Parlamento dos Açores solicita auditoria do Tribunal de Contas à SATA

  • Lusa
  • 10 Julho 2025

PS lembra que as contas de 2024 da transportadora aérea não foram ainda publicadas, mas a administração da SATA já fez saber que o prejuízo ronda os 83 milhões de euros.

O parlamento dos Açores aprovou esta quinta-feira, por larga maioria, uma proposta do PS, o maior partido da oposição, que recomenda ao Tribunal de Contas (TdC) a realização de uma auditoria às contas da companhia aérea SATA.

“Importa, rapidamente e através de uma auditoria independente e qualificada do Tribunal de Contas, assegurar mais transparência, maior escrutínio e uma efetiva prestação de contas ao grupo SATA, incluindo a análise rigorosa do plano de reestruturação e das opções de gestão e do acionista”, justificou Carlos Silva, deputado socialista, durante a apresentação da iniciativa na Assembleia Legislativa, na Horta.

A bancada do PS lembra que as contas da transportadora aérea regional, relativas a 2024, não foram ainda publicadas, mas que o Conselho de Administração da SATA já fez saber que o prejuízo da companhia ronda os 83 milhões de euros, que segundo os socialistas é “um dos piores de sempre”.

“Não é admissível que, à data de hoje, ainda não tenham sido publicadas as contas anuais de 2024 e as do primeiro trimestre de 2025, o que se traduz no incumprimento da lei e um total desrespeito pela função fiscalizadora deste parlamento”, advertiu Carlos Silva.

Segundo o deputado socialista, os prejuízos acumulados da SATA, entre 2021 e 2024, atingiram os 213 milhões de euros, o que demonstra “a degradação da situação financeira” da companhia aérea, e atesta também “o fracasso completo do plano de reestruturação” da transportadora, que está em processo de privatização.

O secretário regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública, Duarte Freitas, já tinha admitido esta semana, em plenário, que caso a privatização da Azores Air Lines não tenha sucesso, a companhia terá de ir para insolvência, e que isso poderá custar mais de 300 milhões de euros.

“A insolvência representa não só ficarmos com o passivo que já lá está, mas poderá representar mais 300 milhões de euros de pagamentos de indemnizações aos trabalhadores”, advertiu o governante, durante um debate de urgência sobre o futuro da companhia aérea açoriana, promovido pelo Chega. O secretário dos assuntos Parlamentares, Paulo Estêvão, disse hoje que o executivo regional de coligação (PSD, CDS-PP e PPM), não se opõe à realização de qualquer auditoria à SATA: “faça as auditorias que quiser! Quem não deve, não teme!”

O pedido de auditoria foi aprovado por quase todos os partidos com assento parlamentar nos Açores, à exceção do deputado único da Iniciativa Liberal, Nuno Barata, que votou contra, por entender que os restantes partidos estão a utilizar a companhia área como “arma de arremesso político”.

Segundo o executivo regional, as negociações para a conclusão do processo de alienação de 76% do capital da Azores Air Lines, “estão a decorrer a bom ritmo”, tanto com o consórcio Newtor/MS Aviation, como com a própria Comissão Europeia.

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Lula da Silva avisa que haverá reciprocidade nas taxas de Trump contra o Brasil

  • Lusa
  • 10 Julho 2025

Presidente brasileiro disse que Trump não “foi eleito para ser xerife do mundo" e admitiu que vai negociar com a Casa Branca. Mas se a tarifa dos EUA de 50% avançar, Brasil vai responder com 50%.

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse esta quinta-feira que há alternativas diplomáticas para responder na Organização Mundial do Comércio (OMC) à taxa de 50% imposta pelo Presidente dos EUA contra o Brasil e reafirmou que haverá reciprocidade.

“Primeiro, do ponto de vista diplomático tem várias medidas para serem tomadas e o Itamaraty [Ministério das Relações Exteriores] vai tomar. A gente pode recorrer a Organização Mundial do Comércio (OMC), a gente pode abrir uma investigação com outros países, cobrando coerência dos EUA”, disse Lula da Silva num vídeo publicado na rede social X em que é entrevistado por uma jornalista da Record.

“O que mais vai valer é o seguinte, nós temos a lei da reciprocidade que foi aprovada no Congresso Nacional. Não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar, mas se não tiver negociação a lei da reciprocidade será colocada em prática. Se ele [Trump] vai cobrar 50% [de taxas] nós vamos cobrar 50% dele”, acrescentou.

Lula da Silva também afirmou ter pensado que a carta de Trump anunciado a tarifa sobre produtos do Brasil era um material apócrifo, acrescentou que se o governante norte-americano conhecesse o Brasil “teria mais respeito” e citou os 201 anos de relações diplomáticas do país sul-americano com os Estados Unidos.

Trump anunciou na quarta-feira uma tarifa adicional de 50% sobre as importações do Brasil, a partir de 1.º de agosto. O principal motivo da sanção, segundo o líder norte-americano, é “a forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Jair Bolsonaro”, que está sendo processado no Supremo Tribunal Federal por suposta tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022 para o atual Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Numa carta enviada ao Governo brasileiro, Trump também alegou que a relação comercial entre as partes é “muito injusta”, marcada por desequilíbrios gerados por “políticas tarifárias e não-tarifárias e pelas barreiras comerciais do Brasil”. Lula da Silva argumentou que Trump “tem que respeitar a justiça brasileira”.

“Se o que o Trump fez no Capitólio tivesse sido feito aqui no Brasil estaria sendo processado como Bolsonaro e arriscado a ser preso porque feriu a democracia, porque feriu a Constituição. Eu não me meto no Poder Judiciário, porque aqui [no Brasil] o poder Judiciário é autónomo, sobretudo o Supremo Tribunal Federal”, completou o Presidente brasileiro.

No entanto, desde 2009 os Estados Unidos regista excedente comercial nas trocas com o Brasil. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) brasileiro mostram que, desde 1997, quando começa a série histórica, o Brasil comprou 50 mil milhões de dólares (42,8 mil milhões de euros) a mais do que exportou dos norte-americanos.

Lula da Silva voltou a dizer que Trump não pode pensar que “foi eleito para ser xerife do mundo, ele foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos. Ele pode fazer o que ele quiser dentro dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, quem manda somos nós, brasileiros”.

O Presidente brasileiro também afirmou que pretende procurar outros parceiros para comprar os produtos do país, e citou que o comércio com os Estados Unidos representa apenas 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Não é essa coisa que a gente não pode sobreviver sem os Estados Unidos, não é assim. Obviamente que nós gostamos de vender (…) mas, sabe, nós não abriremos mão da reciprocidade. Enquanto isso, vamos tentar negociar. O mandato de um presidente só dura 4 anos. Daqui a pouco, quem sabe, tem outro presidente que quer negociar”, concluiu Lula da Silva.

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Orçamento do Estado para 2026 já está comprometido com descida adicional do IRS

Redução de 0,3 pontos percentuais do 2.º ao 5º escalões proposta por PSD/CDS e que plasma o compromisso assumido com o Chega foi viabilizada com a abstenção de PS e IL.

O Orçamento do Estado para 2026 (OE2026) já está comprometido com uma descida adicional do IRS em 0,3 pontos percentuais das taxas entre 2.º e o 5.º escalões, segundo um projeto de PSD/CDS aprovado esta quinta-feira, na especialidade, na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP) com os votos favoráveis de PSD, CDS e Chega, abstenção de PS e IL e contra do Livre. PCP, BE e PAN estiveram ausentes.

A iniciativa que adita a proposta de lei do Governo de redução do imposto verte em letra de lei o compromisso que tinha sido assumido pela Aliança Democrática (AD) – coligação PSD/CDS com o Chega e que levou o partido de André Ventura a retirar os seus projetos de alteração.

De lembrar que o projeto do Chega previa uma descida mais substancial de 0,80 pontos percentuais para o 2.º e 3.º patamares de tributação, fixando as taxas em 15,70% e 21,20%, respetivamente. Para o 4-º e 5.º escalões, queria baixar a carga fiscal em 0,90 pontos, estabelecendo as taxas em 24,10% e 31,20%. Mas a iniciativa nem sequer foi a votos. Com a garantia de PSD/CDS de que iriam baixar em mais 0,30 pontos percentuais o imposto entre o 2.º e 5.º níveis de tributação em 2026, o partido de André Ventura decidiu deixar cair a proposta.

Em contrapartida, o Chega deu a mão à AD e ajudou a confirmar a aprovação da descida de IRS protagonizada pelo Governo até ao 8.º e penúltimo escalão.

Descida do IRS do Governo passa no segundo teste

O Executivo propõe que a taxa do primeiro escalão desça de 13% para 12,5%, a do segundo de 16,5% para 16%, a do terceiro de 22% para 21,5%, a do quarto de 25% para 24,4%, a do quinto de 32% para 31,4%, a do sexto de 35,5% para 34,9%, a do sétimo de 43,5% para 43,1% e, por último, a do oitavo de 45% para 44,6%. A taxa do último escalão de rendimentos continua nos 48%.

A proposta foi aprovada, na especialidade, com os votos favoráveis do PSD, CDS, Chega e IL. O PS absteve-se o Livre votou contra. Na comissão também têm assento o PCP, o BE e o PAN, mas os deputados não se encontravam presentes. A votação aconteceu ao mesmo tempo em que decorria o plenário da Assembleia da República.

A proposta legislativa reduz as taxas do 1.º ao 8.º escalão de rendimento, trazendo um desagravamento transversal do imposto nos vários níveis de rendimento que o Governo estima rondar os 500 milhões de euros.

Apesar de as taxas só baixarem até ao 8.º degrau, a descida também é sentida pelos contribuintes do nono escalão. Isso acontece porque, com a regra da progressividade no cálculo do imposto, o rendimento de um contribuinte é dividido, aplicando-se a cada escalão de rendimentos, a respetiva taxa.

O Governo já fez saber, através do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que irá alterar as tabelas de retenção na fonte logo que o possa fazer, depois da aprovação da proposta de lei, para refletir no bolso dos contribuintes a redução com efeitos retroativos a janeiro deste ano.

A votação final global vai realizar-se no dia 16, ou seja, último plenário com votações antes do fim dos trabalhos parlamentares.

“Se tudo correr bem, já em agosto e setembro com os chamados retroativos e, depois, a partir de outubro, novas tabelas que refletem já mensalmente a redução”, afirmou em Bruxelas, a 7 de julho, à chegada à reunião do Eurogrupo.

“Sendo aprovada a descida das taxas de IRS – as taxas do artigo 68 do código de IRS –, o Governo imediatamente publicará as tabelas de retenção na fonte, que permitem fazer – numa linguagem mais simples – os retroativos face a janeiro deste ano”, afirmou o ministro.

Em regra, quando há alterações às taxas dos escalões do IRS, os governos atualizam as tabelas de retenção na fonte do IRS, para que o desconto mensal do imposto feito nos salários dos trabalhadores por conta de outrem e nas pensões fique mais próximo do IRS final a pagar.

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Montenegro sublinha “compromisso inabalável” de Portugal com a Ucrânia

  • Lusa
  • 10 Julho 2025

O primeiro-ministro participo, por videoconferência, "numa reunião de líderes da coligação de boa vontade, à margem da Conferência Internacional sobre a Ucrânia".

O primeiro-ministro português sublinhou esta quinta-feira o “compromisso inabalável” de Portugal no apoio a Kiev, ao participar numa reunião de líderes da coligação internacional que se reuniu à margem da Conferência Internacional sobre a Ucrânia.

“O apoio de Portugal à Ucrânia é um compromisso inabalável, rumo a uma paz justa e duradoura”, escreveu Luís Montenegro numa publicação na rede social X, depois de participar “numa reunião de líderes da coligação de boa vontade, à margem da Conferência Internacional sobre a Ucrânia”.

Montenegro participou numa reunião virtual de líderes de países-membros do grupo de aliados da Ucrânia copresidida pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, a partir de Londres.

Na reunião, o Governo britânico anunciou que a coligação formada por países disponíveis para destacar tropas ou meios militares para manter um eventual acordo de paz na Ucrânia vai ter um quartel-general permanente em Paris.

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Chega força votação da venda da TAP no Parlamento

Partido de André Ventura vai pedir a apreciação parlamentar do decreto-lei do Governo de privatização de 49,9% da companhia aérea, revelou ao ECO.

O Chega vai pedir a apreciação parlamentar do decreto-lei do Governo que visa a privatização de 49,9% da TAP, revelou o partido ao ECO. Com esta iniciativa, os deputados forçam a votação da venda da companhia aérea na Assembleia da República. A decisão surge depois de André Ventura ter anunciado que solicitou, para esta sexta-feira de manhã, um debate de urgência sobre a alienação da empresa pública.

O pedido de apreciação parlamentar de um decreto-lei só pode ser pedido depois de publicado em Diário da República e por um mínimo de 10 deputados. Ora os 60 parlamentares do Chega são mais do que suficientes para avançar com a iniciativa. Da parte do PS, o grupo parlamentar espera ainda pelo diploma em concreto e só depois decide se se junta ou não ao pedido.

Já PCP e PAN, que não têm os 10 parlamentares para avançarem com iniciativa idêntica, já indicaram ao ECO que irão apoiar um qualquer pedido para forçar a votação a venda da TAP. “O PCP já iniciou diligências com o objetivo de viabilizar um pedido de apreciação parlamentar”, revelou fonte oficial do grupo parlamentar comunista. Na mesma senda, a deputada única e líder do PAN, Inês de Sousa Real sinalizou que irá “acompanhar o pedido caso se reúnam os deputados suficientes para o efeito”.

O pedido do Chega surge depois de André Ventura ter criticado a falta de diálogo por parte do elenco executivo de Luís Montenegro. O próprio Governo já tinha assumido que avançou com a alienação da companhia sem ter conversado com outros partidos, uma postura que já foi duramente criticada pelo líder do Chega, André Ventura. “Não houve consensos prévios. Do ponto de vista formal não houve diálogo, mas fomos ao encontro das suas posições”, afirmou o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz.

Após o anúncio do Governo na tarde desta quinta-feira, Ventura exigiu “a devolução aos contribuintes do dinheiro que já se investiu na TAP” e que, pelas contas do partido, anda à volta dos 3,5 a 3,6 mil milhões de euros”. No seguimento destas declarações, o líder do Chega anunciou que o partido requereu “para amanhã um debate de urgência no Parlamento logo pela manha em relação a privatização” da companhia área.

“Vamos entrar num negócio da TAP, e muitos deles foram ruinosos para os contribuintes, e o Parlamento tem o direito e o dever de saber como é que este negócio vai ser feito, em que contexto e de que forma”, defendeu Ventura.

O líder do Chega sinalizou ainda que o partido “não será um obstáculo à privatização parcial da TAP”, uma vez que consideram que a companhia aérea deve “deixar de ser um sorvedouro de dinheiro público” e “deve ser mais eficaz do ponto e vista da gestão”.

No entanto, “o Chega opõe-se e continuará a a opor-se a qualquer negócios que leve a uma privatização selvagem, que impeça rotas decisivas como as que ligam a diáspora, aos nossos emigrantes ou aos pontos principais de investimento nacional, como os EUA, Brasil ou Canadá”, assinalou.

“No global, os portugueses já colocaram na TAP entre 3,5 a 3,6 mil milhões de euros e o que está em causa é recuperar 500 milhões de euros com esta alienação. Este valor é um absurdo, é um mau negócio para Portugal. Os contribuintes estão a perder dinheiro e temos de exigir por que razão este negócio acabou por acontecer assim”, atirou.

(Notícia atualizada com mais informação às 12h26 do dia 11/07/2025)

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Presidente do JPMorgan avisa líderes europeus: “Vocês estão a perder”

  • Lusa
  • 10 Julho 2025

O banqueiro Jamie Dimon lembrou que a Europa “passou de [representar] 90% do PIB dos EUA para 65%” em cerca de 10 anos.

A Europa tem um problema de competitividade e está a perder a batalha económica para os Estados Unidos e China, defendeu esta quinta-feira o presidente executivo da JPMorgan Chase, Jamie Dimon.

Numa conferência de imprensa, organizada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Irlanda, que decorreu em Dublin, Jamie Dimon avisou os líderes europeus: “Vocês estão a perder” a batalha económica para os EUA e China. O banqueiro lembrou que a Europa “passou de [representar] 90% do PIB dos EUA para 65%” em cerca de 10 anos.

Dimon avisou ainda que os mercados financeiros estão “um pouco entorpecidos” e a agir “com complacência” face aos anúncios do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a imposição de tarifas.

Por outro lado, considerou que a possibilidade de uma nova subida das taxas de juro é elevada, o que considerou ser “um motivo de preocupação”.

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Chega dá a mão ao Governo e chumba prémio salarial em IRS do PS

Proposta socialista, que clarifica que a devolução de propinas é acumulável com o IRS jovem, foi rejeitada com os votos contra de PSD/CDS e do partido de André Ventura.

Desta vez a “maioria maior” do Governo de Luís Montenegro superou uma coligação negativa de Chega com PS. O partido de André Ventura preferiu dar a mão à AD, mantendo assim o pacto formado para o IRS, e chumbar esta quinta-feira, na especialidade, o projeto socialista que clarificava que o prémio salarial de devolução das propinas é acumulável com o IRS Jovem.

A iniciativa foi rejeitada, na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP), com os votos contra de PSD, CDS e Chega. IL absteve-se e apenas PS e Livre votaram a favor. Os restantes partidos, PCP, BE e PAN, não estiveram presente. Mas o PS vai levar novamente a votos a iniciativa ao plenário de dia 16, último com votações antes das férias parlamentares.

O deputado do PSD, Hugo Carneiro, considerou o projeto do PS uma “inutilidade”. “O Governo da AD não revogou a legislação sobre o prémio salarial e não disse que não ia cumprir. O que o PS faz é propor algo sobre um prémio que está em vigor. O Governo, quando entender oportuno, anunciará o que entenderá anunciar”, argumentou para justificar o voto contra.

De salientar que, na lei, nada impede que um trabalhador beneficie do alívio fiscal e da devolução das propinas, mas o Executivo decidiu não abrir as candidaturas este ano, alegando que um apoio não deve ser somado ao outro.

Do lado do Chega, Eduardo Teixeira classificou o projeto do PS como uma “não questão”, uma vez que “o prémio salarial está aprovado”. Para além disso, acrescentou, “esta matéria não tem nada a ver com matéria fiscal”. “E, portanto, como não faz sentido. Votaremos contra essa proposta, porque consideramos que não é essa matéria que estamos aqui a discutir”, reforçou.

Fundamentação altamente contestada pelo PS. “Sim, tem a ver com o IRS, senhor deputado Eduardo Teixeira. O prémio salarial foi criado para ser pago juntamente com a declaração de IRS e estamos a falar de rendimento de trabalho e de disponibilizar mais rendimento aos trabalhadores”, atirou o deputado António Mendonça Mendes.

O parlamentar sublinhou que a proposta apresentada pelos socialistas não teria sido necessária se o Executivo tivesse avançado com as candidaturas para a devolução das propinas. “O Governo não teve coragem de revogar a lei e decidiu colocá-la na gaveta. Por isso, foi necessário fazer esta proposta”, defendeu.

O prémio salarial foi criado pelo Governo de António Costa em 2023 para permitir que os jovens trabalhadores, até ao ano em que fazem 35 anos, possam pedir ao Estado a devolução das propinas como reconhecimento da conclusão da licenciatura ou do mestrado. O prémio é pago todos os anos pela Autoridade Tributária, até 30 de julho de cada ano, durante o número de anos equivalente ao ciclo de estudos que levou à atribuição do grau académico.

No caso de uma licenciatura, o montante pago é de 697 euros e, no do mestrado, de 1.500 euros. Num mestrado integrado, os anos correspondentes à licenciatura dão direito a 697 euros e os referentes ao mestrado aos mesmos 1.500 euros.

Já o IRS Jovem é um regime fiscal especial que permite aos contribuintes beneficiarem de uma isenção total e parcial do imposto, de forma faseada, no máximo, ao longo de 10 anos. Esse benefício vai variando ao longo do tempo, entre 100% e 25%, desde que a idade dos beneficiários não ultrapasse os 35 anos.

Com esta iniciativa, o PS quer deixar assegurado na lei que o mesmo contribuinte pode usufruir das duas medidas ao mesmo tempo. Na fundamentação da iniciativa, o grupo parlamentar socialista refere que os dois regimes “foram, desde a sua génese, cumulativos, e assim continuarão a ser no que depender do PS”.

“A ideia de extinguir o prémio salarial ou sequer de criar um regime de exclusão mútua entre o prémio salarial e o IRS Jovem é demonstrativa das prioridades da coligação que suporta este Governo, já que o IRS Jovem beneficia de forma mais intensa os escalões de rendimento mais elevados, e aparece associada também à ideia de aumentar o valor das propinas”, afirma o PS na exposição de motivos da iniciativa.

Como este ano o Governo de Luís Montenegro não abriu as candidaturas para o prémio salarial, a iniciativa do PS inclui uma norma transitória para o Estado disponibilizar o formulário “a título excecional, entre 1 de setembro e 31 de novembro de 2025”. A proposta do PS acabou por ser chumbada na especialidade, mas o grupo parlamentar avocou a iniciativa a plenário, pelo que irá novamente a votos no dia 16.

(Notícia atualizada às 20h24)

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PSD propõe plano de ação integrado para a Região Demarcada do Douro

  • Lusa
  • 10 Julho 2025

O grupo parlamentar do PSD entende que “é imperativo atuar com urgência através de um plano de ação integrado, com medidas de resposta imediata e soluções estruturais".

O PSD propôs ao Governo a adoção urgente de um plano de ação integral que promova a valorização da produção e o equilíbrio do setor vitivinícola da Região Demarcada do Douro (RDD). O projeto de resolução apresentado pelos deputados do PSD Fernando Queiroga, Amílcar Almeida, Ana Silveira e Hugo Soares deu entrada na quarta-feira, na Assembleia da República.

No documento, consultado esta quinta pela agência Lusa, os deputados sociais-democratas alegam que o Douro Património Mundial da Humanidade e berço do vinho do Porto vive “uma situação de desequilíbrio grave entre a produção e a procura, com acumulação de excedentes que afetam a sustentabilidade económica e social do território e do setor vitivinícola”.

O partido cita dados recentes e adianta que os stocks de vinho na RDD ascendem a cerca de 4,4 milhões de litros (equivalente a 50.000 pipas). “Esta realidade ameaça a sobrevivência de centenas de pequenos e médios viticultores, cooperativas e empresas da região, gerando impactos negativos na economia local e nacional, comprometendo a valorização da paisagem, o emprego e a coesão territorial”, adianta.

O grupo parlamentar do PSD entende, por isso, que “é imperativo atuar com urgência através de um plano de ação integrado, com medidas de resposta imediata e soluções estruturais para ajustar o potencial produtivo e garantir rendimentos justos aos produtores”.

Os deputados recomendam ao Governo que implemente “com urgência” um auxílio, com financiamento do Orçamento do Estado no valor de até 15 milhões de euros, através de uma ajuda direta aos viticultores da RDD, com um apoio de, pelo menos, 50 cêntimos por quilo de uva entregue para destilação.

E propõem a aprovação e publicação até 1 de agosto de 2025 da regulamentação necessária à concretização desta medida, “assegurando o funcionamento transparente do processo, a publicitação dos critérios de elegibilidade e a calendarização das candidaturas e pagamentos”.

Pedem ainda a implementação de medidas estruturais para ajustar o potencial produtivo da RDD, incluindo mecanismos voluntários de redução de área com compensações, criação de uma bolsa de direitos de produção e limitação da expansão da vinha apta à Denominação de Origem Protegida (DOP) Porto.

Bem como a promoção de medidas de reconversão de terras agrícolas e de transição para culturas alternativas ou para fins florestais e ambientais, salvaguardando a identidade e paisagem cultural do Douro, e o reforço dos mecanismos de fiscalização, rastreabilidade e rotulagem dos vinhos da RDD.

O PSD recomenda o reforço da promoção, através de um plano plurianual visando ações de enoturismo e marketing territorial, o apoio de adegas cooperativas no reforço da sua capacidade de armazenamento, na melhoria da sua a situação financeira e em investimentos para a eficiência energética e pede que o Governo garanta uma governação integrada e transparente do plano de ação, com coordenação interinstitucional.

Na quarta-feira foram debatidos no plenário da AR os projetos de resolução apresentados pelo PS, PCP, Chega, PAN, IL e CDS-PP que também pedem Governo a implementação de medidas para ajudar os viticultores e mitigar a crise que atinge o Douro.

Os projetos de resolução, que devem baixar à especialidade (Comissão de Agricultura e Pescas), deram entrada no parlamento depois de 2 de julho, dia em que pequenos e médios produtores se manifestaram, na Régua, para alertar para dificuldade no escoamento da uva e a venda a preços baixos, enquanto os custos de produção sobem.

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Miranda Sarmento responde ao PS. Recuperar 3,2 mil milhões da TAP “não casa com a realidade”

  • Lusa
  • 10 Julho 2025

Ministro das Finanças explica que "se 49,9% da TAP valessem 3,2 mil milhões de euros, significaria que a TAP valeria 6,4 mil milhões de euros". A Air France-KLM vale 3 mil milhões de euros em bolsa.

O ministro das Finanças defendeu esta quinta-feira que recuperar os 3,2 mil milhões de euros injetados pelo Estado na TAP será uma tarefa difícil, sublinhando que qualquer avaliação deve ter por base a realidade do mercado e não estimativas desfasadas.

“Devemos ser rigorosos e olhar para os factos e realidade. Se 49,9% da TAP valessem 3,2 mil milhões de euros, significaria que a TAP valeria 6,4 mil milhões de euros. A Air France-KLM, que tem seis vezes mais aviões e transporta seis vezes mais passageiros e está cotada em bolsa, vale 3 mil milhões de euros em bolsa”, disse Miranda Sarmento no briefing após o Conselho de Ministros em resposta a perguntas sobre os comentários do líder do PS.

“A TAP que é seis vezes menor que a Air France-KLM teria de valer o dobro da empresa. Parece-me que a realidade e os factos não casam com essa declaração”, acrescentou. Em causa estão os apoios públicos de 3,2 mil milhões de euros injetados na companhia aérea no âmbito do plano de reestruturação por causa da pandemia.

O líder do PS considerou esta quinta adequada a decisão do Governo sobre a reprivatização da TAP, mas exigiu o reembolso aos contribuintes dos três mil milhões de euros investidos na companhia durante a pandemia.

“A TAP tem de crescer e, para crescer, precisa de se abrir aos investidores internacionais. Essa é a razão porque entendemos que a opção é uma opção adequada. Entendemos também que Portugal deve manter a maioria da estrutura acionista, a maioria dos seus capitais, para assegurar quatro objetivos primordiais”, disse José Luís Carneiro, numa declaração na sede do PS, em Lisboa.

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TAP pediu insolvência da TAP SGPS e vai negociar com a Azul

O Governo revelou esta quinta-feira que a TAP pediu a insolvência da TAP SGPS, a quem a Azul reclama o pagamento de uma dívida de 177 milhões de euros.

A TAP avançou com um pedido de insolvência da TAP SGPS, agora denominada SIAVILO, revelou esta quinta-feira o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz. A administração da companhia aérea foi mandatada pelo Governo para negociar com a Azul a resolução do diferendo que a opõe à companhia aérea brasileira.

O pedido de insolvência da holding já era esperado, tendo em conta que quase não tem ativos, a situação líquida é fortemente negativa, superior a mil milhões de euros, e o facto de os órgãos sociais terem renunciado aos cargos nos últimos meses, como noticiou o ECO. A TAP é credora da TAP SGPS, que decidiu avançar com o pedido de insolvência.

Uma iniciativa que surge numa altura em que também a Azul reclama 177 milhões de euros à TAP SGPS, depois de em abril ter sido declarado o incumprimento numa emissão de obrigações subscrita pela companhia aérea brasileira em 2016. A holding não efetuou o pagamento dos 177 milhões de euros no prazo definido, e a Azul espera agora que o representante dos obrigacionistas avance com uma ação executiva.

Apesar de a TAP SGPS já não ter há alguns anos uma participação na TAP SA (dona da companhia aérea) são ativos desta última que servem de garantia ao empréstimo feito pela Azul. Garantias que nunca chegaram a ser constituídas e que a TAP já veio contestar em tribunal.

O ministro das Infraestruturas afirmou esta quinta-feira que o conselho de administração da TAP foi mandatado para dialogar com a Azul para chegar a uma solução, mas que o processo passará pelos tribunais.

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Governo quer plano estratégico de longo prazo para a TAP e “encaixe imediato”

Propostas para a TAP serão avaliadas tendo em conta critérios de admissão, estratégicos e financeiros. Entre as prioridades está o desenvolvimento da atividade nos aeroportos de Lisboa e do Porto.

O Governo vai avançar com a privatização de até 49,9% do capital da TAP nos próximos meses, admitindo realizar uma segunda fase de privatização. Um processo que vai prolongar-se ao longo de um ano e cujas propostas de interesse serão avaliadas com base em vários critérios. A realização de um encaixe imediato, em dinheiro, e a apresentação de um plano estratégico de longo prazo, focado no desenvolvimento do atual e do futuro aeroporto de Lisboa, assim como o investimento no aeroporto do Porto são algumas das condições definidas para encontrar um comprador para a companhia aérea portuguesa.

O Executivo de Luís Montenegro está confiante que “haverá muitos interessados” na TAP e as propostas serão avaliadas em linha com os objetivos do Governo para esta operação. Numa declaração feita aos jornalistas durante a reunião do Conselho de Ministros que aprovou a privatização da TAP, o primeiro-ministro garantiu que, caso as propostas não incluam os objetivos desenhados, o negócio poderá cair por terra, sem que haja direito a indemnizações. Mas que condições são essas?

De acordo com a apresentação, divulgada pelo Governo esta quinta-feira, as propostas serão avaliadas com base em três critérios: de admissão, estratégicos e financeiros.

Nos critérios de admissão, que serão os pilares base para fazer a pré-qualificação de interessados, estão contempladas condições como a idoneidade, autonomia e robustez financeira do grupo comprador, tendo ainda em conta se se trata de uma transportadora aérea de dimensão relevante ou consórcio liderado por uma (apenas parceiros do setor).

Os critérios estratégicos e financeiros estão, depois, em destaque nas três etapas seguintes do processo (apresentação de propostas não vinculativas e vinculativas e negociação).

Do ponto de vista estratégico, o Governo quer acautelar o futuro da operação em Portugal. Para isso, define como critério que as propostas compradoras tenham por base um plano industrial e estratégico de longo prazo de qualidade, que privilegie o crescimento de frota e plano de desenvolvimento no Aeroporto Luís de Camões.

A proposta deve ainda comprometer-se com o desenvolvimento de outras áreas críticas: investimento na operação aérea no Porto e restantes aeroportos, combustíveis sustentáveis e manutenção e engenharia.

Por outro lado, o Governo vai dar preferência a uma empresa que tenha visão para participar numa segunda fase da privatização (sujeito a processo autónomo), com um plano industrial e um plano de valorização, incluindo a troca de ações.

Por fim, do ponto de vista financeiro, o Governo quer encher rapidamente os cofres do Estado, exigindo um “encaixe imediato: preço em euros oferecido pelas ações“. Dá ainda preferência a outras formas de valorização, incluindo bónus por performance (earn-outs), valorização futura das ações remanescentes, dividendos e trocas de ações.

“Este é um processo bastante relevante para o país, porque a companhia aérea é um instrumento muito importante de política económica. Por outro lado, porque os contribuintes foram chamados durante a pandemia a um esforço financeiro significativo para capitalizar a empresa”, explicou o ministro das Finanças, Miranda Sarmento.

O responsável pela pasta das Finanças adiantou que, “nesse sentido, esta primeira fase pretende alcançar dois objetivos: por um lado contribuir para o desenvolvimento futuro da companhia aérea, através de um parceiro que seja um grande operador no setor, e permita desenvolver a empresa e potenciar cada vez mais a capacidade turística do país” e “potenciar tudo aquilo que é a parte industrial e de combustíveis ambientais que são uma oportunidade de negócio para Portugal”.

Miranda Sarmento adiantou ainda que o segundo objetivo da operação é, precisamente, o encaixe financeiro, “procurando o Governo maximizar esse valor”.

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No quarto dia de julgamento, Belmiro foi chamado de “arrogante e hipócrita”. E Sócrates? “Eu tento controlar-me”

OPA da PT/Sonae, Grupo Lena e Parque Escolar. Declarações e respostas de Sócrates continuaram esta quinta-feira na quarta sessão de julgamento do Marquês. Para terça-feira o tema será TGV.

José Sócrates voltou esta quinta-feira ao tribunal para a quarta sessão de julgamento no âmbito da Operação Marquês. Logo à entrada, o antigo primeiro-ministro voltou a atacar os jornalistas, um dos seus alvos favoritos: “Ao longo de 12 anos nunca foram capazes de apresentar aos portugueses as provas que o Ministério Público alegava”.

Ao contrário das anteriores sessões, José Sócrates não prestou declarações à saída para o almoço não por não querer mas porque os jornalistas optaram por não fazer perguntas. Já de manhã, antes do início desta quarta sessão, a maior parte dos jornalistas retiraram os microfones e deixaram José Sócrates a falar sozinho, depois de mais ataques à comunicação social.

Mas o Ministério Público também não foi poupado. “Como é possível alguém escrever num papel que o meu Governo beneficiou o grupo Lena? No meu governo piorou a quota de mercado? (…) Durante anos a fio houve uma suspeita. Fez essa campanha e isso é falso. A auditoria da Parque Escolar nunca foi publicada. E o que diz essa auditoria? Que o grupo Lena teve um valor de adjudicações similar às outras empresas”, continuou.

Para o antigo primeiro-ministro, “é preciso ter muita paciência! Espero que o MP apresente finalmente uma prova. Onde estão as provas de que favoreci fosse quem fosse? Do BES já acabou, do grupo Lena… vai demorar. Não faço ideia quando vão acabar as perguntas do Ministério Público. Estou aqui honestamente para me defender, para mostrar que isto é um monumental embuste”.

O ex-líder socialista disse ainda que este Ministério Público “tem uma motivação, uma intenção, um ânimo. A intenção é de atacar uma bandeira política do governo. O Ministério Público tinha a intenção de me atacar pessoalmente”, acusou. “Essa motivação política deu no que deu. Doze anos depois damo-nos conta de que tudo o que Ministério Público disse era falso”, afirmou. Sócrates acrescentou que os procuradores “não ouviram ninguém”, nem júris, nem responsáveis da empresa, nem a ministra responsável por aquela pasta.

No decorrer da sessão, perante o coletivo de juízes, o magistrado do MP pegou na ideia de Sócrates de que o Governo poderia opor-se, mas não impor decisões da PT. Nesse sentido, perguntou se o veto que bloqueou a alienação da participação na Vivo não deixou a PT numa posição fraca e condicionada na procura de soluções.

“Não sei se estamos num julgamento ou no parlamento. No parlamento avaliamos o mérito das decisões, aqui avaliamos crimes. Pode ser uma decisão muito contestada, mas pensava que isso aqui não estava em discussão. Vou responder como se estivesse no parlamento. Isso é matéria da política”, respondeu.

O que lhe valeu a primeira repreensão do dia com a juíza Susana Seca a pedir para não fazer apreciações dessa natureza. “Este é o único caso de corrupção do mundo em que o corrompido fez influenciar um voto que não servia de nada ao corruptor”, destaca o ex-primeiro-ministro.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates, à chegada ao Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus de Justiça, na segunda sessão do julgamento do processo Operação Marques, mais de uma década depois de ter vindo a público o caso que acusa o ex-primeiro-ministro de corrupção.Hugo Amaral/ECO

O primo José Paulo

“Nunca recebi nenhum dinheiro do meu primo José Paulo para mim”, disse José Sócrates, em resposta ao procurador Rui Real sobre alegadas entregas em numerário em 2006 e 2007, em ‘tranches’, de um total de dois milhões de euros, com origem na esfera do Grupo Espírito Santo (GES).

O montante terá sido originalmente transferido por um outro arguido, o empresário Helder Bataglia, para contas na Suíça e, no esquema, terá ainda participado Francisco Canas, que morreu em 2017 e era, à data da morte, um dos principais arguidos no processo “Monte Branco”, por suspeita de ter usado uma casa de câmbio em Lisboa para ajudar a branquear milhões de euros no estrangeiro.

Belmiro de Azevedo, “o arrogante”

“Não há nada melhor para reconhecer um arrogante do que outro arrogante, mas eu tento controlar-me”. José Sócrates classificou Belmiro de Azevedo como um “arrogante com pingos de hipócrita” nesta quarta sessão de julgamento. “A primeira vez que Belmiro de Azevedo se sentou comigo disse-me: venho aqui resolver-lhe um problema”, em tom crítico face à postura do presidente da Sonae.

“O tom do engenheiro Belmiro de Azevedo era sempre de arrogância de quem achava que estava a fazer um serviço ao país. Ele tinha este sentimento, coisa que não me afetava por aí além. Sempre achei que era um traço de personalidade… afinal de contas, não há homens perfeitos e o engenheiro fez um trabalho empresarial no país. Achei que fazia parte das minhas funções de primeiro-ministro aturar essa arrogância”, sublinhou.

Questionado sobre reuniões com Belmiro de Azevedo e se em alguma o presidente da Sonae teria pedido ao governo para mudar de posição quanto à OPA da PT, José Sócrates garante que “não tem memória de reuniões em que o dr. Belmiro de Azevedo tenha pedido ao governo para mudar de ideia”.

Já questionado sobre reuniões marcadas na sua agenda, o ex-primeiro-ministro lembra que “isso se passou há 20 anos”, mas que “se estão na minha agenda é muito provável que se tenham realizado”.

“Mas podem ter ocorrido reuniões com o dr. Belmiro de Azevedo por outros motivos”, diz Sócrates, recordando a título de exemplo que uma vez Belmiro de Azevedo o “foi convidar pessoalmente para ir às Torres para a cerimónia de implosão”, depois de a Sonae ter comprado o empreendimento em Tróia. Concluiu ainda dizendo que nunca teve conhecimento sobre quaisquer negociações entre a Sonae e a CGD sobre a OPA à PT. “Não faço a mínima ideia. É um redondo não”, diz o ex-primeiro-ministro.

Sócrates e a retificação sobre telefonema a Salgado

O principal arguido do processo pediu uns minutos para explicar que, nas sessões anteriores, “por lapso” tinha anteriormente dito que teria ligado a Ricardo Salgado quando este foi constituído arguido. “Mas a minha memória atraiçoou-me”.

Isto, porque Ricardo Salgado só foi constituído depois do telefonema ter sido feito. Sócrates explica que era o que se recordava, mas estava errado e não se recorda por que terá ligado ao antigo presidente do BES. E voltou a referir que nunca foi amigo de Ricardo Salgado: “Nem sou amigo dos seus amigos, nunca passei férias com ele e não tinha o número dele na minha lista telefónica até àquele telefonema”, diz Sócrates.

O ex-primeiro-ministro explica que sempre teve “admiração por Ricardo Salgado” e que “não é o facto de ter caído em desgraça” que muda isso. “Não sou desses. Levo os valores da amizade em muita consideração”, diz Sócrates.

As explicações quanto ao Grupo Lena

O antigo primeiro-ministro José Sócrates disse em tribunal que é falso que a Lena fosse “a empresa do regime”, alegando que os dados mostram que a quota desta em adjudicações diminuiu durante o seu Governo.

Invocando números da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas e Serviços (AECOPS) e da empresa pública Parque Escolar, o ex-governante assegurou que entre 2005 e 2011 a quota de mercado da Lena no conjunto das adjudicações do Estado central foi de 2,54%, enquanto nos seis anos anteriores fora de 2,93%. Este último período, precisou, inclui os executivos de António Guterres (PS) e de José Manuel Durão Barroso (PSD).

“A campanha [do Ministério Público] foi tão forte que os jornais relatavam que a empresa Lena era a empresa do regime. […] Isso é falso, é completamente falso, e estes números demonstram-no”, disse o ex-primeiro-ministro socialista no terceiro dia de interrogatório no julgamento do processo Operação Marquês.

O arguido está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) e o o empreendimento de Vale do Lobo, no Algarve.

Entre os projetos associados ao grupo Lena, estão as obras de reabilitação de escolas no âmbito da Parque Escolar, uma matéria em relação à qual a presidente do coletivo de juízes, Susana Seca, reconheceu não existirem “factos concretos alegados” pelo Ministério Público. Para José Sócrates, esse capítulo da acusação, datada de 2017, “é pura maledicência” dos procuradores para atacar “uma bandeira política” do seu Governo.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates, à chegada ao Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus de Justiça, na segunda sessão do julgamento do processo Operação Marques, mais de uma década depois de ter vindo a público o caso que acusa o ex-primeiro-ministro de corrupção.Hugo Amaral/ECO

O que está em causa na Operação Marquês?

A quarta sessão de julgamento terminou mais cedo, após José Sócrates considerar terminadas as suas declarações sobre a relação com o grupo Lena e a Parque Escolar, remetendo a parte do TGV para a próxima sessão, marcada para terça-feira, às 9.30.

José Sócrates e os restantes 20 arguidos da Operação Marquês começaram a ser julgados no Campus de Justiça, mais de uma década depois de se ter conhecido o processo que acusa um ex-primeiro-ministro de corrupção.

Após decisões instrutórias, confirmações de recursos pelo Tribunal da Relação de Lisboa, extinções de sociedades acusadas pelo Ministério Público (MP) e prescrições, a acusação inicial do Ministério Público já perdeu sete arguidos, dos 28 iniciais.

O principal arguido, José Sócrates, inicialmente acusado de 31 crimes, vai responder por 22, entre os quais três de corrupção passiva de titular de cargo político, 13 de branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal qualificada.

O amigo do antigo primeiro-ministro e empresário Carlos Santos Silva é o arguido com mais crimes imputados pela acusação do Ministério Público, respondendo por 23 crimes, contra os 33 iniciais, entre eles um crime de corrupção passiva de titular de cargo político, um de corrupção ativa, 14 de branqueamento de capitais e sete de fraude fiscal qualificada.

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