China desmente Trump sobre negociações de tarifas com Estados Unidos

  • Lusa
  • 26 Abril 2025

A China voltou a negar estar em negociações com os Estados Unidos sobre as tarifas, desmentindo os comentários do Presidente norte-americano, Donald Trump, na sexta-feira.

A China voltou este sábado a negar estar em negociações com os Estados Unidos sobre as tarifas, desmentindo os comentários feitos pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, na sexta-feira.

“Não houve consultas ou negociações entre a China e os Estados Unidos sobre questões tarifárias, muito menos um acordo“, disse a embaixada chinesa em Washington, num comunicado publicado na plataforma de mensagens WeChat.

As afirmações norte-americanas de que está em curso um diálogo sobre as tarifas “são enganadoras”, acrescentou a representação diplomática chinesa.

“Se os Estados Unidos querem realmente resolver o problema através do diálogo, devem primeiro corrigir os seus erros, deixar de ameaçar e pressionar os outros e abolir completamente todas as medidas tarifárias unilaterais tomadas contra a China“, lê-se no comunicado.

Numa entrevista publicada na sexta-feira pela revista Time, o Presidente norte-americano disse que estavam em curso discussões entre os dois países para tentar chegar a um acordo e sugeriu que o processo poderia estar concluído nas próximas semanas.

Referiu, além disso, ter falado ao telefone com o homólogo chinês, Xi Jinping, sem no entanto especificar quando ou qual o conteúdo da conversa. “Ele telefonou. E não acho que isso seja um sinal de fraqueza”, disse o dirigente norte-americano.

O Ministério do Comércio chinês já tinha negado na quinta-feira que estivesse a levar a cabo negociações económicas ou comerciais com Washington.

O Presidente norte-americano decidiu impor sobretaxas de 145% a certos produtos importados da China. Em resposta, Pequim impôs sobretaxas de 125% sobre os produtos provenientes dos Estados Unidos.

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Microsoft Portugal perde poder de decisão e deixa de ser unidade autónoma

Em nome de uma maior eficiência, a Microsoft vai retirar autonomia e poder de decisão à operação em Portugal, que passará a integrar um cluster de operações que se estende aos Balcãs.

A Microsoft prepara-se para uma profunda reorganização da sua estrutura operacional na região EMEA (Europa, Médio Oriente e África) que terá impacto direto na subsidiária portuguesa.

Segundo um email interno a que o ECO teve acesso, a partir de 1 de julho, a Microsoft Portugal deixará de funcionar como entidade autónoma e passará a integrar um amplo cluster denominado “South MCC” na área da “Europa do Sul, que incluirá também países como Turquia, Grécia, Chipre, Malta, Albânia, Bósnia, Eslovénia, Sérvia, Macedónia do Norte, Montenegro, Kosovo, Croácia e Bulgária.

Segundo indicações da Microsoft, esta reorganização enquadra-se numa estratégia global da tecnológica para o ano fiscal de 2026. No documento interno, a empresa destaca que tem três grandes pilares organizacionais para apoiar a sua estratégia de crescimento: “Evolução das nossas Áreas de Solução, Aceleração da Competência Regional em Escala e Alinhamento das nossas equipas SME e de Canal”.

A nova estrutura da Microsoft na região EMEA passará assim a contemplar três modelos distintos:

  • Três subsidiárias autónomas: França, Países Baixos e Suíça
  • Duas áreas de subsidiárias duplas: Alemanha/Áustria e Reino Unido/Irlanda
  • Três áreas multi-subsidiárias: Europa Norte, Europa Sul (onde a operação nacional está incluída) e Médio Oriente & África

A Microsoft justifica estas alterações com o foco na aceleração do crescimento num momento de forte adoção da inteligência artificial. “Em tempos de incerteza e desafio que a nossa região enfrenta, clientes e parceiros procuram-nos para liderança – não apenas sobre como adotar IA, mas sobre como isso pode remodelar a forma como compram, constroem e crescem de maneira responsável”, refere Samer Abu-Ltaif, presidente da Microsoft para a Europa, Médio Oriente e África desde janeiro deste ano, na referida comunicação.

A empresa defende que, para responder às exigências atuais, precisa reduzir a complexidade do próprio negócio, “criando mais agilidade na forma como planeamos, colaboramos e executamos”.

A operação portuguesa, sob a liderança de Andres Ortolá desde janeiro de 2022, ficará sob a alçada de Charles Calestroupat, que liderará toda a área da Europa Sul.

O executivo francês tem um currículo de 25 anos de experiência na área tecnológica, “incluindo vários anos como empreendedor desenvolvendo empresas industriais na Europa e mercados emergentes”, refere a Microsoft no email. Calestroupat está na Microsoft há sete anos, tendo servido como responsável pelas operações para o setor público e como líder comercial no setor empresarial em França.

Para a operação portuguesa, esta reorganização representa uma significativa perda de autonomia. Se até agora a Microsoft Portugal tem funcionado como subsidiária independente com liderança local, passará a ser apenas uma parte de um cluster multinacional que engloba mercados bastante diversos, desde a Turquia até aos Balcãs.

Esta reestruturação enquadra-se no que a empresa descreve como uma otimização para “garantir um aumento dos recursos no terreno, ter a cobertura de contas adequada, criar responsabilização e gerar captura incremental de TAM [Mercado Total Endereçável]”, justifica Samer Abu-Ltaif no email.

Segundo o email interno, a nova estrutura também “garantirá uma tomada de decisão mais rápida com execução mais consistente em toda a região EMEA, alinhada às necessidades de cada mercado”.

A Microsoft sublinha que “esta mudança visa colocar o suporte adequado para capacitar os nossos vendedores e dar-lhes as ferramentas e recursos necessários para se concentrarem no envolvimento com os clientes e na procura de novas oportunidades”.

Embora a empresa apresente a reorganização como uma estratégia para promover crescimento e agilidade, fica por esclarecer se haverá implicações ao nível dos recursos humanos ou investimentos na operação portuguesa, bem como alterações na abordagem ao mercado nacional.

Contactada, fonte oficial da Microsoft Portugal confirmou esta informação ao ECO: “Recentemente, anunciámos uma mudança na estrutura da nossa área EMEA da Microsoft. A Microsoft Portugal, que atualmente reporta à nossa área da Europa Ocidental, passará – a partir de 1 de julho – a fazer parte de uma nova estrutura de área, denominada Europa do Sul, liderada por Charles Calestroupat. Portugal continua a ser liderado por Andrés Ortolá.”

(Notícia atualizada às 14h40 com declarações da Microsoft)

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Baidu desafia DeepSeek e promete agitar o mercado da inteligência artificial

  • Lusa
  • 25 Abril 2025

A gigante Baidu acelera a corrida da IA com modelos gratuitos e potentes, apostando em raciocínio avançado e custos mínimos para enfrentar DeepSeek e os gigantes americanos.

A chinesa Baidu anunciou hoje o lançamento de dois novos modelos de inteligência artificial (IA), Ernie 4.5 Turno e Ernie X1 Turbo, numa conjuntura de intensa concorrência desta tecnologia depois do impulso dado pela DeepSeek ao setor.

Num evento para programadores da empresa chinesa, o presidente executivo (CEO), Robin Li, detalhou as melhorias introduzidas no Ernie 4.5 Turnbo, considerado o modelo base da tecnológica, e a série X1 Turbo, plataforma apresentada em março, informou o jornal oficial Diário do Povo.

Segundo Li, foi ampliada a capacidade de memória ao modelo e otimizado o seu motor de inferência para reforçar as capacidades de ‘raciocínio’ e reduzir a frequência de ‘alucinações‘ ou respostas fora do contexto, um dos problemas do setor.

Além disso, a Baidu salientou a capacidade de ambos os sistemas de criar e gerir agentes digitais, programas autónomos que podem ser utilizados em aplicações como o atendimento ao cliente, a análise de dados ou processos automatizados de revisão de informação.

Esta iniciativa responde ao plano da tecnológica chinesa em acelerar o desenvolvimento das suas tecnologias de IA, num contexto de crescente concorrência local de empresas como a DeepSeek, Alibaba, Tencent e ByteDance.

Recentes modelos de linguagem como a DeepSeek e outros apresentados pelas chinesas Tencent, Alibaba ou ByteDance provocaram uma aceleração da tecnologia nos últimos meses por serem capazes de concorrer nas suas capacidades com as soluções tecnológicas norte-americanas de IA a um preço mais baixo.

A China regulou em 2023 os serviços de IA para respeitarem “os valores fundamentais socialistas”, proibindo estas plataformas de “gerar conteúdos que ameacem a segurança nacional, a unidade territorial e a estabilidade social”.

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Extrema-direita transforma celebração de Abril em confronto

O 25 de Abril em Lisboa foi palco de celebrações e caos. Enquanto milhares festejaram, um grupo de apoiantes da extrema-direita desafiou a ordem pública, provocando confrontos na zona do Rossio.

As celebrações do 25 de Abril estão a ser marcadas por um ambiente tenso em Lisboa, com milhares de pessoas a descerem a Avenida da Liberdade para celebrar o 51.º aniversário da Revolução dos Cravos, enquanto, a escassas centenas de metros, confrontos entre manifestantes de extrema-direita e a polícia resultaram na detenção de Rui Fonseca e Castro, líder do partido Ergue-te, e de Mário Machado, figura conhecida da extrema-direita nacional.

Desde as 15 horas, uma multidão respondeu ao apelo da Associação 25 de Abril e de diversos partidos de esquerda para participar no tradicional desfile comemorativo, que este ano decorre sob o peso do luto nacional pela morte do Papa Francisco.

A Avenida da Liberdade encheu-se de cravos vermelhos, bandeiras de Portugal, palavras de ordem e um ambiente de festa, com o desfile a avançar lentamente desde o Marquês de Pombal até ao Rossio, mantendo viva a memória da conquista da democracia em 1974.

Em paralelo, a zona do Rossio tornou-se palco de tensão. Apesar da proibição da manifestação nacionalista convocada pelo Ergue-te e outros grupos de extrema-direita para o Martim Moniz — decisão tomada pela PSP e seguida pela Câmara de Lisboa devido ao risco de perturbação da ordem pública — os organizadores insistiram em sair à rua.

A concentração acabou por se deslocar para o Largo de São Domingos, onde a polícia interveio para impedir a realização do protesto. A recusa em abandonar o local levou à detenção de Rui Fonseca e Castro, que, perante o aviso das autoridades de que incorria num crime de desobediência, afirmou: “Só saio daqui algemado”.

A sua detenção, assim como a de Mário Machado, gerou momentos de forte tensão, com cargas policiais e gritos de protesto dos apoiantes dos grupos de extrema-direita, obrigando à criação de um perímetro de segurança para evitar confrontos diretos com os restantes manifestantes.

O 25 de Abril de 2025 fica assim marcado por uma forte adesão popular às celebrações da democracia, mas também pela evidência de clivagens políticas e sociais que continuam a atravessar o país.

Enquanto milhares celebram a liberdade conquistada em 1974, as autoridades são chamadas a gerir o equilíbrio delicado entre o direito à manifestação e a manutenção da ordem pública, num dia que, mais do que nunca, coloca à prova os valores da democracia portuguesa.

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IA nos seguros. Torna as indemnizações menos justas?<span class='tag--premium'>premium</span>

Lá fora já se fala em enviesamento nos algoritmos de Inteligência Artificial utilizados pelas seguradoras para cobrir os sinistros dos pacientes, as empresas negam.

Este artigo integra a 14.ª edição do ECO magazine, que pode comprar aqui.Clientes de seguradoras de saúde nos EUA avançaram com ações judiciais alegando que as empresas usam Inteligência Artificial (IA) para negar cobertura, sobrepondo-se a decisões médicas. A UnitedHealth, uma das visadas, nega as alegações e afirma que as decisões são tomadas exclusivamente por diretores médicos. E em Portugal, onde ficamos? O ECOseguros consultou seguradoras, o regulador e a DECO Proteste e a resposta é unânime: a IA ainda não representa uma ameaça imediata, mas já estão a ser adotadas medidas preventivas para mitigar riscos.Por agora, tem trazido redução de fraudes, melhorias na eficiência e na experiência do cliente. Não há evidências de que o uso de IA pelas seguradoras em Portugal esteja a

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Trump diz que falou ao telefone com Xi Jiping sobre tarifas aduaneiras

  • ECO
  • 25 Abril 2025

O líder americano desafia Pequim, recusa baixar tarifas e assegura que a América está a ganhar como nunca. Sobre a volatilidade dos mercados, Donald Trump garante que as bolsas “vão estabilizar".

Num momento em que a tensão comercial entre os EUA e a China volta a marcar a agenda internacional, Donald Trump, presidente dos EUA, revelou numa entrevista à revista Time que manteve recentemente uma conversa telefónica com Xi Jinping, presidente da China, centrada na questão das tarifas aduaneiras. “Ele ligou-me. E não acho que isso seja um sinal de fraqueza da parte dele”, afirmou Trump, sublinhando a centralidade das negociações bilaterais no seu mandato.

Ao longo da entrevista, Trump defendeu a sua política de tarifas como pilar da estratégia económica norte-americana, garantindo que “estamos a receber milhares de milhões de dólares de outros países que nunca recebemos antes. E isto é só o início”.

O presidente norte-americano reiterou que não hesitará em manter tarifas elevadas sobre importações, considerando-as “uma vitória total” para os EUA “porque o país vai estar a fazer uma fortuna. Olhe para a China — cobravam-nos 100%. É assim que sobreviveram. Agora, se produzirem aqui, não há tarifas. Isto é um sucesso tremendo, só ainda não se aperceberam disso”.

Questionado sobre a abordagem negocial com a China, Trump revela que já falou com o chefe de Estado chinês. Questionado sobre o conteúdo da conversa, Trump preferiu apenas dizer que “toda a gente quer vir cá comprar, mas eu defino os preços. Quem quiser comprar, tem de pagar”.

Confrontado com as críticas de que as tarifas penalizam as pequenas empresas, Trump referiu que “as pequenas empresas vão beneficiar ainda mais do que as grandes. Mas todos vão beneficiar”.

O presidente norte-americano revelou que, para os EUA, “não é sustentável deixar a China ganhar um bilião de dólares connosco. Quando temos um défice comercial de dois biliões, considero isso uma perda”.

Trump afirmou ainda ter “feito 200 acordos” com vários países, embora sem anunciar detalhes, prometendo novidades “nas próximas três a quatro semanas”. O presidente dos EUA destacou o impacto das tarifas na atração de investimento industrial, referindo que “as empresas estão a voltar”, salientando que os EUA têm “7 biliões de dólares de novas fábricas e outros investimentos a entrar nos Estados Unidos” em “apenas três meses”.

Confrontado com as críticas de que as tarifas penalizam as pequenas empresas, Trump referiu que “as pequenas empresas vão beneficiar ainda mais do que as grandes. Mas todos vão beneficiar”. O presidente garantiu que está disposto a analisar isenções caso a caso, mas insistiu que a prioridade é “tornar o país muito rico num curto espaço de tempo”.

Sobre a volatilidade dos mercados, desvalorizou os riscos. “O mercado oscila, mas vai estabilizar. O importante é que estamos a tomar medidas que nunca foram tomadas antes”.

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Protecionismo é caminho perigoso para famílias e empresas, alerta Lagarde

A presidente do BCE desafia os líderes mundiais a não cederem ao protecionismo, lembrando que as tensões comerciais só trazem mais custos e incerteza para todos.

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), deixou um aviso esta sexta-feira na 51.ª reunião do Comité Monetário e Financeiro do Fundo Monetário Internacional: a escalada das tensões comerciais está a lançar uma nuvem de incerteza sobre as perspetivas de inflação a nível mundial.

No decorrer da sua intervenção, Lagarde sublinhou que “o aumento das barreiras comerciais pode comprometer os esforços globais para controlar a inflação e estabilizar as economias”.

Num contexto em que os mercados financeiros respiram algum alívio após vários dias de turbulência, Lagarde fez questão de recordar que “a estabilidade de preços não pode ser dada como garantida num ambiente de crescente fragmentação económica”.

Para a líder do BCE, as recentes disputas comerciais entre grandes blocos económicos “têm o potencial de perturbar cadeias de abastecimento, encarecer matérias-primas e aumentar os custos para famílias e empresas”.

É fundamental que as principais economias resistam à tentação de erigir novas barreiras e trabalhem em conjunto para garantir a resiliência do sistema financeiro internacional.

Christine Lagarde

Presidente do BCE

Lagarde foi taxativa ao afirmar que “a intensificação das tensões comerciais está a complicar o trabalho dos bancos centrais”, sublinhando que “as perturbações nas cadeias de valor globais podem traduzir-se em choques de preços inesperados”.

O alerta de Lagarde ganha particular relevância numa altura em que a inflação, apesar de ter recuado dos máximos históricos, permanece acima dos objetivos em várias economias desenvolvidas.

A presidente do BCE apelou ainda a uma resposta coordenada entre países, defendendo que “num mundo cada vez mais interligado, o protecionismo é um jogo de soma negativa”.

Para Lagarde, “é fundamental que as principais economias resistam à tentação de erigir novas barreiras e trabalhem em conjunto para garantir a resiliência do sistema financeiro internacional”.

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Parlamento dividido entre cravos, luto e pré-campanha eleitoral

Entre elogios ao Papa Francisco e críticas ferozes ao Governo, a sessão solene do 25 de Abril expôs uma classe política em "guerra aberta" a um mês das legislativas.

No dia em que se assinalaram 51 anos da Revolução dos Cravos e 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal, a sessão solene no Parlamento foi marcada por fortes contrastes, que contou ainda com a aprovação por unânime de um voto de pesar pelo falecimento do Papa Francisco.

De um lado, as homenagens ao recém-falecido Papa Francisco uniram diversos quadrantes políticos e, do outro, as críticas ao adiamento das celebrações festivas pelo Governo transformaram a sessão num palco de tensão pré-eleitoral, com acusações mútuas a menos de um mês das legislativas de 18 de maio.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, encerrou o seu último discurso como chefe de Estado nas comemorações do 25 de Abril traçando um paralelo entre o legado do Papa Francisco e os valores da Revolução dos Cravos. “O que é que têm a ver os factos, os problemas e o modo de Francisco de com eles lidar com o 25 de Abril? Tudo, tudo!”, afirmou, sublinhando que ambos partilham princípios fundamentais.

A sessão revelou uma classe política dividida não só pela ideologia, mas também pela forma de homenagear simultaneamente o 25 de Abril e o Papa Francisco, num contexto pré-eleitoral.

Marcelo Rebelo de Sousa destacou a necessidade de “radical humildade”, evocando o exemplo do Papa: “25 de Abril sempre? Sim, se com incessante busca dos valores. O pleno e descomplexado abraço a todas as pessoas e a atenção a todas as coisas. E na radical humildade com que Francisco viveu e nos ensinou a viver”.

José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, recordou o Papa Francisco como um “amigo de Portugal”, lembrando as duas visitas ao país e a nomeação de quatro cardeais portugueses. O presidente do Parlamento destacou que o Papa “apoiou os pobres entre os mais pobres” e foi um símbolo da “amizade social, fraternidade universal e ecologia integral”.

No plano político, Aguiar-Branco apelou à superação das divisões, defendendo que “o povo deseja estabilidade política” e que “os políticos não podem ser meros comentadores da realidade, como se não tivessem o poder para alterar o estado de coisas”, num momento em que Portugal se prepara para as terceiras eleições legislativas em quatro anos.

Críticas ao Governo à esquerda e à direita

Os partidos de esquerda convergiram nas críticas ao Governo pela decisão de adiar algumas celebrações do 25 de Abril devido ao luto nacional pela morte do Papa Francisco. Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, foi contundente: “Não podemos aceitar que um Governo decida que o 25 de Abril é uma data descartável que se pode celebrar noutra data qualquer”.

Pedro Nuno Santos, líder do PS, acusou o Executivo de ter cometido um “erro grosseiro” ao adiar as celebrações, afirmando que “hoje o povo sai à rua enquanto o Governo fica à janela”, numa clara crítica à ausência do Governo nas festividades públicas.

Isabel Mendes Lopes, do Livre, reforçou a mesma ideia, notando que “a celebração do 25 de Abril não se cancela, não se adia. A liberdade não se festeja com reservas”, evocou a deputada. O PCP, pela voz de António Filipe, reconheceu o papel do Papa no “diálogo pela tolerância e a favor da paz”, mas não deixou de reafirmar a importância de celebrar as conquistas de Abril.

Nos partidos que apoiam o Governo, Teresa Morais, do PSD, centrou-se nas imperfeições da democracia, afirmando que “a democracia que temos é imperfeita” e defendendo que “temos de conseguir fazer melhor e vamos fazer melhor” em áreas como a igualdade de género e o combate à violência doméstica.

Paulo Núncio, do CDS, evocou não só o 25 de Abril, mas também o 25 de Novembro, afirmando que “em abril ganhámos a Liberdade, em novembro evitámos perdê-la”, apelando ainda à estabilidade num momento pré-eleitoral.

André Ventura, do Chega, manteve o tom crítico habitual, afirmando que “mostramos às pessoas que estamos em festa, mas às pessoas a vida não permite que estejam em festa”, lamentando que Portugal viva hoje “um dos piores momentos de acesso à habitação”.

Rui Rocha, do Iniciativa Liberal, reconheceu os avanços dos últimos 50 anos, mas salientou que “também é verdade que ainda temos um longo caminho a percorrer”, apontando desafios na saúde, habitação e educação.

Inês Sousa Real, do PAN, resumiu o sentimento de muitos portugueses: “Os portugueses estão cansados da instabilidade política”, mas insistiu que “é urgente celebrar Abril e a esperança da democracia”.

A sessão revelou uma classe política dividida não só pela ideologia, mas também pela forma de homenagear simultaneamente o 25 de Abril e o Papa Francisco, num contexto pré-eleitoral que amplificou as divergências e transformou a celebração da liberdade num prelúdio da campanha que se avizinha.

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SATA rejeita acusação de “falhas graves” apontada por sindicato de pilotos

A administração da companhia aérea açoreana afirma que "não se revê" nas críticas apontadas pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil.

A administração da SATA não se revê nas críticas do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), que esta quinta-feira emitiu um comunicado onde afirma existirem “falhas graves e recorrentes na operação da SATA Azores Airlines”.

“Respeitamos a opinião expressa pelo SPAC, embora a administração não se reveja nas críticas apresentadas”, afirma a companhia aérea em resposta ao ECO.

O sindicato afirmou que as falhas têm “impacto direto na segurança operacional, no desperdício de recursos públicos e na confiança dos trabalhadores e passageiros”, apontando como exemplos a “desorganização no planeamento de tripulações, a gestão deficiente de slots e a crescente dependência de aeronaves e tripulações ACMI [em regime de aluguer externo à companhia]”.

A SATA responde que tem “implementado medidas concretas no âmbito do plano de sustentabilidade, como a redução de duas aeronaves ACMI (Aircraft, Crew, Maintenance, and Insurance) do planeamento operacional”. Uma decisão que diz refletir um “compromisso com a eficiência e a otimização de recursos, bem como, com a necessidade de cumprir com o plano de reestruturação da Comissão Europeia que impõe uma redução da frota da Azores Airlines”.

Acrescenta ainda que voltou a recorrer ao ACMI exclusivamente devido a incidentes fora do seu controlo, “como colisões com aves (birdstrikes) em Ponta Delgada e problemas no handling das aeronaves”. “Estes eventos, alheios à nossa operação, têm sido geridos com rigor, e estamos a trabalhar para sermos inclusivamente ressarcidos pelos danos causados”, assegura.

O SPAC criticou ainda “a nomeação para cargos de chefia e outras funções técnicas, nas Operações de Voo e Direção de Treino e Formação, sem critérios objetivos e transparentes”, que dão lugar “a perceções de favorecimento e nepotismo que minam a confiança na liderança interna”.

“Relativamente aos nossos profissionais, reafirmamos com total convicção que contamos com uma equipa composta pelos melhores e mais competentes colaboradores em todas as áreas da companhia. O seu profissionalismo é um dos pilares da Azores Airlines e um fator essencial para a qualidade do serviço que prestamos aos nossos passageiros”, responde a SATA. “Sabemos que as expectativas são elevadas, porém, mudanças significativas exigem tempo e planeamento cuidadoso, garantindo decisões sólidas que priorizem a segurança e a excelência operacional”, acrescenta.

O processo de privatização da Azores Airlines continua a decorrer, tendo sido ‘ressuscitado’ em março com a entrada de Carlos Tavares, antigo CEO do grupo Stellantis, e do empresário Paulo Pereira da Silva no único agrupamento selecionado pelo júri, o Newtour/MS Aviation, embora com reservas. O preço oferecido foi também revisto em alta para 15,2 milhões.

O sindicato afirmou ainda que “a ausência, até ao momento, da publicação das contas consolidadas de 2024 apenas adensa as dúvidas sobre a real situação financeira da empresa e fragiliza a transparência do processo, com consequências imprevisíveis e indesejáveis”. Sobre este ponto a SATA não se pronunciou.

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China acelera estímulos para travar impacto das tarifas dos EUA

  • Lusa
  • 25 Abril 2025

Pequim avança com o maior pacote de estímulos em décadas, numa tentativa ousada de travar a tempestade comercial com os EUA e impulsionar a economia chinesa.

A liderança do Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou esta sexta-feira novas medidas para estabilizar e dinamizar a economia do país, numa tentativa de atenuar os efeitos da guerra comercial com os EUA.

Após uma reunião dedicada à análise da conjuntura económica, o Politburo do Comité Central do PCC reconheceu que, perante o “aumento do impacto de choques externos”, o Governo chinês vai “coordenar os esforços da economia interna com os desafios do comércio internacional”.

Embora sem mencionar diretamente os EUA, o mais alto órgão de decisão política da China referia-se às recentes tensões comerciais com Washington, que resultaram na imposição mútua de tarifas superiores a 100%.

O Politburo destacou a necessidade de “consolidar ainda mais as bases para uma recuperação económica sustentada” e sublinhou a importância de promover o consumo de serviços, reforçando o papel do consumo interno como motor do crescimento económico, segundo um comunicado divulgado pela agência noticiosa oficial Xinhua.

Desde o início da guerra comercial desencadeada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, muitas empresas chinesas voltaram-se para o mercado interno, na tentativa de mitigar os efeitos das tarifas impostas pelos EUA. No entanto, persistem dúvidas quanto à viabilidade desta estratégia, face à fraca procura interna — um dos principais entraves à retoma da segunda maior economia mundial.

Nesse contexto, o órgão político prometeu, embora sem avançar pormenores, um aumento dos rendimentos dos grupos de rendimentos médio e baixo.

Pequim voltou a exigir que Washington “deixe de exercer pressão” e mostre “respeito” caso queira, de facto, resolver os conflitos comerciais através do diálogo.

Nos últimos anos, Pequim tem evitado recorrer a pacotes de estímulo mais agressivos, procurando não repetir os níveis de inflação registados nas economias ocidentais após a pandemia. Esta contenção justifica-se pela elevada dívida pública e pela resistência do Presidente da China, Xi Jinping, ao que considera ser um modelo de “assistencialismo”.

O Politburo, composto por 24 membros e presidido por Xi, garantiu que vai “gerir com firmeza os assuntos nacionais”, aprofundar uma “abertura de alto nível” e reforçar a implementação de políticas macroeconómicas “mais proativas e eficazes”.

Entre as medidas avançadas estão o apoio à inovação científica e tecnológica, o estímulo ao consumo e a estabilização do comércio externo. Para isso, será aplicada uma política fiscal ativa e uma política monetária “moderadamente acomodatícia”.

Já no final de 2024, as autoridades tinham sinalizado uma mudança para uma orientação monetária “moderadamente flexível”, rompendo com 14 anos de postura “prudente”.

Paralelamente, foi anunciado que haverá uma redução das taxas de juro “no momento oportuno”. A mais recente ocorreu em outubro, quando o Banco Popular da China cortou a taxa de juro de referência em 25 pontos base, de 3,35% para 3,1%.

A reunião do Politburo surge numa altura em que Donald Trump se mostrou otimista quanto à possibilidade de um novo acordo comercial entre os Estados Unidos e a China.

Entretanto, Pequim voltou a exigir que Washington “deixe de exercer pressão” e mostre “respeito” caso queira, de facto, resolver os conflitos comerciais através do diálogo. As autoridades chinesas negaram, contudo, que estejam atualmente a decorrer negociações formais entre as duas potências.

Ainda assim, órgãos de comunicação chineses e internacionais têm noticiado possíveis isenções e suspensões de tarifas sobre determinados produtos norte-americanos por parte da China — sinais que poderão indiciar um possível alívio nas tensões.

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“O povo deseja estabilidade política”, alerta Aguiar-Branco

  • ECO
  • 25 Abril 2025

Em ambiente solene, o Parlamento honra o Papa Francisco e festeja meio século de democracia, com os olhos postos nas eleições legislativas de 18 de maio e no futuro do país.

No dia em que se assinalam 51 anos das primeiras eleições livres em Portugal, José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, destacou a importância do gesto de todos os portugueses que, há mais de meio século, saíram à rua para votar.

O presidente do Parlamento lamentou ainda o imobilismo que sente no país e na Europa, defendendo que “os políticos não podem ser meros comentadores da realidade, como se não tivessem o poder para alterar o estado de coisas. Não são meros espetadores, são construtores da realidade”, e que “o povo deseja estabilidade política”.

A sessão desta sexta-feira do Parlamento conta com discursos dos representantes dos partidos com assento parlamentar, do presidente da Assembleia da República e do Presidente da República, sendo acompanhada com particular atenção pelo contexto político atual. Revela as principais intervenções no liveblog do ECO.

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Marcelo a pedir aplausos para o PCP, analfabetos a votar e milionários improváveis. As primeiras eleições livres foram há 50 anos

Quando faltam 23 dias para as Legislativas antecipadas de 18 de maio, cumprem-se 50 anos das eleições que levaram a São Bento os primeiros 250 deputados eleitos livremente e em sufrágio universal.

“Votai, mas votai com consciência. Não nos envergonhará a falta de cultura política, porque até essa sempre nos foi negada e escamoteada”. O apelo ao voto de Francisco da Costa Gomes, Presidente da República de setembro de 1974 a junho de 1976, assinalava a necessidade de chamar os portugueses a um momento novo das suas vidas.

As eleições que viriam a decorrer a 25 de abril de 1975 cumprem-se nesta sexta-feira 50 anos, eram as primeiras livres, por sufrágio direto e universal. A idade era o determinante do direito de voto e acabavam-se exceções como a da iliteracia. Estava dado o passo para a criação da Assembleia Constituinte, cuja função era a elaboração da Constituição da República Portuguesa.

A televisão era um meio privilegiado para as autoridades, enquanto no terreno se destacavam as ações dos partidos políticos. Como aquela em que Marcelo Rebelo de Sousa, membro do Partido Popular Democrático — PPD, com ainda era designado o atual PSD –, foi a Grândola e, perante uma sala cheia e hostil, pediu uma salva de palmas para o PCP, pelo trabalho dos comunistas na instauração de uma democracia. A sala explodiu num aplauso.

Marcelo conquistou o direito a falar do programa do PPD, recorda ao ECO Helena Roseta, então candidata a deputada na Constituinte por este partido (do qual se viria a desvincular uma década depois, aquando do apoio a Mário Soares para as Presidenciais de 1986).

Havia curiosidade enorme das pessoas, toda a gente aparecia nas sessões. As pessoas estavam a ver o país mudar e queriam ser parte da história. É uma coisa que não há hoje. O país acordou para a democracia com curiosidade de experimentar. Não havia tanto cinismo. Valorizava-se muito a ideia de que todos temos direito à opinião.

Helena Roseta

Deputada eleita para a Assembleia Constituinte pelo PPD

Naqueles tempos verdadeiramente excecionais, a realidade era bem distinta da atual, desde logo nas contas dos partidos. O CDS apresentava receitas de 1.781 contos (cerca de 9.000 euros) na campanha, valor aproximado aos 1.483 contos (quase 7.500 euros) do MDP/CDE.

O PS, partido que sairia vencedor, apresentou, segundo os números da Comissão Nacional de Eleições, cerca de 11.200 contos (cerca de 55 mil euros), o PPD ficou em cerca de um terço (3 mil contos) e, surpreendentemente, o PCP apresentava receitas superiores a 7 mil contos (35 mil euros), mais do dobro do PPD.

Enquanto o PS se destacava no capítulo das “contribuições pecuniárias para campanha eleitoral” e “produtos de venda de artigos de propaganda”, ambas as dotações acima de 5 mil contos (25 mil euros), o PCP brilhava nos fundos próprios, com mais de 4 mil contos (20 mil euros).

A corrida eleitoral exigia esforços máximos para conquistar uma população que nunca votara em liberdade. “Havia curiosidade enorme das pessoas, toda a gente aparecia nas sessões de esclarecimento. As pessoas estavam a ver o país mudar e queriam ser parte da história. É uma coisa que não há hoje. O país acordou para a democracia com curiosidade de experimentar. Não havia tanto cinismo. Valorizava-se muito a ideia de que todos temos direito à opinião”, diz aquela que foi uma das 19 mulheres eleitas a 25 de abril de 1975.

Íamos fazer sessões para sítios onde havia hostilidade ao PPD, como no Alentejo, mas não tenho memória de andar com segurança”, diz Roseta. Aqueles eram tempos de “certa inocência, com muita curiosidade antes das eleições” e com “menos malícia e cinismo nas sessões” de esclarecimento.

Foi precisamente numa delas que Pedro Roseta, seu marido e também ele eleito para a Constituinte a 25 de abril de 1975, acompanhou Marcelo Rebelo de Sousa a Grândola. “Nas sessões de esclarecimento, um pequeno grupo aparecia para provocar, mas não era uma situação generalizada. Tínhamos de sair com grandes tiradas da mesa para virar a questão”. De todas as chapeladas orais, recorda precisamente a do atual Presidente da República.

“Uma das pessoas que era perita nisso era o Marcelo. Há uma célebre sessão em Grândola, pouco depois do 25 de abril. O PPD era considerado um partido fascista. Chegaram a Grândola o Marcelo e o Pedro, num café havia folhetos com um esqueleto e morte ao PPD”, descreve. O Marcelo diz ‘quero começar por fazer homenagem aos que durante 48 anos lutaram, peço uma salva de palmas para o PCP'”. A plateia correspondeu. “É o caso mais óbvio de virar um auditório”, realça.

Uma das pessoas que era perita nisso era o Marcelo. Há uma célebre sessão em Grândola, pouco depois do 25 de abril. O PPD era considerado um partido fascista. Chegaram a Grândola o Marcelo e o Pedro, num café havia folhetos com um esqueleto e morte ao PPD”, descreve. O Marcelo diz ‘quero começar por fazer homenagem aos que durante 48 anos lutaram, peço uma salva de palmas para o PCP.

Helena Roseta

Deputada eleita para a Assembleia Constituinte pelo PPD

“O país estava armado até aos dentes, o risco de guerra civil era real”, recorda Helena Roseta. “Havia militantes que levavam pancada e ficavam magoados”, recorda.

Era este o ambiente com que o país seguia para eleições, uma decisão do Movimento das Forças Armadas que Álvaro Cunhal chegou a tentar travar em 1974, conta ao ECO Carlos Brito, histórico do PCP e um dos deputados eleitos para a Constituinte.

Com uma parte do espetro político dominado por “caciques reacionários”, o PCP sentia que “o povo não podia votar em liberdade”, diz Carlos Brito. “Certa esquerda propunha eleições adiadas até ser resolvida a questão. A partir de determinada altura, o Álvaro Cunhal vai junto do Vasco Gonçalves tentar o adiamento. A resposta foi determinante”, recorda Carlos Brito: “a data da eleição é um compromisso de honra dos militares e como tal vai ser cumprido”.

Certa esquerda propunha eleições adiadas até ser resolvida a questão [do condicionamento dos eleitores por uma ala da esquerda]. A partir de determinada altura, o Álvaro Cunhal vai junto do Vasco Gonçalves tentar o adiamento. A resposta foi determinante

Carlos Brito

Deputado eleito para a Assembleia Constituinte pelo PCP

Efetivamente, na RTP, a 17 de dezembro de 1974, passava o filme do Movimento das Forças Armadas (MFA) em que o então aspirante José Nuno Martins explicava o processo de recenseamento eleitoral. “Meio de expressão da vontade popular” e “uma arma do povo”, assim era destacada a importância do voto a uma população com taxa de analfabetismo a rondar os 25%, anos-luz dos 3% de 2021, segundo números da Pordata.

“Sem que o povo possa exprimir a sua opinião, sem que o povo possa criticar as autoridades, sem que o povo possa dizer quais são as suas necessidades, em suma, sem que o povo escolha as suas autoridades, não há Governo que seja efetivamente um Governo democrático”, versava então o MFA.

Privados de literacia para lerem o nome dos partidos, os símbolos de cada um eram a marca que as comissões de esclarecimento incutiam, aponta Helena Roseta — ainda que, cinco décadas passadas, ainda tenha havido quem, em 2024, confundisse AD com ADN, segundo alegou a coligação nas legislativas de há um ano.

De 1926 até à revolução de 25 de abril de 1974, o Parlamento era monocolor, apenas com a União Nacional, partido único da ditadura, que seria renomeado Acção Parlamentar com Marcelo Caetano, o líder do regime que caiu a 25 de abril de 1974.

No referido programa na RTP, o MFA apontava eleições para a Constituinte para março e um universo eleitoral que quintuplicava de um milhão de votantes para cinco milhões. Na realidade, as eleições seriam proteladas para 25 de abril de 1975, a pedido dos partidos que pretendiam mais tempo para preparar o ato eleitoral, recapitula Helena Roseta.

Da campanha iniciada em março, Carlos Brito recorda um “entusiasmo que na presente campanha eleitoral não há”. O histórico comunista recorda o “sentimento de vitória” do momento do voto.

Chegados a 25 de abril de 1975, sobrava a ansiedade pelos resultados, recorda Helena Roseta. “Já nem me lembro de onde votei. O PPD tinha ido a jogo sem líder, O Sá Carneiro estava doente no estrangeiro”, conta. “O Magalhães Mota não tinha metade do impacto do Sá Carneiro”, acentua, e “toda a comunicação social estava dominada pelo PCP, estatizada”, com a liderança do Diário de Notícias e do seu diretor-adjunto José Saramago — futuro Nobel da Literatura –, relembra.

A vontade de mudança, a curiosidade, ou outros motivos quaisquer, levaram a uma participação superior a 90%, a mais alta de sempre em eleições livres em Portugal. “Naquele momento, as pessoas queriam escolher”, afirma Helena Roseta. Há exatamente 50 anos, “a festa estava na rua, a poesia estava na rua”.

Veio o resultado (mais de 30 horas depois, segundo a RTP) e o sucesso do PCP que alguns esperavam e outros temiam, não se confirmava. Vitória do PS, com 37,9%, que leh valeram 116 dos 250 deputados que então foram eleitos. Seguiu-se o PPD, com 26,4% e 81 deputados, mais do dobro dos 30 deputados e 12% do PCP.

“O PPD em segundo lugar, ninguém queria acreditar”, diz a deputada da Constituinte, eleita junto de mais 80 colegas de partido.

A Assembleia Constituinte contaria ainda seis deputados para o CDS, cinco para o MDP/CDE, um para a Associação de Defesa dos Interesses de Macau (só mais de 20 anos depois Portugal entrego aquele território à China) e outro para a UDP. Este era “intratável, um esquerdista incapaz de dialogar”, recorda Carlos Brito, ex-dirigente do Partido Comunista.

Helena Roseta, por seu lado, fala numa “linha mais radical que defendia as Forças Armadas. A UDP não acreditava muito na democracia parlamentar”, diz. O país passava a estar representado no seu todo na Assembleia, com distribuição de deputados por círculos eleitorais segundo o método de Hondt. Ao longo destes 50 anos, várias alterações foram introduzidas na distribuição, desde logo com introdução dos círculos fora de Portugal (ver tabela).

Apurados os resultados, a Assembleia Constituinte começou a trabalhar às 16h12 de 2 de junho de 1975. “A história, juiz implacável, dirá um dia se fomos ou não capazes de desempenhar cabalmente a missão que o eleitorado nos atribuiu nessa grande e inesquecível jornada cívica que foi o 25 de abril de 1975”, dizia então o presidente interino da Assembleia Constituinte, Henrique de Barros, na sessão inaugural do primeiro parlamento eleito em período democrático.

Ao contrário de hoje, não havia desconfiança para com os políticos, mas o mesmo não se podia dizer relativamente a militares, explica Helena Roseta: “todo o trabalho de preparação das eleições é feito com um Governo provisório, que não era Governo eleito. Não se desconfiava dos partidos enquanto tal. A desconfiança aparece de não se cumprir o que se promete”. Dos seus primeiros meses enquanto deputada da Constituinte, dá como exemplo das dificuldades o baixo salário dos deputados e os atrasos nos vencimentos.

O início da Constituinte foi marcado por “muita oratória”, recorda Carlos Brito, em que já existiam os apartes que hoje motivam tanta contestação por alegadas intervenções atentatórias da honra de deputados, mas estes eram políticos, e não pessoais, recorda o ex-deputado da Constituinte. Ainda assim, “os deputados estavam muitos períodos em roda livre. Os principais chefes estavam envolvidos numa certa posição da barganha do dia-a-dia”, desfia. “A certa altura, os deputados compenetraram-se na missão histórica que lhes estava confiada e começou a elaboração do texto constitucional”.

A certa altura, os deputados compenetraram-se na missão histórica que lhes estava confiada e começou a elaboração do texto constitucional.

Carlos Brito

Deputado eleito à Assembleia Constituinte pelo PCP

A votação e aprovação da Constituição da República Portuguesa, documento para o qual foi constituída a Assembleia eleita a 25 de abril de 1975, acabaria por acontecer um ano depois. A 2 de abril de 1976, a Constituição foi aprovada, iniciando um percurso de reconhecido sucesso, já com 49 anos de vida, durante os quais se registaram sete revisões constitucionais. Destas, as duas primeiras, em 1982 e 1989, significaram, como pontos mais relevantes, a extinção do Conselho da Revolução e criação do Tribunal Constitucional, e o fim da proibição de reversão das nacionalizações.

Carlos Brito recorda-se de o Presidente da República, Costa Gomes, se deslocar de Belém para São Bento, de forma a assinar o diploma ali aprovado. “Coisa extraordinária. O Presidente da República sair de Belém para evitar que a conspiração progredisse”.

“O Álvaro Cunhal não queria acreditar. Não tinha depositado confiança política naquela Assembleia Constituinte”. Mas o líder histórico do PCP viria a tornar-se grande defensor da Constituinte, assegura Carlos Brito, enaltecendo o trabalho de Mário Soares e do PS no texto constitucional.

A opor-se esteve, assegura o comunista, Francisco Sá Carneiro, que, ainda antes da votação, terá vociferado “isto é uma constituição marxista”. Ainda assim, recorda, apesar desta alegada vontade do líder, “os deputados do PPD estiveram envolvidíssimos na Constituição. O Vital Moreira e o Jorge Miranda destacaram-se como defensores. Isolaram o Sá Carneiro”, assegura.

Pelo meio, os 250 deputados iniciais da democracia portuguesa enfrentaram o Verão Quente, período de forte agitação social, política e militar, de que resultaram, por exemplo, as nacionalizações, o cerco de 36 horas à Assembleia da República a 12 de novembro, e o 25 de novembro, dia em que o país esteve próximo da guerra civil.

Há exatamente 49 anos, com a Constituição da República Portuguesa já aprovada, decorreriam as primeiras eleições para a Assembleia da República, com nova vitória do PS, com 35% dos votos e 107 deputados, entre 263 eleitos. Seguiram-se PPD, com 24,3%e 73 deputados, CDS, com 16% e 42 eleitos, PCP, com 14,4% e 40 assentos e a UDP, um dos partidos que viriam a dar lugar ao Bloco de Esquerda mais de 20 anos depois, com um deputado único.

As regiões autónomas iriam a votos também em 1976, mas a 27 de junho, dia em que também é eleito o Presidente da República Ramalho Eanes, único, neste período de 49 anos, vindo do setor militar. Finalmente, a 12 de dezembro, há autárquicas. O processo eleitoral livre por sufrágio universal, iniciado há 50 anos, estava definitivamente implementado. A 19 de julho de 1987 seria altura de eleger, pela primeira vez, deputados portugueses ao Parlamento Europeu.

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