Unicórnio nacional já decidiu sobre o novo modelo de trabalho e está a recrutar mais 100 profissionais até ao final do ano. Dalia Turner, VP of People da Feedzai, explica estratégia.
Em agosto, na Feedzai, vai-se trabalhar apenas quatro dias por semana. Os bons resultados obtidos na Islândia inspiraram o mais recente unicórnio nacional a testar este novo modelo de trabalho com os seus cerca de 500 trabalhadores espalhados pelo mundo.
Depois de agosto, logo se vê se é para manter ou não. Mas, para já, os trabalhadores terão de decidir se querem ter o escritório como base de trabalho, trabalhar remotamente ou ter a flexibilidade de ir ao escritório.
Apesar de Portugal ainda ser a base de trabalho de 60% dos trabalhadores da companhia, a Feedzai tem presença nos Estados Unidos (30%) e escritórios em mercados como Londres, Sydney ou Hong Kong, congregando mais de 20 nacionalidades. E está a reforçar a sua equipa em todo o mundo, esperando contar com mais uma centena de pessoas até ao fim do ano.
“Essas vagas são em Portugal, mas também em outras partes do mundo. Temos um novo escritório no Brasil – passamos de um funcionário no ano passado para cerca de 16 -, estamos a reforçar a nossa presença na Ásia-Pacífico (APAC)”, adianta Dalia Turner, VP of People da Feedzai.
A semana de quatro dias de trabalho teve bons resultados na Islândia, mas não é consensual. O que vos levou a avançar para este modelo?
Vamos ter uma semana de quatro dias de trabalho em agosto. Será o nosso teste sobre como funciona enquanto determinamos qual será o próximo passo. Há bom feedback da Islândia e de outros países, penso que será desafiante avançarmos sozinhos como empresa, mas estamos intrigados com a ideia. Com pessoas de férias, agosto é um mês de baixo risco e irá permitir-nos perceber como funciona. Trabalhamos muito de perto com as equipas dos nossos clientes para assegurarmos a cobertura durante toda a semana, não é como se fôssemos fechar um dia durante a semana, as pessoas podem escolher em que dia não trabalham, de modo a que possamos assegurar que temos cobertura e capacidade de resposta.
Agosto será assim um piloto, mas já decidiram sobre o tema do trabalho remoto.
Vamos dar a oportunidade aos nossos colaboradores de escolher, todos os seis meses, se querem trabalhar primordialmente a partir do escritório ou a partir de casa ou se querem ter a flexibilidade de ir ao escritório.
As pessoas não vão querer voltar para se sentar numa secretária, irão para estar com outras pessoas, para estar num espaço colaborativo.
Deve-se apenas à pandemia ou sentem que é um modelo para o futuro?
Já estávamos habituados a ter equipas que não estavam localizadas nos escritórios antes da pandemia. A política de trabalho remoto foi, provavelmente, acelerada por causa da pandemia. Quando em setembro do ano passado abrimos os nossos escritórios, não vimos muitas pessoas com vontade de regressar ao escritório. Havia o medo (da doença). Se abrir agora, a minha expectativa é que vamos ter muito mais pessoas que irão procurar tirar benefício do facto de o escritório estar aberto. Penso que se sentem mais confortáveis, com a taxa de vacinação a aumentar e o facto de as pessoas estarem já cansadas de estar em casa, sentirem falta dessa ligação.
Se penso que estão dispostas a voltar cinco dias por semana, não. Teremos algumas pessoas que vão decidir, por razões diversas, que vão querer ir todos os dias, mas a maioria irá três a quatro dias por semana ao escritório em busca dessa conexão, mas o escritório vai ser muito diferente. As pessoas não vão querer voltar para se sentar numa secretária, irão para estar com outras pessoas, para estar num espaço colaborativo. Eu irei porque preciso de um monitor maior, tenho trabalho que não consigo fazer em casa.
Mais de 30% dos trabalhadores nos EUA admite despedir-se se não lhes forem oferecidos modelos híbridos. Pesa na decisão quando estão a recrutar? É incentivo para potenciais novos colaboradores?
A flexibilidade para a Feedzai faz sentido. A decisão foi tomada porque é o que vai funcionar para nós, mesmo sendo primordialmente remotos não dizemos que vai ser assim 100%, mas que é esperado que o colaborador vá ao escritório uma ou duas vezes por semana. Por mais que me queixe dos meus 40 minutos de deslocação de Cascais a Lisboa, nos Estados Unidos ou no Reino Unido tenho colegas que despendem mais de uma hora em deslocações todos os dias, independentemente do trânsito. As pessoas que enfrentam essas deslocações de horas acordaram e disseram ‘porque é que tenho de fazer isto?’ Por isso, acredito que a maioria das empresas irá ter algum tipo de equilíbrio em resposta ao que querem os colaboradores e se a forma como trabalham fizer sentido.
Querem contratar mais 100 pessoas até ao final do ano. Que profissionais procuram?
Contávamos contratar este ano cerca de 180 pessoas, já contratamos cerca de 100 na primeira metade do ano. Com as expectativas criadas pelo facto de nos termos transformado num unicórnio, contratarmos mais 100 ao longo do ano não é surpresa para mim. Profissionais tech, project managers são importantes para nós, mas também os da área de infraestruturas, tivemos um reforço importante na equipa financeira, por exemplo. Essas vagas são em Portugal, mas também em outras partes do mundo. Temos um novo escritório no Brasil – passamos de um funcionário no ano passado para cerca de 16 -, estamos a reforçar a nossa presença na Ásia-Pacífico (APAC). Por isso, essas 100 vagas serão em todo o mundo.
Temos áreas onde estamos a ter um muito bom desempenho em termos de representação de género. Dito isto, queremos talentos fortes e há tanto talento forte nas mulheres, como nos homens e queremos assegurar que o ambiente que estamos a criar funciona para todos
75% das tech contam contratar este ano e aumentar os salários de modo a bater a concorrência, diz um inquérito da Landing.Jobs.
Vou partilhar uma história de alguém com quem falei recentemente nos Estados Unidos. Fizeram-lhe uma proposta que achou que era demasiado boa para ser verdade: era 50 a 60% superior ao seu atual salário e muito acima do que esperava. Recusou. Sente que se está a viver uma bolha e pensou que se aceitasse, daqui a seis meses, quando a bolha rebentasse e os salários reequilibrarem o que iriam fazer com ele com um salário tão elevado? Quando olho para os salários que estão a ser oferecidos, são um pouco mais elevados do que via no passado, mas por norma vê-se subidas que as pessoas estão à espera quando mudam de emprego.
O número de mulheres nas tech é baixo e algumas queixam-se que a pandemia e o trabalho remoto tornou-as mais invisíveis. Têm alguma política específica para conseguir uma maior paridade de género?
Durante a pandemia, julgo que qualquer família enfrentou dificuldades, seja a mãe ou o pai, por ter os filhos em casa. Tivemos mulheres que tiveram trabalho extra, mas também homens que, tendo mulheres enfermeiras, que tinham de estar no hospital, ficaram em casa a segurar o forte. A pandemia obrigou-nos todos a trabalhar mais horas e a fazer coisas extra. Na Feedzai temos uma grande preocupação com a inclusão, em garantir que toda a gente se sente bem recebida e que temos um ambiente de trabalho em que todos se sentem bem.
Recentemente, estivemos a trabalhar com a nossa equipa de data visualisation para olharmos para a diversidade das equipas, países, idades, etc., e foi muito interessante. A nossa equipa de data science tem 50% mulheres, e quando compara com a indústria vemos entre 20 a 30% mulheres. Temos áreas onde estamos a ter um muito bom desempenho em termos de representação de género. Dito isto, queremos talentos fortes e há tanto talento forte nas mulheres, como nos homens e queremos assegurar que o ambiente que estamos a criar funciona para todos.
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Feedzai testa semana de quatro dias de trabalho em agosto. Quer recrutar mais 100 até fim do ano
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