Continua a haver manipulação e pouca transparência no mercado da energia, diz nova ministra

  • ECO
  • 6 Abril 2024

Em entrevista ao Diário de Notícias, ainda antes de tomar posse, Maria da Graça Carvalho explicou como vai funcionar o novo Regulamento de Proteção da União Contra a Manipulação do Mercado Grossista.

Na última entrevista ainda como eurodeputada do PSD, antes de tomar posse como ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, explicou que o novo Regulamento de Proteção da União Contra a Manipulação do Mercado Grossista da Energia (REMIT), do qual foi relatora-principal no Parlamento Europeu, é crucial para a luta contra a manipulação do mercado grossista e para dar maior transparência a este mercado.

“Este novo quadro legal, composto pelo REMIT, passa a ser o nosso conjunto de regras na luta contra a manipulação do mercado, a que soma o outro relatório com o desenho do mercado elétrico”, referiu, em entrevista do Diário de Notícias. “Ambos têm como fim proteger os consumidores”.

Maria da Graça Carvalho explicou que o novo quadro passa a prever a possibilidade de decretar imediatamente um regime de crise. “Ou seja, se acontecer alguma coisa grave, como aconteceu no passado, já não é preciso ter uma legislação de emergência para proteger os consumidores”.

“Este quadro para responder às crises que possam existir é um quadro permanente. A legislação nesta proposta está prevista com critérios muito rigorosos e aí os Estados-membros podem ajudar os consumidores, os consumidores privados e as empresas que sofreram muito”, sublinhou.

“Quanto ao REMIT, é o nome curto para a luta contra a manipulação do mercado grossista e tem como objetivo dar maior transparência a este mercado. Porque continuamos a ter manipulação e pouca transparência no mercado da energia“, vincou.

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Reintrodução do Serviço Militar Obrigatório retiraria mão-de-obra qualificada do mercado de trabalho

  • Joana Abrantes Gomes
  • 6 Abril 2024

A reintrodução do serviço militar obrigatório não resolveria escassez de pessoal nas Forças Armadas. Analistas alertam para impacto na economia ao retirar mão-de-obra qualificada do mercado laboral.

Depois de um século permeado por guerras, os “dividendos” da paz tornaram obsoleto o serviço militar obrigatório e reduziram a dimensão (e o orçamento) dos exércitos europeus. Contudo, a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, e, mais recentemente, a invasão russa da Ucrânia e o alargamento da NATO relançaram o debate em torno da reintrodução de um regime de conscrição em vários países da Europa, cujas Forças Armadas sofrem agora de uma carência aguda de efetivos.

Portugal não está a ser exceção. Por cá, a discussão surgiu na sequência de um artigo de opinião do Chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, publicado na semana passada no jornal Expresso, no qual afirmou que pode vir a ser necessário “reequacionar o serviço militar obrigatório, ou outra variante mais adequada”, de forma a “equilibrar o rácio despesa/resultados” e “gerar uma maior disponibilidade da população para a Defesa”.

Embora Gouveia e Melo tenha esclarecido, entretanto, que rejeita modelos antigos do serviço militar obrigatório, defendendo antes uma “nova resposta” consensual entre o poder político e a sociedade para mobilizar população em situações limite, a sua posição inicial foi partilhada pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, Eduardo Ferrão, que considerou que se justifica o estudo da reintrodução da medida, devendo ser “avaliada sob várias perspetivas”.

Estas declarações, a par com um inquérito da Sedes feito no início deste ano, que dava conta de que 47% das pessoas eram a favor do regresso do serviço militar obrigatório (numa amostra de 820 indivíduos), introduziram o tema na opinião pública portuguesa nas últimas semanas, num ano em que se cumprem exatamente duas décadas do fim do regime de conscrição no país.

No entanto, não se pode dizer que se trata de uma discussão generalizada na opinião pública portuguesa. O país foi a eleições em março, mas o tema não fez parte da campanha eleitoral nem constava nos programas dos partidos políticos.

“A agilização de um instrumento desta natureza implica um debate público muito alargado, com as várias dimensões das consequências e dos objetivos que se pretendem atingir”, assinala Ana Santos Pinto, investigadora de Defesa e Segurança Internacional da Universidade Nova de Lisboa, em declarações ao ECO.

Fazendo a comparação com outros países do continente europeu, existe um contexto sociocultural que justificou o regresso ao regime de conscrição, por exemplo, na Suécia, que reintroduziu o serviço militar obrigatório em 2018, e a Finlândia, que nunca deixou de o ter: ambos os países não tinham alianças militares e, não tendo Forças Armadas com as mesmas estruturas de Estados inseridos na NATO, precisavam de ter um mecanismo de reserva de população que pudesse servir em caso de ameaça externa.

No caso da Suécia, essa decisão permitiu um aumento do número de soldados (25 mil) e de reservistas (35 mil). É precisamente no plano do capital humano que a questão da reintrodução do serviço militar obrigatório voltou a colocar-se pelo governo alemão, com o ministro da Defesa, Boris Pistorius, a ter pedido ao seu ministério para “apresentar opções para um modelo de serviço militar, até 1 de abril, que seja ajustável e que possa contribuir para a resiliência da nação como um todo, mesmo a curto prazo, em linha com o nível de ameaça”, de acordo com a revista Der Spiegel.

Ainda que com diferenças significativas nos modelos aplicados, além da Suécia e da Finlândia, também a Noruega, a Dinamarca, a Letónia, a Lituânia, a Estónia, a Grécia – países-membros da NATO, sendo que a Turquia também está neste grupo –, a Áustria, Chipre e a Suíça têm serviço militar obrigatório.

Ou seja, a guerra na Ucrânia acordou os países europeus para a possibilidade de um ataque da Rússia a um país da NATO, mas também alertou para o que a investigadora Raquel Vaz Pinto, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa, sinaliza como “o problema de fundo” das Forças Armadas tanto de Portugal, como de outros países da União Europeia (UE) ou da NATO, que é a escassez de pessoal.

“O que nós temos que discutir a fundo é isto: As nossas Forças Armadas têm muita dificuldade em conseguir captar pessoas. Porquê? Porque é que ser militar deixou de ser ou não é, hoje, uma opção de carreira para os jovens? É a questão remuneratória? É a questão da exigência? É a questão da segurança?“, questiona Raquel Vaz Pinto, considerando que é “contraproducente” associar este debate a um eventual regresso do serviço militar obrigatório.

Esta discussão à volta do serviço militar obrigatório, não obrigatório… associar as duas coisas é contraproducente. O que nós temos que discutir em termos de fundo é isto: As nossas Forças Armadas são Forças Armadas que têm muita dificuldade em conseguir captar pessoas. Porquê? Porque é que ser militar deixou de ser ou não é, hoje, uma opção de carreira para os jovens? É a questão remuneratória, é a questão da exigência, é a questão da segurança?

Raquel Vaz Pinto

Investigadora do IPRI-Nova

No final de 2023, as Forças Armadas Portuguesas tinham um efetivo total de 23.425 militares, um número significativamente abaixo do efetivo autorizado de 32.000. O último ano em que cumpriam este mínimo foi 2013, quando tinham 32.370 militares — dos quais 15.839 em regime de contrato ou de voluntariado e 16.531 dos quadros permanentes, de acordo com dados do Ministério da Defesa Nacional, citados numa investigação do Instituto Universitário Militar intitulada “O Serviço Militar Obrigatório — Perspetivas Futuras”, de 2017.

Essa investigação, aliás, dava conta de um decréscimo dos residentes do sexo masculino em Portugal a cumprirem o serviço militar obrigatório até este ser interrompido: em 1991, eram cerca de 50%, percentagem que baixou para 30% em 1999 e para apenas 5% em 2003, um ano antes do fim do regime de conscrição.

Mas o serviço militar obrigatório, hoje, coloca-se com um contexto muito diferente. “As pessoas, quando terminam o percurso escolar, e na eventualidade de existir uma conscrição, recebem uma remuneração em função do nível de escolaridade que têm. Ora, como nós agora temos a escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, significa que o valor nunca é um valor proporcional a um vencimento no mercado [de trabalho] privado”, nota Ana Santos Pinto.

O rendimento é um aspeto que, segundo a antiga secretária de Estado da Defesa, tem de ser avaliado numa eventual reintrodução do serviço militar obrigatório. A base teria de ser, pelo menos, o salário mínimo nacional, mas é “muito difícil” antecipar os custos, porque tanto existiriam pessoas apenas com o 12.º ano, como pessoas com um curso superior.

Contudo, Ana Santos Pinto é categórica ao afirmar que um novo regime de conscrição não contribuiria para combater o problema da escassez de pessoal nas Forças Armadas. Aliás, levanta ainda outra questão: o impacto que o regresso da obrigatoriedade do serviço militar teria no desenvolvimento social e económico da sociedade.

Ao colocar uma pessoa no serviço militar obrigatório durante três meses, seis meses, um ano, significa que estamos a retirar essa mão-de-obra do mercado de trabalho ou das qualificações. Isso tem um impacto na economia“, sublinha, apontando ainda que o nível de preparação necessário, mesmo para uma guerra, não se faz em tão pouco tempo.

Um estudo do Instituto da Defesa Nacional de 2021 mostrava que os mais jovens eram o grupo etário mais desfavorável a um regresso ao regime de conscrição, ou seja, precisamente aqueles que são visados nesta discussão. Outro dado relevante do inquérito, que abrangeu 1.509 entrevistas, é que quanto maior a escolaridade, maior a opção pelo serviço militar voluntário.

Raquel Vaz Pinto, que foi uma das coordenadoras do inquérito, propõe fazer um novo estudo, não só voltando a fazer as mesmas perguntas para ter um termo de comparação, mas também incluindo um paralelo com outros países da NATO para perceber como é que nesses Estados – tendo em conta que cada um tem uma cultura militar e de Defesa própria — se lida com os problemas de captação e de retenção de recursos humanos nas Forças Armadas.

“Estes estudos seriam muito úteis para ajudar à própria decisão política ou ajudar a liderança política a compreender o que é que é preciso fazer do ponto de vista pedagógico para explicar ou para tentar acautelar um mundo que está totalmente diferente e ao qual nós vamos ter que reagir e nos adaptar”, frisa a investigadora, que, tal como Ana Santos Pinto, reconhece a necessidade de avaliar os custos que o regresso do serviço militar obrigatório teria para a economia, ainda mais sendo Portugal um país que está a ficar demograficamente envelhecido.

O caminho também não é pelos 2% do PIB para a Defesa

Entre os 31 (na altura) membros da NATO, 18 vão respeitar já este ano o compromisso assumido em 2014, na cimeira de Gales, de aumentar numa década o seu investimento em Defesa até aos 2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo adiantou o secretário-geral Jens Stoltenberg, antes de uma reunião dos ministros da Defesa da organização em fevereiro.

Portugal, por seu lado, inclui-se ainda nos aliados com “caminho para trilhar” para atingir a meta dos 2% do investimento em Defesa — que na última cimeira da Aliança Atlântica, em Vilnius, passou a valer como o patamar mínimo e já não a meta de referência.

O cumprimento do patamar mínimo da NATO assume especial relevância num ano de eleições nos EUA, em que Donald Trump é candidato e insinuou que não aceitará defender nenhum aliado que seja atacado pela Rússia se não estiver a cumprir a meta dos 2% do PIB em investimento na defesa.

De acordo com o Orçamento de Estado para 2024, elaborado ainda pelo anterior governo, a despesa total consolidada prevista para a Defesa Nacional é de 2.850,1 milhões de euros, ainda abaixo dos 2% do PIB nacional, que corresponde a mais de 4 mil milhões de euros.

Ana Santos Pinto indica que é viável a alocação desta verba para o setor, implicaria é “uma realocação de recursos”. No entanto, também não seria por aqui que se resolveria o problema da escassez de pessoal nas Forças Armadas. “O indicador de 2% é absolutamente cego, porque 2% do PIB da Alemanha e 2% do PIB de Portugal é muito diferente. As necessidades da Polónia, de Portugal ou do Reino Unido são muito diferentes”, realçou.

O indicador geral dos 2%, segundo a investigadora da Universidade Nova de Lisboa, tem um outro critério: o dos 60/20/20 — 60% em recursos humanos; 20% para operação e manutenção; e 20% em investimento. “É muito mais importante como é que se gasta o dinheiro nestes 60/20/20 em termos de equipamento, em termos de investimento do ponto de vista tecnológico, do que propriamente o indicador dos 2%. A dimensão do serviço militar obrigatório só iria cair na percentagem maior dos recursos humanos, não na operação e manutenção, nem no investimento”, disse a antiga governante.

Do recém-empossado Executivo ainda não se conhecem as intenções para o setor. Mas, em outubro passado, num colóquio organizado pela comissão parlamentar de Defesa Nacional, a nova secretária de Estado da Defesa, Ana Isabel Xavier, contestou a meta do investimento dos 2% do PIB em Defesa.

É obsoleto o debate dos 2% do PIB. Em vez de gastar mais, é preciso gastar melhor“, afirmou então a ex-subdiretora-geral de Política de Defesa Nacional, que defendeu, em termos estratégicos, uma política em relação à presença cada vez mais agressiva da Rússia e da China nos países africanos de língua portuguesa, onde Portugal tem “interesses permanentes”.

O indicador de 2% é absolutamente cego, porque 2% do PIB da Alemanha e 2% do PIB de Portugal é muito diferente. (…) Portanto, este indicador geral dos 2% tem um outro critério, que é o critério dos 60/20/20: 60% em recursos humanos, 20% para operação e manutenção e 20% em investimento. Ora, é muito mais importante como é que se gasta o dinheiro nestes 60/20/20 em termos de equipamento, em termos de investimento do ponto de vista tecnológico, do que propriamente o indicador dos 2%.

Ana Santos Pinto

Ex-secretária de Estado da Defesa Nacional e investigadora de Defesa e Segurança Internacional na Universidade Nova de Lisboa

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Estado já recuperou 411 milhões da garantia ao BPP e deverá receber totalidade

  • Lusa
  • 6 Abril 2024

O Estado já recuperou 411 milhões da garantia prestada ao BPP e deverá recuperar a totalidade do valor, segundo o último relatório da Comissão Liquidatária, a que a Lusa teve acesso.

De acordo com o relatório entregue a tribunal, referente a junho de 2023, do crédito garantido do Estado de quase 447 milhões de euros já foram pagos 410,9 milhões de euros. Quanto ao restante, a Comissão Liquidatária diz que os ativos líquidos e liquidados deverão valer 230 milhões de euros e que parte importante é para pagamento do crédito do Estado.

Assim, afigura que é “muito provável que o crédito garantido venha a ser pago na totalidade (no que se refere a capital)”.

Em março, ao Expresso, a Comissão Liquidatária disse que o valor que receber da passagem das obras de arte do universo BPP para o Estado servirá para saldar a dívida garantida do Estado de 450 milhões de euros (referente a um empréstimo de vários bancos ao BPP que o Estado garantiu).

Quanto aos juros de mora a pagar ao Estado, no relatório é estimado que “venham a ser pagos parcialmente”. Os juros de mora (garantidos pela liquidez gerada pelos ativos dados em contragarantia ao Estado) ascendem a 160 milhões de euros.

Quanto aos créditos comuns – de 944 milhões de euros – já foram pagos a credores 185 milhões de euros pelos Fundo de Garantia de Depósitos e Sistema de Indemnização aos Investidores. O restante, segundo a Comissão Liquidatária, não é possível saber que proporção será paga.

Dos créditos subordinados, de 222 milhões de euros, refere no relatório que é por “demais evidente que não será possível efetuar quaisquer pagamentos”.

O relatório revela ainda a situação financeira do BPP – em liquidação. No final de junho de 2023, o ativo líquido era de 224 milhões de euros enquanto o passivo ascendia a 1.265 milhões de euros, pelo que tinha um saldo líquido negativo de 1.041 milhões de euros.

Ainda no primeiro semestre, teve custos de 3,1 milhões de euros (dos quais 1,3 milhões de euros de custo com pessoal) e rendimentos de 2,7 milhões de euros (sobretudo de juros de aplicações de dinheiro e de reversões e recuperação de perdas por imparidade) resultando num prejuízo de 400 mil euros. Tinha 27 trabalhadores.

Sobre a gestão que tem sido feita para recuperar ativos para a massa insolvente e poder pagar a credores, a Comissão Liquidatária fala da da “complexidade” da liquidação, muito litigiosa. O BPP é parte em 43 processos judiciais ativos, o que – avisa – “não permite, para já, prever o momento do encerramento da liquidação”.

O organismo diz estar disponível para resolver, por acordo, alguns destes processos — que se apresentam “em número significativo” e com a “normal morosidade e complexidade que lhes é inerente”, desde que tal “não ponha em causa os interesses do BPP e dos seus credores”.

“Trata-se de um caminho que, em alguns casos, para além de evitar uma evidente poupança de recursos da massa insolvente, poderá abreviar os processos em curso ou até, como se disse, evitar que os mesmos sejam sequer instaurados”, aponta.

Sobre a venda de imóveis onde estão instalados os serviços do BPP, a Comissão Liquidatária disse à Lusa que recentemente foi concretizada a venda do edifício da Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, por cinco milhões de euros. Já a venda da sede, na Rua Mouzinho da Silveira, em Lisboa, será concretizada no prazo de dois anos conforme o contrato-promessa. O valor desta última venda não é divulgado (segundo o jornal Expresso, é de quatro milhões de euros).

O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, começou com a crise financeira de 2008 e culminou em 2010 com a liquidação. Apesar da pequena dimensão do banco, a falência do BPP lesou milhares de clientes e o Estado e fez temer efeitos de contágio ao restante sistema quando se vivia uma crise financeira.

Em dezembro 2008, face à falta de liquidez, o Banco de Portugal nomeou uma administração provisória para o BPP e seis bancos emprestaram 450 milhões de euros (CGD, BCP, BES, Santander Totta, BPI e Crédito Agrícola) em troca de uma garantia do Estado.

O fundador e antigo presidente do BPP, João Rendeiro, condenado a cumprir pena de prisão por crimes relacionados com o BPP, morreu em 12 de maio de 2022 numa prisão na África do Sul, onde estava desde 11 de dezembro de 2021, após três meses de fuga à justiça portuguesa para não cumprir pena em Portugal.

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EUA e China acordam debater “crescimento económico equilibrado”

  • Lusa
  • 6 Abril 2024

Os Estados Unidos e a China acordaram realizar "intercâmbios intensivos com vista a um crescimento equilibrado", segundo uma declaração divulgada hoje pelo Departamento do Tesouro dos EUA.

O anúncio surge na sequência de dois dias de conversações entre a Secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, e o seu homólogo chinês, He Lifeng, em Guangzhou, sul da China.

“Estes intercâmbios facilitarão a discussão dos desequilíbrios macroeconómicos (…) e tenciono aproveitar esta oportunidade para defender condições equitativas para os trabalhadores e as empresas americanas”, afirmou Yellen, citada no comunicado.

Janet Yellen, que iniciou na quinta-feira uma visita à China, advertiu ainda as empresas chinesas contra a prestação de ajuda à Rússia e à sua indústria de defesa na guerra na Ucrânia.

“As empresas, em particular as chinesas, não devem fornecer apoio material à guerra da Rússia contra a Ucrânia, à indústria de defesa russa”, afirmou, alertando que quem o fizer sofrerá “consequências significativas”, lê-se no comunicado do Tesouro norte-americano.

A visita de Yellen à China ocorre apenas oito meses após a anterior deslocação ao país, que ajudou a estabilizar uma relação conflituosa entre as duas maiores economias do mundo, nomeadamente através da criação de grupos de trabalho bilaterais dedicados a questões económicas e financeiras.

Washington está particularmente preocupado com o aumento das exportações chinesas a baixo custo em setores como veículos elétricos, baterias de iões de lítio e painéis solares, o que pode impedir a formação de uma indústria norte-americana nestas áreas.

No final de 2023, Janet Yellen garantiu que Washington vai continuar a exigir maior clareza na política económica chinesa, avisando que a China era “demasiado importante para construir o seu crescimento com base nas exportações”.

Na quarta-feira, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, disse que a China espera que a visita de Yellen sirva para “construir consensos” com os Estados Unidos e que Washington esteja “disposta a trabalhar com Pequim para chegar a um meio-termo”.

A visita surge depois de o Presidente dos EUA, Joe Biden, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, terem falado na terça-feira, numa chamada telefónica que a Casa Branca descreveu como franca, mas na qual, segundo o Governo chinês, houve alguma fricção.

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Governo completo reúne-se hoje em Óbidos

  • Lusa
  • 6 Abril 2024

O novo Governo reúne-se hoje num Conselho de Ministros informal em Óbidos, distrito de Leiria, com todos os membros do executivo, após a posse, na sexta-feira, dos secretários de Estado.

Esta reunião informal do Conselho de Ministros, no salão nobre da Câmara Municipal de Óbidos, a partir das 09:30, será a primeira a incluir os secretários de Estado do executivo liderado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro.

Além da reunião, está ainda agendada uma fotografia dos 59 governantes – primeiro-ministro, 17 ministros e 41 secretários de Estado – na Praça de Santa Maria.

A primeira reunião do Governo, mas apenas com o primeiro-ministro e ministros, que tomaram posse na terça-feira passada, realizou-se logo no dia seguinte, 03 de abril.

Segundo o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, a primeira decisão foi “alterar o logótipo oficial utilizado na comunicação” do executivo, e que já se tinha refletido na terça-feira na Internet e comunicações internas, medida que mereceu críticas do lado da oposição à esquerda, com PS, PCP e BE a desvalorizar a relevância desta alteração.

O ministro referiu que o logótipo do XXIV Governo volta a ter “a esfera armilar, com o escudo, quinas e castelos em que o povo português se revê”, concretizando um compromisso assumido por Luís Montenegro, muito antes da campanha para as eleições de março.

O Conselho de Ministros decidiu ainda avançar com a preparação do programa que tem de ser apresentado no parlamento até à próxima quarta-feira, dia 10, e mandatar a ministra da Justiça para iniciar um diálogo com todos os partidos, agentes do setor e sociedade civil para uma agenda de combate à corrupção.

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Fundo KKR mandata Mediobanca para comprar até 19,9% da Greenvolt

  • ECO
  • 5 Abril 2024

A transação será realizada através de um "total return equity swap" por um preço que não poderá exceder os 8,30 euros por ação, informa a empresa liderada por João Manso Neto.

A GVK Omega, sociedade veículo da norte-americana Gamma Lux, que é detida pelo fundo Kohlberg Kravis Roberts (KKR), mandatou o Mediobanca para comprar até 19,9% das ações da Greenvolt. Uma transação que será realizada através de um acordo de swaps, segundo a nota enviada à CMVM pela empresa liderada por João Manso Neto.

Através de um total return equity swap, o banco de investimento deverá comprar ações da Greenvolt por um preço que não poderá exceder 8,30 euros, sendo esta a contrapartida definida no anúncio preliminar da Oferta Pública de Aquisição (OPA) e que foi aceite por acionistas detentores de 60,86% do capital da empresa.

Este acordo arranca esta sexta-feira e deverá terminar depois de junho.

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Sindicato não está surpreendido com intenção de despedimento coletivo na Efacec

  • Lusa
  • 5 Abril 2024

Sindicato Site Norte não está surpreendido com a intenção de despedimento coletivo na Efacec, já que o fundo Mutares, que comprou a empresa portuguesa, "já tem um historial" semelhante noutros países.

O sindicato Site Norte não está surpreendido com a intenção de despedimento coletivo na Efacec, lembrando que o fundo Mutares, que comprou a empresa portuguesa, “já tem um historial” semelhante noutros países, disse Miguel Ângelo, representante da estrutura.

Em declarações à Lusa, o responsável do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), disse que, ao conhecimento do sindicato tinham chegado 12 trabalhadores abrangidos pelo processo na Efacec Engenharia.

“Nós tivemos razão quando dizíamos que vender a empresa a um fundo que já tem um historial de despedimentos noutros países” poderia resultar nesta situação, indicou.

Num comunicado no final de março, o sindicato já dava conta desta questão.

“Tínhamos razão quando alertámos que o domínio do capital estrangeiro, nesta empresa estratégica, não serviria para beneficiar o país nem os trabalhadores. Este não iria ser o caminho para valorizar os salários e as carreiras profissionais”, lê-se no documento.

“O plano para o despedimento coletivo já era conhecido desde que chegaram ao fim” as “rescisões amigáveis”, disse o sindicato, no mesmo comunicado.

“A intenção de despedimento coletivo, provavelmente, vai ter como primeiro alvo os trabalhadores que não aceitaram alienar o seu posto de trabalho pela via dessas ‘rescisões amigáveis'”, denunciou.

Numa declaração, a Efacec reconheceu que a sua estratégia passa por “um ajustamento da organização, incluindo o número de efetivos, às necessidades que o negócio exigir a cada momento”.

“O foco da empresa está nas áreas ‘core’ [principais] da Efacec que são rentáveis e que representam o valor acrescentado que o nosso ‘know-how’ [conhecimento] interno aporta”, ou seja “projetos de alto valor acrescentado e em expansão”.

A empresa revelou que “irá descontinuar linhas de produto”, em várias áreas, “negócios que representam aproximadamente apenas 10%” das receitas, “provocam dispersão de recursos, e que historicamente têm apresentado prejuízo ou margens consideravelmente baixas”.

“Será um descontinuar faseado, respeitando as nossas obrigações contratuais em curso”, assegurou.

A Efacec disse ainda que entre 2020 e 2023, inclusive, “reduziu o volume de negócios em 60%; o número de efetivos em 30%”.

“Até voltarmos ao equilíbrio sustentável há ainda um ajustamento que resultará do ritmo de recuperação de empresa e da possibilidade real da realocação de pessoas para áreas de negócio definidas como prioritárias, que serão também as de maior crescimento”, destacou, indicando que “este reequilíbrio deverá acontecer durante o ano de 2024, acentuadamente no primeiro semestre”.

O jornal Expresso noticiou na quinta-feira que “mais de 90 trabalhadores da Efacec já receberam aviso de despedimento coletivo”.

O fundo de investimento Mutares finalizou a compra da Efacec ao Estado, em novembro, indicando que iria reforçar o segmento de engenharia e tecnologia, permitindo que a empresa recupere “uma posição de destaque no mercado”, foi anunciado.

A Efacec, que tem sede em Matosinhos, conta com cerca de dois mil trabalhadores.

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Veja aqui a chave do Euromilhões. São 73 milhões de euros em jogo

  • ECO
  • 5 Abril 2024

O jackpot desta sexta-feira está de volta aos 73 milhões de euros, depois de na última ronda o primeiro prémio ter ficado sem vencedor.

Com um primeiro prémio no valor de 73 milhões de euros, decorreu esta sexta-feira um novo sorteio do Euromilhões. O valor do jackpot voltou a subir depois de o último sorteio ter ficado sem vencedor.

Veja a chave vencedora do sorteio desta sexta-feira, 5 de abril:

Números: 13, 18, 26, 35, 37

Estrelas: 8, 11

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Professores não concedem ao novo Governo nem “estado de graça” nem “benefício da dúvida”

  • Lusa
  • 5 Abril 2024

"Como defenderá a valorização salarial e das carreiras, tornando atrativa a profissão para jovens, um ministro que nos anos da troika defendeu cortes permanentes em rendimentos?", questiona Fenprof.

A Fenprof defendeu esta sexta-feira que o Ministério da Educação, Ciência e Inovação não terá direito nem a “estado de graça” nem a “benefício da dúvida” face ao histórico de posições públicas da nova equipa governativa em matérias como salários.

Em comunicado, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) defendeu que a equipa do novo ‘superministério’ não vai passar por estas fases associadas ao arranque da governação, “pois os seus principais elementos têm defendido posições que não permitem aquele estado ou tal benefício sobre como se posicionam em relação aos professores e à sua luta em defesa da profissão e da escola pública”.

“Como defenderá a valorização salarial e das carreiras, tornando atrativa a profissão para os jovens, um ministro que, nos anos da troika, defendeu cortes permanentes em rendimentos, como caminho para aumentar as poupanças? Como estará disponível para valorizar a profissão docente um secretário de estado que já escreveu, em título, que ‘temos maus professores’?”, questionou a federação sindical.

A Fenprof pergunta ainda que disponibilidade haverá no novo Governo para reforçar o financiamento da escola pública depois das críticas do novo secretário de Estado Adjunto, Alexandre Homem Cristo, aos cortes nos contratos de associação com os colégios e de ter defendido modelos de ensino semelhantes a alguns praticados noutros países, “marcados pela elitização do ensino, deixando aos mais pobres soluções de menor”.

Questiona ainda o cumprimento do desígnio constitucional de uma rede de ensino pública por uma equipa que defende “o princípio da alegada liberdade de escolha” e se o pré-escolar, o ensino básico e o ensino secundário ficarão remetidos a uma secretaria de Estado depois de o novo ministro, Fernando Alexandre, ter chamado a si a tutela direta do ensino superior.

O ministro da Educação e Ciência Fernando Alexandre (D) à chegada para a reunião do Conselho de Ministros do XXIV Governo Constitucional realizada esta manhã na residência oficial, no palácio de S. Bento, Lisboa, 3 de abril de 2024. JOÃO RELVAS/LUSA JOÃO RELVAS/LUSA

A Fenprof levanta dúvidas ainda sobre os caminhos que podem vir a ser seguidos nas escolas em matérias como autonomia e democratização da gestão, inclusão e avaliação e estrutura curricular.

“Várias das dúvidas que se colocam talvez deixem de ser apenas dúvidas quando for conhecido o programa do Governo, o que acontecerá na próxima semana, e tiver lugar a primeira reunião com a equipa ministerial, que deverá ser convocada para a semana seguinte”, lê-se no comunicado.

A Fenprof, que considera “ser natural que o primeiro processo negocial seja para devolver o tempo de serviço aos professores”, depois dos compromissos assumidos pelos partidos em campanha eleitoral, deixa, no entanto, o alerta, que a proposta de concretização faseada dessa recuperação que vai apresentar é a mesma que tem defendido, de um modelo com uma duração de três anos, a concluir nesta legislatura, e não 20% ao ano durante cinco anos, como propunha a Aliança Democrática (AD).

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PCP diz que novo Governo já está a encontrar “justificações” para não cumprir promessas

  • Lusa
  • 5 Abril 2024

Sobre o caso das gémeas, defendeu que todas as pessoas devem ter acesso a cuidados de saúde e que "é de facto indigno um tratamento custar quatro milhões de euros".

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, durante a manifestação “Defender o SNS, cumprir Abril”, em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, esta sexta-feira.Tiago Petinga | Lusa

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, advertiu esta sexta-feira que o Governo está a começar a encontrar justificações para não cumprir promessas eleitorais e, sobre o novo logótipo do executivo, considerou que, “quando não se tem mais nada para oferecer, oferecem-se logótipos”.

Em declarações aos jornalistas na concentração “Defender o Serviço Nacional de Saúde. Cumprir em Abril”, organizada esta sexta-feira em Lisboa pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública, Paulo Raimundo foi questionado se considera que a mudança do logótipo do Governo devia ter sido uma prioridade.

“Sem desrespeitar o autor, eu acho que isso é um não assunto. (…) Quando nós não temos mais nada para oferecer, oferecemos logótipos”, respondeu.

O líder comunista ironizou que, até agora, o Governo respondeu “de forma muito exata” à questão do logótipo e também “à ideia da corrupção, que já se está a ver que não vai dar em nada”, numa alusão à decisão do executivo de mandatar a ministra da Justiça para falar com todos os partidos com assento parlamentar, agentes do setor da justiça e da sociedade civil com vista à elaboração de um pacote de medidas contra a corrupção.

“E há uma terceira ideia que começa a ganhar forma, quer por parte do Governo, quer por parte daqueles que sustentam o Governo, que é a ideia, a que eu fiz várias referências durante a campanha eleitoral, de que hoje promete-se tudo para amanhã, chegando ao poder, encontrar-se as justificações para não poder cumprir o que se prometeu“, disse.

Para Paulo Raimundo, parece que o executivo está a “começar já esse caminho”, numa altura em que “ainda a procissão vai no adro”.

Já questionado sobre a comissão de inquérito proposta pelo Chega ao caso das gémeas, o líder comunista respondeu que “isso é só fumaça”, e, interrogado se acha que o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) deve ser tornado público, considerou que sim.

“É um relatório que tem um conjunto de informações e deve-se criar condições para ser tornado público, a não ser que haja algum procedimento concreto que o impeça de ser”, indicou.

Sobre o assunto das gémeas luso-brasileiras, Paulo Raimundo defendeu que é necessário “garantir a possibilidade de acesso à saúde generalizada das pessoas, sejam elas quais forem”, e considerou que “é de facto indigno um tratamento custar quatro milhões de euros”, numa referência ao medicamento Zolgensma.

“Isso é que é indigno e é preciso resolver de uma vez por todas. Nesse caso em concreto não é possível, mas é possível aumentar a produção de medicamentos de forma a baixar os preços dos medicamentos e acabar com este escândalo que enche de facto os cofres à grande indústria farmacêutica”, sublinhou.

Sobre a concentração em que marcou presença, Paulo Raimundo foi questionado se não é muito cedo para estar na rua, tendo em conta que o Governo tomou posse esta semana.

“Os problemas que existiam no dia 9 de março continuam a existir todos: as dificuldades de acesso à saúde, os problemas de falta de médicos, de não reconhecimento e valorização das carreiras… Tudo isso que existia está aí tudo e é preciso exigência de mudança”, defendeu.

O líder do PCP sustentou que “há uma vontade expressa do PSD, CDS, IL e Chega, mas que também vem no decurso de opções erradas do PS”, que visam o “desmantelamento e destruição do SNS.

“Portanto, não é cedo, é tarde para defender o SNS”, afirmou.

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Função Pública vai exigir aumentos salariais intercalares à nova secretária de Estado

Sindicatos temem "visão empresarial, economicista, vinda do privado" da nova titular da pasta da Administração Pública, Marisa Garrido. Querem já este ano uma revisão da atualização dos ordenados.

A nova secretária de Estado da Administração Pública, Marisa Garrido, terá de se preparar para os primeiros embates difíceis com a Função Pública, que vai reivindicar novos aumentos salariais ainda para este ano.

Além disso, os sindicatos olham com desconfiança para o currículo no privado da gestora de recursos humanos, que teve um papel em processos como a reestruturação dos CTT que levou ao despedimento de trabalhadores. Frente Comum e Fesap temem uma “visão empresarial, economicista” de Marisa Garrido, “uma desconhecida”, para os sindicatos.

Das três federações sindicais, a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (Frente Comum), afeta à CGTP, e a Federação dos Sindicatos da Administração Pública (Fesap), da UGT, vão exigir, já para este ano, aumentos salariais intercalares.

Tomada de posse dos Secretários de Estado do XXIV Governo Constitucional - 05ABR24
Tomada de posse dos Secretários de Estado do XXIV Governo ConstitucionalHugo Amaral/ECO

Antes da discussão da proposta de atualização das remunerações para 2025 “era desejável uma correção extraordinária dos salários”, disse ao ECO o secretário-geral da Fesap, José Abraão. O dirigente sindical ainda não quer materializar valores porque “a Fesap quer falar primeiro com o Governo”. De salientar que a estrutura sindical propôs para este ano um aumento de 80 euros para todos os trabalhadores.

O coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, mantém a proposta que já tinha apresentado ao Governo cessante de António Costa: “Desde já, exigimos um aumento intercalar de 15% com um mínimo de 150 euros para todos os trabalhadores”.

Desde já, exigimos um aumento intercalar de 15% com um mínimo de 150 euros para todos os trabalhadores.

Sebastião Santana

Coordenador da Frente Comum

O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), da UGT, espera que Marisa Garrido “melhore o acordo de rendimentos celebrado com o anterior Governo”, que considera “insuficiente porque não repôs o perda do poder de compra”, sinalizou ao ECO a presidente do STE, Maria Helena Rodrigues. Para este ano, a proposta de revisão salarial do STE assentava numa atualização de 8%.

Ora, os aumentos para este ano, aplicados pelo último Governo de António Costa, ficaram aquém das reivindicações dos sindicatos. Os trabalhadores do Estado tiveram direito a um impulso de 52,63 euros até aos 1.754,49 euros brutos mensais e de 3% para valores superiores.

Tratamento igual entre professores, polícias e restantes carreiras

Mas o caderno de encargos que está a ser preparado pelos sindicatos está longe de se esgotar na atualização salarial. “Houve uma série de medidas que ficaram a meio com a queda do Governo e que estão previstas no acordo plurianual até 2026 como a revisão das carreiras não revistas”, recorda José Abraão.

Neste processo estão as “carreiras dos técnicos de reinserção social, dos inspetores externos ou dos dos técnicos superiores de saúde, dos técnicos de diagnóstico e terapêutica que estão há anos à espera de ter um sistema integrado de gestão e avaliação do desempenho na Administração Pública (SIADAP)”, que é o instrumento que permite a progressão na carreira com a consequente valorização salarial, exemplifica.

O Governo não pode ser fraco com os fortes, com os que falam mais alto. E forte com os fracos.

José Abraão

Secretário-geral da Fesap

E os sindicatos avisam que não vão tolerar tratamentos diferenciados entre as diferentes carreiras. “O Governo não pode ser fraco com os fortes, com os que falam mais alto, e forte com os fracos. Tem de haver equidade e justiça entre o descongelamento da carreira dos professores, a atribuição do suplemento aos polícias, mas também em relação a outras carreiras não revistas”, avisou o líder da Fesap. “A Administração Pública tem quase 750 mil trabalhadores que não são todos professores e forças de segurança”, reforçou Sebastião Santana.

Na mesma senda, a líder do STE alerta: “Se o Governo der a recuperação do tempo de serviço para os professores, também vamos querer o mesmo para todos os trabalhadores que tiveram a carreira congelada”.

Se o Governo der a recuperação do tempo de serviço para os professores, também vamos querer o mesmo para todos os trabalhadores que tiveram a carreira congelada.

Maria Helena Rodrigues

Líder do STE

Os avisos visam sobretudo o programa eleitoral com que a Aliança Democrática (AD), coligação que junta PSD, CDS e PPM, ganhou as legislativas de 10 de março e que prometia descongelar faseadamente a carreira dos professores (seis anos, seis meses e 23 dias) à razão de 20% ao ano até 2028. Existe ainda referência a um plano de motivação para os profissionais de saúde, sem detalhe. De resto, nenhuma outra carreira foi abordada em particular. Mas, em campanha, Luís Montenegro assumiu o compromisso de valorizar as forças de segurança.

A revisão do SIADAP foi outra das matérias que ficou pendurada com a queda do Governo de Costa. Ainda assim, houve alguns avanços. Caso o Executivo de Luís Montenegro mantenha os diplomas já publicados em Diário da República, o novo sistema de avaliação, que passará de bianual para anual, e que vai permitir que mais trabalhadores (60% em vez de 25%) progridam na carreira e com menos pontos (oito em vez de 10), terá os seus primeiros efeitos em 2025, o que representará um custo de 98 milhões de euros.

A partir de 2026, quando o novo sistema integrado de gestão e avaliação for totalmente implementado, abrangendo também os serviços e dirigentes e não apenas os trabalhadores, a despesa global irá ascender a 150 milhões de euros por ano, segundo contas apresentadas por Inês Ramires, secretária da Administração Pública do anterior Governo.

Desconfiança e ameaça com protestos

Todos os sindicatos partem para a mesa negocial com a nova secretária de Estado com espírito de abertura e empenhados em melhorar as condições de vida dos funcionários públicos, mas com alguma reserva tendo em conta o percurso profissional.

Até ser escolhida para a pasta da Administração Pública, que volta à tutela das Finanças ao fim de cinco anos, Marisa Garrido era vice-presidente da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, por indicação do anterior ministro da Economia, António Costa e Silva. Gestora especializada em recursos humanos, já liderou processos de reestruturação difíceis na Novabase, Secil, RTP, EMEL e CTT.

“É uma pessoa desconhecida. Da nossa parte, queremos que a secretária de Estado e o ministro das Finanças sejam portadores de grande abertura para o reforço do diálogo e da negociação coletiva. Mas esperamos que não haja uma visão empresarial, do privado, mas sim de espírito de missão“, sublinhou José Abraão. E acrescentou: “A experiência na gestão de recursos humanos é valorizável, mas a gestão de recursos humanos entre privado e público tem nuances significativas porque prestamos serviço público em áreas sociais”.

Por outro lado, José Abraão espera que o novo Executivo “cumpra ou até melhore o acordo” assinado com o anterior Governo. “Se rasgar o acordo, os trabalhadores sentir-se-iam defraudados e a rua não é só de alguns. Nesse caso, avançamos para protestos e até greves”, ameaça.

O líder da Fesap revelou ainda que vai “pedir reuniões a todos os ministros do Governo para apresentar um documento, que será aprovado pelo secretariado nacional, com todas as questões que preocupam” a federação sindical.

Para Sebastião Santana, “ter uma secretária de Estado que tem um currículo no setor privado pode não ser uma vantagem, porque pode ter uma visão muito economicista da Administração Pública, o que a Frente Comum rejeita“.

O líder sindical considera, no entanto, que “mais importante do que as pessoas são as políticas, porque a nova secretária de Estado até pode ser uma gestora muito competente”. “O mau prenúncio é sobretudo o programa da AD, que defende uma política de desvalorização da Administração Pública com o regresso das parcerias público-privadas”.

Santana indicou que “a Frente Comum já tem uma cimeira programada para 18 de abril, na qual a federação sindical irá decidir o que em fazer em termos de respostas”, antevendo que se avizinham “tempos de luta e até de uma eventual greve geral, caso se mantenha o programa da AD e as suspeitas sobre a visão economicista da secretária de Estado”.

Maria Helena Rodrigues também não conhece a secretária de Estado, mas mostra-se mais otimista. “A expectativa é que possa melhorar o acordo. Se rasgar o acordo, desde que seja para melhorar, ótimo. Vamos trabalhar para continuar o processo em curso”, afirmou a presidente do STE que vai solicitar uma reunião com Marisa Garrido.

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Mortágua pede “sanções” no caso das gémeas e alega que credibilidade do SNS está em causa

  • Lusa
  • 5 Abril 2024

Líder do BE defende que das conclusões do relatório devem sair consequências, nomeadamente, "sanções disciplinares e sanções criminais caso o Ministério Público entenda que deve fazer uma acusação".

A líder do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, durante a manifestação “Defender o SNS, cumprir Abril”, em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, esta sexta-feira.Tiago Petinga | Lusa

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, pediu esta sexta-feira sanções no caso das gémeas tratadas no Hospital Santa Maria considerando que está em causa a credibilidade do SNS, e sustentou que o Chega “quer espetáculo” com o inquérito parlamentar.

À margem da ação de luta “Defender o SNS, cumprir Abril”, que decorreu junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa, Mariana Mortágua foi questionada pelos jornalistas sobre o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) que concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital Santa Maria com um medicamento de milhões de euros foi ilegal.

“O caso do Santa Maria é um caso grave, o acesso ao SNS é preciso fazer-se segundo regras e não segundo cunhas. Não devem ser os contactos pessoais, o poder de alguém, o facto de ter acesso a algum membro de um órgão público que determina o acesso ao SNS“, defendeu.

De acordo com a líder do BE, tendo a investigação chegado a conclusões é preciso agora que o parlamento tenha acesso a elas – o partido já deu entrada de um requerimento com esse objetivo -, mas é fundamental que “dessas conclusões saiam também consequências”.

“Desde logo consequências disciplinares, que podem acontecer desde já tendo em conta as conclusões do relatório, e depois consequências criminais que é o que resultará da avaliação do Ministério Público que já está na posse do documento”, enfatizou.

Para a Mariana Mortágua, “este não é só um caso de influência que envolve a Presidência da República e o Governo”, mas sim um caso “de defesa do SNS e da sua credibilidade”.

“A credibilidade dos serviços públicos é garantida pela qualidade do serviço que prestam, isso não está em causa, mas é garantida também porque os cidadãos sabem que o seu acesso é igual e é feito de forma justa. Não pode ser conhecimentos, a lista telefónica, o poder ou o dinheiro que condicionam o acesso ao SNS”, defendeu.

Questionada sobre a comissão de inquérito anunciada na véspera pelo Chega a este caso polémico, a líder do BE respondeu que “o que é importante agora é que a Assembleia da República conheça esse relatório” e que haja “sanções disciplinares e sanções criminais caso o Ministério Público entenda que deve fazer uma acusação”.

“Uma comissão de inquérito neste cenário só iria arrastar a tomada de consequências, as sanções disciplinares e o próprio processo criminal. O Chega com esta proposta não quer justiça, quer espetáculo e o espetáculo não faz justiça”, criticou.

Nas conclusões do relatório da inspeção, divulgadas na quinta-feira, a IGAS refere que “não foram cumpridos os requisitos de legalidade no acesso das duas crianças à consulta de neuropediatria” uma vez que a marcação da consulta não cumpriu a portaria que regula o acesso dos utentes ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A IGAS concluiu ainda que a prestação de cuidados de saúde às crianças decorreu “sem que tenham existido factos merecedores de qualquer tipo de censura”.

O ex-secretário de Estado António Lacerda Sales, de acordo com o contraditório do relatório, criticou a IGAS por ter dado menos valor à sua palavra do que à da sua secretária pessoal, que contactou o Hospital de Santa Maria para agendar a consulta das gémeas.

O caso das duas gémeas residentes no Brasil que adquiriram nacionalidade portuguesa e receberam em Portugal, em 2020, o medicamento Zolgensma, com um custo total de quatro milhões de euros, foi divulgado pela TVI, em novembro, e está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

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