Dia Mundial das Doenças Raras: esperanças e obstáculos na procura de tratamentos
Um dos maiores desafios em Espanha é o acesso aos tratamentos disponíveis.
Todos os anos, a 28 de fevereiro, o mundo junta-se para comemorar o Dia Mundial das Doenças Raras. Uma data que põe em evidência as histórias de mais de 300 milhões de pessoas com este tipo de patologia no planeta. Em Espanha, estima-se que cerca de três milhões de pessoas, o equivalente a quase toda a população de Madrid, enfrentam uma das mais de 7.000 doenças raras identificadas até à data.
Embora cada uma destas doenças seja rara individualmente, o seu conjunto representa um desafio para os sistemas de saúde. A falta de investigação, o diagnóstico tardio ou as barreiras no acesso a tratamentos adequados criam um cenário complexo, mas também cheio de esperança e determinação para aqueles que lutam por um futuro mais justo e equitativo.
As doenças raras, na sua maioria de origem genética, manifestam-se geralmente na infância e implicam um elevado grau de incapacidade e mortalidade. Em Espanha, o diagnóstico destas patologias pode demorar, em média, mais de seis anos, um tempo que agrava a situação dos doentes e das suas famílias. Este atraso deve-se, em parte, à falta de conhecimentos médicos e de experiência no tratamento destas doenças, bem como à insuficiência de recursos para a investigação.
Para além disso, a maioria dos doentes não dispõe de tratamentos específicos. Apenas 5% das doenças raras têm uma terapia aprovada, deixando milhares de pessoas numa situação de extrema vulnerabilidade. A falta de investimento na investigação e desenvolvimento de medicamentos órfãos – medicamentos concebidos para tratar doenças raras – é um dos principais obstáculos ao progresso neste domínio.
ACESSO AOS RECENTES AVANÇOS
Um dos maiores desafios em Espanha é o acesso aos tratamentos disponíveis. De acordo com o relatório anual da Associação Espanhola de Laboratórios de Medicamentos Órfãos e Ultra Órfãos (Aelmhu), em 2024 foram autorizadas para comercialização 24 terapias para doenças raras, mas apenas 17 foram incluídas na carteira pública. Isto significa que, embora existam tratamentos aprovados pela União Europeia, muitos doentes espanhóis não podem aceder a eles devido a decisões administrativas e económicas.
Apesar das dificuldades, nos últimos anos registaram-se progressos significativos no acesso aos medicamentos para algumas doenças raras. Um dos casos mais proeminentes é o da atrofia muscular espinal, uma doença genética que afeta a mobilidade e a função respiratória. Graças à aprovação de terapias inovadoras como o nusinersen, muitos doentes registaram melhorias notáveis nas suas capacidades motoras e na sua esperança de vida.
Na mesma linha, a hemofilia A beneficiou da disponibilidade do efanesoctocog alfa. Este medicamento é fundamental para o tratamento e a profilaxia de uma das principais manifestações da doença: as hemorragias.
No domínio da oncologia, há também exemplos de doenças raras, como a macroglobulinemia de Waldenström, um tipo muito raro de linfoma que representa cerca de 1% de todos os linfomas não Hodgkin e que, normalmente, progride lentamente após o diagnóstico. Atualmente, não existe cura para esta doença crónica, mas terapias como o zanubrutinib, um inibidor da tirosina quinase de Bruton (BTK), melhoram a qualidade de vida do doente.
No entanto, o acesso a estes tratamentos não tem sido uniforme em todas as doenças. No caso da colangite biliar primária, uma doença rara que afeta o fígado, um dos tratamentos foi recentemente retirado, deixando apenas disponível o medicamento de primeira linha. Por este motivo, tanto os doentes como os profissionais de saúde apelam à rápida aprovação do seladelpar em Espanha, com base nos resultados positivos dos ensaios clínicos, que recebeu recentemente uma autorização de introdução no mercado condicional da CE.
Num contexto em que o financiamento dos medicamentos para as doenças raras diminuiu 20% em Espanha, há quem considere importante dar prioridade a estas patologias na agenda política e da saúde. Acreditam que esta é a única forma de garantir que as pessoas com doenças raras recebem os cuidados e o tratamento de que necessitam para viver com dignidade.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.