

Pedro Carvalho

CEO da Generali Tranquilidade

Para Pedro Carvalho, CEO da Generali Tranquilidade, “é importante termos um governo a trabalhar com um orçamento aprovado que promova o crescimento económico (desde logo aproveitando o PRR) e que tenha a preocupação de manter as contas públicas equilibradas com redução do crescimento da despesa. A despesa corresponde a impostos (no imediato e a prazo) pelo que de pouco nos adianta cortar este ou aquele imposto sem reduzir despesa“, avisa. “É fundamental resistir à adoção de medidas populistas de curto prazo, como o novo IRS jovem, que, de acordo com o Conselho das Finanças Públicas, poderá ter impactos negativos significativos no défice“, realça Rui Assis, CEO da Assis Business Partners.

Uma das grandes preocupações dos empresários tem que ver com a execução do Plano de Recuperação e Resiliência e os fundos do PT2020 e PT2030. “Temos um PRR na iminência de falhar, um PT2020 para encerrar e um PT2030 que quase não começou. [Um chumbo do OE] põe em causa a sustentabilidade das contas públicas“, avisa César Araújo, CEO da Calvelex. O empresário defende, por isso, que “as eleições não interessam a ninguém. O OE tem mesmo que ser aprovado, porque o Presidente da República já disse que vamos para eleições se o OE não for aprovado. É um pesadelo para a economia“.

Luís Guimarães, empresário e presidente da Polopiqué, está particularmente pessimista em relação ao futuro, e acaba por ser uma exceção na defesa da aprovação do Orçamento do Estado. “Da maneira que o Orçamento de Estado está a ser apresentado, não deve ser aprovado, isto porque não mostra nada de novo, mas como estamos habituados a governar para quem vier a seguir que feche a porta“. Assim, acrescenta o empresário têxtil, “infelizmente não vejo neste país pessoas de facto que se interessem pela causa pública e nos tirem desta realidade social e económica em que vivemos há mais de 40 anos. Este país poderia e devia ser um dos países mais ricos da Europa, mas infelizmente não temos governantes a altura que tenho a visão de tirar-nos deste buraco em que nos encontramos há décadas.

Temos um PRR na iminência de falhar, um PT2020 para encerrar e um PT2030 que quase não começou. [Um chumbo do OE] põe em causa a sustentabilidade das contas públicas.

César Araújo

CEO da Calvelex

Portugal não pode entrar num ciclo de ingovernabilidade, como aquele que tem vivido nos últimos três anos“, refere, por seu lado, Nuno Botelho. Para o presidente da Associação Comercial do Porto, “seria um ato de grande irresponsabilidade se tal acontecesse, uma vez que o quadro macroeconómico atual, ainda muito marcado por inflação e taxas de juro elevadas, por sinais de contração em algumas das principais economias europeias e por tensões geopolíticas diversas, aconselha a que haja consistência nas políticas públicas e continuidade em algumas das reformas e investimentos que estão em curso. Sabemos, por exemplo, o que representou a demissão do anterior Governo em termos de execução do PRR.”

O presidente executivo do grupo Delta, Rui Miguel Nabeiro, não tem dúvidas. “Creio que é do interesse de todos termos um Orçamento do Estado e evitar a todo o custo uma nova crise política que traga mais instabilidade e lance o país na incerteza“.

Miguel Pinto, diretor-geral da Continental Advanced Antenna Portugal, avisa que “se o Orçamento do Estado não for aprovado, será extremamente difícil para o Governo manter-se em funções, uma vez que ficaria limitado à gestão por duodécimos, restringindo severamente a sua capacidade de ação”. “Esta situação poderá comprometer os prazos do Plano de Recuperação e Resiliência e do Portugal 2030, além de prejudicar a implementação de algumas medidas que as empresas têm reivindicado, como a redução fiscal, a promoção de ganhos de escala para as empresas, o financiamento e a capitalização, bem como a qualificação e atração de mão-de-obra qualificada, entre outras”, explica Miguel Pinto.

E se não houver Orçamento?

Apesar de um cenário de eleições não agradar a ninguém, mais de metade dos empresários questionados pelo ECO admite que poderá não haver outra solução senão voltar às urnas. “Não acredito em duodécimos. Defendo que não havendo OE tem que haver eleições. Não é possível fazer o que o Governo está mandatado para fazer”, argumento José Germano de Sousa.

Se não houver orçamento ainda assim o governo deverá manter-se em funções. Entre duas soluções más opto pelo mal menor.

Rafael Campos Pereira

Vice-presidente da AIMMAP

Mas, e ao contrário do que seria expectável, nem todos defendem eleições antecipadas. “Se não houver orçamento ainda assim o governo deverá manter-se em funções. Entre duas soluções más opto pelo mal menor”, refere Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP). “Apesar de tudo, neste momento histórico, a estabilidade política será mais importante do que a aprovação de um orçamento”, justifica o representante do setor mais exportador do país.

Quer as óbvias limitações do regime de duodécimos, quer a crise política decorrente de nova ida às urnas causariam uma instabilidade pouco compaginável com os desafios que o país enfrenta (transição energética, digital e climática, crise nos serviços públicos, convergência com a Europa, produtividade e competitividade das empresas, reforma fiscal, envelhecimento demográfico, integração de imigrantes…)”, acrescenta Rafael Alves da Rocha. Segundo o Diretor-Geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, “os empresários, em particular, precisam de estabilidade e previsibilidade para enfrentarem a imprevisibilidade de um mundo convulsionado por conflitos e tensões geopolíticas, alterações climáticas, disrupções tecnológicas, protecionismo económico e desglobalização, instabilidade bolsista, movimentos populistas, entre outros fatores de perturbação”.

Quer as óbvias limitações do regime de duodécimos, quer a crise política decorrente de nova ida às urnas causariam uma instabilidade pouco compaginável com os desafios que o país enfrenta

Rafael Alves da Rocha

Diretor-Geral da CIP

Mas antes de chegar-se a um cenário do tudo ou nada, os empresários lembram ainda que há outras alternativas que podem ser exploradas após um primeiro chumbo do documento. “A configuração atual da Assembleia da República constitui uma oportunidade única para a criação dos tais consensos em matérias essenciais, que tanto defendemos e que darão um quadro de co-responsabilidade ao país, que muito pode aportar à sua credibilidade externa”, remata Ramiro Brito, presidente da AEMinho.

“O governo teria de avaliar até que ponto continua a ter legitimidade para implementar o seu programa. No entanto, a convocação de eleições antecipadas deve ser uma solução de último recurso“, realça Ricardo Costa. Para o empresário bracarense, “num cenário de instabilidade internacional e económica, com crises globais a impactarem Portugal, entrar num ciclo eleitoral prolongado poderia paralisar Portugal num momento crítico.” “O governo tem, sem dúvida, o dever de negociar e encontrar soluções.”

Miguel Pina Martins é particularmente severo na avaliação política desta negociação, que tem hoje um uma espécie de ‘Dia D’ antes da entrega da proposta na Assembleia da República, a 10 de outubro. “No meu entender, o Orçamento de Estado deve ser aprovado, e os partidos do centro têm essa responsabilidade. É muito importante para o país não estar constantemente em eleições em tão curto espaço de tempo, sendo fundamental esses partidos garantirem alguma estabilidade”. Para o chairman da Science4you, “todas as opções devem ser estudadas para evitar a marcação de eleições, mas essa será uma avaliação que deverá ser feita entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro“.

Autores: Fátima Castro, Isabel Patrício, Alberto Teixeira, Ana Marcela, Carla Borges Ferreira, Francisco Botelho, Alexandre Batista, Mónica Silvares, Salomé Pinto

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