O diretor-geral da COTEC Itália aponta para a "necessidade de novas regras para redistribuir rendimentos de forma a responder ao desemprego tecnológico" e a "mudanças radicais no mercado de trabalho".
Para o diretor-geral da COTEC Itália, a tecnologia vai substituir o trabalho humano em muitos casos, mas as pessoas serão sempre necessárias em muitas atividades, “que requerem criatividade e capacidades não estandardizadas”.
Claudio Roveda recorda que “existe uma diferença forte e generalizada de cultura de inovação e capacidade de gestão entre as empresas do norte e do sul de Itália” e por isso defende, em entrevista por escrito ao ECO, “políticas públicas mais proativas e modernas” para evitar esta tendência. O responsável vai estar presente na Cimeira COTEC Europa que se realiza esta quarta-feira, subordinada ao tema do trabalho 4.0.
A tecnologia vai criar ou destruir emprego?
A tecnologia vai ter os dois impactos no emprego: em alguns casos, a automação, desde logo através de robots e Inteligência Artificial, está a matar empregos tanto na indústria como no setor dos serviços; noutros casos, as tecnologias inovadoras podem gerar novos empregos, sobretudo no setor dos serviços. Além disto, a implementação do modelo de Economia Circular vai criar muitos novos empregos na área do refabrico, manutenção e reparação de produtos intermédios e finais.
A tecnologia vai chegar a substituir completamente o trabalho humano?
Tal como disse, as novas tecnologias vão substituir o trabalho humano em muitos trabalhos, sobretudo os de rotina, mas o papel dos humanos vai continuar a ser necessário em muitas atividades, que requerem criatividade e capacidades não estandardizadas, para enfrentar a complexidade, incerteza e as dinâmicas do quadro em que vivemos e operamos.
Os sistemas fiscais e de Segurança Social estão em risco com o uso crescente da tecnologia?
Claro, muitos novos problemas estão a surgir nos sistemas fiscais e de proteção social, que requerem novas abordagens às políticas públicas: existe a necessidade de novas regras para redistribuir rendimentos de forma a responder ao desemprego tecnológico e às mudanças radicais no mercado de trabalho. Além disto, a globalização e o papel significativo dos agentes económicos globais e das empresas “invisíveis” precisam de uma revisão profunda do sistema fiscal.
Empregadores e empregados estão preparados para o desafio?
Existe consciencialização, e medo, crescentes e generalizados quanto às mudanças e riscos associados à inovação tecnológica, tanto entre trabalhadores como entre empregadores. Uma investigação recente com base numa larga amostra de italianos indica que muitos trabalhadores com baixos níveis de educação e com empregos de baixos rendimentos estão mais receosos e pessimistas com o futuro do emprego e a sua posição pessoal no sistema económico.
Como suavizar esta transição entre tecnologia e trabalhadores?
É preciso desenhar novos modelos organizacionais de trabalho, tal como o Smart Working ou Agile Working, cuja implementação exige uma nova abordagem para gerir empresas e atividades de produção, baseadas na flexibilidade e num mix apropriado de tecnologia e capacidades profissionais. Não há muitos empregadores que estejam hoje culturalmente preparados para implementar estes modelos e é necessário um grande esforço de especialistas, associações de empreendedores e entidades públicas para elevar a consciencialização e desenvolver as capacidades de gestão dos empregadores, sobretudo no caso de pequenas e médias empresas.
Entende que a União Europeia já devia estar a discutir uma espécie de rendimento universal para responder ao desafio?
Recentemente, alguns partidos políticos fizeram propostas para providenciar um rendimento básico aos cidadãos italianos, tendo em vista as eleições em breve. Veremos o que acontece com o novo Parlamento e Governo. De qualquer forma, este assunto devia ser abordado e discutido ao nível europeu.
A tecnologia vai beneficiar ou agravar a coesão entre o norte e o sul de Itália?
Existe uma diferença forte e generalizada de cultura de inovação e capacidade de gestão entre as empresas do norte e do sul de Itália. Portanto, existe o risco de que as primeiras estejam mais preparadas para enfrentar a transição, alargando assim a diferença. Políticas públicas mais proativas e modernas são necessárias para evitar esta tendência.
O uso crescente da tecnologia pode reduzir os custos de trabalho nos bancos italianos, ajudando a mitigar custos globais e ajudando a resolver o crédito malparado?
De facto os bancos em Itália, bem como em todos os países da União Europeia, estão a enfrentar desafios muito significativos pelo crescente uso de tecnologias de informação e comunicação. O que está em causa é até o papel e as funções dos bancos no sistema económico. Além disto, o uso recorrente das tecnologias de informação e comunicação está a reduzir a necessidade de trabalho humano nos bancos, originando um grande número de despedimentos em todos os níveis hierárquicos e exigindo novas competências profissionais. Muitos bancos italianos estão a reestruturar o seu modelo organizacional para aumentar a eficácia e eficiência.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Claudio Roveda: “Desemprego tecnológico” obriga a “novas regras para redistribuir rendimentos”
{{ noCommentsLabel }}