Mpox volta a ser emergência global de saúde. O que já se sabe sobre o novo surto?
- Rafael Ascensão
- 16 Agosto 2024
Pela segunda vez desde 2022, a OMS declarou o surto de mpox em África como emergência global de saúde. Já há casos confirmados em vários países, incluindo na UE. Veja aqui o que precisa de saber.
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- Rafael Ascensão
- 16 Agosto 2024
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O que é a mpox?
É o nome dado à infeção por vírus Monkeypox (VMPX). A “varíola dos macacos” é uma doença viral que se propaga dos animais para os seres humanos.
O Mpox foi descoberto pela primeira vez em seres humanos em 1970, na atual República Democrática do Congo (antigo Zaire), com a propagação do subtipo clade I (do qual a nova variante é uma mutação), que desde então tem estado principalmente confinado a países da África Ocidental e Central, onde os doentes são geralmente infetados por animais.
Esta é a segunda vez em dois anos que a doença infecciosa é considerada uma potencial ameaça para a saúde internacional, um alerta que foi inicialmente levantado em maio do ano passado, depois de a sua propagação ter sido contida e a situação ter sido considerada sob controlo.
A OMS declarou um alerta máximo em julho de 2022 em resposta a este surto mundial, mas levantou-o menos de um ano depois, em maio de 2023. A epidemia causou cerca de 140 mortes num total estimado de 90.000 casos.
Esta quarta-feira, e pela segunda vez, a OMS declarou assim a doença uma emergência global de saúde, o seu nível de alerta mais elevado, com mais de 500 mortes confirmadas, apelando para ajuda internacional para travar a disseminação do vírus.
Proxima Pergunta: Quais os sintomas?
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Quais os sintomas?
A mpox causa sintomas semelhantes aos da gripe (febre, dores de cabeça, cansaço e dores musculares) e lesões cheias de pus. Ao contrário de surtos anteriores, em que as lesões eram visíveis sobretudo no peito, mãos e pés, a nova estirpe causa sintomas moderados e lesões nos órgãos genitais, tornando-o mais difícil de identificar. Por norma, os sintomas duram entre duas a quatro semanas.
Crianças, mulheres grávidas e pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos, como aquelas que têm VIH, apresentam um maior risco de desenvolver complicações.
Proxima Pergunta: Como se transmite?
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Como se transmite?
A transmissão humana de vírus Monkeypox pode ocorrer através de pele não íntegra (pequenas abrasões da pele e das mucosas) e das mucosas ocular, nasal, oral, genital e anal. A nova variante pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, sem necessidade de contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022.
Geralmente, a transmissão verifica-se por contacto próximo, especialmente face-a-face sem proteção adequada, e no contexto de relações que impliquem contacto íntimo e prolongado bem como através do contacto com objetos contaminados por uma pessoa infetada, como vestuário, roupas de cama ou utensílios e objetos de uso pessoal.
Sendo mais difícil de identificar a mpox com esta nova estirpe, as pessoas podem infetar terceiros sem saber que estão infetadas.
Proxima Pergunta: Quem é considerado caso suspeito de infeção?
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Quem é considerado caso suspeito de infeção?
É considerado um caso suspeito de infeção, segundo o SNS, quem tenha estado em contacto, nos últimos 21 dias antes do início dos sintomas, de um caso provável ou confirmado de infeção pelo vírus e que apresente um ou mais dos seguintes sintomas: febre de início súbito (≥38,0ºC), fraqueza, dor muscular, dor de costas, dor de cabeça.
É ainda passível de suspeita de infeção uma pessoa que apresente erupções cutâneas vermelhas e/ou queixas anogenitais (incluindo úlceras), de início súbito.
Proxima Pergunta: O que fazer em caso de sintomas ou suspeita de infeção?
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O que fazer em caso de sintomas ou suspeita de infeção?
Deve-se ligar para o SNS 24. Caso seja necessária a deslocação a uma unidade de saúde, o doente deverá utilizar máscara facial e cobrir o mais possível as lesões.
Perante um caso suspeito, provável ou confirmado, é emitido o certificado de incapacidade temporária (CIT) para o trabalho pelo médico, sendo recomendada a adoção de diversas medidas como o isolamento domiciliário e distanciamento físico, evitar contactos físicos próximos e, em caso de coabitação, a não permanência no mesmo espaço com crianças pequenas, grávidas e pessoas imunodeprimidas. As medidas de isolamento de caso suspeito ou confirmado devem ser mantidas até queda das crostas de todas as lesões, que se estima ocorrer entre 2 a 4 semanas.
É ainda aconselhável a higienização frequente das mãos, a não partilha de objetos e utensílios de uso pessoal e superfícies do espaço doméstico, lavar o vestuário e têxteis com água quente e detergente (quando possível, numa máquina de lavar a mais de 60⁰ C e utilizando um ciclo de lavagem prolongado), limpar as superfícies duras com detergentes com cloro e deixar secar ao ar e alertar as pessoas com quem se tenha tido contacto próximo desde o início dos sintomas.
Proxima Pergunta: Há casos em Portugal? Em que países já foi detetada a nova variante?
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Há casos em Portugal? Em que países já foi detetada a nova variante?
O surto que surgiu na República Democrática do Congo alastrou-se para outros países vizinhos africanos como o Ruanda, Uganda, Burundi e Quénia. Entretanto foi detetado um caso no Paquistão e outro na Suécia, sendo que o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) considerou ser “altamente provável” que a União Europeia importe mais casos.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) já esclareceu que nenhum dos casos de monkeypox (mpox) reportados em Portugal é da variante mais perigosa da doença (clade I). Segundo a DGS, entre 1 de junho de 2023 e 31 de julho de 2024, foram reportados em Portugal 244 casos de mpox. Entre maio e julho de 2024 foram reportados três novos casos.
Proxima Pergunta: Qual o tratamento?
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Qual o tratamento?
A maioria dos casos de doença requer apenas cuidados leves como beber muitos líquidos e, caso necessário, tomar medicamentos para alívio de sintomas como a dor e a febre. Nos casos mais graves, pode ser necessário o internamento hospitalar.
A vacinação destina-se apenas a “grupos com risco acrescido por infeção humana pelo vírus Monkeypox, em contexto de vacinação preventiva”, segundo o SNS. São ainda elegíveis para vacinação “as pessoas que tenham tido contacto próximo com um caso confirmado de infeção”.
Proxima Pergunta: Há vacinas atualmente disponíveis?
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Há vacinas atualmente disponíveis?
De acordo com a OMS, existe atualmente meio milhão de uma das duas vacinas que foram desenvolvidas em processos rápidos contra o Mpox, podendo ser produzidas mais 2,5 milhões de doses no próximo ano. A Comissão Europeia já anunciou que vai doar mais de 170 mil vacinas para fazer face à epidemia que foi declarada em África.
A farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, que fabrica uma das vacinas contra a mpox (a única comercializada) anunciou esta sexta-feira ter pedido à Agência Europeia de Medicamentos que alargasse a utilização do seu soro a adolescentes dos 12 aos 17 anos.
Na quinta-feira, a Bavarian Nordic disse que estava pronta para produzir até 10 milhões de doses de vacinas até 2025. A empresa farmacêutica tem, neste momento, cerca de 500 mil doses armazenadas.
Embora não tenham sido revelados quais os países que já têm doses desta vacina, a OMS refere que há “promessas” de doações para África.
Um segundo tipo de vacina foi produzido em nome do Japão, mas não foi comercializado, sendo que a OMS espera que o país também o possa partilhar.