FMI arranca com avaliação exaustiva ao sistema financeiro português. Último exame foi há 20 anos

Vinte anos depois, o FMI volta a avaliar o sistema financeiro português. O processo arrancou esta semana, com as primeiras reuniões, e deverá estar concluído em junho de 2026.

O logótipo do Fundo Monetário NacionalLusa

O FMI iniciou esta semana com o Programa de Avaliação do Setor Financeiro, uma análise exaustiva ao sistema bancário e não bancário português que inclui a identificação de vulnerabilidades, testes de stress perante situações de crise e um exame completo à supervisão. O relatório final só estará concluído em 2026 e incluirá recomendações. Portugal passou a integrar o grupo de países de importância sistémica e será avaliado de cinco em cinco anos.

O exercício tem à cabeça o Banco de Portugal, mas abrange também a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e o Ministério das Finanças. Serão ainda envolvidas outras entidades, como a Comissão de Coordenação de Políticas de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo, a Associação Portuguesa de Bancos e as instituições financeiras.

As primeiras reuniões com a missão do FMI ocorreram na quarta-feira e prolongam-se até segunda-feira, apurou o ECO junto de fontes ligadas ao processo, com o objetivo de definir o âmbito do exercício de avaliação, em função das especificidades do sistema português.

O Programa de Avaliação do Setor Financeiro (FSAP, na sigla em inglês) em Portugal deverá focar alguns dos temas que estão a ser analisados na avaliação que o FMI está a fazer da Zona Euro, como a monitorização do risco sistémico nas instituições bancárias e não bancárias, a interconectividade, o contágio e riscos relacionados com questões geopolíticas, a cibersegurança, a transmissão da política monetária, os custos de financiamento, o crescimento do crédito ou a liquidez.

No caso de Portugal, o FMI prestará especial atenção à exposição da banca ao imobiliário, que representa 25% do valor do ativo do setor, e cujos preços são considerados sobreaquecidos. No Relatório de Estabilidade Financeira divulgado a semana passada, o Banco de Portugal assinala a “exposição relevante” ao imobiliário, mas considerou que “a concretização de uma conjuntura adversa deverá ter um impacto limitado no mercado”.

O FSAP está organizado em três pilares: avaliação do risco e vulnerabilidades, políticas para a estabilidade financeira e supervisão micro e macroprudencial e redes de proteção financeira, onde é analisada a capacidade do sistema para garantir a estabilidade numa situação de crise. Neste âmbito serão realizados testes de stress com base nos modelos do FMI, para aferir o impacto de choques extremos e a interação entre entidades de supervisão em situações de crise.

Única avaliação a Portugal foi realizada em 2005 e 2006

Definido o âmbito da avaliação, o FMI enviará questionários extensos às diferentes entidades, que desde o ano passado têm equipas a reunir informação. As respostas terão de ser remetidas nos próximos meses, estando agendada nova visita da missão a Portugal em novembro, para uma discussão do trabalho intermédio já realizado. Para fevereiro de 2026 está prevista uma terceira visita, devendo o processo encerrar em junho.

Será produzido um extenso relatório Aide Memoire, que terá caráter confidencial, sendo apenas partilhado com as entidades oficiais, e que incluirá recomendações de melhoria do sistema elaboradas com base na análise. Os documentos finais têm de ser aprovados pelo conselho de administração do FMI, presidido por Kristalina Georgieva.

Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMIFMI

Haverá também um conjunto de notas técnicas, que são ou não tornadas públicas em função da sensibilidade da informação incluída. Será ainda redigido o Financial System Stability Assesment, uma espécie de sumário, que, por regra, é divulgado publicamente.

Portugal passou a estar entre os países que o FMI avalia como podendo representar um risco sistémico, passando a ter avaliações ao sistema financeiro de cinco em cinco anos. Um grupo onde estão os países da Europa ocidental, os EUA, o Canadá, a Rússia e a China.

O FSAP foi instituído em 1999, na sequência da crise financeira asiática de 1997 e 1998, com o objetivo aferir a estabilidade e solidez do sistema financeiro e o seu contributo para o desenvolvimento económico.

A única avaliação feita a Portugal até à data teve lugar entre 2005 e 2006. Na altura, o país passou no exame com distinção. O FMI considerou que o sistema financeiro era “robusto, bem gerido e competitivo”. Os testes de stress levaram à conclusão de que “as vulnerabilidades de curto prazo estavam contidas”, assinalando-se, no entanto, que os bancos estavam demasiado expostos ao risco das participações acionistas dos seus fundos de pensões (o que anos mais tarde viria a gerar perdas, por exemplo, no BCP).

No médio prazo, o FMI alertava para o aumento da dívida das empresas e famílias (em especial ao imobiliário) que poderiam “tornar-se um importante risco, sobretudo se as condições económicas continuarem fracas”. Um receio que acabaria por se materializar com a crise da dívida soberana e o resgate da troika, em março de 2011, onde estava incluído… o FMI.

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César propõe Delgado Alves para lider parlamentar do PS de forma interina

  • Lusa
  • 29 Maio 2025

O deputado Pedro Delgado Alves deve assumir a liderança parlamentar socialista de forma interina até à eleição do secretário-geral socialista.

O presidente do PS, Carlos César, vai propor que o deputado Pedro Delgado Alves assuma a liderança parlamentar socialista de forma interina até à eleição do secretário-geral, adiantaram à Lusa fontes do partido.

Esta proposta foi anunciada por Carlos César numa reunião do Secretariado Nacional do PS, que decorre na noite desta quinta-feira, segundo confirmaram à Lusa fontes socialistas.

Esta tarde, à saída da audiência com o Presidente da República, o presidente do PS disse já tinha tomado uma decisão em relação à liderança parlamentar socialista e que a iria transmitir ao Secretariado Nacional de hoje, escusando-se então a avançar nomes ou um perfil.

“É uma matéria sobre a qual também já tomei uma decisão, que vou transmitir hoje ao Secretariado Nacional do Partido, e no dia 3 de manhã ao Grupo Parlamentar, e que não me parece difícil nem polémica de tomar”, apontou. Carlos César – que assumiu de forma interina a liderança do PS após a demissão de Pedro Nuno Santos – referiu que a seu tempo iria comunicar a sua decisão, sobretudo “depois de hoje ainda falar com o Secretariado Nacional, que se mantém em funções”.

Questionado sobre o perfil, Carlos César considerou que isso “é muito rebuscado”.

“Além disso, o perfil de que me estou a lembrar da pessoa, poderia caber num número vasto de pessoas, portanto, induziria certamente o meu amigo em engano, e não estou disposto a fazer isso”, respondeu.

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António Costa espera que acordo entre UE e Mercosul seja concluído até dezembro

  • Lusa
  • 29 Maio 2025

"É um prazo muito curto. Mas vamos tentar fazer acontecer", disse ainda o presidente do Conselho Europeu.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, disse esta quinta-feira que espera que a assinatura do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul ocorra até dezembro.

Costa, que participou da abertura da primeira edição do Fórum de Investimentos Brasil e União Europeia, disse numa conferência de imprensa em São Paulo que o acordo comercial entre os dois blocos poderá ser assinado numa cimeira do Mercosul, que acontecerá em dezembro na cidade de Brasília. “É um prazo muito curto. Mas vamos tentar fazer acontecer”, acrescentou.

Na abertura do fórum de investimentos, Costa disse que há um sinal claro de que europeus e brasileiros não se resignam “à incerteza da geopolítica que há no mundo de hoje” e considerou que o evento realizado no Brasil “espelha um bom momento de confiança bilateral porque procura consolidar as (…) relações económicas como uma base sólida”.

“O acordo com o Mercosul, que tem o Brasil em destaque, representa economias vibrantes, com recursos humanos modificados e infraestruturas e setores estratégicos para as transições energéticas e digitais”, explicou Costa. “É este potencial agregado que o acordo UE-Mercosul representa, uma integração de grandes economias geradoras de novas oportunidades de investimento, fluxos comerciais, crescimento partilhado e prosperidades para os nossos cidadãos europeus”, defendeu.

Se aprovado pelos Estados-membros dos dois blocos, o acordo comercial entre europeus e sul-americanos consolidará a maior zona de comércio livre à escala global, representando mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e beneficiando 720 milhões de cidadãos.

Costa afirmou que ao eliminar 90% das tarifas aduaneiras, o acordo pode reformar as duas regiões como epicentro geoeconómico do comércio e dos investimentos globais. E salientou que o Governo do Brasil estima que as exportações do país para a Europa possam crescer 10% no espaço de quatro anos, fruto do desagravamento aduaneiro de mais de 240 produtos.

De forma mais abrangente, o impacto do crescimento das trocas comerciais está estimado acima de 30% até 2035, com efeito estabilizador das regras da economia global em tempos de disputa das suas virtudes e de tentativas unilaterais e protecionistas”, afirmou o Presidente do Conselho Europeu.

Costa também considerou que a confirmação do acordo será, por isso, um fator de mudança para as economias europeias e sul-americanas, mas “também uma mensagem muito importante (…) para o mundo”. A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, as empresas europeias são as maiores investidoras estrangeiras no país e a Europa é o primeiro destino do investimento brasileiro no exterior.

A realidade tão próxima, de acordo com o presidente do Conselho Europeu, traduziu-se num crescimento de 65% no comércio bilateral dos europeus com o Brasil nos últimos cinco anos. “A União Europeia é o principal destino de investimentos brasileiros no estrangeiro e representa 35% do total de investimento direto estrangeiro do Brasil. A União Europeia é ainda o segundo maior destino de produtos manufaturados brasileiros”, acrescentou.

“A nossa agenda comum inspira qual deve ser a nossa prioridade. Aquilo que é a transição energética, a transição digital, o combate às alterações climáticas devem ser motores da nossa competitividade, do nosso investimento, da nossa cooperação tecnológica e do nosso desenvolvimento”, concluiu.

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Um presidente “diferente”, “estável”, que respeita a “separação de poderes” e “longe das pressões”. As promessas de Gouveia e Melo para Belém

Candidato presidencial lança oficialmente a candidatura à Presidência da República e promete respeitar "a separação de poderes" e manter em mente que um Presidente "não governa".

Um Presidente da República que “respeitará os partidos” e a separação de poderes”, com um perfil “diferente” e “estável”, que usa a palavra com parcimónia. É este o estilo que Henrique Gouveia e Melo promete aos portugueses levar ao Palácio de Belém caso seja eleito para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa, defendendo que “está na hora de cumprir, de reformar, de realizar”.

“Acredito que agora, mais do que nunca, precisamos de um Presidente diferente. Um Presidente capaz de unir portugueses, de motivar e dar sentido à esperança, capaz de ser consciência e exemplo, de ajudar a mudar aquilo que há tanto tempo precisa de ser mudado”, afirmou Henrique Gouveia e Melo durante a apresentação da candidatura a Belém, na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.

Uma apresentação que começou com cerca de uma hora de atraso, para que o evento não coincidisse com as declarações de Luís Montenegro no final de tarde em que foi indigitado primeiro-ministro. O Almirante, nascido em novembro de 1960 em Moçambique, filho de pai advogado e mãe professora, entrou na sala perto das 20 horas, ao som de uma música dramática. Antes disso, as cadeiras da sala em Alcântara apetrechadas com bandeiras com a inscrição “Gouveia e Melo Presidente” rapidamente foram ocupadas, deixando muitos apoiantes de pé.

Henrique Gouveia e Melo na apresentação da candidatura à Presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

Ao longo de um discurso de cerca de vinte minutos, Gouveia e Melo justificou a decisão de se lançar a Belém com as “nuvens carregadas de incerteza e de perigo no horizonte”.

As democracias são atacadas de fora e corroídas por dentro. Portugal não está imune, nem isolado numa redoma protetora. São claros os sinais de cansaço, desânimo e desencanto na nossa jovem democracia“, afirmou.

O candidato a Belém clamou o seu percurso para defender que tem “a experiência de quem liderou em momentos difíceis“: “Estive sempre onde o país me chamou: comandei missões exigentes nas Forças Armadas, estive com as populações em Pedrogão, no meio das cinzas e da dor. Coordenei, com muitos, a campanha de vacinação contra a Covid-19”.

Uma trajetória recordada pelo vídeo de lançamento da campanha, transmitido antes de Gouveia e Melo subir ao palco e que finalizou com o slogan “Por todos, com todos, unir Portugal”. Nesta linha, compromete-se em ser um “Presidente estável, confiável e atento, acima de disputadas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu”.

Um Presidente que não seja um mero espetador da vida política, mas que interpele e exija quando necessário, pois representa todo o povo. Que seja faça ouvir, usando da palavra com contenção, com substância e com propriedade. Este será, porventura, o seu maior poder”, advogou.

Henrique Gouveia e Melo na apresentação da candidatura à Presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

As funções e as “más decisões” que travam o país

Gouveia e Melo garante que, caso seja eleito nas presidenciais do próximo ano, irá cumprir “as funções que a Constituição” lhe confia. São, no seu entender, defender a independência nacional, garantir o funcionamento das instituições, ser árbitro e moderador, promover a coesão nacional – que “é mais do que território, é pertença, é entidade”.

Serei um Presidente que respeitará os partidos, pilares fundamentais da democracia, assim como a separação de poderes, tendo sempre em mente que o Presidente da República não governa“, vincou.

Evocando o passado histórico dos portugueses, defendeu a capacidade do país para enfrentar adversidades, mas considerou que os perigos não são somente externos”.

O que verdadeiramente nos trava não vem de fora. Está cá dentro. São as más decisões, as não decisões. O adiar permanentemente o futuro. A falta de coragem para fazer o que tem de ser feito. Parece que estamos condenados a uma lógica de ciclos curtos, quando o país pede transformação”, argumenta.

Henrique Gouveia e Melo reconheceu que o país apresenta fragilidades, tais como “uma pobreza estrutural, uma economia frágil”, mas também “uma justiça lenta, desigual e distante”, para logo em seguida pedir ação. “Não estamos condenados a falhar, a ser pequenos. Não temos de ser pobres“, disse.

Henrique Gouveia e Melo na apresentação da candidatura à Presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

Os jovens, os mais velhos e a defesa

Gouveia e Melo afirma querer um país onde os jovens “tenham futuro”, “os mais velhos descansem com dignidade”, “onde ninguém seja pobre por destino ou falta de oportunidade” e onde a “saúde, habitação, educação sejam direitos e não privilégios”. Ademais, uma economia “mais competitiva” e “mais produtiva”, que só assim permite “manter o Estado Social e combater as desigualdades”.

“É estratégico apostar na tecnologia, na inovação, na transformação digital, no ciberespaço. Também precisamos de reformar a Administração Pública e a Justiça, de descentralizar, sem fragmentar, de olhar para as ilhas, para o interior e para a diáspora”, aponta, acrescentando a importância de “garantir saúde a todos, em tempo e qualidade”, “educar” e “encontrar soluções para a habitação que permitam uma vida digna”.

Mas deixa ainda uma palavra sobre a Defesa, que defende dever ser “moderna, sólida e tranquila, sem alarmismos, mas também sem ingenuidades”

Em 14 de maio, Gouveia e Melo desfez o tabu e, em declarações à Rádio Renascença, anunciou que a decisão de candidatura estava tomada. “Não há dúvidas. Vou ser mesmo candidato”, afirmou. O timing do anúncio, em plena campanha para as eleições legislativas, levou a críticas de figuras da esquerda à direita.

Isaltino aposta que pessoas “querem um Presidente eventualmente mais austero”

O presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, um dos presentes para apoiar Gouveia e Melo defendeu que o percurso de agora oficialmente candidato presidencial não é “meramente” de tarefas administrativas e que tem o perfil que os eleitores procuram após os mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa.

“Tenho uma relação antiga com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas diria que as pessoas estão fartas dele. É uma pessoa extraordinária mas digamos que exagerou. Falou muito, por tudo e por nada. As pessoas estão cansadas do perfil de Marcelo Rebelo de Sousa”, afirmou Isaltino Morais, em declarações aos jornalistas à entrada para o evento.

Isaltino Morais na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

Para Isaltino, os eleitores “querem um Presidente eventualmente mais austero, que de alguma forma seja mais previsível”.

Além do presidente da Câmara de Oeiras, na plateia, entre outros, estavam o ex-ministro social-democrata da Administração Interna Ângelo Correia, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz, os antigos líderes do CDS-PP José Ribeiro e Castro e Francisco Rodrigues dos Santos, o empresário Mário Ferreira e a constitucionalista Teresa Violante.

José Ribeiro e Castro, ex-presidente do CDS-PP, na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO
Mário Ferreira na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO
Fernando Negrão na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

(Notícia atualizada às 20h57)

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Apagão. “Violência foi de tal ordem que era impossível estancar na fronteira”, avança REN

  • Lusa
  • 29 Maio 2025

"A dimensão do problema é que foi de tal ordem violenta que não existem medidas mitigadoras possíveis para estancar na fronteira", disse o administrador executivo da REN, João Conceição.

O administrador executivo da REN, João Conceição, não tem dúvidas que todo o setor fez bem o trabalho de casa, mas detalhou esta quinta-feira que dados mostram que o apagão que teve origem em Espanha era impossível de travar na fronteira.

Um mês depois do incidente que cortou o fornecimento de eletricidade em Portugal e Espanha, João Conceição assegurou que já têm mais informações do que as que são públicas. Porém, considera que “não seria correto” partilhar tendo em conta que existem várias investigações em curso.

O gestor falava no seminário “Segurança de Abastecimento em Portugal”, que decorreu em Lisboa, no âmbito do Dia Mundial de Energia. No entanto, adiantou que há um facto que já pode confirmar: “Teve origem em Espanha”. Além disso, o administrador da gestora das redes elétricas nacionais avançou com mais detalhes técnicos para sustentar que os sistemas de deslastre – interrupção de alimentação de alguns consumos para evitar a sobrecarga do sistema – funcionaram.

“A dimensão do problema é que foi de tal ordem violenta que não existem medidas mitigadoras possíveis para estancar na fronteira”, referiu. Por isso, “dá-se o apagão”, acrescentou. Mas olhando para trás, João Conceição não tem dúvidas de que a REN fez o trabalho de casa que tinha a fazer, e não foi a única. “O setor todo fez”, destacou.

Na quarta-feira, 28 de maio, a REN – Redes Energéticas Nacionais e a E-Redes entregaram ao regulador do setor (ERSE) o relatório sobre o apagão elétrico de 28 de abril, tendo ambas pedido que seja considerado “evento excecional”. A classificação do evento poderá ser determinante para o eventual pagamento de indemnizações. Se for considerado excecional, a obrigação de indemnizar os consumidores poderá ser atenuada ou mesmo anulada.

Durante o seminário, João Conceição lembrou ainda que o setor “complexificou-se de uma forma bastante expressiva e tornou-se bastante mais democrático”.

“Hoje toda a gente consegue ser consumidor e produtor de energia, o que significa que estamos numa fase da transição energética crucial”, referiu, acrescentando que é preciso continuar este caminho para garantir até “que não haja novos apagões”. Para complementar as necessidades de reforço da segurança da rede, é ainda “imprescindível o desenvolvimento de soluções de armazenamento não só em termos técnicos, mas também económicos e de mercado”, disse.

Já o diretor da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), Paulo Carmona, comentou que o recente apagão “serviu como um teste muito importante para a resiliência do sistema elétrico” e para ver se os blackstart funcionavam”.

Na sequência do apagão foram ativadas centrais com capacidade autónoma de arranque (blackstart), como as de Castelo de Bode e Tapada do Outeiro. A ERSE já determinou à REN a contratação de mais duas centrais com essa capacidade – Baixo Sabor e Alqueva – que deverão entrar em funcionamento a partir de 01 de janeiro de 2026.

Foi um “check up” para nos prepararmos para um evento realmente mau como uma sabotagem”, acrescentou o responsável da DGEG. Por fim, a E-Redes destacou que o tempo de reposição da energia “foi muito bom tendo em conta padrões internacionais”. José Ferrari Careto contou ainda que no dia do apagão a empresa responsável pela distribuição da energia tinha 600 pessoas no terreno caso fosse necessário.

O apagão causou interrupções significativas no fornecimento de eletricidade em Portugal, Espanha e partes da França. As investigações preliminares apontam para uma perda súbita de geração de energia solar como possível causa, mas as conclusões definitivas ainda estão pendentes.

A Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade está a investigar as causas deste apagão, que classificou como excecional e grave. Este painel de peritos terá de elaborar um relatório factual que servirá de base ao relatório final, a concluir até 28 de outubro deste ano.

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“Revisão constitucional não é uma prioridade”, diz Montenegro

Montenegro avisou que "a revisão constitucional não é uma prioridade" e rejeitou dar preferência a Chega ou PS. Vai "dialogar com todas as forças políticas", mas sabe que tem mais "maturidade".

Luís Montenegro foi ouvido esta quinta-feira pelo Presidente da República, saiu por meia hora e voltou a Belém para ser indigitado. À saída, acabado ser reconduzido no cargo de primeiro-ministro, começou por declarar aos jornalistas que, “nos próximo dias, se irá dedicar à tarefa de formar Governo”, salientando que ainda não há calendário definido para a tomada de posse. O Chefe de Estado gostaria que acontecesse já a 6 de junho, antes do feriado de Dia de Portugal (10 de junho).

Depois de lembrar que a AD saiu “reforçada” das últimas eleições, com mais de dois milhões de votos e 91 deputados, indicou que “o Governo vai dar sequência ao trabalho que veio realizando”. “Estamos absolutamente focados em dar resposta às principais preocupações dos portugueses”, salientou.

E depois enumerou as prioridades do Executivo que iniciou na legislatura anterior e que às dará agora continuidade: “Criação de riqueza, aumentar os rendimentos do trabalhadores, dos pensionistas, a capacidade da nossas empresas para poderem alavancar novos investimentos, termos os recursos para estimular maior capacidade de resposta nos serviços públicos, transformais o SNS, dar qualidade e exigência à escola pública, executar o plano de investimento público no setor da habitação, dar regulação e dignidade no setor da imigração, reforçar o policiamento de proximidade, apostar numa política fiscal como um dos fatores de retenção do nosso capital humano, em particular os mais jovens”.

Montenegro aproveitou ainda para calar uma polémica que se foi instalando nas últimas semanas, desde que a IL anunciou que iria propor uma alteração à Constituição. “A revisão constitucional não é uma prioridade do Governo. Temos como prioridade o crescimento da economia, o reforço dos rendimentos dos portugueses, no reforço da capacidade na saúde, edução, habitação, segurança e, lá mais para a frente, poderemos discutir esse assunto”, esclareceu. E acrescentou: “Não estamos disponíveis para alimentar essa discussão nesta fase”.

O chefe do Executivo reconheceu que ainda tem “uma maioria relativa na Assembleia da República”, ou seja, precisa de Chega ou PS para ter condições de governabilidade. No entanto, rejeitou dar preferência a uma e a outra força política, sendo certo que ambas já garantiram que iriam viabilizar o programa do Governo.

Não vamos celebrar nenhum acordo permanente de governação nem de incidência parlamentar com nenhuma força, vamos dialogar com todas as forças políticas na procura das melhores soluções governativas e contamos com todos”, defendeu.

“Não excluímos ninguém. A nossa prioridade é a vida de cada português. Haverá todo o tipo de contactos formais e informais para que, no fim, os portugueses fiquem a ganhar. Não vale a pena teorizar para dividir o país, quando o país pede para nos unir, é essa responsabilidade do Governo”, insistiu. Mas depois reconheceu que sabe quem tem “maior capacidade de denotar maturidade política”, e essa é uma qualidade que tem dito faltar ao Chega. Ou seja, o caminho parece apontar mais para um diálogo com o PS.

E rematou: “Os nossos parceiros são os portugueses. Vamos concentrar a nossa ação no nosso programa do Governo e convocamos todos os portugueses e os outros partidos nomeadamente os que têm representação parlamentar e os que têm mais expressão parlamentar“. Neste último caso, Montenegro referia-se a Chega e PS.

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Empresas agrícolas do sudoeste alentejano querem residência coletiva para trabalhadores

  • Lusa
  • 29 Maio 2025

"Há uma intenção” de se tentar "replicar" no Sudoeste alentejano "o exemplo espanhol” da Residência Tariquejo, em Cartaya, na província de Huelva, região da Andaluzia.

A associação que representa empresas hortofrutícolas do sudoeste alentejano quer criar na região de Odemira, no distrito de Beja, uma residência coletiva para trabalhadores imigrantes temporários, inspirada em projetos existentes em Espanha.

O presidente da AHSA – Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores do Sudoeste Alentejano, Luís Mesquita Dias, revelou esta quinta-feira à agência Lusa que “há uma intenção” da entidade “de tentar ajudar a replicar na região o exemplo espanhol” da Residência Tariquejo, em Cartaya, na província de Huelva, região da Andaluzia.

“Foram sondadas algumas empresas locais e julgamos que vamos encontrar parceiros interessados e disponibilidade por parte da autarquia” de Odemira, afiançou Luís Mesquita Dias. O presidente da AHSA falava à Lusa no final do colóquio “Regadio e Alojamento: Fatores Críticos de Sucesso em Odemira”, que a entidade que lidera promoveu no Cineteatro Camacho Costa, naquela vila alentejana.

No âmbito da iniciativa, intervieram, através de videoconferência, dois dos responsáveis da Tariquejo – Residencia Para Trabajadores Temporeros, construída num terreno cedido pelo município de Cartaya e detida por uma cooperativa de 11 empresas agrícolas, que tiveram apoio do Governo. Há uns meses, num debate na Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), em Beja, já tinha sido apresentado este projeto como exemplo de boas práticas.

Mais recentemente, a EDIA promoveu uma visita à residência espanhola, em que participaram representantes de empresas, de municípios e de outras instituições do Alentejo. Luís Mesquita Dias conhece no terreno o projeto espanhol e disse hoje à Lusa que “quando as coisas têm mérito e ajudam a resolver problemas” é preciso “replicá-las no território”.

“Não é preciso fazer uma réplica exata do que os espanhóis fizeram. Temos é que pegar nessas boas ideias e, depois, tentar ter, da parte das autoridades locais, a abertura que tiveram em Espanha e que aqui nem sempre se encontra”, alertou. No caso de Odemira, a AHSA tem vindo a “aproximar posições com o presidente da câmara”, Hélder Guerreiro.

A residência da Tariquejo, fundada em 2010, é um edifício construído em alvenaria, situado num complexo no qual têm sido adicionadas, ao longo do tempo, mais algumas casas e também contentores, constatou a Lusa, numa visita há algum tempo ao local. Os quartos têm duas a três camas, casa de banho, zona de refeição, frigorífico, máquinas de lavar. Os imigrantes podem frequentar cursos de castelhano e outras formações e existem, espalhadas pelo edifício, indicações no seu idioma de origem e em espanhol.

O modelo assenta na contratação de trabalhadores imigrantes na origem, sobretudo mulheres marroquinas ou homens da América do Sul, que ficam em zonas separadas do complexo. A quantidade de trabalhadores é indicada pelas empresas antes de cada campanha agrícola e solicitada às suas organizações representativas e, a seguir, autorizada pelo Governo.

Os contratos são assinados na origem, os voos são pagos aos imigrantes e, no final da campanha, regressam aos seus países de origem, sendo que, a maioria, volta a Espanha no ano seguinte, segundo os responsáveis da cooperativa. A residência tem uma equipa multidisciplinar que acompanha os imigrantes e o transporte de e para as empresas é garantido por cada uma delas. O transporte para a localidade mais próxima, assim como para consultas no serviço de saúde, entre outros, é disponibilizado pela cooperativa.

A intenção de avançar com uma residência coletiva seria mais uma solução para alojar trabalhadores imigrantes na zona do sudoeste alentejano, a juntar aos já existentes arrendamento nos aglomerados urbanos e Instalações de Alojamento Temporário Amovíveis (IATA) nas explorações.

“Neste momento, há IATAS que dão para mais de 2.000 pessoas e há ainda mais mil e tal em construção e legalização”, revelou Luís Mesquita Dias, frisando que é “manifestamente pouco” para as necessidades das empresas e lamentando a “morosidade do processo”.

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Construtora Conduril passa de lucros a prejuízos de 28,4 milhões de euros em 2024

Construtora da família Amorim Martins confirma “ano difícil” em que “pela primeira vez a rentabilidade foi significativamente abalada”. Pedido “reequilíbrio financeiro” à IP na Linha da Beira Alta.

A Conduril registou prejuízos de 28,4 milhões de euros no ano passado, que comparam com os lucros de 2,3 milhões em 2023 e de 7,3 milhões em 2022. No mais recente relatório e contas, a construtora confirma que “os últimos dois anos evidenciam uma tendência de quebra da rentabilidade e o acumular de várias situações circunstanciais e transitórias, não tendo sido possível a sua inversão” no último exercício.

“Em 65 anos de existência, o grupo Conduril pode orgulhar-se da robustez dos seus indicadores económico-financeiros que lhe permitiram ter músculo para enfrentar as situações mais adversas. Porém, o ano de 2024 foi um ano particularmente difícil e pela primeira vez a rentabilidade foi significativamente abalada”, escreve a empresa de Ermesinde (Valongo) no documento enviado esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Num ano em que viu o volume de negócios voltar a baixar mais de 32% para 124 milhões de euros, a construtora liderada por Benedita Amorim Martins reporta igualmente uma subida de 175% da dívida líquida, para 66,9 milhões de euros.

A autonomia financeira baixou de 49% para 40% e o rácio de solvabilidade deslizou de 98% para 66% no ano passado, em que o número médio de empregados foi de 2.637, menos 115 do que em 2023.

Ainda assim, o grupo nortenho assinala que “apesar da quebra ao nível dos resultados, que impactou diretamente o capital próprio, continua a apresentar indicadores de balanço sólidos, que bem demonstram a sua notável história ao longo da qual é inevitável enfrentar ciclos mais favoráveis e outros menos”. Contudo, lê-se no mesmo documento, “não são os períodos de adversidade que definem a empresa, mas sim as estratégias adotadas e a resiliência demonstrada para os superar”.

Com sucursais em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Zâmbia, Malawi e Marrocos, a Conduril contabiliza que o volume de obras em carteira ascende a 1.200 milhões de euros, “o maior de sempre”. Destaca em Portugal a linha de Alta Velocidade (troço Porto – Oiã), em que integra o consórcio LusoLav liderado pela Mota-Engil e que inclui também a Teixeira Duarte, Casais, Alves Ribeiro e Gabriel Couto; e em Angola as 186 pontes metálicas nas 21 províncias deste país africano.

Por outro lado, avança que as dificuldades sentidas no último ano obrigaram a uma “reflexão interna profunda e global, abrangendo não só o seu modo de atuar como também a sua estrutura e organização interna”. Em particular, diz ter iniciado uma remodelação do parque de equipamento – adequando-o ao tipo de projetos em carteira e alienando algum equipamento específico utilizado nas obras terminadas – e a “reestruturação de vários departamentos internos”, sem detalhar.

No que toca à situação financeira, a empresa assume que foi obrigada a um aumento dos financiamentos, mas garante que “através de um planeamento estratégico rigoroso e de uma gestão financeira prudente, os esforços encetados para ultrapassar e regularizar essas situações permitirão o escrupuloso cumprimento dos compromissos correntes assumidos”. Salienta ainda que prevê “retomar em breve os níveis normais de financiamento da empresa, mantendo a plenitude da sua estabilidade financeira”.

Pedido “reequilíbrio financeiro” à IP na Linha da Beira Alta

Entre as “situações” que contribuíram para estes resultados negativos, a Conduril começa por apontar o término das duas obras de referência executadas nos últimos anos (Barragem e Central Hidroelétrica do Alto Tâmega e a 3.ª fase da expansão do Molhe Leste do Porto de Sines), em conjugação com o que descreve como “constrangimentos das obras da ferrovia” em Portugal. Em particular, as empreitadas de modernização da linha da Beira Alta, criticando a Infraestruturas de Portugal (IP) pela “falta de colaboração incompreensível na resolução dos problemas com repercussão gritante na rentabilidade” destas obras.

No caso do troço Celorico – Guarda, cuja obra já se encontra totalmente realizada e em funcionamento, tendo sido até inaugurada em novembro do ano passado pelo ministro da tutela, Miguel Pinto Luz, a Conduril solicitou à IP o reequilíbrio financeiro do contrato. “As negociações decorrem há largos meses e apesar das dificuldades sentidas no entendimento da razão que assiste à Conduril, mantém-se a convicção que a empresa será ressarcida do prejuízo”, descreve.

Já no troço Cerdeira – Vilar Formoso, denuncia que a disrupção do faseamento construtivo linear previsto em fase de concurso obrigou à dispersão dos recursos, diminuição da dimensão das frentes de trabalho e aumento de microfases no processo construtivo da obra, provocando uma “forte quebra de produtividade em relação aos rendimentos normais e expectáveis”, traduzida numa maior permanência em obra dos meios de produção afetos aos trabalhos e, em consequência, na rentabilidade da empreitada.

“A Conduril solicitou o reequilíbrio financeiro, sendo que o dono de obra apenas concordou com parte do valor reclamado, obrigando a recorrer a Tribunal Administrativo, ação que se encontra em curso, com consciência do tempo que a justiça portuguesa demora na resolução deste tipo de processos. Além da ação judicial referida, continuam as negociações com a IP no sentido de ver ressarcidos os restantes prejuízos. Caso tal não ocorra, a Conduril ver-se-á obrigada a dar entrada com uma nova ação judicial”, detalha a empresa.

Luís Montenegro na adjudicação da primeira PPP da Alta Velocidade ao consórcio Lusolav.

No caso do projeto da Alta Velocidade, em que garante estar empenhada em conjunto com os parceiros nacionais do setor da construção, sublinha que “a complexidade e o esforço financeiro” exigidos no processo de candidatura são “muito significativos, sendo o desfasamento temporal da sua recuperação, se existir adjudicação da proposta entregue, algo que obriga a uma grande exigência financeira nesta fase”.

Também no segundo troço, o consórcio que junta as construtoras portuguesas foi o único concorrente, o que a Conduril diz ser “consequência da falta de adequação dos valores base dos concursos”. “Esta é uma realidade em que as entidades públicas insistem, valores base dos concursos irrealistas, obrigando as empresas a esforços desmedidos e insustentáveis para garantir a participação nos projetos, culminado muitas vezes na desertificação dos concursos”, critica.

Ainda em Portugal, outra situação que a construtora da família Amorim Martins diz continuar a causar “desgaste e constrangimentos financeiros intoleráveis” é o processo de arbitragem relativo à participação da Conduril na concessionária da subconcessão rodoviária Rotas do Algarve Litoral. Remonta a 2019 e ainda não se encontra concluído. Uma “delonga inaceitável quando as obras de requalificação da N125 se encontram em plena utilização desde 2017”.

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Mota-Engil conclui aquisição da Empresa Construtora Brasil

  • Lusa
  • 29 Maio 2025

A construtora comprou 50% da empresa sediada em Belo Horizonte e especializada em infraestruturas”. Valor da operação não foi divulgado.

O Grupo Mota-Engil concluiu a aquisição dos 50% que ainda não detinha na sua participada brasileira, a Empresa Construtora Brasil (ECB), depois de anunciar que tinha celebrado dois contratos com a Petrobras, por cerca de 490 milhões de euros.

Carlos Mota Santos, chairman e presidente executivo (CEO) do grupo Mota-Engil, em declarações enviadas à Lusa, confirmou que “foi concretizada esta semana a aquisição dos restantes 50% na Empresa Construtora Brasil (ECB), sediada em Belo Horizonte e especializada em infraestruturas”. O valor da operação não foi divulgado.

Segundo o gestor, “a transação agora concretizada resulta num reforço de investimento no Brasil após a entrada da Mota-Engil no capital da ECB no final de 2012, e que culminou num inequívoco crescimento da empresa durante este período, com expansão no território brasileiro bem como na integração de inovação e diversificação das suas atividades, sobretudo para o segmento de Oil & Gas” no qual o grupo pretende continuar a aprofundar a sua atividade de futuro.

“Neste novo ciclo procuraremos continuar a afirmar a ECB entre as melhores empresas brasileiras de Engenharia, elevando-a ao patamar do potencial do mercado em que muito acreditamos para futuro”, disse, destacando “planos de investimento público ambiciosos e transformadores”, os quais, defende, “serão determinantes para o desenvolvimento da economia brasileira”.

 

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Indústria seguradora deverá crescer acima do PIB na próxima década, prevê estudo da Allianz

  • ECO Seguros
  • 29 Maio 2025

O volume de negócios na Europa deverá aumentar impulsionado pelo investimento na defesa e infraestruturas e aumento do número de catástrofes naturais.

A indústria seguradora global deverá ter registado um crescimento de 8,6% em 2024 em termos homólogos, ultrapassando a subida registada no ano passado de 8,2%. Esta estimativa foi divulgada no relatório “Allianz Global Insurance Report 2025”. Somadas as seguradoras, o volume de prémios emitidos cresceu 557 mil milhões de euros, para 7 biliões de euros.

O seguro de Vida continua a ser o segmento mais importante com faturação de 2.902 milhões de euros, seguido do seguro de danos (2.424 milhões de euros) e seguro de saúde (1.682 milhões).

Já os seguros P&C cresceram 7,7% no ano passado, crescimento ligeiramente inferior ao registado em 2023 (8,3%). Crescimento esse impulsionado pelo maior mercado, da América do Norte, que regista mais de metade dos prémios, onde aumentaram 8,2%. Enquanto as receitas de prémios na Europa Ocidental aumentaram 6%, o mercado asiático foi menos dinâmico, crescendo apenas 4%

O seguro de vida foi também o que mais cresceu (10,4%) em 2024, mas ao contrário do que acontece nos seguros P&C, nestes, as quotas de mercado mundiais estão distribuídas uniformemente. A Ásia (incluindo o Japão e a China) lidera com mais de um terço dos prémios.

Quanto aos seguros de saúde, a procura é mais influenciada pela qualidade dos serviços públicos de saúde do que noutros segmentos. Globalmente, este segmento cresceu 7%, com maior incidência na Ásia revelando a baixa penetração destes seguros na região que é inferior a 1% em todos os mercados, com exceção de Taiwan.

“As incertezas geopolíticas e as tensões comerciais podem pesar sobre os volumes de seguros através de um crescimento económico mais fraco, do abrandamento do comércio e de riscos de crédito e de mercado mais elevados. Por outro lado, poderá também ser visível um efeito de proteção, uma vez que as empresas exigem mais soluções de gestão do risco neste ambiente incerto e de crise. A longo prazo, a fragmentação financeira e o enfraquecimento da cooperação internacional, nomeadamente em matéria de clima, cibersegurança ou preparação para pandemias, poderão aumentar o custo do seguro destes riscos”, indica o relatório.

O relatório conclui que as perspetivas de crescimento na Europa estão mais otimistas este ano, especialmente no ramo P&C. Considera que o aumento previsto do investimento na defesa e nas infraestruturas deverá ter um impacto positivo no setor dos seguros e que o aumento do número de catástrofes naturais vai levar a prémios mais elevados.

Os especialistas prevêem que os prémios de seguro europeu crescem 4,2%, um aumento de 0,6 pontos percentuais em relação à previsão anterior. Por outro lado, reduzem as previsões ligeiramente nos EUA e na Ásia nos seguros de responsabilidade civil. A nível global prevê uma taxa de crescimento de 5,3% anualmente nos próximos 10 anos, ligeiramente acima da produção económica. Em termos absolutos, o volume global de prémios crescerá 5 319 mil milhões de euros nos próximos dez anos.

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Investir na educação pode reduzir até 75% pobreza entre gerações

Um em cada quatro portugueses que cresceu com dificuldades financeiras mantém essa condição na idade adulta, alerta o Banco de Portugal, destacando a educação como chave para quebrar o ciclo vicioso.

Um em cada quatro portugueses que cresceu em famílias com dificuldades financeiras mantém essa condição na idade adulta, revela um estudo do Banco de Portugal publicado esta quinta-feira, que será incluído no Boletim Económico de junho.

As conclusões do estudo desenvolvido por Nuno Alves e Cristina Manteu confirmam aquilo que muitos sociólogos há muito suspeitavam: a pobreza e a privação material transmitem-se de pais para filhos como uma herança indesejada. Os números revelam que quem cresceu numa família com dificuldades financeiras tem uma probabilidade 13,7 pontos percentuais superior de viver em privação material na idade adulta.

O estudo teve por base os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) de 2023, analisou mais de 4.700 portugueses entre os 39 os 49 anos e conclui que “as pessoas que vivem em situação de pobreza ou de privação material e social durante a infância ou adolescência têm maior probabilidade de reviver essa situação na idade adulta”

A forte correlação entre educação e mobilidade social sugere que “a importância de políticas multidimensionais que intervenham desde o início do ciclo de vida dos indivíduos” deve estar no centro das preocupações dos decisores políticos.

A matemática da desigualdade é implacável. Segundo o estudo, mais de um quarto (25,8%) dos portugueses na faixa etária analisada (entre os 39 e 49 anos) reportaram ter vivido numa “má situação financeira” aos 14 anos. Mas o que torna estes dados verdadeiramente alarmantes é a forma como essas dificuldades se perpetuam.

Um português que teve uma boa situação financeira aos 14 anos apresenta apenas 5,8% de probabilidade de viver atualmente em privação material e social. Contudo, se a situação financeira na adolescência foi má, essa probabilidade dispara para 19,5%. A diferença – esses 13,7 pontos percentuais – representa aquilo que os investigadores designam como “persistência intergeracional da privação”.

No que toca ao risco de pobreza, o padrão mantém-se, ainda que com menor intensidade. Quem teve uma boa situação financeira na adolescência tem 12,5% de probabilidade de estar em risco de pobreza na idade adulta, percentagem que sobe para 19,2% no caso contrário. “A persistência intergeracional da pobreza ascende a 6,7 pontos percentuais”, conclui o estudo.

A chave para quebrar o ciclo está na educação

O estudo revela ainda o papel fundamental da educação como mecanismo de mobilidade social – ou, inversamente, como fator de perpetuação das desigualdades. “A educação desempenha o papel mais importante na redução da transmissão das circunstâncias passadas ao risco de privação ou pobreza (entre 70 a 75% da diminuição)”, destacam os investigadores.

A transmissão intergeracional da educação é, ela própria, um fenómeno preocupante. Quando a escolaridade máxima dos pais é o 9.º ano – situação que abrange 68% da amostra –, apenas 21,7% dos filhos completa o ensino superior. “Essa percentagem ascende a 57,9% quando os pais têm o ensino secundário e 79,7% quando têm o ensino superior”, revela o estudo.

Mas é quando se cruza a educação dos pais com a situação financeira da família que os dados se tornam ainda mais reveladores. Apenas 10,9% dos indivíduos cujos pais tinham no máximo o 9.º ano e que viviam com dificuldades financeiras conseguiu concluir o ensino superior, percentagem que sobe para 31,1% quando a situação financeira era boa.

Outras das conclusões mais significativas do estudo prende-se com a forma como as dificuldades financeiras da adolescência condicionam a vida adulta, mesmo depois de controlados outros fatores como educação e emprego. “Controlando para outros desenvolvimentos pessoais como a educação e o emprego, as dificuldades financeiras na adolescência continuam a condicionar a privação material e social na vida adulta”, mas curiosamente “deixam de ter um contributo direto no caso do risco de pobreza”.

Esta distinção não é meramente técnica. “Existe uma proporção significativa de indivíduos que se encontram em risco de pobreza sem viverem uma situação de privação material e social e vice-versa”, explicam os investigadores. Na amostra analisada, apenas 4,4% dos portugueses entre os 39 e os 49 anos vivia simultaneamente em risco de pobreza e em privação material e social1.

Quando comparado com outros países da União Europeia, Portugal ocupa “uma situação intermédia” na persistência intergeracional tanto da privação como do risco de pobreza, referem os dados do estudo do Banco de Portugal. Este posicionamento sugere que, embora o problema seja real e significativo, não estamos perante a pior situação europeia.

No entanto, o estudo mostra que “uma medida mais severa de dificuldades económicas aos 14 anos implica maior probabilidade de privação/pobreza em adulto”, sublinhando que as situações de maior fragilidade inicial tendem a produzir efeitos mais duradouros.

Mas os investigadores Nuno Alves e Cristina Manteu não se limitam a diagnosticar o problema. Deixam também pistas sobre possíveis soluções. “Compreender o grau e os mecanismos de transmissão da pobreza e privação entre gerações é importante para a definição de políticas que quebrem este ciclo de desvantagem intergeracional”, afirmam os autores.

A forte correlação entre educação e mobilidade social sugere que “a importância de políticas multidimensionais que intervenham desde o início do ciclo de vida dos indivíduos” deve estar no centro das preocupações dos decisores políticos.

O estudo vem assim confirmar aquilo que muitos especialistas em políticas sociais têm vindo a defender: quebrar o ciclo intergeracional da pobreza exige intervenção precoce, investimento em educação e políticas que não se limitem a tratar os sintomas, mas que ataquem as causas estruturais da perpetuação das desigualdades sociais.

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Porto tem novo “hub” de psicólogos para apoiar moderadores de conteúdos nas redes sociais

Concentrix lança novo serviço de apoio aos trabalhadores que exercem funções de moderação de conteúdos nas redes sociais. Hub do Porto conta com 15 psicólogos.

A norte-americana Concentrix Operation acaba de abrir um novo hub no Porto com psicólogos para dar apoio aos mais de 12 mil trabalhadores que exercem funções de moderação de conteúdos nas redes sociais.

“O aumento do volume de conteúdos que requerem mais moderação humana e a crescente complexidade dos mesmos levam a uma maior pressão psicológica sobre quem exerce este trabalho”, começa por explicar a multinacional, numa nota enviada esta quinta-feira às redações.

Perante este cenário, “a empresa criou um hub que oferece um serviço clínico personalizado, 24 horas, sete dias por semana e 365 dias por ano, realizado por profissionais altamente qualificados e com base em tecnologias inovadoras, algoritmos de bem-estar e programas de saúde mental”, é anunciado no comunicado.

No total, este novo serviço de apoio aos moderadores de conteúdos das redes sociais conta com 150 psicólogos. Destes, 15 vão atuar a partir do novo referido hub no Porto para “ajudar mais de 12 mil moderadores de conteúdo em oito países. “Além desta cidade, foi escolhida apenas uma outra – Manila – para este investimento do grupo de origem americana”, detalha a cotada, em comunicado.

“As funções de Trust & Safety são essenciais para manter um ambiente online seguro. Protegem os utilizadores de redes sociais, e várias outras plataformas, de conteúdos nocivos, abusivos e atividades fraudulentas. No entanto, as pessoas que fazem este tipo de trabalho são expostas diariamente a milhares de conteúdos complexos e sensíveis que podem afetar o seu bem-estar e saúde mental. O projeto Harmony tem como propósito combater os efeitos secundários que esta profissão pode ter nos colaboradores”, explica Serra Pittsa, global director of wellbeing in trust & safety na Concentrix.

Carlos Moreira é managing director da Concentrix em Portugal

Já Carlos Moreira, managing director da Concentrix em Portugal, explica que a decisão de implementar este hub no Porto “está relacionada com o elevado número de psicólogos qualificados que existem em Portugal, uma vez que a empresa precisava garantir o rigor na formação e serviço prestado para tantos países”.

Além deste hub, esta multinacional especializada em outsourcing e na prestação de serviços de apoio técnico ao cliente já emprega milhares de outros trabalhadores em Portugal: 5.500 empregados de 81 nacionalidades em Lisboa, Porto, Aveiro e Braga.

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