Compra de 750 mil milhões em energia aos EUA triplica valores atuais e é tida como irrealista

Falta de poder por parte da Comissão para ditar que empresas comprem mais energia aos Estados Unidos, tal como limitações em termos de oferta e procura, tornam acordo irrealista, dizem especialistas.

Os Estados Unidos e a Comissão Europeia fecharam, este domingo, um acordo comercial que irá fixar as tarifas aduaneiras ditadas por Washington nos 15%, ao invés dos 30% anunciados. Uma das condições às quais o bloco europeu acedeu foi a compra de cerca de 750 mil milhões de dólares em combustíveis norte-americanos, do gás natural à energia nuclear.

Nós vamos aumentar a nossa cooperação energética. Compras de produtos de energia dos Estados Unidos irão diversificar as nossas fontes de fornecimento e contribuir para a segurança energética da Europa“, afirmou Ursula von der Leyen, num discurso posterior às negociações. No mesmo, indicou que o bloco europeu espera substituir o gás natural e petróleo russos com compras “significativas” de gás natural liquefeito norte-americano, assim como petróleo e produtos de energia nuclear.

Num esclarecimento posterior, emitido esta terça-feira, a Comissão adiantou que os 750 milhões de dólares de compras energéticas, equivalentes a 700 mil milhões de euros, deverão ser adquiridos ao longo dos próximos três anos.

“O acordo comercial recentemente anunciado entre os EUA e a UE evitou o pior cenário – uma guerra comercial de grande escala – e reduziu a incerteza”, concede Christoph Berger, Diretor de Investimento (CIO) em Ações da Europa, Allianz Global Investors (AllianzGI). Mas “é necessária mais clareza sobre a forma como a UE vai gerir alguns dos compromissos assumidos“, como é o caso destas compras de energia.

Também Nuno Ribeiro da Silva, ex-secretário de Estado da Energia e ex-Ceo da Endesa em Portugal, agora consultor, frisa que existem poucos detalhes disponíveis sobre as quantidades em causa, mas entende que o acordo “não violenta a Europa” na medida em que o Velho Continente já era, “naturalmente” importador de energia, e acredita que estará aqui em causa sobretudo importação de gás natural liquefeito e petróleo.

É difícil perceber como é que a componente energética do acordo comercial EUA-UE pode ser cumprida“, escreve Simone Tagliapietra, associado sénior do think tank Bruegel. As importações energéticas totais da União Europeia, com origem nos Estados Unidos, em 2024, totalizaram cerca de 70 mil milhões de dólares. “O acordo implica que de repente mais do que se triplique este volume ao longo dos próximos três anos. É pouco provável, tanto por motivos de procura como de oferta“, conclui a mesma fonte.

As importações energéticas totais da União Europeia, com origem nos Estados Unidos, em 2024, totalizaram cerca de 70 mil milhões de dólares.

O analista do Bruegel observa que, do lado da procura, são dinâmicas de mercado que ditam as escolhas das empresas energéticas, “e a Comissão Europeia não tem palavra a dizer nesta matéria”. Em paralelo, olhando à oferta, “é importante considerar que capacidade adicional de exportação por parte dos Estados Unidos tanto em GNL, como petróleo e combustíveis nucleares pode demorar mais tempo a desenvolver que os três anos que são o horizonte previsto para o acordo“.

"O acordo implica que, de repente, mais do que se triplique este volume ao longo dos próximos três anos. É pouco provável, tanto por motivos de procura como de oferta.”

Simone Tagliapietra

Associado Sénior do think tank Bruegel

Na mesma linha, o ex-secretário de Estado da Energia e agora consultor na mesma área, João Galamba, afirma: “Desvalorizaria completamente todos os elementos do acordo que falam ou de investimento europeu, ou compra de material militar e energia“, tendo em conta, precisamente, que a presidente da CE “não tem poder ou capacidade para assumir esse compromisso”, e que “quem compra gás natural são a empresas e compram de acordo com as suas negociações privadas”, além de que estão em vigor contratos de longo prazo.

Uma vez que as compras estão efetivamente nas mãos das empresas, “se não houver necessidades de gás, as empresas não vão importar. Não vão ser os governos a comprar gás e guardar nos isqueiros“, graceja Nuno Ribeiro da Silva, sublinhando que o acordo aponta um “número de referência”, pois “não são valores de contratos rigorosos feitos entre empresas”, mas “a sua materialização está dependente das necessidades efetivas”.

"É um grande erro geoestratégico e não parece ser possível fisicamente as duas partes cumprirem o acordo.”

Gonçalo Aguiar

Engenheiro Eletrotécnico

“Não faz sentido aumentar a dependência dos EUA desta forma. É um grande erro geoestratégico e não parece ser possível fisicamente as duas partes cumprirem o acordo, face às limitações físicas, económicas e ambientais que existem”, entende, por seu lado, o engenheiro eletrotécnico Gonçalo Aguiar. Além disso, há o tema da segurança energética, no qual o acordo, em particular no que diz respeito ao petróleo, seria “penalizador”. Isto porque no primeiro trimestre de 2025, cinco países (EUA, Noruega, Cazaquistão, Líbia e Arábia Saudita) forneceram 56% do petróleo à UE, numa tendência em linha com a do ano 2024. “Após este acordo os EUA passarão a ser praticamente o único fornecedor dessa quantidade de petróleo”, alerta Gonçalo Aguiar.

"A União Europeia deverá diversificar as suas energéticas e não ficar também demasiadamente dependente dos EUA.”

Paulo Monteiro Rosa

Economista Sénior do Banco Carregosa

Por seu lado, o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, entende que “reforçar as compras de energia aos EUA é uma decisão estratégica relevante para a União Europeia”, em particular num contexto geopolítico marcado por incertezas e tensões, nomeadamente a guerra na Ucrânia e as dificuldades nas relações com a Rússia, “mas a União Europeia deverá diversificar as suas fontes energéticas e não ficar também demasiadamente dependente dos EUA“, defende. Além de outras parcerias, o economista realça que a Europa deve apostar na eficiência energética e nas energias renováveis, a bem da independência.

Acordo exige que importações dos EUA disparem

Descortinando os números, aos 750 mil milhões de dólares ao longo de três anos correspondem 250 mil milhões por ano, o equivalente a cerca de 215 mil milhões de euros. Este último valor corresponderia a 57% do total de importações de energia em 2024, indica Gonçalo Aguiar, engenheiro eletrotécnico.

Olhando combustível a combustível, Gonçalo Aguiar nota que os EUA já destinam quase metade de todas as suas exportações de GNL para a União Europeia, cujo principal fornecedor foram precisamente os EUA, país de onde vieram 45,3% destas importações, ou cerca de 18,75 mil milhões de euros. “Portanto, [os EUA] só poderão, no máximo, duplicar as exportações deste combustível para cobrir as importações da UE de GNL na totalidade“, analisa o engenheiro eletrotécnico. Isto, assumindo que o consumo europeu não sobe, o que é o mais provável, além de que “a capacidade de receção desse GNL está já bastante saturada”.

Podem também reduzir-se, por exemplo, as importações de gás natural em estado gasoso da Noruega e substituí-las por GNL, “no entanto, isto não traria benefícios para a UE, pois o gás natural norueguês custa quase três vezes menos que o gás natural liquefeito dos EUA”, conclui Aguiar. João Galamba sublinha que “a política europeia é no sentido de reduzir o volume total de gás“.

No caso do petróleo, em 2024, os EUA exportaram no total para todo o mundo 1,5 mil milhões de barris de petróleo, segundo dados da Agência Internacional de Energia citados por Aguiar, o que totalizou 320 mil milhões de dólares. “Um pouco mais de metade deste montante (53%) teria de ser vendido à UE para se cumprir com o acordo“, remata o mesmo. Em 2024, a União Europeia importou 261,9 mil milhões de euros em produtos petrolíferos, sendo a maior fatia proveniente dos EUA, de 16,1%, o correspondente a cerca de 41,9 mil milhões de euros.

Olhando à rubrica referida na nota de esclarecimento como “produtos de energia nuclear”, Gonçalo Aguiar realça que não é claro se contempla a compra de combustível nuclear (urânio) ou se a compra de reatores nucleares para produção de energia elétrica.

Na opinião de Paulo Monteiro Rosa, considerando o consumo energético europeu e a necessidade de reduzir dependências externas críticas, “faria sentido que as importações energéticas provenientes dos EUA representassem perto de um terço dos 250 mil milhões de dólares”, ou seja um máximo de 95 mil milhões de dólares. O economista divide o “mix” ideal em 50 mil milhões de euros de importação de petróleo, 30 mil milhões de euros de gás natural liquefeito e 2 mil milhões de euros em energia nuclear.

“Importa manter uma política de diversificação que evite uma dependência excessiva de um único parceiro, garantindo assim um equilíbrio entre segurança energética, custos e autonomia estratégica”, remata o economista sénior do Banco Carregosa.

Portugal pode receber mais gás em Sines

Olhando aos efeitos em terras lusas, o mesmo indica que, devido à “localização geográfica estratégica” na costa atlântica da Europa e às infraestruturas existentes, “Portugal poderá beneficiar do aumento das importações de GNL“. Isto porque o país dispõe do terminal de Sines, “um dos maiores e mais modernos da Europa para regaseificação de GNL”, capaz de receber grandes volumes de gás natural liquefeito e distribuí-lo para o mercado nacional e para a Península Ibérica.

Um reforço nas importações deste gás permite a “Portugal ser um ponto-chave na diversificação das fontes de energia da Europa, contribuindo para a segurança energética regional e potencialmente aumentando a sua importância estratégica no mercado energético europeu“, defende.

Nuno Ribeiro da Silva prevê que, a haver de facto algum reforço nos níveis de importação de GNL, “pode trazer uma utilização mais intensa do terminal de Sines“, tanto para injeção na rede de gás como para transvases, ou seja, armazenar o gás temporariamente em tanques e até redirecionar para outras zonas Europa.

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5 coisas que vão marcar o dia

Quatro gigantes nacionais apresentam resultados, INE divulga dados do desemprego, Governo revela estratégia para portos e Fed decide taxas de juro.

Esta quarta-feira, quatro gigantes nacionais — Caixa Geral de Depósitos, EDP Renováveis, Sonae e BCP — apresentam os resultados do primeiro semestre, num dia também marcado pela divulgação dos dados do desemprego de junho pelo INE. O Governo apresenta ainda a nova Estratégia para os Portos Comerciais do Continente 2025-2035 e termina o prazo para a ativação do IRS Jovem. Lá fora, a Reserva Federal norte-americana vai anunciar decisão quanto às taxas de juro.

Quatro gigantes portuguesas apresentam resultados financeiros

A Caixa Geral de Depósitos, EDP Renováveis, Sonae e BCP vai divulgar resultados financeiros do primeiro semestre deste ano. Em 2024, a CGD alcançou lucros recorde de 1,74 mil milhões de euros, o BCP superou os 900 milhões, a Sonae fechou com 223 milhões e a EDP Renováveis registou um prejuízo de 556 milhões. Os números de hoje vão mostrar se as empresas mantêm a trajetória.

Como evoluiu o mercado de trabalho?

O Instituto Nacional de Estatística (INE) vai apresentar dados do desemprego de junho. Em maio, a taxa de desemprego fixou-se em 6,3%. A entidade estatística vai ainda apresentar as contas nacionais relativas ao segundo trimestre e os resultados dos inquéritos de conjunto às empresas e aos consumidores em julho. Já o Eurostat vai divulgar estimativa preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro no segundo trimestre.

Governo apresenta estratégia para os portos

O ministério das Infraestruturas vai apresentar a Estratégia para os Portos Comerciais do Continente 2025-2035. O ministro Miguel Pinto Luz vai apresentar a nova estratégia para o setor para a próxima década.

Termina o prazo para os contribuintes ativarem o IRS Jovem

Termina esta sexta-feira o prazo para os contribuintes que se esqueceram de ativar o IRS Jovem poderem corrigir a situação. Como não há prejuízo para o Estado, segundo a jurista contactada pelo ECO Magda Canas, da Deco Proteste, como não houve prejuízo para o Estado, não deverá haver lugar a coima

Fed anuncia decisão sobre taxas de juro

Depois de dois dias de reunião, o Comité de Mercado Aberto da Reserva Federal (Fed) americana vai anunciar a sua decisão sobre as taxas de juro. Os analistas esperam que a fed mantenha inalteradas as taxas de juro, apesar da pressão política de Donald Trump para cortes.

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Da análise preditiva à deteção de erros, como a IA ajuda a gerir números?

Há várias soluções de IA para contabilistas e auditores, mas também para as próprias empresas. Ferramentas que permitem automatizar processos, oferecem modelos de análise preditiva e reduzem erros.

Os contabilistas e os auditores estão a dar vários passos para adotarem a Inteligência Artificial (IA) nos seus processos, libertando-se de tarefas rotineiras e minimizando os riscos, mas não estão a fazê-lo sozinhos. Além do apoio prestado pelas respetivas Ordens, contam ainda com soluções disponibilizadas por empresas especializadas nestes segmentos. O objetivo, dizem, é otimizar os processos financeiros através do recurso a esta tecnologia, garantindo ao mesmo tempo a conformidade com as regras.

“Há uma procura crescente por soluções baseadas em IA, sobretudo para melhorar a eficiência dos processos e garantir o cumprimento das regulamentações. Cada vez mais organizações demonstram interesse em compreender como a IA pode ser aplicada, de forma concreta, para transformar os seus processos financeiros”, afirma Ayise Trigueiros, SAP Solution Advisor e SAP Business AI Expert da SAP Portugal, ao EContas.

Também Tiago Costa Lima, diretor de gestão de produto para escritórios de contabilidade e PME na Cegid, diz estar a “assistir a uma aceleração do interesse e da procura pela IA por parte de contabilistas e gabinetes de contabilidade”. Uma procura que “não se limita apenas à automação de tarefas rotineiras — que continua a ser importante —, mas vai cada vez mais ao encontro de funcionalidades de apoio à decisão, análise preditiva e geração de valor estratégico para os seus clientes”.

Este maior interesse “insere-se num movimento mais amplo de digitalização nas pequenas e médias empresas (PME) portuguesas”, nota, por outro lado, Ana Ribeiro, Senior Sales Director da Sage Iberia. A responsável recorda que o “SBBO: Small Business, Big Opportunity”, um estudo global divulgado pela Sage, mostra que “87% das PME em Portugal aumentaram os investimentos em tecnologias digitais no último ano – e o investimento em IA é visto como essencial para as operações diárias pela mesma percentagem”. Números que “sugerem que o mercado português está particularmente aberto à adoção tecnológica”, realça.

"Estamos a assistir a uma aceleração do interesse e da procura pela inteligência artificial por parte de contabilistas e gabinetes de contabilidade. Esta procura não se limita apenas à automação de tarefas rotineiras — que continua a ser importante — mas vai cada vez mais ao encontro de funcionalidades de apoio à decisão, análise preditiva e geração de valor estratégico para os seus clientes.”

Tiago Costa Lima

Diretor de gestão de produto para escritórios de contabilidade e PME na Cegid

Inovar para reduzir o risco

São várias as soluções no mercado para ajudar contabilistas e auditores, mas também as próprias empresas, a dar este salto tecnológico. Ferramentas “especialmente valiosas num contexto de transformação digital, onde os profissionais enfrentam volumes crescentes de dados e expectativas mais elevadas por parte dos clientes”, refere Ana Ribeiro. Em Portugal, a Sage disponibiliza a solução Sage for Accountants, pensada para os gabinetes de contabilidade.

“Esta solução já tira partido de IA aplicada ao lançamento contabilístico, o que acelera o registo e minimiza os erros. Para além disso, permite gerir as obrigações legais em lote, acompanhar notificações e melhorar a comunicação com os clientes, simplificando o trabalho diário dos profissionais de contabilidade”, explica a responsável. A empresa disponibiliza ainda o Sage Copilot, um assistente inteligente que ainda não chegou a Portugal, que “permite interações em linguagem natural com os dados financeiros e automatiza tarefas como a análise de relatórios, identificação de anomalias e geração automática de insights relevantes”.

Também a Cegid oferece várias soluções aos profissionais que gerem os números das empresas. Tiago Costa Lima destaca duas ofertas para contabilistas: o Cegid Business for Accountants, “que ajuda a automatizar lançamentos, organizar documentos, categorizar movimentos, automatizar reconciliações e muito mais”, e o Cegid Primavera ERP Evolution for Accountants, “pensado para escritórios que exigem um sistema robusto, altamente personalizável e com elevado nível de controlo sobre os processos contabilísticos”.

"Estas ferramentas são especialmente valiosas num contexto de transformação digital, onde os profissionais enfrentam volumes crescentes de dados e expectativas mais elevadas por parte dos clientes.”

Ana Ribeiro

Senior Sales Director da Sage Iberia

Na SAP, os “profissionais de contas a pagar e a receber podem, por exemplo, recorrer a modelos de análise preditiva para definir estratégias de pagamento e cobrança mais eficazes, enquanto a triagem da integridade empresarial e a governação de acesso com tecnologia de IA reforçam a segurança e a conformidade”, explica Ayise Trigueiros, SAP Solution Advisor e SAP Business AI Expert da SAP Portugal, notando que, “através de perspetivas e recomendações baseadas em IA, aliados à automatização incorporada nas aplicações SAP e a modelos de IA pré-treinados para desafios específicos, as organizações conseguem transformar os seus processos de negócio de ponta a ponta, tornando-os mais rápidos e menos propensos a riscos”.

As soluções para as empresas

Há também um conjunto de ferramentas que são disponibilizadas diretamente às empresas. “No processo de fatura para pagamento, por exemplo, os clientes da solução SAP S/4HANA utilizam a tecnologia de reconhecimento ótico de carateres (OCR) para extrair dados essenciais das notas de aviso, enquanto os modelos de IA fazem a correspondência das contas a receber em aberto”, aponta a responsável da SAP Portugal, explicando que a “tecnologia RPA (Robotic Process Automation) trata, nos bastidores, da inserção automática dos dados nos documentos digitais no SAP S/4HANA, encaminhando as exceções para intervenção humana, libertando as equipas de tarefas repetitivas e permitindo-lhes concentrar-se em atividades estratégicas”.

A área de tesouraria beneficia igualmente destas soluções “ao antecipar as necessidades futuras de liquidez e tomar decisões de investimento informadas, com base em análise preditiva, no SAP S/4HANA, que ajuda a mitigar os riscos de liquidez aproveitando as atividades operacionais, como datas de pagamento de faturas, tendências históricas de dados transacionais e dados de mercados externos”, acrescenta.

Também a Sage “disponibiliza um portfólio abrangente de soluções tecnológicas que apoiam diretamente as empresas portuguesas na gestão eficiente e inteligente dos seus processos financeiros, contabilísticos e operacionais”, indica Ana Ribeiro, apontando que “entre os principais mecanismos estão as soluções de gestão empresarial Sage 50cloud, Sage 100cloud ou Sage X3”, permitindo uma gestão integrada de áreas como stock, faturação, contabilidade e recursos humanos. Permite ainda acompanhar todas as fases do ciclo de vida dos produtos, desde a entrada à saída do armazém.

"A área de tesouraria também beneficia [destas soluções], ao antecipar as necessidades futuras de liquidez e tomar decisões de investimento informadas, com base em análise preditiva, no SAP S/4HANA, que ajuda a mitigar os riscos de liquidez aproveitando as atividades operacionais, como datas de pagamento de faturas, tendências históricas de dados transacionais e dados de mercados externos. ”

Ayise Trigueiros

SAP Solution Advisor, SAP Business AI Expert da SAP Portugal

“Com os agentes Inteligentes Cegid Pulse, as empresas beneficiam de uma melhor colaboração com o seu contabilista, otimizam a organização da informação, controlam facilmente todos os prazos e obrigações e têm melhor informação de apoio ao processo de decisão”, refere, por outro lado, Tiago Costa Lima. “Por exemplo, através da integração da voz e mensagens, os utilizadores poderão comunicar com o ERP [sistema integrado de gestão empresarial] de forma mais natural e direta — sem cliques, copiar dados ou navegar entre ecrãs e menus. Com esta forma de interação tornamos os produtos Cegid mais acessíveis, intuitivos e eficazes, colocando o poder da IA ao serviço das decisões do dia-a-dia”, conclui.

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Contratos, bancos de horas e até férias. Vêm aí (muitas) mudanças à lei do trabalho

Governo defende contratos a termo com limites mais longos, o regresso do banco de horas individual e o fim do travão ao 'outsourcing' após despedimentos.

A negociação ainda agora começou, mas o anteprojeto apresentado pelo Governo na Concertação Social já deixa antever o que poderá mudar na forma como se trabalha em Portugal. Dos contratos a termo com limites mais longos ao regresso do banco de horas individual, há mais de 100 mexidas à lei do trabalho em discussão. Os empresários falam num “bom ponto de partida“, enquanto os sindicatos deixam avisos sobre o potencial impacto negativo na vida dos trabalhadores.

“No geral, consideramos positivas, mas estamos num processo negocial, que pode ainda sofrer mais alterações, num sentido ainda mais positivo e numa melhor adequação à realidade empresarial e dos trabalhadores“, sublinha fonte oficial da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).

No mesmo sentido, Rafael Rocha, diretor-geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), defende que o anteprojeto apresentado pelo Governo é um “bom ponto de partida para o obrigatório debate público“. “O documento representa uma base de trabalho, que aponta para soluções com potencial relevância, tendo, contudo, margem para significativas melhorias“, salienta.

De opinião semelhante partilha o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, que considera positiva a proposta do Governo, em especial no que diz respeito às mudanças nas regras da contratação e aos bancos de horas.

Também Luís Miguel Ribeiro, presidente do conselho de administração da Associação Empresarial de Portugal (AEP) entende que as alterações propostas “aparentam ir na direção correta, ao promoverem uma menor rigidez laboral“.

Consideramos positivas, mas estamos num processo negocial, que pode ainda sofrer mais alterações, numa melhor adequação à realidade empresarial e dos trabalhadores.

Confederação do Turismo de Portugal

Do outro lado da mesa, Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP, atira que as mudanças em discussão são “profundamente negativas” e alerta que “terão um impacto enorme na vida dos trabalhadores”.

“Assente numa ideia de atualização, modernização e adaptação aos novos desafios, aquilo que este Governo propõe não são mais do que políticas do passado e que colocam sempre os trabalhadores numa situação de uma maior fragilização das relações de trabalho, numa balança que já hoje é profundamente desequilibrada”, declara o sindicalista.

O ECO também questionou a UGT, tendo esta remetido, porém, para a posição que o seu secretariado nacional assumirá na quinta-feira.

Mas, afinal, que mudanças à lei do trabalho estão na calha? O ECO detalha abaixo as principais alterações.

Contratos a termo com novos limites

Hoje, um contrato a termo certo pode durar, no máximo, dois anos. E um contrato a termo incerto quatro anos. O Governo quer aumentar esses prazos em um ano. Ou seja, a ser aprovada esta proposta, a duração máxima dos contratos a termo certo passará para três anos e a dos contratos a termo incerto para cinco anos.

“Dá mais liberdade de gestão”, sublinha Luís Mira. “Consideramos que a medida tem potencial para impactar positivamente as empresas, ao permitir uma maior capacidade de adaptação a um contexto caracterizado por uma procura volátil, exposta a choques externos, por uma concorrência global com intervenientes mais ágeis e menos regulados e por uma dinâmica de inovação permanente“, argumenta, na mesma linha, o diretor-geral da CIP.

Já o secretário-geral da CGTP avisa que esta medida coloca o trabalhador “como uma peça duma engrenagem para ser usado à vontade pela empresa, negando a estabilidade e a perspetiva de futuro que qualquer trabalhador procura no seu futuro”.

E esta não é a única mudança proposta às regras da contratação. O Governo quer que da lei constem mais situações em que é possível fazer contratações a termo certo, incluindo a contratação de trabalhador que nunca tenha prestado atividade ao abrigo de contrato de trabalho por tempo indeterminado, ou que esteja em situação de desemprego de longa duração, bem como a contratação de trabalhadores reformados por velhice ou invalidez.

Além disso, o Governo altera as regras dos contratos de trabalho com estudante em período de férias ou interrupção letiva, passando a ser “denunciável a todo o momento, por qualquer das partes, com pré-aviso de 15 dias“.

O que muda na contratação?

Limite do contrato a termo certo pode subir de dois para três anos;
Limite do contrato a termo incerto pode subir de quatro para cinco anos;
Mais situações dão azo a contratação a termo certo, incluindo vínculos com jovens.

Banco de horas individual regressa

Depois do primeiro dos governos de António Costa ter retirado o banco de horas individual do leque de opções dos empregadores, essa figura está agora em vias de regressar.

No anteprojeto apresentado na Concertação Social, o Governo propõe a (re)criação de um banco de horas instituído por acordo entre o empregador e o trabalhador, “podendo, neste caso, o período normal de trabalho ser aumentado até duas horas diárias e atingir 50 horas semanais, tendo o acréscimo por limite 150 horas por ano”.

“O empregador deve comunicar ao trabalhador a necessidade de prestação de trabalho com a antecedência mínima de três dias“, é ainda explicado na proposta.

É uma medida cujo regresso a AEP aplaude, pois desde sempre considerou um erro a sua revogação, não só pelos efeitos diretos que provocou, mas também pelos efeitos indiretos que determinou.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

“É a grande medida das 100 mudanças propostas. Era uma alteração proposta e defendida pelas empresas e associações. É uma medida de flexibilização importantíssima para as empresas. Estar espartilhada nas cláusulas de contratação coletiva não fazia sentido”, elogia José Eduardo Carvalho, Presidente da Associação Industrial Portugal (AIP).

“É uma medida cujo regresso a AEP aplaude, pois desde sempre considerou um erro a sua revogação, não só pelos efeitos diretos que provocou, mas também pelos efeitos indiretos que determinou, funcionando como um desincentivo na contratação coletiva à regulação mais específica de outras formas de bancos de horas“, comenta Luís Miguel Ribeiro.

De notar que o regresso do banco de horas individual tem sido também muito pedido pela Confederação do Turismo de Portugal. Da parte da Confederação dos Agricultores de Portugal, Luís Mira entende que esta medida é fundamental. E da parte da CIP, Rafael Rocha enfatiza que “o retorno ao banco de horas individual potencia não só ajustamentos às flutuações das necessidades empresariais, como também uma melhor articulação entre a vida profissional e a vida familiar“.

Mas enquanto do lado dos empresários chegam aplausos, do lado dos sindicatos soam as campainhas. “Os patrões lutaram por esta medida porque sabem bem que numa relação individual o trabalhador parte sempre duma posição de maior fragilidade. É ter trabalho extraordinário de graça e gerir a vida de quem trabalha a favor das empresas, mais uma vez, com fortes implicações na conciliação a vida profissional com a vida pessoal e familiar“, afirma Tiago Oliveira.

Banco de horas individual

Instituído por acordo entre empregador e trabalhador;
Aumento máximo de duas horas diárias do período de trabalho;
Limite de 150 horas anuais.

Período experimental, da polémica à revogação

Foi uma das mudanças mais polémicas da revisão da lei do trabalho feita em 2019: desde então, o período experimental de 180 dias passou a ser aplicado também aos trabalhadores à procura do primeiro emprego e aos desempregados de longa duração.

Agora, o Governo quer revogar essa norma, o que significa que essa duração de experiência pode passar a ser exigida apenas a trabalhadores que exerçam cargos de complexidade técnica, elevado grau de responsabilidade ou que pressuponham uma especial qualificação, e a trabalhadores que desempenhem funções de confiança.

Travão ao outsourcing. TC “valida”, mas Governo quer revogar

O travão ao outsourcing por 12 meses após despedimentos coletivos ou despedimentos por extinção de posto de trabalho foi um dos temas que mais dividiu as confederações empresariais e o Governo de António Costa, na Agenda do Trabalho Digno.

Apesar das críticas, avançou (e está em vigor desde maio de 2023) e o Tribunal Constitucional veio confirmar este mês que esta norma não viola a Constituição. Ainda assim, o Governo quer eliminar esse travão ao recurso à terceirização dos serviços, em linha com o que tem sido defendido, vez após vez, pelos empregadores.

A atividade das empresas é cada vez mais especializada, exigindo eficiência e qualidade. Razão pela qual a eliminação da proibição é claramente positiva.

Rafael Rocha

Diretor-geral da CIP

Em reação, Rafael Rocha, da CIP, considera que “a proibição em vigor é um exemplo bem concreto de medidas restritivas incluídas na Agenda do Trabalho Digno que em nada beneficiam os trabalhadores”.

“A realidade diz-nos que atividade das empresas é cada vez mais especializada, exigindo eficiência e qualidade. Razão pela qual a eliminação da proibição é claramente positiva“, defende o diretor-geral da confederação.

Pagamento de créditos em risco

Foi uma das “vitórias” do Bloco de Esquerda na Agenda do Trabalho Digno e está agora em risco. Hoje, o crédito devido a um trabalhador não é suscetível de extinção por meio de remissão abdicativa, exceto em tribunal.

Já com a proposta agora apresentada, essa extinção passa a ser possível nos casos em que o trabalhador “declare expressamente a renúncia ao mesmo em declaração escrita notarialmente”.

Serviços mínimos alargados

A lista de setores que satisfazem “necessidades sociais impreteríveis” e onde, por isso, podem ser fixados serviços mínimos em caso de greve pode ficar mais longa, caso a proposta do Governo receba “luz verde”.

O Governo quer somar aos pontos já existentes o abastecimento alimentar, os serviços de cuidado a crianças, idosos, doentes e pessoas com deficiência (por exemplo, lares e greves), bem como os serviços de segurança privada de bens ou equipamentos essenciais.

Este tem sido um ponto particularmente quente na discussão recente em torno da lei do trabalho, com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, a defender que é preciso proteger o equilíbrio entre o direito à greve e os demais direitos dos cidadãos, como o direito à mobilidade.

Da parte dos sindicatos, a CGTP tem criticado duramente esta posição. “A greve é o último patamar que o trabalhador tem, a última ferramenta para lutar por aquilo que no seu entender é justo e necessário. A greve é a oportunidade que o trabalhador tem de dizer que sem ele nada funciona, tudo para. É exatamente por isso que as greves têm o efeito e o impacto que têm. O que este Governo procura é minimizar esse impacto e ao fazê-lo retirar essa força que reside no trabalho“, atira o secretário-geral.

Setores que poderão vir a ter serviços mínimos

Abastecimento alimentar;
Serviços de cuidado a crianças, idosos, doentes e pessoas com deficiência;
Serviços de segurança privada de bens ou equipamentos essenciais.

Microempresas com menor dever de formação

Há duas mudanças previstas no anteprojeto do Governo, no que diz respeito à formação dos trabalhadores.

Por um lado, mantém-se a obrigação de o empregador garantir formação, “sempre que o exercício de funções acessórias exigir especial qualificação”, mas deixa-se cair o mínimo de dez horas hoje previsto. Além disso, a violação dessa norma passa a dar azo a uma contraordenação leve, em vez de grave (reduzindo-se, assim, o valor da coima).

Por outro lado, fica estipulado que, em cada ano, “o número de horas de formação continua a que o trabalhador tem direito é, respetivamente, vinte horas no caso de microempresas, quarenta horas nas restantes, ou sendo contratado a termo por período igual ou superior a três meses, o número de horas proporcional à duração do contrato nesse ano”.

Hoje, a lei não faz essa distinção em função da dimensão da empresa, estabelecendo para todas a obrigação das 40 horas.

A medida pode funcionar ao contrário do pretendido, acabando por afastar ainda mais trabalhadores qualificados que reconhecem o valor da formação contínua como elemento de valorização pessoal.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

A formação profissional assume um papel central no desenvolvimento das empresas. Contudo, para que o seu impacto seja efetivo, devem ser promovidas medidas complementares, nomeadamente: uma maior sensibilização da sociedade para a necessidade permanente de atualização de conhecimentos, o reforço dos apoios financeiros destinados a trabalhadores e empresas, bem como a promoção de ações de formação de curta duração ou com horários flexíveis, capazes de responder à escassez de tempo disponível para a qualificação”, salienta o diretor-geral da CIP, face a esta mudança potencial.

Já Luís Mira, da CAP, salienta que esta alteração nos deveres de formação “é, sobretudo, realista”, “na medida em que havia um nível elevado de incumprimento nas microempresas“.

Em contraste, o presidente da AEP alerta que a medida pode “funcionar ao contrário do pretendido, acabando por afastar ainda mais trabalhadores qualificados [das microempresas] que reconhecem o valor da formação contínua como elemento de valorização pessoal“.

Por sua vez, o secretário-geral da CGTP frisa que “muitas empresas” já não cumprem esse dever. Pior, “seja nas microempresas, seja nas médias e grandes, nem sempre maior formação significa mais salários e valorização profissional”, diz.

Formação obrigatória

Microempresas passam a estar obrigadas a 20 horas;
Demais às 40 horas atuais.

Mais férias? Dias pagos não mexem, mas é possível “comprar”

O Governo não quer mexer no máximo de dias de férias pagas (que hoje está em 22 dias), mas pretende introduzir a possibilidade de o trabalhador “comprar” dois dias extra de descanso, ou seja, o trabalhador abdica do seu salário nesse dias (o que já é prática em várias empresas).

No anteprojeto, incluiu, entre os vários tipos de faltas justificadas, as ausências “em antecipação ou prolongamento do período de férias, até ao máximo de dois dias por ano, solicitadas pelo trabalhador”.

Estes dias extra de descanso devem ser requeridos “no prazo de dez dias sobre a marcação do período de férias e o empregador apenas se pode opor ao seu gozo com fundamento em necessidades imperiosas de funcionamento da empresa”, é ainda definido.

“Não vemos qualquer inconveniente de ordem pública ou privada, se tal decisão resultar de acordo entre as partes”, assinala o presidente da AEP. E, no mesmo sentido, o diretor-geral da CIP destaca “as vantagens ao nível da conciliação“.

Férias extra?

Passa a ser possível falta justificada para antecipação ou prolongamento de férias;
Máximo de dois dias por ano;
A pedido do trabalhador.

O que vai mudar nas regras do teletrabalho?

Há várias mudanças nos artigos do Código do Trabalho relativo ao teletrabalho. Por exemplo, no que diz respeito ao acordo para a prestação de teletrabalho, já estava previsto que ficasse definido o período normal de trabalho diário e semanal. Mas o Governo quer que também fique estipulado “a proporção de trabalho prestado de modo remoto e presencial, quando for o caso“.

Outra mudança é que o local de trabalho previsto no acordo de teletrabalho passa a poder ser alterado temporariamente pelo trabalhador, “mediante comunicação dirigida ao empregador, com um pré-aviso de cinco dias, a qual só se torna eficaz se não houver oposição escrita deste, manifestada durante o período de pré-aviso”.

Hoje, o trabalhador pode mudar o local de trabalho, mas diz-se que apenas por acordo escrito com o empregador.

Que relação têm estafetas e plataformas digitais?

Entre as mais de 100 mudanças à lei do trabalho propostas pelo Governo, estão várias ligadas às regras do trabalho nas plataformas digitais. Isto porque o Executivo de Luís Montenegro aproveitou para transpor a diretiva europeia que diz respeito à relação entre os estafetas e essas plataformas.

Desde maio de 2023 que o Código do Trabalho já prevê a possibilidade de os estafetas serem considerados trabalhadores por conta de outrem das plataformas, e essa porta não se fecha agora. O Governo quer, contudo, que só se aplica aos estafetas cuja prestação da atividade à plataforma seja regulada e àqueles que estejam em situação de dependência económica.

A propósito, o próprio conceito de dependência económica deve ser alterado, segundo a proposta do Governo. Tal impacta não apenas esses estafetas, mas todos os trabalhadores independentes. Até aqui, bastava que 50% da atividade de um trabalhador independente estivesse ligada a um cliente. O Governo quer subir esse limite para 80%.

(Notícia atualizada às 14h39 com declarações da CAP e AIP)

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Extremismo e terrorismo. PJ vai poder bloquear conteúdos na net sem autorização de um juiz

A proposta anterior, esquecida com a dissolução da AR, tinha sido aprovada por PSD, CDS-PP e Chega. Proposta de lei vai transpor para o direito interno o regulamento europeu de combate ao terrorismo.

O Parlamento já recebeu a terceira tentativa da proposta de lei que prevê que a Polícia Judiciária (PJ) possa bloquear ou suspender conteúdos digitais suspeitos de atividades terroristas em Portugal. De acordo com o diploma, a PJ passa a ter poder para decidir quais as informações ou plataformas que devem ser suspensas ou bloqueadas por constituírem formas de propaganda de terrorismo e propagação de extremismo. A decisão deste órgão de polícia criminal não terá de passar por um juiz.

Uma proposta de lei que visa transpor para o direito interno (o português) o regulamento europeu de combate ao terrorismo na internet e que caiu com a dissolução da Assembleia da República. À data recebeu o voto contra de PS, Bloco de Esquerda, PCP, Livre e Iniciativa Liberal. O PAN optou pela abstenção e PSD, CDS-PP e Chega votaram a favor. O que indica que, desta vez, será aprovada, uma vez que este grupo tem atualmente a maioria dos lugares na AR.

Esta regra resulta da obrigatoriedade de Portugal transpor para o direito interno o Regulamento (UE) 2021/784 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de abril de 2021, sobre o “combate à difusão de conteúdos terroristas em linha”. Os conteúdos terroristas são, muitas vezes, espalhados pelas redes sociais e pela ‘dark web’, no sentido de recrutar, radicalizar e incitar ao ódio.

Desta feita, a União Europeia obriga a que todos os Estados-membros nomeiem uma autoridade judicial para proceder à suspensão e bloqueio de conteúdos suspeitos, quer próprias, quer a pedido de outros Estados-membros. No caso português, a escolha recai sobre a PJ, numa decisão que é exclusivamente nacional.

Porém, a decisão deste órgão de polícia criminal deve depois ser comunicada ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público. “Os prestadores de serviços de alojamento virtual terão apenas uma hora para que os conteúdos terroristas identificados sejam suprimidos ou que os acessos a esses conteúdos sejam bloqueados em todos os Estados-Membros. Excecionalmente poderão ter o período de 12 horas”, diz o regulamento, consultado pelo ECO/Advocatus.

A Ordem dos Advogados (OA), no parecer enviado ao Parlamento, discorda desta proposta de lei. “Trata-se de um flagrante atentado aos direitos, liberdades e garantias. Cremos que a competência para emitir decisões nesta matéria não poderá ser atribuída a um órgão de polícia criminal, enquanto entidade administrativa sob tutela do Governo, mas sim a um Tribunal ou, em determinadas condições, ao Ministério Público”.

Assim, defende a OA, “teremos uma entidade policial, sob a égide do Governo, a decidir, em vez dos Tribunais, o que vemos online, o que envolve direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e a liberdade de informação, em violação dos artigos 18.º da nossa Constituição e 52.º, nº 1 da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia”.

Já o Conselho Superior da Magistratura, defende que “a designação de um órgão de polícia criminal, na direta dependência de um membro do Governo, para emitir decisões de supressão ou bloqueio, pode “gerar questões de (in)constitucionalidade que cumpre desde já atalhar”.

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Faturação das maiores imobiliárias acelera 30% no primeiro semestre e sem travão à vista

O primeiro semestre foi histórico para as maiores redes imobiliárias, que baterem recordes de comissões de intermediação, à boleia de um mercado sob pressão que viu os preços dispararem 17,7%.

Rui Torgal, CEO da ERA Portugal; Marco Tairum, CEO da KW Portugal; Carlos Santos, CEO Zome; Beatriz Rubio, CEO da Remax Portugal e Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, são unânimes em vaticinar uma continuidade do aumento dos preços das casas até pelo menos o final do ano.

O preço das casas em Portugal arrancou este ano a bater recordes e não dá mostras de abrandar. Entre janeiro e março, o valor mediano do metro quadrado subiu 18,7%, enquanto o número de transações avançou 24,9%, revelando um apetite nunca visto num contexto de crise na habitação. A mesma tendência observou-se no segundo trimestre. Segundo os dados mais recentes do Confidencial Imobiliário, o preço médio das casas vendidas nos primeiros seis meses do ano registou um aumento homólogo de 17,7%, bem acima do aumento de 9,6% registado no primeiro semestre de 2024.

A escassez da oferta esteve novamente na base deste apetite, mas também uma procura cada vez mais ‘inflamada’ por condições de financiamento mais acessíveis às famílias, com destaque para a garantia pública que viabiliza o financiamento bancário de até 100% na compra da primeira casa para jovens até aos 35 anos, que passou a ser disponibilizada no arranque do ano e que se tem mostrado num veículo cada vez mais procurado na aquisição de casas até aos 450 mil euros, referem os especialistas.

No centro deste ambiente do mercado na habitação, marcado por uma oferta escassa face a uma procura cada vez mais quente, ganha destaque os resultados das maiores redes imobiliárias do país que, segundo dados compilados pelo ECO, fecharam o primeiro semestre com números históricos de transações realizadas e de faturação, com o volume de comissões a disparar cerca de 30%.

O mercado encontra-se muito dinâmico, registando-se um aumento dos preços, mas a um ritmo inferior aos de outros semestres, com uma procura intensa para uma oferta ainda relativamente escassa.

Beatriz Rubio

CEO da Remax Portugal

A Era Portugal, por exemplo, atingiu nos primeiros seis meses uma faturação de 59,5 milhões de euros em comissões, mais 29,3% face ao período homólogo, e o melhor registo desde o início da atividade no país, em 1998. “A melhoria de resultados tem origem tanto no aumento do número de operações como na eficácia das nossas estratégias de marketing e formação”, explica Rui Torgal, CEO da Era Portugal, ao ECO.

A rede de mais de 200 agências realizou 6.440 transações no semestre, 30% acima dos números de 2024 no mesmo período, e mediou 1,2 mil milhões de euros em imóveis, com um preço médio de 225 mil euros. Os resultados da Era foram de tal forma positivos, que as metas para este ano foram revistas em alta. “O desempenho foi bastante acima do previsto, com sinais claros de que os objetivos anuais definidos no início do ano serão ultrapassados”, revela o CEO da Era Portugal, acrescentando que se inicialmente projetavam um crescimento percentual de dois dígitos, “a tendência atual aponta para uma performance entre duas a três vezes superior.”

Na KW Portugal, Marco Tairum sublinha o regresso do crédito como principal catalisador e um ambiente generalizado de que os preços vão continuar a subir. A “descida das taxas de juro, reabertura do crédito e a convicção de que os preços não vão cair” foram, segundo o CEO da empresa, “fatores que mantiveram os compradores ativos e concentraram pressão nas gamas mais acessíveis”.

Entre janeiro e junho, a KW Portugal concretizou 7.291 transações (um crescimento homólogo de 20% face aos números de 2024), faturou 38,2 milhões de euros (mais 24% face ao primeiro semestre de 2024) e mediou cerca de 1.085 milhões de euros de operações, apesar de o preço médio por imóvel ter recuado 2% para 247.097 euros.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Já a Remax Portugal, líder em quota de mercado, contabilizou 38.258 transações (mais 14% face ao período homólogo) e registou um crescimento anual de 28,6% da faturação, como resultado de um crescimento de 30% do volume de negócios intermediado pelos seus mais de 12 mil consultores.

“O mercado encontra-se muito dinâmico, registando-se um aumento dos preços, mas a um ritmo inferior aos de outros semestres, com uma procura intensa para uma oferta ainda relativamente escassa”, comenta Beatriz Rubio, CEO da Remax Portugal.

Enquanto projetávamos inicialmente um crescimento percentual de dois dígitos, a tendência atual aponta para uma performance entre duas a três vezes superior. Adicionalmente, tendo em conta que o segundo semestre tende a ser tradicionalmente mais forte para o setor, a nossa perspetiva é bastante otimista.

Rui Torgal

CEO da Era Portugal

O mesmo embalo teve a Zome, com a faturação a disparar 38,9% nos primeiros seis meses do ano até aos 25 milhões de euros, e com o número de transações a aumentar 34,4%. “O mercado esteve especialmente dinâmico neste primeiro semestre.

Apesar da redução da oferta, sobretudo de casas usadas, a procura manteve-se muito dinâmica”, refere Carlos Santos, CEO da Zome, sublinhando ainda que “sentiu-se uma pressão crescente sobre os preços, mas isso não travou a vontade das pessoas de concretizar os seus planos de vida.”

Ricardo Sousa, CEO da Century 21 em Portugal e Espanha, acrescenta que o dinamismo do mercado “foi particularmente visível nas zonas periféricas das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como em cidades secundárias de diversas regiões (do Norte ao Centro e Alentejo)”, refletindo “uma adaptação das famílias portuguesas à sua realidade financeira, procurando habitação em localizações onde os preços são mais compatíveis com o seu rendimento disponível.”

Apesar de não revelar números da operação no primeiro semestre, por as contas ainda não estarem fechadas, Ricardo Sousa refere que a rede da Century 21 em Portugal verificou “um aumento do número de transações, do volume de negócio e do valor médio dos imóveis vendidos” nos primeiros seis meses do ano.

O mercado esteve especialmente dinâmico neste primeiro semestre. Apesar da redução da oferta, sobretudo de casas usadas, a procura manteve-se muito dinâmica.

Carlos Santo

CEO da Zome

Garantia pública está a ser um fósforo na palha seca

Se havia dúvidas sobre o impacto dos incentivos estatais, o semestre tratou de dissipá-las. Na Era, entre 50% e 80% dos jovens que compraram casa através dos seus consultores recorreram à garantia pública. “A garantia pública tem tido um papel muito relevante” na operação da ERA, revela Rui Torgal.

Na KW, a taxa de adesão à garantia pública também foi significativa. “Cerca de 40% dos nossos clientes jovens pediu a garantia [pública]; entre 10% e 35% conseguiu fechar negócio, consoante a região — Leiria converteu bastante mais do que Lisboa ou a Península de Setúbal”, revela Marco Tairum, notando que “o teto dos 450 mil euros deixa grande parte das áreas metropolitanas fora do alcance, limitando o efeito precisamente onde a pressão é maior.

Apesar da forte procura pela garantia pública por parte dos jovens, “sem contratos estáveis e rendimentos suficientes, o acesso ao crédito continua barrado, mesmo com o apoio da garantia pública”, avisa Ricardo Sousa, CEO da Century 21.

O mesmo impacto foi sentido nos resultados da Remax, com Beatriz Rubio a notar que a percentagem de uso da garantia pública no primeiro semestre “deverá ter rondado os 40% de jovens elegíveis”, e também nos resultados da Zome, com Carlos Santos a revelar que “cerca de 27% dos jovens que compraram casa” através da Zome “recorreram a esta medida, o que mostra que há uma necessidade real de apoio para esta faixa da população.”

Apesar da ajuda, persiste o alerta para a exclusão dos mais vulneráveis. “Sem contratos estáveis e rendimentos suficientes, o acesso ao crédito continua barrado, mesmo com o apoio da garantia pública”, avisa Ricardo Sousa.

A perceção de uma maior oportunidade para comprar casa através da garantia pública acelerou decisões de compra que, de outra forma, poderiam ter sido adiadas, destacam os especialistas. “Esta medida trouxe, sobretudo, confiança a um segmento que, até então, estava afastado do mercado, representando uma mudança comparável à era do crédito bonificado. Apesar de ter havido alguma hesitação inicial, a aceitação tem vindo a crescer de forma consistente”, refere Rui Torgal, CEO da Era.

Marco Tairum. CEO da KW Portugal, prevê que, “até dezembro, os preços de venda e rendas continuem a subir”, apesar de considerar que “o motor já não vai em redline” e notando que “o travão continua a ser a oferta estruturalmente curta.”

A unanimidade entre os especialistas ouvidos pelo ECO termina na previsão para o resto do ano. Rui Torgal antecipa a manutenção da trajetória de preços elevados, “até que haja aumento substancial da oferta”. Marco Tairum prevê que, “até dezembro, os preços de venda e rendas continuem a subir”, apesar de considerar que “o motor já não vai em redline.”

Para Carlos Santos, o mercado residencial continuará “com níveis elevados de procura, o que manterá os preços em alta, sobretudo nas zonas urbanas e nas tipologias com maior escassez”, enquanto Ricardo Sousa admite um ligeiro abrandamento das transações, mas não vê descida de preços no horizonte, apenas ajustes nos centros mais caros e valorização contínua em periferias e cidades secundárias.

Nos resultados das maiores redes imobiliárias do país, esta perspetiva deverá traduzir-se em mais um ano de resultados recorde. “Enquanto projetávamos inicialmente um crescimento percentual de dois dígitos, a tendência atual aponta para uma performance entre duas a três vezes superior”, refere Rui Torgal, sublinhando ainda que “tendo em conta que o segundo semestre tende a ser tradicionalmente mais forte para o setor, a nossa perspetiva é bastante otimista.”

Os primeiros seis meses do ano confirmaram que o mercado residencial nacional continua blindado contra a incerteza macroeconómica. A garantia pública deu novo fôlego à procura jovem, as taxas de juro em descida reabriram a torneira do crédito e a persistente falta de oferta sustenta preços em máximos.

Resta saber se os entraves estruturais — licenciamento moroso, custo de construção e escassez de solo — serão endereçados a tempo de travar uma escalada que, ao ritmo atual, mantém viva a crise da habitação, mesmo quando as redes imobiliárias brindam mais um semestre de resultados históricos.

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Conselho Estratégico do PS dava para formar “vários governos”, diz José Luís Carneiro

  • Lusa
  • 29 Julho 2025

"O PS é a grande casa da democracia porque tem pessoas que estão mais à esquerda do PS, até aos humanistas, democratas-cristãos, sociais-democratas", diz o secretário-geral do PS.

O secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, considerou esta terça-feira que o Conselho Estratégico do partido que constituiu é sinal de “abertura, diversidade e pluralismo” e que as competências das personalidades que o compõem permitiriam formar “vários governos”.

“É muito importante que se perceba que o PS é a grande casa da democracia porque tem pessoas que estão mais à esquerda do PS, até aos humanistas, democratas-cristãos, sociais-democratas, que se juntam neste Conselho Estratégico para contribuírem para o seu país”, sublinhou aos jornalistas José Luís Carneiro, no final da cerimónia de instalação deste órgão consultivo composto por mais de 90 personalidades.

Questionado sobre se o Conselho Estratégico do PS – que será coordenado pelo antigo presidente do parlamento, Augusto Santos Silva – funciona como uma espécie de governo sombra, o líder do PS respondeu: “Temos aqui personalidades para a constituição de vários governos, não só para um”.

“Se olharem para as personalidades, para a sua qualidade, para a sua experiência de vida académica, (…) várias pessoas da indústria, das empresas, da economia, da cultura. Sem falsas modéstias, julgo que temos aqui mesmo personalidades, competências e capacidades para formar, não é um, é vários governos”, defendeu.

Entre os diferentes nomes, cerca de cinco dezenas já tiveram funções governativas. Sobre o porquê da escolha de Santos Silva para este trabalho de coordenação, Carneiro referiu que foi “o nome que mais foi consensualizado na auscultação” que fez, sublinhando “ter uma experiência muito larga, muito ampla, na coordenação de equipas e na produção dos resultados”.

“Ele esteve na revisão da declaração de princípios do PS nos princípios dos anos 2000 e tem também um percurso histórico que vem desde os governos do engenheiro António Guterres até aos últimos governos do doutor António Costa. Esta transversalidade no exercício de funções governativas dá-lhe uma leitura do Estado e da sociedade”, destacou.

No discurso que fez após todos os membros presentes terem assinado o ato de posse, o secretário-geral do PS, que foi eleito há cerca de um mês, considerou que este órgão é “sinónimo de abertura, de diversidade e de pluralismo”.

Destacando que o PS “é um partido de centro esquerda”, Carneiro referiu que este órgão consultivo, que tem como horizonte temporal 2050, conta com personalidades que estão à esquerda do PS, mas também que vêm do “humanismo democrata-cristão”, como é o caso do ex-vice do CDS-PP Filipe Lobo d’Avila.

Este é um ponto de partida e não é um ponto de chegada. Outras personalidades se juntarão a nós neste percurso”, antecipou. Este órgão terá reuniões trimestrais ordinárias, estando a primeira prevista para meados de setembro, e terá que produzir todos os anos um relatório estratégico e cadernos temáticos.

O Conselho Estratégico é composto por “personalidades com experiência política, académicos, empresários, gestores, cientistas, artistas, líderes associativos e jovens talentos”, tendo representação de diferentes regiões do país e da diáspora.

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Populações de aldeias evacuadas em Nisa regressam ainda hoje a casa, diz autarca

  • Lusa
  • 29 Julho 2025

As autoridades evacuaram esta terça à tarde as aldeias de Pé da Serra e São Simão e parcialmente a aldeia de Vinagra, em Nisa, na sequência do incêndio rural.

Os habitantes das aldeias que foram evacuadas esta tarde em Nisa, distrito de Portalegre, na sequência do incêndio que deflagrou esta terça-feira no concelho, vão regressar a casa ao início da noite, disse à Lusa a presidente do município. De acordo com Idalina Trindade, grande parte dos habitantes de Vinagra, São Simão e Pé da Serra ainda permanecem no Pavilhão Municipal de Nisa para tomar uma refeição e, depois, “voltar ao conforto do lar”.

“Vão comer uma sopa e uma fruta para regressar ao conforto do lar com direito a alimentação e sem qualquer perturbação”, disse. Idalina Trindade indicou ainda que o combate ao incêndio na serra de São Miguel “está a evoluir favoravelmente”. As autoridades evacuaram esta terça à tarde as aldeias de Pé da Serra e São Simão e parcialmente a aldeia de Vinagra, em Nisa, na sequência do incêndio rural.

Na aldeia de Vinagra há registo que uma mulher ficou desalojada, segundo disse à Lusa fonte do Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil do Alto Alentejo, que desconhecia se a habitação ardeu total ou parcialmente. Uma outra fonte da Proteção Civil disse também à Lusa que nesta aldeia arderam duas viaturas e um casão agrícola.

De acordo com o Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil do Alto Alentejo, o fogo, para o qual foi dado o alerta às 12:32, consome uma área florestal com pinheiro e eucalipto. Às 20:05, de acordo com a página de Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, combatiam o incêndio 329 operacionais, apoiados por 107 veículos e dois meios aéreos.

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Assembleia Municipal de Lisboa defende que “não há excesso de turismo”

  • Lusa
  • 29 Julho 2025

A capital tem sim turismo "mal distribuído e desregulado", existindo espaço para "uma terceira cidade, a cidade intermédia", indica um estudo a assembleia municipal.

A Assembleia Municipal de Lisboa defendeu esta terça-feira que a capital “não tem excesso de turismo”, mas o que tem está “mal distribuído e desregulado”, e propôs a descentralização para zonas como Marvila, Beato, Ajuda e Olivais.

A 2.ª Comissão Permanente de Economia, Inovação e Turismo trabalhou o tema da “cidade menos visitada – estratégias de desconcentração da pressão turística e mitigação dos seus impactos em Lisboa”, com a realização de cerca de duas dezenas de audições a agentes locais, inclusive a Associação Turismo de Lisboa, que resultou num relatório, com conclusões e com recomendações dirigidas à câmara.

“Lisboa não tem excesso de turismo e os dados que temos, de forma objetiva, vão contra esta ideia”, afirmou o relator Pedro Roque Domingues (PS), que elaborou o documento – com mais de 100 páginas – em conjunto com Simonetta Luz Afonso (PS). Pedro Roque Domingues disse que a cidade tem turismo “mal distribuído e desregulado”, centrando-se em Belém, Santa Maria Maior, Bairro Alto, Baixa-Chiado, Alfama, Mouraria e Castelo, existindo espaço para “uma terceira cidade, a cidade intermédia”.

Lisboa tem zonas com grande potencial turístico fora do centro, como Marvila, Beato, Ajuda, Olivais, entre outras”, lê-se no relatório, documento que pretende ser um ponto de partida para que a capital desenvolva “um planeamento de descentralização turística, pensado para integrar novas zonas numa estratégia de turismo sustentável”.

Outras das conclusões são de que “é insuficiente” a sinalética quanto a roteiros turísticos na cidade, existe “uma flagrante falta de cooperação” entre os vários atores e intervenientes na área do turismo, falta um estudo recente sobre a carga turística na capital e verifica-se que “a cobertura deficiente de transportes públicos condiciona a visitação de alguns equipamentos culturais e monumentos”.

À semelhança das conclusões, as recomendações incidem sobre os temas sinalética, eixos e roteiros turísticos; estratégia, cooperação e concertação; mobilidade e transportes; bilhética e divulgação; taxa municipal turística de dormida e património; habitação e alojamento local. A maioria das recomendações foi aprovada por unanimidade, tendo algumas das medidas propostas sido viabilizadas com os votos contra ou abstenção de BE, PEV e PCP.

“Promover a fixação de startups na cidade menos visitada, em polos organizados e enquadrados numa estratégia integrada, fomentando o seu desenvolvimento e atratividade”, foi uma das recomendações que teve os votos contra de BE, PEV e PCP, partidos que se abstiveram quanto à ideia de criar parcerias entre os transportes públicos e equipamentos culturais e monumentos, “eventualmente investindo no conceito hop on/hop off“.

Entre as recomendações está também a ideia de definir uma estratégia de mitigação dos constrangimentos da capacidade do Aeroporto Humberto Delgado (35,1 milhões de passageiros em 2024), e de equacionar, no contexto da construção do novo aeroporto da região de Lisboa (Aeroporto Luís de Camões em Alcochete), a criação de uma tarifa única de viagem entre a cidade e o futuro aeroporto.

A assembleia decidiu ainda recomendar à câmara a criação de uma aplicação própria para descentralizar o turismo e diminuir a pressão no centro histórico, assim como a transformação do Torreão Poente da Praça do Comércio num centro de divulgação de novas propostas de descoberta da “cidade menos visitada”.

Outras das propostas são a revisão dos procedimentos de aplicação e distribuição da Taxa Municipal Turística de Dormida (TMTD), para aumentar a transparência dos investimentos feitos nesse âmbito, e o desenvolvido de um Plano de Mitigação do Impacto do Turismo em Lisboa, assente em estudos abrangentes e à escala da cidade.

Recomenda-se também a avaliação da evolução do alojamento local, “integrando-o numa estratégia mais vasta que contribua para o crescimento sustentado da cidade menos visitada, promovendo a desconcentração e descentralização do número de dormidas nas freguesias já identificadas como críticas”.

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Esta é a chave do Euromilhões. Jackpot é de 151 milhões de euros

  • ECO
  • 29 Julho 2025

O jackpot desta terça-feira é de 151 milhões de euros, depois de não terem sido registados vencedores do primeiro prémio no sorteio anterior.

Com um primeiro prémio no valor de 151 milhões de euros, decorreu esta terça-feira mais um sorteio do Euromilhões. O valor do jackpot subiu depois de não ter havido vencedores do primeiro prémio no sorteio anterior.

Veja a chave vencedora do sorteio desta terça-feira, 29 de julho:

Números: 5, 6, 42, 44 e 46

Estrelas: 4 e 8

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África do Sul afasta retaliação a tarifas impostas pelos EUA

  • Lusa
  • 29 Julho 2025

A África do Sul propôs importar gás natural liquefeito e facilitar o acesso ao mercado para certos produtos agrícolas norte-americanos, segundo o governo do país.

A África do Sul não retaliará as tarifas impostas pelos Estados Unidos da América, sendo que propôs favorecer as exportações norte-americanas e formalizar acordos em vários setores, anunciou esta terça-feira o seu ministro do Comércio.

Pretória tenta concluir um acordo comercial antes da entrada em vigor, na sexta-feira, 1 de agosto, das tarifas de 30% impostas por Washington sobre as suas exportações. No entanto, os dois países encontram-se num “impasse” causado pela “convergência de questões geopolíticas, internas e comerciais”, declarou o ministro Parks Tau em comunicado.

“A África do Sul tomou a decisão de não retaliar as tarifas recíprocas anunciadas pelos Estados Unidos”, declarou, acrescentando que o Governo ainda aguardava “respostas substanciais dos homólogos norte-americanos” às suas propostas de acordos comerciais. A África do Sul propôs importar gás natural liquefeito (GNL) e facilitar o acesso ao mercado para certos produtos agrícolas norte-americanos, segundo Tau.

“Empresas sul-africanas comprometeram-se a investir 3,3 mil milhões de dólares [cerca de 2,9 mil milhões de euros] em indústrias norte-americanas, como a mineração e reciclagem de metais, enquanto os dois Governos concordaram em procurar investimentos conjuntos em minerais críticos, produtos farmacêuticos e máquinas agrícolas”, referiu o ministro.

Os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial da África do Sul, país vizinho de Moçambique, depois da China, importando produtos agrícolas, metais preciosos e veículos sul-africanos.

Os setores automóvel e de cítricos, em particular, correm o risco de perder milhares de empregos, pois as tarifas impostas pelo Presidente Donald Trump anularam de facto o acordo comercial preferencial AGOA, que permitia a entrada de certas mercadorias de vários países africanos nos Estados Unidos sem tarifas.

“Fizemos o nosso melhor”, declarou Tau, acrescentando que uma redefinição das relações comerciais entre os dois países era “inevitável”. Os laços entre as duas nações deterioraram-se desde que Donald Trump assumiu o cargo em janeiro, com o Presidente norte-americano a acusar a nação africana de praticar um genocídio aos agricultores brancos sul-africanos.

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Luanda paralisada no segundo dia da greve dos taxistas

  • Lusa
  • 29 Julho 2025

No segundo dia da paralisação convocada pelos taxistas, que degenerou em protestos violentos, atos de vandalismo e pilhagens, crescem os receios face à instabilidade e os distúrbios.

Preocupados com a insegurança e a possibilidade de escassez de bens, muitos luandenses procuraram esta terça-feira abastecer-se nas poucas lojas ainda abertas, temendo as incertezas dos próximos dias.

No segundo dia da paralisação convocada pelos taxistas – que degenerou em protestos violentos, atos de vandalismo e pilhagens –, populares ouvidos pela Lusa na capital angolana manifestaram receios face à instabilidade e condenaram os distúrbios, mas reconhecem que há motivos para os protestos, que atribuem sobretudo ao agravamento das condições de vida.

“As pessoas pensam com a barriga, não pensam com a cabeça”, resumiu Feliciano Lussati, jovem professor residente na zona de Benfica, à saída de uma cantina (pequena mercearia local) onde conseguiu comprar pão. “A situação do país é caótica, é precária e as coisas estão sempre a aumentar. O salário é quase a mesmice”, disse, justificando a legitimidade da greve dos taxistas.

Para Feliciano, a violência que se seguiu “tem que ver com a fome. Quem tem fome não pensa nas consequências”, porque os problemas socioeconómicos do país fazem “com que as pessoas não pensem com a cabeça, pensem com a barriga”.

“Se nós virmos aquilo que nós temos assistido nas redes sociais, as pessoas estão mais a vandalizar centros comerciais, a tirar comida, não é? Então, eu acho que quem não tem fome não estaria aí a invadir uma loja de um particular para tirar dividendos ou para tirar proveito disso, não é? Eu acho que a fome está na base disso, o desespero da população está na base disso”, justificou.

Apesar de no seu bairro a situação estar calma, Feliciano passou estes dois dias praticamente em casa, atento às redes sociais, enquanto ouvia barulho ao longe. “Fui comprar pão porque temos que nos prevenir”, sublinhou, admitindo estar preocupado com os efeitos da greve. Na sua opinião, o desfecho dependerá da capacidade de resposta do executivo.

“O Governo precisa de saber dialogar, tomar medidas próprias e fazer um esforço de maneira que apazigue a situação e haja consenso, porque se a situação continuar por este caminho, infelizmente, nós teremos situações mais preocupantes e a coisa vai ficar feia a cada ano, a cada dia que passa”, comentou.

A capital angolana acordou esta terça-feira ainda marcada pela tensão do dia anterior anterior. Bombas de combustível fechadas e protegidas por forças de segurança, táxis encostados junto a barricadas improvisadas com contentores de lixo, e homens armados — à paisana – a circular em alguns bairros marcam a paisagem.

Na zona comercial do São Paulo, habitualmente fervilhante, quase não se via comércio aberto. Apenas algumas ‘zungueiras’ (vendedoras de rua) carregavam alguidares com água ou fruta. Maria, também vendedora ambulante, moradora no bairro Mundial (Benfica) queixou-se à Lusa da falta de clientes.

Hoje não há clientes. Por causa do táxi que não está a circular”, disse a vendedora que veio a pé trabalhar. No dia anterior, a vida “estava mesmo bem difícil (…) não tinha nada para a gente comer. E consegui mesmo só hoje”, desabafa. Sobre os protestos, cujas causas disse desconhecer, Maria limitou-se a dizer que viu “assaltos nos supermercados” pela televisão.

As marcas da destruição eram ainda hoje visíveis em várias zonas: armazéns com vidros partidos, vestígios de lixo queimado no asfalto, ruas sem mototáxis nem os típicos azuis e brancos. Na marginal de Luanda, o vazio contrastava com o habitual movimento. Na Samba, o tráfego intenso foi substituído pelo silêncio apenas interrompido por viaturas que passavam espaçadamente.

O comerciante Moisés Francisco decidiu hoje manter parcialmente aberta a sua cantina, padaria e farmácia – a “MAF” –, apesar do receio. “De manhã aqui estava bastante cheio. Havia muita gente à procura de pão, porque encontravam as lojas fechadas”, relatou. Com medo de tumultos, acabou por suspender o atendimento que só reiniciou porque “a vizinhança estava a chorar”.

No dia anterior “não conseguiram comprar pão”, justificou. Para Moisés, a paralisação teve fundamento. “A greve foi por causa do aumento dos combustíveis. Pode ser motivo, sim. Mas não é motivo para fazer pilhagem”, criticou. “Estão a sofrer também [os comerciantes], não conseguem prosperar. Isso é um retrocesso, lamentou.

A paralisação dos taxistas foi convocada na sequência do aumento do preço dos combustíveis. O protesto, que seria pacífico, rapidamente degenerou em violência em várias zonas de Luanda, com lojas saqueadas, transportes paralisados, barricadas nas estradas e relatos de mortes e feridos. As autoridades angolanas confirmaram a existência de quatro mortos e já detiveram mais de 500 pessoas.

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