Cidadãos de 11 países europeus isentos de visto para a China. Como funciona a medida?
- Flávio Nunes
- 15 Março 2024
Pequim tem em curso uma "política experimental" que isenta de visto os cidadãos oriundos de um conjunto de países. Portugal é um dos poucos países da Europa Ocidental que não estão abrangidos.
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- Flávio Nunes
- 15 Março 2024
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O que é a política de isenção de vistos da China?
A China tem em curso um projeto-piloto que permite aos cidadãos oriundos de um conjunto de países a entrada e permanência temporária no país sem a necessidade de visto, desde que sejam titulares de passaporte comum. Há vários países europeus na lista, mas Portugal não faz parte.
Desde 1 de dezembro de 2023 que os cidadãos de França, Alemanha, Itália, Países Baixos e Espanha podem entrar na China sem obtenção prévia de visto. No passado dia 14 de março, a medida foi alargada a mais seis nações europeias: Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica e Luxemburgo.
De acordo com informações oficiais, o objetivo desta “política experimental” – e unilateral – é “promover o intercâmbio de pessoas entre a China e outros países”.
Mas, com este programa, a China também tenta facilitar as condições para os chineses que precisem de se deslocar ao estrangeiro. Por exemplo, a Hungria decidiu, em simultâneo, introduzir novos vistos para gestores executivos de empresas chinesas, válidos por cinco anos, permitindo várias entradas no país.
Proxima Pergunta: O que é permitido ao abrigo deste piloto?
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O que é permitido ao abrigo deste piloto?
A isenção de visto permite que os cidadãos titulares de passaporte comum oriundos dos países europeus abrangidos (França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica e Luxemburgo) entrem na China sem autorização prévia e aí permaneçam por um período máximo de 15 dias.
Estão isentas de visto as deslocações por “motivos de negócios, turismo, reagrupamento familiar e trânsito”, segundo a Embaixada da República Popular da China em Portugal.
Importa notar que cidadãos dos países abrangidos que não se enquadrem nas condições de isenção de visto continuam a ser obrigados a obter um visto para entrar na China.
Proxima Pergunta: A medida é permanente?
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A medida é permanente?
À partida, não. As autoridades chinesas referem-se sempre a esta política como sendo “experimental” e um “piloto”.
Está previsto que a isenção de visto para cidadãos daqueles países europeus (França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica e Luxemburgo) termine a 30 de novembro de 2024.
Proxima Pergunta: Porque é que Portugal não está incluído?
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Porque é que Portugal não está incluído?
Com o alargamento do programa a mais seis países europeus, Portugal passou a ser um dos poucos países da Europa Ocidental cujos cidadãos são obrigados a pedir um visto para poderem entrar na China, noticiou a Lusa esta sexta-feira.
À agência, o embaixador português em Pequim, Paulo Nascimento, disse “não entender” o critério para a não-inclusão de Portugal nesta política experimental: “Não acredito que haja aqui discriminação negativa, no sentido de dizer que a China está a fazer isso para sinalizar alguma coisa a Portugal, não acho que seja esse o caso. Mas não consigo entender o critério.”
As relações bilaterais entre a China e Portugal têm sido questionadas desde que, em maio do ano passado, o Estado português tomou a decisão de proibir as operadoras de telecomunicações de recorrerem a equipamentos e serviços de empresas chinesas como a Huawei e a ZTE no desenvolvimento do 5G, por as considerar de “alto risco” para a segurança nacional.
A implementação de restrições contra estas empresas tem sido defendida pela Comissão Europeia, mas a decisão portuguesa tem sido apontada como uma das mais restritivas em toda a União Europeia. A Huawei está a contestar em tribunal e, em junho de 2023, a Câmara de Comércio Luso-Chinesa veio avisar que a medida iria ter “consequências” nas “excelentes relações entre Portugal e a República Popular da China”.
Contudo, não é possível estabelecer uma relação de causa/efeito entre a não-isenção de visto e as restrições à Huawei, pois França e Bélgica beneficiam da isenção mas já tomaram medidas que limitam as operações da Huawei. Além disso, no caso da Alemanha, apesar de o país não as ter, o Governo já propôs medidas desse tipo.
Do lado de lá, a China tem importantes investimentos em Portugal. É o caso da posição de 21,01% na EDP, através da empresa estatal China Three Gorges. A título de exemplo, detém ainda 25% da REN através da State Grid Corporation of China e 32,41% da Mota-Engil através da CCCC.
Proxima Pergunta: Que tipos de vistos existem para entrar na China?
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Que tipos de vistos existem para entrar na China?
Os portugueses continuam a precisar de pedir visto para poderem entrar na China mas, desde 11 de dezembro de 2023, passaram a beneficiar de uma redução na taxa, que é agora de 45 euros.
Existem vários títulos de visto para a China, como o visto turístico (L), o visto de trabalho (Z) ou visto para atividades comerciais (M) e o visto de residência permanente (D). A lista completa e os requisitos podem ser consultados no site da embaixada.
Os vistos para viajar para a China podem ser pedidos através do portal Visa For China.
Proxima Pergunta: Portugal pode vir a fazer parte da lista?
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Portugal pode vir a fazer parte da lista?
Em princípio, não existe nenhum sinal de que Portugal não possa vir a ser incluído nesta política no futuro. Em conferências de imprensa recentes, porta-vozes do Governo chinês têm sido claros a sinalizar a intenção de facilitar as viagens de chineses para o estrangeiro, o que pode implicar também medidas no sentido inverso.
Questionado esta semana sobre a decisão da Hungria de introduzir novos vistos para executivos de empresas chinesas (ver resposta à primeira pergunta), um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês respondeu que “a China saúda mais medidas de facilitação de vistos para cidadãos chineses por parte de países relevantes, a fim de melhorar o intercâmbio entre pessoas e a cooperação mutuamente benéfica”.
À Lusa, o presidente do grupo empresarial PorCham, João Pedro Pereira, disse acreditar que a política de isenção de visto incluirá os portugueses num futuro próximo: “A informação que temos é que a tramitação processual desta questão vai também incluir Portugal”, disse à agência o líder do grupo com sede no sul da China, acrescentando que a “verificar-se, a inclusão será uma medida muito positiva para as empresas e empresários portugueses”.