“Tenho sempre de provar que consigo”. As mulheres no trabalho, das quotas à parentalidade

"Mulheres com ECO" está de volta. Cátia Sá Guerreiro, da AESE, Inês Odila, da Coverflex, Sara Silva, da L'Oréal Portugal, e Sónia Lourenço, do Portal da Queixa, debatem o papel da mulher no trabalho.

Da esquerda para a direita, Sónia Lourenço, CEO do Portal da Queixa, Cátia Sá Guerreiro, diretora do programa One Step ahead – Líderes no feminino da AESE, Inês Odila, country manager da Coverflex, e Sara Silva, diretora de relações humanas da L’Oréal.Hugo Amaral/ECO

Estudou enfermagem, embarcou em missões internacionais e regressou, mais tarde, ao país para apostar na gestão. Nunca sentiu que ser mulher estivesse a travar o acesso a oportunidades profissionais. Mas há algo que sente e que quer deixar claro. “Sinto que tenho sempre de provar que consigo”. O testemunho é de Cátia Sá Guerreiro. A hoje diretora do programa One step ahead – líderes no feminino da escola de negócios AESE não está, porém, sozinha.

Numa conversa no âmbito do projeto “Mulheres com ECO” (que pode ouvir ou até ver abaixo), Cátia Sá Guerreiro, Inês Odila, country manager da Coverflex, Sara Silva, diretora de relações humanas da L’Oréal Portugal, e Sónia Lourenço, CEO da Portal da Queixa, partilham as suas experiências, enquanto mulheres, no mundo do trabalho.

powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.

Por exemplo, esta última frisa, na mesma linha, que teve sempre de “demonstrar mais” do que os seus pares, por ser mulher e também por ser mãe. “Com um esforço adicional sempre”, afirma, denunciando o preconceito que sentiu. “Não me sinto coitadinha, acho que me tornou mais resiliente”, atira, ainda assim.

Já Inês Odila assegura que nunca sentiu que não conseguia progredir na carreira por causa do seu género, mas reconhece micro agressões. Por exemplo, ver o seu nível de expertise posto em dúvida ou ser assumida como alguém com um nível hierárquico inferior, só por ser mulher. “Se olhar para a minha carreira, acho que fiquei para trás por ser mulher? Não, mas tenho a certeza que tive certas experiências por ser mulher”, salienta a country manager da Coverflex.

Por sua vez, Sara Silva garante que não tem sentido o género como um impedimento na sua carreira, realçando que foi mesmo promovida quando estava grávida. “Posso ser uma inspiração de que realmente as coisas são possíveis”, observa a diretora de relações humanas da L’Oréal Portugal. Não se sente a exceção e diz que está rodeada de exemplos de mulheres de sucesso, mas faz questão de destacar os números que mostram que há ainda muito caminho para ser feito por elas no mercado de trabalho.

Questionadas, todas salientam que as quotas para mulheres em cargos de chefia são um mal necessário, uma ferramenta que deve ser apenas transitória para acelerar a igualdade de género no seio das empresas. “Que seja uma ferramenta transitória e não o objetivo final”, declara Sónia Lourenço.

Já sobre a parentalidade – um dos principais fatores do fosso salarial, de acordo com a investigação que deu o Prémio Nobel a Claudia Goldin –, reconhecem que existe, sim, algum preconceito, mas essa é também uma experiência que reforça certas competências, como a resiliência e a negociação.

Por fim, de olhos nas gerações de mulheres que estão a chegar ao mercado de trabalho, deixam conselhos. Sara Silva, por exemplo, recomenda investimento no autoconhecimento. “Em função disso, as decisões vão sendo mais fáceis”. Já Inês Odila aconselha confiança.

Cátia Sá Guerreiro deixa uma nota de otimismo: “vamo-nos habituando a olhar para a competência como uma característica que não tem género e para a liderança como um desafio assexuado”.

powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.

A iniciativa “Mulheres com ECO” reúne as várias marcas do universo ECO, com um novo episódio todas as sextas-feiras.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Autoeuropa: “Não se consegue um investimento destes sem apoio do governo”, diz Mira Amaral

O CEO da multinacional alemã agradeceu "o apoio do governo de Portugal, que nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País".

O ID. EVERY1, o novo elétrico da Volkswagen, que vai ser comercializado com um preço de venda de 20 mil euros, vai ser produzido da fábrica da multinacional alemã em Portugal.Volkswagen Group

A Autoeuropa foi a unidade escolhida pela Volkswagen para produzir o seu novo elétrico ID. EVERY1, cujo lançamento está previsto para 2027 e que vai ser comercializado com um preço de venda na casa dos 20 mil euros. A fábrica de Palmela venceu a concorrência a Leste e garantiu o futuro da fábrica portuguesa por “muitos anos”, uma vitória para a qual foi determinante o incentivo do governo. “Não se consegue um investimento destes sem o apoio do governo“, reconhece o ex-ministro Mira Amaral.

A confirmação oficial de Portugal como a localização do novo elétrico low cost foi feita esta segunda-feira, 10 de março, ao final do dia, gerando reações do governo e da empresa situada no distrito de Setúbal. “Conseguimos trazer para Portugal e para a Autoeuropa a produção de um novo carro elétrico da Volkswagen“, disse o primeiro-ministro Luís Montenegro, no dia da votação da moção de confiança.

Gostaríamos de agradecer o apoio do governo de Portugal, que nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País.

Thomas Hegel Gunther

CEO da Volkswagen Europa

Gostaríamos de agradecer o apoio do governo de Portugal, que nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País“, disse Thomas Hegel Gunther, CEO da Volkswagen, na conferência de apresentação de resultados anuais, que decorreu no mesmo dia, 11 de março.

As declarações destes responsáveis deixam pouco espaço para dúvidas em relação à atribuição de incentivos à Volkswagen para trazer para o país o novo modelo, um apoio que, aliado ao bom desempenho e aos níveis de produtividade da fábrica, foi determinante para a escolha da unidade de Palmela, onde no ano passado foram produzidas 236.100 unidades, que representam 4% das exportações nacionais e 1,3% do PIB de 2023.

O apoio do Governo foi importante. Não se consegue um investimento destes sem o apoio do governo, porque todos os governos de outros países fazem o mesmo. Normalmente são incentivos financeiros e fiscais e depois apoios na formação profissional.

Mira Amaral

Antigo ministro da Indústria

“A Autoeuropa está sempre a competir com as outras fábricas do grupo. A Autoeuropa tem apresentado uma excelente performance e está a produzir o T-Roc que tem uma excelente performance”, apontou Mira Amaral, antigo ministro da Indústria e um dos responsáveis pela entrada da Autoeuropa no país, em declarações ao ECO.

Para o antigo ministro, “os níveis de produtividade e competitividade muito elevados”, aliados à qualidade da mão-de-obra “são tudo atributos para que pudesse atrair o novo modelo”.

O antigo governante reconhece que “também teve o apoio do governo — e bem — , a dar incentivos para a construção deste modelo. O governo, através da AICEP, deu um conjunto de incentivos para o investimento na Autoeuropa“, reforçou.

“O apoio do Governo foi importante. Não se consegue um investimento destes sem o apoio do governo, porque todos os governos de outros países fazem o mesmo“, explica, acrescentando que, “normalmente são incentivos financeiros e fiscais e depois apoios na formação profissional“.

Fábrica reforça aposta na eletrificação

Com a construção do novo elétrico do grupo, a fábrica portuguesa da multinacional alemã “assegura o futuro da unidade de Setúbal de uma fábrica de nova geração da Volkswagen, e de uma enorme cadeia de valor de fornecedores nacionais, por muitos anos”, conforme realçou o ministério da Economia. Além de garantir a continuidade da empresa, o novo modelo vai ainda permitir à Autoeuropa reforçar a aposta na eletrificação.

“A Autoeuropa também já tinha comunicado que vai produzir o novo modelo híbrido do T-Roc, o que para mim era um sinal que ia eletrificar na produção“, destacou Mira Amaral.

A fábrica de Palmela, que fechou o último ano com um volume de negócios de cerca de 3,8 mil milhões de euros e 4.842 colaboradores, vai ter de apostar na transição energética do setor, afirmando-se como uma fábrica de futuro.

De acordo com o ministério da Economia, este novo investimento vai permitir à unidade converter-se numa “fábrica eletrificada de nova geração e a adoção de processos de produção e logísticos, bem como a assemblagem robotizada de sistemas de baterias”.

A fábrica de Palmela vai tornar-se mais eficiente e capaz de competir com fabricantes mundiais, alinhando a empresa, e Portugal, com os objetivos climáticos europeus de neutralidade carbónica, num cenário em que a União Europeia está a limitar a produção de carros a combustão e híbridos”, aponta também o gabinete de Pedro Reis, que fala num investimento “da ordem de várias centenas de milhões” de euros, sem revelar um valor exato.

Palmela ganhou às fábricas a Leste

A Autoeuropa disputou o novo modelo com outras fábricas da Volkswagen localizadas no Leste da Europa, tendo ficado a decisão final entre a fábrica portuguesa e a eslovaca, localizada em Bratislava, que, em 2023, produziu quase 329 mil carros e que é a única unidade do grupo que produz quatro marcas.

Se a Autoeuropa é a casa do T-Roc, um dos modelos mais populares do grupo germânico, a fábrica de Bratislava, que foi criada no mesmo ano da Autoeuropa — 1991 — , produz o Volkswagen Touareg; Volkswagen Passat; Audi Q7; Audi Q8; Porsche Cayenne; Porsche Cayenne Coupé; Škoda Superb. Cerca de 99% da produção [a mesma percentagem da Autoeuropa] destina-se à exportação.

Tal como a fábrica portuguesa, também a eslovaca vai produzir um modelo elétrico: o futuro SUV Porsche Cayenne. Contabilizando a unidade de Martin, onde são produzidos componentes, a Volkswagen emprega mais de 11 mil pessoas na Eslováquia.

Enquanto algumas fábricas da construtora alemã enfrentam dificuldades na Alemanha, com a empresa a preparar-se para fechar unidades de produção no país pela primeira vez na sua história, a fábrica da Volkswagen de Bratislava tem conseguido manter uma evolução positiva. Fechou 2023 (os últimos resultados apresentados pela empresa no seu site) com uma faturação recorde de 11,76 mil milhões de euros, três vezes mais que as receitas geradas em Portugal.

Além do ano de criação, as duas unidades partilham o bom desempenho — com receitas e produção crescente — e a aposta na eletrificação. Apesar da maior dimensão da fábrica eslovaca, Portugal levou a melhor do braço-de-ferro para a construção do novo carro da Volkswagen.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Crise em São Bento volta a juntar legislativas e autárquicas

Instabilidade governativa alterou calendário eleitoral. Um autarca em primeiro mandato conviverá a partir de maio com o terceiro Governo do país.

A aproximação temporal entre autárquicas e legislativas não é novidade no país, e até já houve dois anos com uma diferença de apenas 14 dias entre eleições, a primeira das quais em 1979, provocada igualmente pelo chumbo de uma moção de confiança, embora nessa altura as soluções de Governo se tenham arrastado por dois anos.

Depois de, em 1977, Mário Soares ver o seu Executivo cair no Parlamento, o país entrou numa série de governos sem longevidade até 2 dezembro de 1979. O último Executivo a levar o país até às eleições que dariam a vitória da AD liderada por Francisco Sá Carneiro foi um Governo de escolha presidencial liderado por Maria de Lurdes Pintassilgo, única primeira-ministra da história do país, presente no cargo durante um período de apenas quatro meses. As autárquicas viriam a decorrer a 16 de dezembro, 14 dias após a vitória de Sá Carneiro. Mas esses eram, definitivamente, outros tempos.

Em 1985, seria o Governo de Bloco Central a cair, com a chegada de Cavaco Silva a presidente do PSD, parceiro do PS de Mário Soares. As eleições de 6 de outubro ditariam a primeira eleição de Cavaco para primeiro-ministro. Dois meses depois, a 15 de dezembro, decorriam as autárquicas.

Neste século, já se registaram três outras “colagens” do calendário, a primeira alicerçada no “pântano” criado pela derrota autárquica do PS em dezembro de 2001, que levou António Guterres a apresentar a demissão e provocar as legislativas de março de 2002.

Em 2005, os cidadãos foram chamados a escolher os deputados de São Bento em fevereiro e os das suas autarquias e outubro. Em 2009, foram às urnas novamente com 14 dias de diferença, tal como em 1979, mas depois, a queda do Governo de José Sócrates aquando do pedido de assistência financeira em 2011 voltou a desencontrar o calendário.

Apesar da consistência eleitoral das autárquicas, a intermitência legislativa leva a que em 2025 se repita a aproximação. Desta vez, tal como no final dos anos 70, um autarca em início de mandato conhecerá vários titulares do cargo de primeiro-ministro: dois, se Luís Montenegro voltar a ganhar, três se for outro o escolhido pelos eleitores em maio.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 14 Março 2025

Luís Montenegro visita a BTL. Fitch avalia rating de Portugal e são conhecidos os dados de confiança dos consumidores norte-americanos. O novo primeiro-ministro do Canadá toma posse.

Numa semana marcada pela queda do executivo minoritário PSD/CDS-PP, destaque esta sexta-feira para a presença do primeiro-ministro Luís Montenegro na Bolsa de Turismo de Lisboa e para a avaliação do rating de Portugal pela Fitch. Ainda lá fora, são conhecidos os dados de confiança dos consumidores norte-americanos e o novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, toma posse.

Luís Montenegro visita BTL

Numa altura em que o país vive uma crise política com a queda do Governo, o primeiro-ministro Luís Montenegro visita, esta sexta-feira, a BTL – Better Tourism Lisbon Travel Market que termina este domingo. Alentejo, Ribatejo e Leiria são as regiões estrela deste ano deste certame que mostra o que de melhor existe de experiências turísticas no Continente e nas ilhas.

INE e Eurostat divulgam dados económicos

O Instituto Nacional de Estatística (INE) vai divulgar esta sexta-feira as estatísticas rápidas do transporte aéreo referentes a janeiro deste ano, assim como os índices de volume de negócios, emprego, remunerações e horas trabalhadas nos serviços relativas ao mesmo mês. Já lá fora, o Eurostat debruça-se sobre os fluxos do mercado de trabalho.

Fitch avalia rating de Portugal

A Fitch divulga esta sexta-feira o resultado da avaliação da dívida soberana portuguesa. É a primeira agência de notação financeira a pronunciar-se depois da moção de confiança que conduziu à queda do Governo.

Dados de confiança dos consumidores norte-americanos

São conhecidos, ao início da tarde desta sexta-feira, os dados de confiança dos consumidores norte-americanos. Os analistas apontam para 63,2 pontos.

Novo primeiro-ministro do Canadá toma posse

O novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, toma posse esta sexta-feira, após uma cerimónia diante o governador-geral, representante do rei Carlos III, que tem o título de chefe de Estado. Aos 59 anos, Mark Carney foi eleito líder do Partido Liberal por uma larga maioria no domingo, substituindo Justin Trudeau, que anunciou a sua demissão no início de janeiro depois de quase uma década no poder. Carney foi governador do banco central canadiano e do banco central da Inglaterra.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Queda do Governo preocupa presidentes de câmara em ano de autárquicas

Nas câmaras, a preparação para as autárquicas sofreu um revés com a queda do Governo. Execução de obras, cansaço dos eleitores e dureza dos discursos políticos são apenas algumas das preocupações.

Num momento de grande crispação política, a autarca de Almada, Inês Medeiros, alerta que “todos os democratas têm a responsabilidade de repor dignidade no debate político”RUI MINDERICO/LUSA

Quando as peças do xadrez político se movimentavam sobre o tabuleiro autárquico, com cerimónias dos principais partidos a anunciar e apresentar candidatos às eleições de setembro ou outubro deste ano, centrando-se os discursos inflamados na defesa de projetos para as cidades e vilas, a crise política nacional ensombrou os ânimos autárquicos. Para lá da retirada de visibilidade ao poder local a apenas seis meses das eleições para freguesias e câmaras, teme-se um retrocesso em investimentos fundamentais para os municípios, e até naqueles estruturantes para o país, como o novo aeroporto Luís de Camões, uma preocupação manifestada por autarcas de norte a sul e dos quatro partidos autárquicos, ouvidos pelo ECO/Local Online.

Em Cascais, Carlos Carreiras considera que a crise política “afeta necessariamente, de forma muito negativa”, a gestão das câmaras e que “muitas decisões ficam suspensas à espera de novos protagonistas que não conhecem dossiês e processos que têm vindo a ser discutidos e prontos para decisão”. Já em Almada, Inês de Medeiros vê a gestão autárquica neste contexto político como “um desafio muito maior num ano que já de si era desafiante, ano de autárquicas, com uma série de projetos em curso”.

Para a socialista, “todos os autarcas estão de acordo, a própria associação de municípios expressou muito claramente a sua preocupação com mais um momento de instabilidade política, até apelando ao Governo para reconsiderar a moção de confiança. Sobretudo numa altura em que as coisas não estavam a funcionar muito bem, com o IHRU e o PRR da habitação, o mais gravoso que temos neste momento. Já para não falar das escolas e saúde”, diz a autarca de Almada. Em termos de grandes obras, não teme pela extensão do Metro do Sul do Tejo, que está contratualizada, mas tinha expectativa no lançamento do primeiro estudo para a travessia Algés-Trafaria em túnel.

Em dois mandatos são quatro governos, uma pandemia, uma guerra, uma crise… se os autarcas não são heróis, o que serão? É bom que os portugueses tenham consciência do que seria do país sem as autarquias”, diz Medeiros.

E se Inês Medeiros terminará o segundo mandato com quatro governos, Pedro Lobo, no primeiro mandato em Sever do Vouga, não está muito melhor: “Para mim, autarca há três anos e meio, será o terceiro Governo. Sabemos que dois meses antes e dois meses depois, as coisas não funcionam”.

Carlos Moedas, líder da coligação Novos Tempos, que ganhou a eleição em Lisboa em 2021, aponta o dedo à classe política no geral e diz que “infelizmente, não foi possível” manter o Governo, pelo que “agora temos de ser pragmáticos, olhar para o papel das cidades”, que são, diz o presidente da câmara de Lisboa, “essenciais para marcar a estabilidade”.

Há uma matéria em que era importante todas as forças políticas pensarem, as indemnizações à CNE. Convinha clarificar o que, da parte da CNE, nos vai acontecer. Ficamos numa mega-campanha eleitoral sem conseguir comunicar, sem ser um mero exercício de denúncias sistemáticas

Inês de Medeiros

Presidente da Câmara Municipal de Almada

No par de meses anteriores às eleições, nota Inês de Medeiros, os autarcas têm uma dor de cabeça adicional, as obras que se podem ou não inaugurar, considerando a interpretação da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de que a campanha se inicia a partir do momento em que se marcam eleições.

Ora, visto que até maio decorrerão as legislativas e que a marcação das autárquicas ocorrerá até 80 dias antes do ato de final de setembro ou início de outubro, aos Executivos camarários restam pouco mais de mês e meio sem campanhas. “Há uma matéria em que era importante todas as forças políticas pensarem, as indemnizações à CNE. Convinha clarificar o que, da parte da CNE, nos vai acontecer. Ficamos numa mega-campanha eleitoral sem conseguir comunicar, sem ser um mero exercício de denúncias sistemáticas”, questiona a autarca de Almada. “Rapidamente podemos ser considerados parciais, mediante o partido que está no Governo. Como se pode fazer campanha? Os municípios vão ficar mudos? O que é que podemos fazer? Qual a nossa ação?”

Investimento em perigo

O período eleitoral vai beneficiar os incumbentes, considera Carlos Carreiras, que atinge o limite de mandatos em CascaisMário Cruz/Lusa

E com a instabilidade política nacional, o investimento a nível local poderá ser afetado? “Muito provavelmente, sim”, admite Carlos Carreiras, de Cascais. “Tudo o que seja instabilidade política, reduz a previsibilidade, logo aumenta o risco e faz reponderar processo de investimento”.

O também social-democrata Jorge Vala, de Porto de Mós, assume, sem rodeios, que a crise nacional “afeta, naturalmente, as câmaras”, em especial as que têm investimentos e decisões dependentes de despachos do Governo. Durante dois meses, nota, haverá inação. No seu caso, aguarda despachos para registo de uma zona industrial e para aquisição de um imóvel do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social para fazer um parque, podendo ainda necessitar de um outro para expropriar um terreno necessário à avenida que servirá uma escola em obras. “A partir do momento em que o Governo caia, começo a ter algumas dúvidas. A situação é mesmo muito preocupante”.

Tudo o que seja instabilidade política, reduz a previsibilidade, logo aumenta o risco e faz reponderar processo de investimento

Carlos Carreiras

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Igualmente apreensivo está o socialista Francisco Oliveira, de Coruche, que fala de uma “situação perturbadora”. “A estabilidade governativa impacta muito na gestão das autarquias. Há compromissos, não só internos, mas a quadros comunitários, PRR, PT2030, é preciso cumprir prazos que o país está a fazer perigar”.

Por seu turno, Jorge Vala assume que “é um ano também complexo para os autarcas, ano de eleições, em que as respostas deveriam ser mais naturais, sem estarmos agarrados a calendários que são da responsabilidade de terceiros, e não da nossa. Parece-nos que faltaram adultos na sala”.

No par de meses que distam das eleições, o tom da campanha também deixa os eleitos do poder local apreensivos.

“Em primeiro lugar, temos todos que fazer um esforço para fazer uma campanha digna. É todo o sistema político que está em risco se não o conseguimos fazer”, afirma Inês de Medeiros, que pede para se “repor alguma dignidade no combate político”.

A estabilidade governativa impacta muito na gestão das autarquias. Há compromissos, não só internos, mas a quadros comunitários, PRR, PT2030, é preciso cumprir prazos que o país está a fazer perigar

Francisco Oliveira

Presidente da Câmara Municipal de Coruche

A ele soma-se a disponibilidade dos autarcas para ações de campanha dos seus partidos nas legislativas, tal como sinaliza o presidente da câmara de Porto de Mós: “Não podemos dizer que estamos fora do processo eleitoral nacional. Estamos sempre condicionados.”

Outro ponto em análise é a limitação de tempo para os candidatos autárquicos se dedicarem à sua própria campanha, como nota Frederico Rosa, presidente da câmara do Barreiro. “Temos junho e agosto como meses de férias, as pessoas menos disponíveis para a mensagem política. Abril e maio são fundamentais. É importante ter tempo para discutir as estratégias locais”, nota o socialista do Barreiro.

O modo como um autarca recandidato ou um novo desafiador à atual liderança municipal serão avaliados pela população também sofrerá alterações. A crise política nacional e o período eleitoral “beneficia os incumbentes e prejudica [quem] se quer afirmar como alternativa”, considera Carlos Carreiras, que este ano atinge o limite de mandatos em Cascais. E entre os últimos, aponta “em especial os candidatos socialistas que tinham esperança de se manterem como deputados” no Parlamento.

Os eleitores “podem ser levados pelas tricas nacionais”, admite o socialista Frederico Rosa. “Os eleitores conseguem fazer a destrinça do que se passa na freguesia e no concelho. O que não quer dizer que não estejam cansados”, salienta o autarca do Barreiro.

Ali próximo, a também presidente de uma câmara socialista, Inês de Medeiros, admite que “nos casos em que haja renovação, o impacto das legislativas pode ser maior”.

Vai ser fundamental a proximidade e contacto de rua, de que pessoalmente gosto muito. Os grandes meios de comunicação vão estar envolvidos até final de maio nas legislativas e a mensagem política vai ser totalmente dominada

Frederico Rosa

Presidente da Câmara Municipal do Barreiro

A menor disponibilidade dos media para temas autárquicos no período até às legislativas também é avaliada. Frederico Rosa considera que as legislativas “vão canibalizar a mensagem local, porque as estruturas vão estar ao serviço das campanhas nacionais”. Com a comunicação social centrada no que se passa a nível nacional, “vai ter de haver adaptação” nas estruturas locais, diz o autarca do Barreio

“Vai ser fundamental a proximidade e contacto de rua, de que pessoalmente gosto muito. Os grandes meios de comunicação vão estar envolvidos até final de maio nas legislativas e a mensagem política vai ser totalmente dominada” por essas eleições. “No meio de toda esta agenda mediática e política nacional, vamos ter de saber encontrar espaço para a mensagem local. No meio desta agenda política intensa nos próximos dois meses, nós, autarcas e candidatos, vamos ter que colocar algumas mensagens locais no âmbito da mensagem regional e nacional”.

Num município mais pequeno, como Oliveira do Bairro, “as pessoas contam muito mais que os partidos. É natural que o foco da comunicação social não seja tão relevante. Nós aqui não estamos tão preocupados com as televisões e jornais, aqui vemo-nos muito de proximidade”.

No mesmo registo, João Palma, presidente da câmara de Serpa, considera que as legislativas “não vão ter grande influência” sobre as autárquicas. “Pelo menos a este nível, nas nossas povoações. Se calhar, a nível das grandes cidades poderá influenciar alguma coisa. Aqui, julgo que não, é um contacto muito mais direto, os candidatos são pessoas conhecidas, com alguma relação com os eleitores. Pela dimensão do território, julgo que não vai perturbar”.

Acumulação de atrasos

Fernando Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
Fernando Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de XiraLuís Ribeiro

Os principais receios prendem-se com os fundos europeus destinados à saúde, educação e habitação. Entre os que aguardam uma chamada do Terreiro do Paço está Fernando Ferreira, presidente da câmara de Vila Franca de Xira. O socialista explica que, “a pedido do Ministério da Saúde”, avançou com o projeto de um novo centro de saúde, obra estimada em seis milhões de euros, mas o Governo ainda não abriu o aviso necessário para pagar esta obra que cabe ao Estado central. “Precisamos que o Governo se chegue à frente, porque a câmara está a trabalhar sob indicação do Estado central. Não tínhamos resposta até agora e temo que o Governo não vá responder”.

O edil de Vila Franca de Xira acusa o Governo de estar “paralisado há muitos meses. Os autarcas colocavam questões e não tinham resposta. Os autarcas são muito resilientes e estão todos apostados nos seus próprios programas. Continuaremos a fazer, com ou sem Governo. Nos últimos meses, o Governo era como se não existisse”, acusa, apontando o primeiro-ministro como “o único responsável” pela instabilidade política. “O PS não tem responsabilidade nenhuma nesta matéria. O próprio PSD enquanto partido não terá.”

Os autarcas são muito resilientes e estão todos apostados nos seus próprios programas. Continuaremos a fazer, com ou sem Governo. Nos últimos meses, o Governo era como se não existisse.

Francisco Ferreira

Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

Na habitação, os constrangimentos abarcam municípios maiores, como Vila Franca de Xira e Almada, onde ambos os autarcas apontam o dedo à inércia do IHRU, e também os mais pequenos, como Sever do Vouga. Ali, a estratégia local de habitação, para a qual já só falta o lançamento do concurso público de construção, vai ficar em pausa: “Íamos avançar, mas sem ter certeza do que aí vem, não vamos sequer arriscar, diz o autarca Pedro Lobo.

Os receios prendem-se com obras marcadamente locais, ou regionais, mas também com as mais estruturantes. No Barreiro, Francisco Rosa aponta a terceira travessia do Tejo e o aeroporto de Alcochete como exemplos. Aos quais adiciona a extensão do Metro Sul do Tejo até ao seu município, o hospital esperado para a cidade e o projeto do Arco Ribeirinho Sul. “Tem de haver responsabilidade de Estado, que acho que vai haver. Estas questões são demasiado estruturantes para serem abandonadas. Conforme muda o Governo, não pode ser mudam os ventos, mudam as vontades”. O autarca do Barreiro exige “previsibilidade” e que “se possa construir sobre o que está feito, não se fazer folha branca conforme cada eleição”.

Obra de grande volume é também o túnel de drenagem em Lisboa. Numa declaração aos jornalistas durante a BTL, Carlos Moedas disse esperar ainda por dinheiro europeu para “ajudar a pagar” o investimento, questionando mesmo “o que vai acontecer com o plano geral de drenagem”.

Francisco Oliveira, autarca de Coruche, assume que “este incidente impacta com as autarquias. Espero que não traga alterações profundas, no sentido de o próximo Governo vir a alterar programas, estratégias definidas e alinhadas com investimento dos municípios. Espero que tudo isto não concorra, até à nomeação do novo Governo, para estagnação ou paragem das decisões. O que preocupa os autarcas é que não haja, neste hiato, uma suspensão de decisões prioritárias para os municípios”

Este incidente impacta com as autarquias. Espero que não traga alterações profundas, no sentido de o próximo Governo vir a alterar programas, estratégias definidas e alinhadas com investimento dos municípios. Espero que tudo isto não concorra, até à nomeação do novo Governo, para estagnação ou paragem das decisões.

Francisco Oliveira

Presidente da Câmara Municipal de Coruche

Também na execução das obras, nota o centrista Duarte Novo, de Oliveira do Bairro, “é natural que a instabilidade política traga instabilidade emocional, indisponibilidade de empreiteiros, situações que ficam na corda bamba”. O autarca do CDS faz um paralelo com o efeito de contágio da instabilidade de um país na bolsa de valores. “A economia, naturalmente, vai ser afetada. Algumas expectativas poderão acalmar esta efervescência que estamos a sentir em todo o país. Espero eu, e sou economista de formação, que não tenha consequência para a nossa economia”. Em termos de infraestruturas, o presidente de Oliveira do Bairro teme novo atraso na abertura de um nó de ligação à autoestrada do Norte, A1, o qual servirá também os concelhos de Anadia e Águeda.

A estagnação de projetos é antevista em vários pontos do país, mas em alguns casos admite-se consequências significativas. Em Sever do Vouga, bastante afetado pelos incêndios de setembro, já entraram na câmara 3,5 milhões de euros para colmatar prejuízos, mas as empresas, que tiveram até 28 de fevereiro para apresentar lista de danos, e as coletividades, cuja candidatura a fundos abriu esta semana, vão ficar na incerteza, nota o presidente da autarquia. Perante prejuízos de 10 milhões de euros nos negócios do concelho, o autarca Pedro Lobo espera que o dinheiro não fique retido em Lisboa, “sob pena de as empresas fecharem as portas”. A eventual alteração à prioridade do IC35, anunciada esta semana no Conselho de Ministros, é outro ponto que o deixa receoso.

O Governo, ao ficar em gestão, cria alguma instabilidade, mesmo em termos de contactos, de trabalho conjunto, que nos deixa alguma preocupação com abertura avisos, decisões de projetos que podem depender do poder central. Vai trazer alguma instabilidade, embora, esperamos nós, que não seja muito grave.

João Palma

Presidente da Câmara Municipal de Serpa

A sul, em Serpa, bastião comunista, João Efigénio Palma considera que “o Governo, ao ficar em gestão, cria alguma instabilidade, mesmo em termos de contactos, de trabalho conjunto, que nos deixa alguma preocupação com abertura avisos, decisões de projetos que podem depender do poder central. Vai trazer alguma instabilidade, embora, esperamos nós, que não seja muito grave”.

Vários autarcas olham para o calendário e temem o que veem. É o caso de Serpa: “neste momento, estamos a ultimar o projeto da escola secundária, em breve haverá a apresentação, sendo um investimento grande que depende de uma negociação com interlocutor válido da parte do Governo”.

Em Sever do Vouga, Pedro Lobo sinaliza o risco de se desperdiçar financiamento europeu. “O empréstimo do Banco Europeu de Investimento poderá estar em causa”, admite. “Temos candidaturas para reconstrução de umas dezenas de casas e estávamos à espera há bastante tempo da linha do BEI para avançar com essa candidatura”.

Por outro lado, com o PT2030 “já tão atrasado”, somam-se pelo menos mais três a quatro meses de espera por um novo Governo. “Devíamos estar a falar sobre programas, estratégias, as pessoas, e o que vai ser feito é um referendo a se, efetivamente, quem se candidata a estes lugares pode ter tido uma vida ou pode ter uma vida posterior, ou não”.

O presidente da autarquia do distrito de Aveiro lamenta o tom vigente no Parlamento na passada terça-feira, onde, acusa, “perdeu-se o respeito. Dizem-se coisas que não são verdade e não lhes acontece nada. Chamam-se mentirosos uns aos outros na Assembleia da República, põe-se em causa a reputação”. E, questiona: se ali “são as entidades máximas que o fazem, depois espera-se que nas autárquicas as coisas sejam melhores?”

Devíamos estar a falar sobre programas, estratégias, as pessoas, e o que vai ser feito é um referendo a se, efetivamente, quem se candidata a estes lugares pode ter tido uma vida ou pode ter uma vida posterior, ou não.

Pedro Lobo

Presidente da Câmara Municipal de Sever do Vouga

Francisco Oliveira admite que “as pessoas estão cansadas deste processo de escrutínio”, e embora as autárquicas tenham um foco maior no candidato, considera que pode haver desgaste político decorrente da crise política. “se este período que medeia até às eleições for de muito desgaste individualizado dos representantes dos dois maiores partidos, se forem muito direcionadas, pode concorrer para que haja abstenção muito grande da população”, considera o socialista de Coruche.

Autarca do PCP no Alentejo interior, João Palma é mais otimista: “Julgo que Portugal, o país, está habituado a viver em democracia e a decidir quando tem de decidir. Tenho esperança de que as coisas não se compliquem demasiado”.

A autarca almadense, por seu lado, pede responsabilidade: “O primeiro desafio é o de todos fazermos um grande esforço para repor a dignidade política. Sabemos o que a chegada da extrema-direita trouxe de desprestígio para as instituições. Todos os democratas têm a responsabilidade de repor dignidade no debate político”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Marcelo “fez tudo” pela estabilidade, mas “não há meio caminho” na confiança. O discurso do Presidente em 5 pontos

Presidente defendeu que "fez tudo o que podia" para evitar eleições, mas "acordo não era possível", sinalizou a importância da confiança e apelou a debate "digno". O resumo da comunicação ao país.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou na quinta-feira eleições legislativas antecipadas para o dia 18 de maio, após a queda do Governo de Luís Montenegro na sequência do chumbo da moção de confiança. Uma moção contra a qual o chefe de Estado, que pela terceira vez irá dissolver o Parlamento, foi contra.

Num discurso ao país às 20 horas, na sala das bicas, no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa resumiu o que se andou para aqui chegar, defendeu que “fez tudo o que podia” para evitar este cenário, sinalizou a importância da relação entre a ética e a moral e a confiança num primeiro-ministro e apelou a um debate eleitoral “digno” e que “não abra ainda mais a porta a experiências que se sabe como começam e se sabe como acabam”.

O discurso do Presidente da República em cinco pontos essenciais:

“Não se pode ao mesmo tempo confiar e desconfiar ética e moralmente do primeiro-ministro”

Marcelo Rebelo de Sousa resumiu aos portugueses o desenrolar da polémica em torno da empresa do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e a resposta dos atores políticos. “Por que é que o Governo, por um lado, anunciou e apresentou a moção de confiança e, por outro lado, as oposições – salvo um partido – rejeitaram essa moção, provocando a demissão do Governo? O tema central respeitou à confiança que o primeiro-ministro e, portanto, o Governo mereceriam para continuar a governar Portugal”, apontou.

Segundo o chefe de Estado, o “choque” político que se gerou entre os partidos não foi “apenas legal, nem político, mas sobretudo de juízo ético ou moral sobre uma pessoa e a sua confiabilidade – o primeiro-ministro”. Uma situação que, entende, “suscitou uma questão nova em que todos os esforços de entendimento mesmo mínimo se revelaram impossíveis“.

“Não se pode ao mesmo tempo confiar e desconfiar ética e moralmente de uma pessoa, neste caso do primeiro-ministro e, portanto, do Governo. Não havia meio caminho“, descreveu.

“Tudo fez ao seu alcance para salvaguardar” a estabilidade

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que “tudo aconselha a estabilidade” e tornou claro, ainda que nas entrelinhas, que foi contra as posições tomadas no desenvolver do processo, nomeadamente a apresentação da moção de confiança.

Ao Presidente da República, o primeiro interessado na estabilidade e na dispensa de novas eleições e que tudo fez ao seu alcance para salvaguardar, não restava senão a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições para o dia 18 de maio de 2025“, afirmou.

Ninguém desejava eleições, mas contexto assim o obriga

O chefe de Estado sublinhou que os partidos não desejavam eleições, mas perante o panorama alinharam posições sobre a necessidade de nova ida à urnas dos portugueses. “Os partidos, ouvidos após a demissão do Governo, pronunciaram-se por unanimidade pela dissuasão da Assembleia da República e convocação de eleições. Embora, todos, como caminho que não desejavam, mas imposto pela realidade”, disse.

Nas audiências na quarta-feira com Marcelo Rebelo de Sousa, os líderes políticos apelaram a que o país fosse a votos rapidamente. Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda que a posição do Conselho de Estado também foi unânime sobre esta matéria: “Não o desejamos, mas temos de aceitar a saída determinada pela realidade“.

“Perante esta terceira eleição para a Assembleia da República em quatro anos, que diria muito provavelmente ninguém esperava e sobretudo ninguém queria, começam agora a correr dois meses de debate eleitoral” disse.

“É inevitável” que o tema da crise política ocupe parte do debate…

Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que “é inevitável que o tema da crise ocupe parte desse debate, em particular nas primeiras semanas“. No entanto, apelou a que o “debate que pode e deve pesar, e pesar bem, os riscos para a democracia de situações em que não é possível haver confrontos, nem parcial seja, porque se trata de conduzir a becos de natureza pessoal e ética que não têm saída que não sejam as eleições“.

“Seria um desperdício imperdoável não discutir aquilo que preocupa o dia a dia dos portugueses nos próximos tempos”, vincou.

… mas este deve ser digno e elevado

O Presidente da República sinalizou esperar “uma transição, se possível, tão pacífica como a de 2024” e deixou um alerta para que se mantenha o nível do debate político.

Impõe-se que haja um debate eleitoral claro, esclarecedor, mas sereno, digno, elevado, tolerante, respeitador da diferença e pluralismo, que fortaleça a democracia e não abra ainda mais a porta a experiências que se sabe como começam e se sabe como acabam“, defendeu.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Arábia Saudita lança Al Waha Duty Free, a sua primeira cadeia de retalho duty-free

  • Servimedia
  • 14 Março 2025

O primeiro operador de lojas duty-free da Arábia Saudita, apoiado pelo Fundo de Investimento Público, irá impulsionar o retalho de viagens na Arábia Saudita.

A Arábia Saudita está a avançar com a modernização do seu setor de retalho de viagens com o lançamento da Al Waha Duty-Free Company, a primeira empresa saudita dedicada à exploração de lojas duty-free no país. Impulsionada pelo Fundo de Investimento Público (PIF), esta iniciativa tem como objetivo reforçar a estratégia do país para diversificar a sua economia e fortalecer a sua posição como um destino turístico e de negócios líder na região.

O Al Waha Duty-Free funcionará em aeroportos, postos fronteiriços terrestres e portos marítimos, oferecendo uma grande variedade de produtos internacionais e locais de alta qualidade. O seu objetivo é melhorar a experiência do viajante e captar uma maior parte das despesas de retalho das pessoas que transitam pelo país.

Este projeto faz parte do objetivo de atrair mais de 150 milhões de turistas até 2030, consolidando assim o turismo como um dos principais motores da economia saudita. A expansão do duty-free também ajudará a gerar novas oportunidades económicas, a aumentar o comércio transfronteiriço e a reforçar a projeção dos produtos nacionais no mercado global.

A introdução da Al Waha Duty-Free Company reforça o compromisso da Arábia Saudita com a diversificação económica, em consonância com a Visão 2030. Espera-se que a expansão destas lojas contribua para a criação de emprego e promova novas oportunidades de investimento.

De acordo com dados oficiais, a Arábia Saudita ultrapassou os 106 milhões de turistas em 2023, superando o objetivo inicial fixado para 2030. Com a chegada do Al Waha, a Arábia Saudita consolida a sua posição como um dos principais destinos de compras na região, procurando captar uma maior quota de gastos dos viajantes internacionais.

Com este compromisso, o PIF reforça a sua aposta no crescimento económico do país, gerando um impacto positivo tanto no comércio como na experiência do turista e projetando a Arábia Saudita como um novo ator na indústria global de duty-free.

SETOR EM CRESCIMENTO

O mercado duty-free no Médio Oriente tem registado um crescimento constante nas últimas décadas, com os países a aumentarem a sua presença na região.

Entre as referências do setor encontra-se o Dubai Duty Free, que desde a sua criação em 1983 estabeleceu uma das maiores redes duty free do mundo, com vendas superiores a 2,16 mil milhões de dólares em 2023. A Aer Rianta International (ARI) foi também pioneira no setor com a abertura da primeira loja duty free no Aeroporto de Shannon (Irlanda) em 1947 e depois no Aeroporto Internacional do Dubai em 1983.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Marcelo avisa que eleições são risco para a democracia, mas partidos estão a postos para o embate

Presidente da República teme sucessivas crises se a campanha se focar em "becos de natureza pessoal e ética". Forças políticas estão a postos para o combate e PS quer um novo Governo duradouro.

O Presidente da República não queria eleições antecipadas, mas “não havia meio caminho“, diante do “choque sobre a confiabilidade, a ética do primeiro-ministro”, relacionado com o caso da empresa da família, Spinumviva, e eventuais conflitos de interesse com o exercício de funções de chefe do Executivo. Com o respaldo da unanimidade dos partidos com assento parlamentar e do Conselho de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa marcou as legislativas para 18 de maio.

Mas alertou para o teor da campanha eleitoral que pode colocar em risco a democracia e abrir porta a uma constante crise política, caso se foque em “becos de natureza pessoal e ética”, favorecendo populismos e, em última análise, “a ditadura”.

“Impõe-se que haja um debate eleitoral claro, frontal, esclarecedor, mas sereno, digno, elevado, tolerante, respeitador da diferença e do pluralismo. Que fortaleça, não enfraqueça a democracia. Não abra, ainda mais, a porta a experiências que se sabe como começam e se sabe como acabam”, defendeu Marcelo.

Em reação à chamada de atenção do Chefe de Estado, os partidos mostraram-se preparados para o embate, com o PS a pedir um “Governo duradouro”. O secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, começou por defender-se, afirmando que o partido deu “todas as condições para que este Governo pudesse governar”.

“As eleições não podem ser encaradas como um estorvo e um problema da democracia. São uma oportunidade de clarificação. A escolha será entre dois projetos e duas lideranças e a escolha do projeto depende da confiança na liderança”, disse, antes de acrescentar que “a saúde da democracia” e o desenvolvimento do país vai decidir-se entre PS e PSD.

Para o presidente do Chega, André Ventura, Marcelo Rebelo de Sousa “foi muito claro” no seu discurso, ao deixar o ónus da crise no primeiro-ministro, Luís Montenegro, e não nos partidos da oposição. Face ao repto lançado pelo Presidente da República, de elevação e dignificação da campanha, Ventura garantiu que o partido irá abordar os temas que interessam aos portugueses como a “crise de habitação dos que não conseguem comprar casa” ou a “luta contra a corrupção” e que a mensagem do partido não se vai centrar na “falta de integridade do primeiro-ministro ou das suspeitas”.

A líder parlamentar da IL e candidata presidencial, Mariana Leitão, considerou que o Presidente da República fez um diagnóstico correto da atual situação política e argumentou que “é óbvio que tudo aquilo que se viveu nos últimos tempos fragiliza o primeiro-ministro”.

A deputada assegurou ainda que os liberais farão uma “campanha pela positiva, focada em apresentar soluções” com o objetivo de “devolver a esperança e a ambição aos portugueses”.

O líder parlamentar do CDS, Paulo Núncio, começou por responsabilizar as oposições pela atual crise por rejeitarem uma moção de confiança “numa escalada destrutiva completamente irresponsável”. O parlamentar diz estar “absolutamente convencido” de que os portugueses “acabarão por reconduzir este Governo”, assegurando que os centristas terão uma “campanha eleitoral serena, civilizada, decente”.

“É muito importante que os portugueses saibam escolher com rigor, com serenidade, com tranquilidade, soluções seguras, confiáveis e que permitam governar o país com conhecimento, com competência, mas também com decência”, defendeu o deputado centrista.

Do lado do BE, a preocupação é a de que o Presidente garanta que “o Governo não extravasa funções e poderes de governo de gestão”. A coordenadora bloquista, Mariana Mortágua, corrigiu ainda Marcelo Rebelo de Sousa: “O que se passou para justificar a crise não foi um conflito de opiniões em que uns entenderam que houve um problema ético e outros não”. Para a parlamentar existe mesmo um problema entre Luís Montenegro e a empresa familiar Spinumviva.

“Cá estaremos prontos para este combate”. Foi a reação do secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo. O também deputado lembrou ainda que “o confronto com o Governo não se resume a este caso concreto”, é “também um combate político-ideológico”. Nas perspetiva do comunista, o facto de Marcelo se ter focado durante tanto tempo, no seu discurso, no caso concreto do primeiro-ministro, acaba “por, de forma direta, sublinhar as responsabilidades que o Governo tem no seu próprio caminho”.

Rui Tavares, do Livre, acompanhou as preocupações do Presidente da República sobre o risco da ascensão de populismos e pediu que se “evite que uma crise individual do primeiro-ministro se transforme numa crise de regime”.

Esperamos que a campanha possa ser esclarecida, que possa haver alternativas e não passemos o tempo todo num debate de atirar culpas de uns para os outros”, sublinhou.

Do mesmo modo, a líder do PAN, Inês de Sousa Real, espera que o “debate não fique minado pelas questões de atuais conflitos de interesse”. A também deputada única reiterou que o responsável pela crise política é Luís Montenegro e acusou-o de se ter escondido “atrás da moção de confiança”. “Arrastou o país para eleições antecipadas”, criticou.

A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos – e que passou na semana passada apenas para os filhos de ambos –, levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.

Depois de mais de duas semanas de notícias – incluindo a do Expresso de que o grupo Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva –, de duas moções de censura ao Governo, do Chega e PCP, ambas rejeitadas, e do anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão parlamentar de inquérito, o primeiro-ministro anunciou a 5 de março a apresentação de uma moção de confiança ao Governo.

O texto foi rejeitado na terça-feira com os votos contra do PS, Chega, BE, PCP, Livre e deputada única do PAN, Inês Sousa Real. A favor estiveram o PSD, CDS-PP e a Iniciativa Liberal. Segundo a Constituição, a não aprovação de uma moção de confiança implica a demissão do Executivo, o que aconteceu um ano e um dia depois da vitória da coligação AD nas legislativas antecipadas de 10 de março.

O XXIV Governo Constitucional tornou-se o segundo Executivo na história da democracia a cair na sequência da apresentação de uma moção de confiança, depois do I Governo Constitucional, em 1977, dirigido pelo socialista Mário Soares.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

BCP emite 500 milhões em dívida subordinada Tier 2

  • ECO
  • 13 Março 2025

O banco, liderado por Miguel Maya, anunciou a emissão de obrigações que contam para capital Tier 2, com um prazo de 12 anos e uma taxa de juros de 4,75% nos primeiros sete anos.

O BCP anunciou, esta quinta-feira, a emissão de 500 milhões de euros em dívida subordinada Tier 2, que teve uma “rápida e bem-sucedida execução” junto de investidores institucionais.

A operação “terá um prazo de 12 anos, com opção de reembolso antecipado pelo Banco durante os três meses anteriores ao final do 7º ano, indica a nota publicada no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Quanto à remuneração, o banco explica que tem uma “taxa de juros de 4,75%, ao ano, durante os primeiros 7 anos”, correspondente a um spread de 2,15% sobre a taxa mid-swap de sete anos. Para os outros cinco anos, “a taxa de juro será refixada com base na taxa mid swaps de 5 anos prevalecente acrescida do spread”, indica ainda o BCP.

 

Da parte da manhã, o banco tinha avançado com um processo de reembolso antecipado de obrigações que contam para capital Tier 2 com juros de 4,5%, vencimento em dezembro de 2027 e cujo montante emitido ascende a 300 milhões de euros. O banco, em comunicado enviado ao mercado, adiantava que a oferta está “condicionada à conclusão com sucesso” de uma emissão de obrigações T2 no montante de pelo menos 450 milhões de euros.

Segundo explicou a instituição, “o objetivo da oferta é gerir de forma proactiva a estrutura de capital e o perfil da dívida do BCP”. Por outro lado, a operação “proporciona liquidez aos investidores”, ao mesmo tempo que “lhes dá a oportunidade de se candidatarem a uma afetação prioritária na alocação da nova emissão Tier 2”.

O BCP refere que “ao considerar a alocação das novas notes poderá dar preferência aos detentores de note que, antes dessa alocação, tenham licitado validamente (ou tenham manifestado a intenção firme de licitar) as suas notes para aquisição no âmbito da oferta”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Eleições não são um “estorvo”. A reação dos partidos

“É preciso escolher um governo que não esteja a prazo”, defende o líder do PS. Liberais concordam com diagnóstico de Marcelo e Chega considera que o Presidente responsabilizou Montenegro pela crise.

Pedro Nuno Santos disse, esta quinta-feira, que “é preciso escolher um governo que não esteja a prazo”, na primeira reação dos socialistas à declaração do Presidente da República ao país, onde anunciou a decisão de dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas para 18 de maio.

Por outro lado, o líder do Chega interpretou que Marcelo Rebelo de Sousa tinha apontado o dedo ao primeiro-ministro pela crise política, causa pela apresentação, e chumbo, da moção de confiança apresentada pelo Governo. O chefe de Estado foi “muito claro”, disse André Ventura.

Também os liberais, pela voz de Mariana Leitão, consideraram que Marcelo tinha feito um diagnóstico correto, em que “é óbvio que tudo aquilo que se viveu nos últimos tempos fragiliza o primeiro-ministro”.

Já à esquerda, o Bloco espera que o Presidente garanta que “o Governo não extravasa funções e poderes de governo de gestão”. E os comunistas dizem que “estão prontos para o combate” eleitoral. Leia abaixo um resumo das reações dos partidos ao novo ciclo eleitoral

“É preciso escolher um governo que não esteja a prazo”

O secretário-geral do PS avisou que “o momento é grave” e que “mais do que uma escolha momentânea” há agora que escolher “um governo duradouro com condições para que não esteja a prazo”. Aliás, sublinhou, “será entre o PS e o PSD que se vai decidir a saúde” da democracia e “o desenvolvimento” do país.

Para Pedro Nuno Santos, a ida às urnas é uma “oportunidade de clarificação”. Está em causa a “escolha entre dois projetos e duas lideranças, e a confiança no projeto depende da confiança na liderança”, assinalou. E deixou claro que levará para a campanha eleitoral a questão da transparência e ética.

“Agora temos eleições e elas não podem ser encaradas como um estorvo, um problema da nossa democracia”, sustentou. Para o secretário-geral do PS, este governo não entrou esta semana em gestão, mas sim, “quando se esgotou o excedente orçamental”.

Crise é da responsabilidade da oposição, diz CDS-PP

O líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, referiu que a atual crise é da “inteira e exclusiva responsabilidade das oposições” por rejeitarem uma moção de confiança “numa escalada destrutiva completamente irresponsável”. Aliás, acusou: “É o vale tudo no bota-abaixo”.

Paulo Núncio frisou estar “absolutamente convencido” de que os portugueses “acabarão por reconduzir este Governo”. Aliás, “os portugueses têm duas opções nas próximas eleições: ou votam na irresponsabilidade das oposições ou então votam na recondução de um bom Governo que governou bem no último ano”.

Comprometeu-se com uma “campanha eleitoral serena, civilizada, decente”, apelando aos “partidos dos extremos” que “consigam elevar o debate”.

Chega satisfeito por Marcelo culpar Montenegro

Já o presidente do Chega, André Ventura, referiu que, durante o seu discurso ao país, o Presidente da República assumiu que a crise política é da responsabilidade do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e que “foi muito claro” ao apontar o dedo a Luís Montenegro e não nos partidos da oposição.

Basta ouvir atentamente o que disse hoje o Presidente da República e acho que fica muito claro que a responsabilidade do primeiro-ministro Luís Montenegro não foi acautelada, que não esteve ao nível e à altura das circunstâncias e que, sobretudo, não soube aplicar para si aquilo que sempre aplicou para os outros”, referiu André Ventura, em reação à declaração de Marcelo Rebelo de Sousa.

André Ventura comprometeu-se a levar para a campanha eleitoral os temas que interessam aos portugueses, como a “crise de habitação dos que não conseguem comprar casa” ou a “luta contra a corrupção”. Assegurou ainda que não se vai centrar na “falta de integridade do primeiro-ministro ou das suspeitas”.

IL fará “campanha pela positiva”

Para Mariana Leitão, líder parlamentar da Iniciativa Liberal (IL), Marcelo Rebelo de Sousa fez um correto diagnóstico sobre a atual situação política. E afirmou que “é óbvio que tudo aquilo que se viveu nos últimos tempos fragiliza o primeiro-ministro”.

“Por isso mesmo também é que entrámos neste cenário de eleições antecipadas, mas agora temos dois meses pela frente, queremos fazer uma campanha pela positiva, queremos apresentar soluções aos portugueses, é esse o compromisso da Iniciativa Liberal”, comprometeu-se.

A também candidata presidencial assegurou que os liberais farão uma “campanha pela positiva, focada em apresentar soluções” de modo a “devolver a esperança e a ambição aos portugueses”.

Bloco espera que Presidente garanta que “o Governo não extravasa poderes”

Para Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda (BE), o Presidente “tem o dever de garantir que o Governo não extravasa funções e poderes de governo de gestão”.

A bloquista disse ainda concordar com a data anunciada pelo Presidente da República para as próximas legislativas por entender ser “a mais sensata” para os partidos se prepararem. Mortágua deixou ainda bem claro que “o que se passou para justificar a crise não foi um conflito de opiniões em que uns entenderam que houve um problema ético e outros não”.

PCP pronto para o “combate”

“Cá estaremos prontos para este combate”, disse o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo. O deputado lembrou também que “o confronto com o Governo não se resume a este caso concreto”, é “também um combate político-ideológico”.

Nas perspetiva do comunista, o facto de Marcelo se ter focado durante tanto tempo, no seu discurso, no caso concreto do primeiro-ministro, acaba “por, de forma direta, sublinhar as responsabilidades que o Governo tem no seu próprio caminho”.

PAN espera que “debate não fique minado” por conflitos de interesse

Já a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, espera que o “debate não fique minado pelas questões de atuais conflitos de interesse”. Inês Sousa Real diz-se satisfeita com a escolha da data de 18 de maio para as eleições antecipadas por entender ser benéfica para os partidos mais pequenos se poderem preparar.

A representante do PAN apontou ainda o dedo a Montego como responsável pela crise política, acusando-o de se ter escondido “atrás da moção de confiança” e por consequência ter arrastado “o país para eleições antecipadas”.

Livre quer “evitar crise ainda maior” da que se vive

Rui Tavares, do Livre, espera “que assim o país possa evitar uma crise ainda maior do que a que já se vive.” Pede mesmo que se “evite que a crise individual do primeiro-ministro se transforme numa crise de regime”.

“Esperamos que a campanha possa ser esclarecida, que possa haver alternativa e não passemos o tempo todo num debate de atirar culpas de uns para os outros”, afirmou.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Marcelo dissolve pela terceira vez a Assembleia. Leia aqui o discurso do Presidente ao país

  • ECO
  • 13 Março 2025

Na declaração ao país, em que anunciou a dissolução da Assembleia, o Presidente apelou a “um debate digno e elevado” na campanha eleitoral que se aproxima. Leia aqui o discurso.

O Presidente da República, numa comunicação ao país de cerca de dez minutos, marcou eleições antecipadas para 18 de maio, na sequência da crise política que levou à demissão do Governo chefiado por Luís Montenegro. Foi a terceira vez que Marcelo Rebelo de Sousa recorreu à “bomba atómica” nos seus mandatos em Belém.

Leia abaixo o discurso do chefe de Estado a partir da Sala das Bicas no Palácio de Belém:

“Portugueses,

Disse-vos em final de 2024, na mensagem de Ano Novo e, há quinze dias, aquando da visita do Presidente Francês:

O Mundo mudou imenso nos últimos meses e tudo indica que irá mudar mais. É um virar de página rápido e profundo.

Os Estados Unidos da América parecem distanciar-se de aliados europeus. A Federação Russa pode, desse modo, aumentar o seu papel internacional.

A União Europeia tem de se unir ainda mais, recuperar na economia, melhorar na defesa, sem perder o apoio social dos europeus, e evitar ficar descartável ou enfraquecida entre americanos e russos. A pensar na Ucrânia, em que se espera que a trégua seja uma oportunidade e não uma ilusão, mas também na segurança de todo o Continente.

Em tempos assim, a economia mundial fica imprevisível e isso poderá cair sobre países mais sensíveis às mudanças internacionais.

Portugal soube, nos últimos anos, equilibrar as contas do Estado, reduzir a dívida externa, crescer na economia, reduzir o desemprego, atrair grandes projetos, como o novo da Autoeuropa, subir nas classificações das agências financeiras. Isto, apesar de continuar com questões que a todos preocupam – não desperdiçar fundos que vêm lá de fora e são únicos, gerir melhor a Saúde e a Educação, acelerar na Habitação.

Tudo a aconselhar a estabilidade, ou seja, não haver crises nem sobressaltos que atrasem o que é urgente fazer e fazer bem. Inesperadamente, num mês – entre fevereiro e março – surgiu uma crise aparentemente só política, como tantas outras.

Tínhamos superado a sucessão de Governos, há um ano. Tínhamos aprovado o Orçamento do Estado há quatro meses. Íamos e vamos ter eleições locais daqui a seis meses e presidenciais quatro meses depois. Tudo começou com questões levantadas quanto ao Governo e, a seguir, ao Primeiro-Ministro. Questões sobre atividades passadas e seus efeitos no presente.

Em cerca de um mês, o debate ocorreu na comunicação social e na Assembleia da República, envolvendo duas moções de censura, votadas e rejeitadas, e uma moção de confiança, votada e também rejeitada. Esta última rejeição, nos termos da nossa Constituição, implicou, de imediato, a demissão do Governo.

Porque é que o Governo, por um lado, anunciou e apresentou a moção de confiança, e, por outro lado, as oposições, salvo um partido, rejeitaram essa moção, provocando a demissão do Governo? O tema central respeitou à confiança que o Primeiro-Ministro e, portanto, o Governo, mereceriam para continuar a governar Portugal.

Do lado do Governo, foi afirmado que o Primeiro-Ministro, na sua atividade patrimonial passada e presente, havia agido sempre no respeito da lei, da legitimidade política e da ética ou moralidade, ou seja, da transparência e da não confusão entre política e interesses económicos.

Do lado das oposições, foi contraposto que tinha havido ou podia ter havido desrespeito da lei, da legitimidade política e da ética ou moralidade, ou seja, confusão entre política e interesses económicos.

O Governo entendeu que, depois dos esclarecimentos dados, o prolongamento no tempo deste choque de juízos tornaria impossível continuar a governar. E, portanto, se impunha que a Assembleia da República exprimisse a sua confiança, e, não sendo esse o caso, o Povo, em eleições, resolvesse um conflito sem acordo à vista.

As oposições entenderam que se impunha, em face dos esclarecimentos dados, recusar a confiança, e, em última análise, recorrer ao voto popular. Este choque, não apenas legal, nem político, mas sobretudo de juízo ético ou moral sobre uma pessoa e sua confiabilidade, o Primeiro-Ministro, suscitou uma questão nova, é que todos os esforços de entendimento, mesmo mínimo, se revelaram impossíveis. Porquê?

Porque, para uns, com os factos invocados e os esclarecimentos dados, a confiança ética ou moral era óbvia. Porque, para outros, com os mesmos factos invocados e os esclarecimentos dados, a desconfiança moral ou política é que era óbvia. E, entre as duas posições, o acordo não era possível. Não se pode, ao mesmo tempo, confiar e desconfiar ética ou moralmente de uma pessoa, neste caso do Primeiro-Ministro, e, portanto, do Governo. Não havia meio caminho.

Portugueses,

Este panorama aparecia, nestes termos, pela primeira vez, na nossa Democracia. Um choque que não tanto sobre políticas quanto sobre a confiabilidade, ou seja, a ética da pessoa exercendo a função de Primeiro-Ministro.

Os partidos, ouvidos após a demissão do Governo, pronunciaram-se, por unanimidade, pela dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas. Embora, todos, como caminho que não desejavam, mas imposto pela realidade. O mesmo foi o parecer unânime do Conselho de Estado. Não desejando, mas tendo de aceitar a saída determinada pela realidade.

Ao Presidente da República, o primeiro interessado na estabilidade e na dispensa de novas eleições, e que tudo fez ao seu alcance para o salvaguardar, não restava senão anunciar a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições para o dia 18 de maio de 2025, a data preferida pela maioria dos partidos.

Portugueses,

Perante esta terceira eleição para a Assembleia da República em quatro anos, – que eu diria, que muito provavelmente, ninguém esperava e, sobretudo, que ninguém queria –, começam, agora, a correr dois meses de debate eleitoral. É inevitável que o tema da crise ocupe parte desse debate, em particular nas primeiras semanas.

Debate que pode e deve pesar, e pesar bem, os sinais e os riscos para a Democracia, de situações de confronto em que não é possível haver consensos, nem que parcial seja, porque se trata de conduzir a becos, de natureza pessoal e ética, que não têm saída, que não sejam as eleições.

Mas seria um desperdício imperdoável não discutir aquilo que tanto preocupa no dia a dia dos Portugueses nestes e nos próximos tempos. Quem propõe o quê e se apresenta para liderar o Governo e resolver problemas concretos.

A economia e o seu crescimento, o emprego, o controlo da inflação, os salários e os rendimentos, a saúde, a habitação, a educação, as desigualdades, a justiça, a mobilidade humana, o lugar dos menos jovens e também o lugar dos mais jovens na nossa sociedade, a segurança, e, claro, a transparência e o combate à corrupção.

Tudo num quadro de paz e de guerra e de uma muito difícil situação económica internacional.

Tudo isto ocorre com um Orçamento viabilizado pelos principais partidos, e que está em plena execução, com estabilidade económica e crédito internacional e com condições que o Presidente da República garante para que se não pare a execução do PRR, mesmo com Governo de gestão, sem atropelo, claro, das regras eleitorais. Qual o objetivo? Permitir uma transição, se possível, tão pacífica como a vivida em 2024. Só que agora em dois meses e meio e não em cinco, como então.

Impõe-se que haja um debate eleitoral claro, frontal, esclarecedor, mas sereno, digno, elevado, tolerante, respeitador da diferença e do pluralismo. Que fortaleça, não enfraqueça a Democracia. Não abra, ainda mais, a porta a experiências que se sabe como começam e se sabe como acabam.

É o apelo para todos – e creio – de todos os Portugueses.

Um debate que dê força a quem nos vier a representar na Assembleia da República, que dê força a quem nos vier a governar, que dê força aos Portugueses para controlarem os seus representantes e os seus governantes, que dê força à Democracia e, com ela, e a sua capacidade de enfrentar e superar crises, que só a Democracia tem, não a Ditadura, que dê força a Portugal.”

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Suíços da Schweizer Hagel entram no seguro agrícola em Portugal

A seguradora suíça com 35 mil cooperantes chega a Portugal para, em parceria com Filipe Charters, explorar as lacunas de proteção por seguros que considera evidentes no setor agrícola.

A Schweizer Hagel, companhia de seguros mútua suíça com mais de 140 anos de experiência em seguros de explorações agrícolas, vai entrar no mercado português através da aquisição, faseada e integral, da mediadora Safe-Crop, agência de intermediação de seguros agrícolas, fundada em 2020, por Filipe Charters de Azevedo, que passa a assumir as funções de Mandatário Geral da nova sucursal.

Filipe Charters de Azevedo vai ser o mandatário da Schweizer Hagel em Portugal. Adrian Aebi, CEO do grupo suíço, quer aproveitar as lacunas de proteção para expandir a internacionalização da cooperativa.

Adrian Aebi, CEO do grupo suíço, afirmou que “sendo uma empresa detida exclusivamente por agricultores, a Schweizer Hagel compreende profundamente a linguagem do campo, bem como as preocupações e dificuldades do mundo rural”.

A marca a usar será Hagel (granizo em alemão) e foi constituída a Société Suisse d’assurance contre la Grêle (granizo em francês) – Sucursal em Portugal, aprovada esta semana pela ASF, entidade supervisora do setor dos seguros.

A Hagel foi fundada em 1880 e tem sede em Zurique, operando até agora na Suíça, França e Itália, começando agora a trabalhar no mercado português. É uma mútua, uma cooperativa com 35 mil membros, tantos quantas as explorações que segura. Em 2023, os capitais seguros atingiram 4,2 mil milhões de euros de seguros de culturas, tendo a seguradora cobrado prémios no valor de 148,8 milhões de euros.

Como cooperativa tem por norma redistribuir os lucros pelos seus membros sob a forma de desconto de preço do prémio, tendo esse valor atingido os 3,1 milhões de euros em 2024.

“A aposta em Portugal deve-se à vontade de diversificar riscos e tornar o grupo mais resiliente”, justifica Adrian Aebi, acrescentando que “Portugal constitui ainda uma “boa oportunidade, considerado o elevado protection gap”, conclui.

Revolução agrícola: Novas práticas e melhor gestão da água

O responsável direto em Portugal, Filipe Charters de Azevedo, afirma que há “uma revolução na produção agrícola, com aumentos de produtividade e de valor acrescentado assentes em novas práticas e numa melhor gestão da água”, indicando que a Hagel “compromete-se a ser um parceiro dos agricultores, ajudando a minimizar prejuízos e a assegurar a continuidade das suas atividades com plena confiança”.

“Em todos os países onde operamos, a Hagel garante uma proteção eficaz contra fenómenos meteorológicos adversos e outras calamidades, proporcionando tranquilidade e segurança aos seus clientes”, explica Charters de Azevedo, divulgando que a seguradora oferece uma “ampla gama” de seguros agrícolas, destacando o seguro de colheitas e o seguro vitícola de colheitas. “Acreditamos em relações fortes e duradouras com os agricultores – estamos ombro a ombro com os produtores”, conclui o gestor.

A entrada da Hagel será realizada em co-seguro com a Caravela que tem sido a companhia parceira da Safe-Crop de Filipe Charters. No ano passado o seguro agrícola em Portugal produziu prémios de 32,4 milhões de euros, com a Fidelidade a deter 61% do mercado, a CA Seguros com 16%, Caravela com 14%, UNA com 6% estando a Generali Tranquilidade já em fase de saída do mercado.

Protagonistas também são as corretoras Atlas, do grupo da Secose de Frederico Bernardino, que trabalha com a japonesa Sompo, e a Cegrel, de Miguel Fino, que está em negociações de integração com a corretora NacionalGest.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.