O verde está a espalhar-se pelo mercado de dívida. O que são as green bonds?
- Leonor Mateus Ferreira
- 26 Janeiro 2020
As obrigações verdes atingiram, no ano passado, o montante recorde de 255 mil milhões de dólares. A crescer 50% ao ano, este mercado centra-se na União Europeia e Portugal não está a ficar à margem.
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- Leonor Mateus Ferreira
- 26 Janeiro 2020
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O que é uma obrigação verde?
Green bonds ou obrigações verdes são títulos de dívida especificamente emitidos para financiar projetos relacionados com clima ou ambiente. É o caso da eficiência energética, prevenção de poluição, agricultura sustentável, proteção da vida marítima, entre muitos outros.
Para entrarem nesta categoria, os ativos têm de cumprir quatro critérios: o uso do encaixe financeiro é o principal, sendo que deverão financiar projetos com claros benefícios ambientais explícitos na documentação legal exigida. Em simultâneo, há ainda que alinhar com objetivos de sustentabilidade, seguir um processo interno formal de aplicação dos fundos e ainda reportar anualmente o desempenho quantitativo e qualitativo do emitente.
Proxima Pergunta: O que é o greenwashing?
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O que é o greenwashing?
Apesar de o foco serem as receitas da emissão e a gestão do emitente, o reporte é especialmente importante para garantir que os projetos são credíveis e não se limitam a ações de marketing ou greenwashing. Ou seja, o uso indevido do selo verde sem que sejam cumpridos estes critérios. A falta de informação tem levado os grandes investidores a criarem critérios próprios para avaliarem os investimentos.
É também com esse objetivo que as agências de rating têm vindo a olhar cada vez mais este segmento do investimento, enquanto têm sido criadas instituições dedicadas especificamente à avaliação da notação financeira de ativos verdes. A criação de uma taxonomia comum pela Comissão Europeia — o que é esperado ao longo deste ano — é visto como um importante passo para regular este mercado.
Proxima Pergunta: Qual é a evolução do mercado global?
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Qual é a evolução do mercado global?
O mercado tem vindo a aumentar de forma exponencial nos últimos anos e atingiu, em 2019, o valor recorde de 254,9 mil milhões de dólares, de acordo com dados da Climate Bonds Initiative. O montante representa um crescimento de 49% em relação ao ano anterior, graças ao destaque que o clima ganhou.
Proxima Pergunta: Quem emite esta dívida?
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Quem emite esta dívida?
Para emitir dívida verde não é preciso que as empresas tenham como principal atividade o combate às alterações climáticas. Ou seja, incluem-se nesta categoria emitentes que pretendam, no curso do trabalho normal, ser mais sustentável, o que facilita o acesso a este mercado.
É na União Europeia que está a maior pool de emitentes de dívida verde, com a região a acumular 106,7 mil milhões de dólares do total emitido, sendo que França é um dos países mais ativos. Seguem-se os Estados Unidos (com 50,6 mil milhões) e a China (com 30,1 mil milhões).
O top cinco dos emitentes em 2019 é composto pelo banco norte-americano Fannie Mae (que colocou 22,8 mil milhões), pelo banco alemão KfW (9,02 mil milhões), pela agência que gere o Tesouro holandês (6,66 mil milhões), pelo Estado de França (6,57 mil milhões) e pelo Industrial & Commercial Bank of China (ICBC) (5,85 mil milhões).
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E em Portugal? Há interesse das empresas?
Portugal não se tem mantido à margem desta tendência. A EDP estreou este mercado em outubro de 2018 e já realizou quatro emissões, sendo que a última aconteceu já este ano. A elétrica liderada por António Mexia colocou, a 13 de janeiro, 750 milhões de euros em títulos de dívida “green” subordinada a mais de 60 anos, tendo pago uma taxa de juro de 1,75%.
Mas as emissões de dívida da EDP não negoceiam na bolsa de Lisboa, mas sim na Irlanda. A primeira linha de obrigações verdes a ser admitida à negociação em Lisboa foi a da Sociedade Bioelétrica do Mondego, uma subsidiária da Altri, que colocou 50 milhões de euros de obrigações verdes no início do ano passado. Em agosto, o Pestana juntou-se ao grupo de emitentes destes ativos, com uma colocação de 60 milhões.
Proxima Pergunta: Os Estados podem emitir dívida pública verde?
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Os Estados podem emitir dívida pública verde?
Além de empresas, também os soberanos podem emitir dívida verde. Em 2019, o total de nova dívida pública verde ascendeu a 25,8 mil milhões, ou seja, cerca de 10% do montante global do ano. Incluem-se neste grupo as estreias do Chile e da Holanda nestas transações, que se juntaram a países como França. Para 2020, há já outros Estados que pretendem inaugurar também este mercado, como o Egito, a Alemanha, Itália, Quénia, Suécia ou Espanha.
Em Portugal, o ministro das Finanças Mário Centeno disse, ainda em 2018, que Portugal está a olhar “com atenção” para o mercado de green bonds. No ano passado, o Governo assinou uma carta de compromissos sobre sustentabilidade com a bolsa de Lisboa, que relançou o tema. No entanto, o país ainda não avançou com nenhuma colocação.
Proxima Pergunta: Qual o outlook para 2020?
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Qual o outlook para 2020?
Do lado dos investidores, estes ativos são particularmente interessantes porque, por um lado, oferecem um prémio na taxa de juro (conhecido como greenium) e, por outro, pois os ativos sustentáveis (não só green bonds, como ações com elevado cumprimento de critérios ESG) estão cada vez mais a captar a atenção. A forte procura tem levado a uma redução nesses prémios, mas o interesse não parece arrefecer.
A projeção da Climate Bonds Initiative é que sejam emitidos entre 350 e 400 mil milhões de dólares em green bonds em 2020. “Os resultados de 2019 e as estimativas para 2020 colocam o marco de investimento verde anual de um bilião de dólares na mira para 2021 ou 2022”, afirmou Sean Kidney, CEO do projeto. “A aceleração do investimento anual para a ordem dos biliões para apoiar transição, adaptação e resiliência irá tornar-se o selo distintivo da nova década”.