Inês Paes de Vasconcelos, que acompanha na consultora Michael Page, de perto e desde 2015, a seleção e recrutamento de profissionais para as seguradoras, fala sobre atuais necessidades e oportunidades
A senior manager Inês Paes de Vasconcelos está há 8 anos como responsável na Michael Page pelo recrutamento de recursos humanos para as maiores seguradoras em Portugal e, na altura de apresentação do estudo geral da consultora para os recursos humanos em Portugal, explica o que se esperar de 2024 na área de funções e salários no setor segurador.
Licenciada em Gestão de Recursos Humanos no ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, iniciou o seu percurso na Michael Page em 2011 como Senior Associate. Em 2015, assumiu a gestão do recrutamento da Michael Page Insurance, área de negócio que trabalha uma carteira de clientes diversificada, incluindo entidades seguradoras, consultoras atuariais, corretoras e todo o tipo de organizações relacionadas com a atividade seguradora.
Falou a ECOseguros sobre o que devem esperar candidatos e seguradoras do ano de 2024.
No setor segurador quais estão a ser as funções mais procuradas e quais as mais difíceis de encontrar pessoas para as preencher?
Mantém-se a tendência de procura por profissionais nas áreas financeiras, risco, solvência II e IFRS17, bem como nas áreas de subscrição. Ao nível de áreas mais ligadas ao negócio e estratégia, posições de product ownership, PMO e affinties também têm tido uma procura acrescida. A dificuldade na identificação de perfis prende-se fundamentalmente com a especificidade de competências num setor pequeno em que nos últimos 2/3 anos houve grande rotatividade de talento aliada a uma tendência de aglomeração dos players existentes.
Como está a evoluir a diferença de salários entre Porto e Lisboa?
Já houve uma maior discrepância do que há ao dia de hoje. Com o aumento de Centros de Serviços Partilhados na zona norte do país, funções de cariz financeiro tiveram grande procura o que consequentemente elevou os salários. A generalização do regime hibrido para algumas funções nas maioria das empresas também teve impacto na diminuição do fosso entre as duas cidades. No que concerne às áreas comerciais a diferença ainda ronda os 15% a 20%.
Está a existir alguma preferência etária?
Na Michael Page, acreditamos na Diversidade e Inclusão. Defendemos a igualdade de oportunidades sem discriminar por género, raça, idade, religião, orientação sexual ou qualquer outro aspeto que possa ser considerado discriminatório ou de exclusão. Por esta razão não levamos em conta no levantamento de requisitos das funções que nos são mandatadas preferências de faixa etária somente de adequação comportamental à cultura da empresa em causa.
Os mais novos querem trabalhar em seguros?
Para atrair talento recém-licenciado ou mestrado, as seguradoras e alguns brokers têm vindo a fazer um trabalho junto das Universidades de employer branding muito relevante. Há que apresentar o setor com a atratividade que ao dia de hoje já tem. Afastar a ideia de “parente pobre” da Banca e mostrar a Inovação, Tecnologia e ESG que, sobretudo, esta população prioriza.
Com a carga fiscal desmesurada que temos em Portugal, torna-se muito difícil para o empregador somente através de um aumento do salário bruto majorar o ordenado líquido de forma significativa ao colaborador.
Trabalho remoto, horários flexíveis e outros benefícios valem dinheiro? Ou seja, as pessoas podem aceitar salários mais baixos em troca de flexibilidade?
Independentemente dos moldes em que seja aplicado, o regime híbrido é extremamente valorizado e inclusivamente causa para não aceitação de determinadas ofertas por parte de candidatos. Os benefícios flexíveis têm tido um grande crescimento nomeadamente devido ao facto de representarem um ganho líquido para o colaborador. Com a carga fiscal desmesurada que temos em Portugal, torna-se muito difícil para o empregador somente através de um aumento do salário bruto majorar o ordenado líquido de forma significativa ao colaborador. Se para cada ordenado pago por empresa a colaborador, o Estado cobra ao empregador 23.75% e ainda recebe por parte do colaborador 11% acrescido do valor descontado em sede de IRS, então uma solução com benefícios fiscais torna-se muito atrativa. Aceitar salários líquidos mais baixos não é prática comum.
Qual o nível tecnológico exigido às pessoas que trabalham em altos cargos?
Há uma crescente exigência ao nível de tudo o que é ligado a áreas de inovação e transformação que, em alguma vertentes, toca na componente tecnológica. Um gestor de topo deve estar por dentro que são as tendências e ter a capacidade para compreender e manipular grandes quantidades de informação trabalhando com ferramentas de BI. A tecnologia deve ser utilizada como uma alavanca para o foco cada vez maior em tarefas de elevado valor acrescentado.
O que diria hoje a quem quer fazer carreira nos seguros?
Diria que é hoje um setor dinâmico, diversificado, inovador e sobretudo rico do ponto de vista de produtos e serviços. Já há muto que saímos de um ecossistema fechado em apólices para uma pluralidade de ecossistemas relacionados que tocam áreas como market places, incubação de start ups tecnológicas, serviços diversos e parcerias com outros setores. Para quem já tem experiência, os seguros podem ser uma oportunidade para trabalhar num setor onde tipicamente a decisão sobre a estratégia/marketing/negócio é muito local. Para quem está a começar, há um claro investimento em programas de trainees com projetos transversais às organizações que permitem os recém-licenciados ter um overview sobre a diversas áreas da organização ajudando a melhor identificarem as suas áreas de maior interesse.
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“Há que apresentar os seguros aos RH com a atratividade que hoje já têm”
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