“Já temos um contrato assinado com um cliente do grupo KKR”

O CEO da Greenvolt diz que o novo acionista, o fundo KKR, traz maior capacidade financeira, mas também a perspetiva de novas parcerias de negócio. Está "convencido" que a OPA vai avançar rapidamente.

O CEO da Greenvolt, João Manso Neto, diz-se confiante de que a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da KKR sobre a Greenvolt irá avançar “rapidamente”, e assinala que uma das grandes vantagens de ter o fundo americano como acionista é abrir o caminho para novas parcerias. Uma primeira já está fechada: a Greenvolt ganhou um cliente do universo KKR, que irá anunciar brevemente. E tem outras em perspetiva.

É crítico em relação a iniciativas de fechar as portas ao comércio com à China e afirma mesmo que não faz sentido investir em indústrias subsidiadas na Europa, partindo do exemplo do fabrico de painéis solares. Olhando para o outro lado do Atlântico, mostra-se relativamente tranquilo em relação às eleições nos Estados Unidos, afirmando a preferência pela “previsibilidade” de Kamala Harris no que toca ao apoio às energias renováveis, mas também a confiança de que Donald Trump não terá verdadeiros incentivos a contrariar a transição energética no país.

A nível nacional, considera o ainda preliminar Plano Nacional Energia e Clima “positivo”, embora critique a proporção de solar descentralizado face ao solar centralizado, que considera que devia ser equilibrada. Além disso, considera “baixas” as metas para o armazenamento.

Em relação à intenção da OPA da KKR à Greenvolt. Já foi anunciada há alguns meses. Em que ponto de situação estamos em termos da intenção de lançamento dessa OPA. Está praticamente garantido que o fundo ultrapassará os 90% – a última informação que tivemos foi ter 82%. O fundo está confiante que vai ultrapassar isso e passar para a próxima fase de lançamento da OPA?

Sim, seguramente. Neste momento, tendo eles acima de 80%, segundo a informação que existe, a OPA é obrigatória. Neste momento, no management (gestão) não somos parte desse processo. É um processo entre a KKR e a CMVM, mas estamos convencidos que avançará rapidamente.

E olhando um bocadinho mais para a frente. O que é que esse fundo pode trazer à Greenvolt que não existia no formato anterior da estrutura acionista? Pode significar uma aceleração, por exemplo, da expansão através de aquisições? Ou novas geografias, por exemplo?

Em primeiro lugar, mais uma vez quero agradecer aos antigos acionistas. Quer as seis pessoas que estavam envolvidas, quer o mercado, que nos permitiu chegar onde chegámos. Acontece é que isto é uma indústria muito capital intensiva, que exige mais capital. Financia-se com dívida e com capital, e o mercado português tem o tamanho que tem. Nós temos seis bancos mais ou menos, sete, mas não muito mais que isto. Também não teríamos muito mais capacidade de lançar dívida.

Se queríamos crescer, continuar a crescer, é necessário outra capacidade de acesso aos mercados: quer de fundos da própria KKR quer fundos de dívida que eles possam viabilizar. Portanto, esta operação da KKR é uma oportunidade muito grande para a Greenvolt, no sentido não só de manter como também acelerar o plano de crescimento. Por um lado, pela capacidade financeira adicional que terá. Mas além disso, isto é um grupo muito grande, com outro tipo de empresas. Pode haver outro tipo de colaborações que se possam estabelecer. Têm imensas empresas industriais, em muitos países.

Já temos um contrato assinado com um cliente do grupo KKR. Haverá outros, quer na área industrial, quer na área imobiliária.

Que podem ser clientes.

Que podem ser clientes. A curto prazo anunciaremos já o primeiro. Já assinámos. Mas queríamos agora juntar com outro, de outro país. Mas, portanto, já temos um contrato assinado com um cliente do grupo KKR. Haverá outros, quer na área industrial, quer na área imobiliária.

E depois há outras áreas em que se pode trabalhar em conjunto. Há outras empresas, também de renováveis, mas que estão noutros sítios da cadeia de valor. Pode haver aqui complementaridades. E diria que há muito para explorar, não só do ponto de vista financeiro, em primeiro lugar, mas também do ponto de vista de outro tipo de negócio que com benefício mútuo se possa fazer.

Em relação aos resultados, que também estão para breve, pelo menos a próxima apresentação. No último relatório, a Greenvolt previa um aumento significativo dos lucros para o ano 2024. Que dimensão terá este aumento? Pode dar um intervalo de valores que seja o objetivo deste ano?

Nós previmos para o ano de 2024 uma melhoria substancial dos resultados e mantemos. Mas não é neste trimestre, porque nós temos aqui uma fase, pelo nosso modelo de negócio: os resultados têm uma parte estável, que é crescente, que é a parte dos ativos em operação.

Tem uma parte mais volátil que tem a ver com as vendas. Como sabe, neste segundo trimestre não vendemos nada. Vendemos uns parques em Itália, mas já foi no terceiro [trimestre]. Portanto, os resultados não vão ser ainda de acordo com essa expectativa do final do ano, pela razão que estou a explicar.

Nós previmos para o ano de 2024 uma melhoria substancial dos resultados e mantemos.

Estamos numa conjuntura relativamente difícil, já há algum tempo. As empresas de renováveis têm atravessado dificuldades por pelo menos duas razões: uma, são os custos de produção, o próprio equipamento, e também inflação e taxas de juro, que têm afetado de forma transversal o setor pesando no financiamento. Como é vê estas situações a evoluírem nos próximos meses?

No campo das taxas de juro, o mundo, como todos sabemos, está a mudar. As expectativas são de uma redução. Aliás, é verdade que o comportamento das renováveis, genericamente, tem sido negativo este ano, mas nas últimas semanas tem melhorado substancialmente. Da parte das taxas de juro, a situação está melhor. Da parte do custo do investimento temos de distinguir claramente entre vento e o sol.

No sol, os custos de equipamento estão baixíssimos, nunca tiveram tão baixos. Há outros custos que compensam, por causa da inflação, mas globalmente. No vento é que os custos se têm mantido a níveis relativamente elevados. Na minha opinião, isto tem a ver com o protecionismo, com a globalização. Nós estamos a ouvir cada vez mais discursos antiglobalização para produzir a indústria europeia.

Queria chamar a atenção para duas coisas. As renováveis têm este sucesso todo porque são baratas. Aquilo que disse do sol é porque os preços são os de cá, não é com os preços dos Estados Unidos. Se puser barreiras disparatadas à China, o que é que faz: encarece brutalmente os custos.

E, por outro lado, ainda ontem, daquilo que eu vi assim muito por alto, Draghi disse é que – eu até tenho uma opinião genericamente diferente –, mas diz: isto dos painéis solares, já foi. Já não vale a pena estar a tentar recuperar aí. Portanto, esta tentativa de criar indústrias protegidas na Europa, no caso dos painéis solares, à custa de imposição de restrições aos chineses, diria que é muito discutível, pelos custos que teria e também pela reciprocidade. Se uma pessoa impõe restrições…

Acaba por se encurralar.

Acaba por se encurralar. Isso é um ponto. O segundo ponto é: o que se passa hoje na indústria eólica, onde os chineses têm uma penetração baixíssima, é relativamente sério. Nós estamos numa indústria dominada por ocidentais – basicamente dois, até porque a Siemens esteve fora este tempo todo – que chega a ser um bocadinho discutível. Até que ponto é que a concentração em operadores europeus…

Há que ter muito cuidado com estas afirmações antiglobalização para não fomentar indústrias que não sejam para permitir que os preços continuem baixos.

Se não será monopólio.

… Pelo menos duopólio ou oligopólio. Não podemos ir para uma situação em que defendamos a todo o custo situações de poder de mercado excessivo. A única maneira de quebrar o poder do mercado é abrindo. Há que ter muito cuidado com estas afirmações antiglobalização para não fomentar indústrias que não sejam para permitir que os preços continuem baixos.

Obviamente, se é o caso de eliminar subsídios, a provar, far-se-á. Mas temos de ter em conta isto e depois a reciprocidade do conjunto da indústria europeia. Não podemos querer uma coisa para um lado, e não ser para o outro. O livre comércio provoca o aumento do bem-estar.

Mas pensa que não é assim tão relevante voltar a fomentar a indústria solar aqui na Europa, ou que com os mercados abertos ela conseguirá levantar-se?

É um desperdício. Sobre a indústria solar na Europa de painéis, genericamente, as pessoas dizem, e daquilo que vi do relatório Draghi, que os painéis não têm valor acrescentado nenhum. As turbinas é diferente, têm. Agora, não podemos tolerar situações de duopólio ou de oligopólio e, portanto, alguma concorrência pode ser útil. Não podem haver abusos de mercado.

E em questões de segurança energética, que é outro argumento [para fomentar a indústria solar]. Pensa que não estaríamos fragilizados nesse ponto?

Há duas questões diferentes. Uma é dizer: é mau que 90% dos painéis venham da China. Estou de acordo. Segunda questão: a Europa deve investir em criar indústrias subsidiadas? Também não. Ou seja, muitas vezes na vida há terceiras vias. E uma terceira via pode ser a indústria europeia fomentar o investimento em painéis em outros países, com mão de obra barata. Marrocos, ou outro sítio qualquer.

Perto das fronteiras.

Sim, mais próximo. Agora, criar indústrias altamente subsidiadas em Itália não é fantástico. As pessoas não vão ter paciência para estarem anos a fio a pagar subsídios. Mais tarde ou mais cedo aquilo fecha.

Se é bom ou mau que ganhe o Trump ou a Kamala Harris? É evidente que é mais seguro, mais previsível, que ganhe a Kamala Harris. Mas no caso [da vitória de Trump], Trump pode não conseguir, ou não querer, ter essa rutura [com as energias renováveis].

Uma última pergunta de geopolítica antes de voltarmos ao plano nacional. Estamos muito próximos das eleições nos Estados Unidos. Já trabalhou nas renováveis durante o mandato anterior de Donald Trump. Como é que um eventual regresso do republicano à Casa Branca poderia afetar este cenário geopolítico energético?

Independente da retórica que haja, os acordos partidários têm algum peso. Quando Trump chegou lá, havia um acordo entre republicanos e democratas que foi mantido. O Inflation Reduction Act (IRA) não teve esse acordo. No entanto, nós sabemos que muitos dos Estados que beneficiam com as renováveis são Estados republicanos. E, portanto, se tirar de lá a indústria, não é fantástico.

A segunda questão é o seguinte: o mundo precisa de mais renováveis e os Estados Unidos também. O Trump na altura dizia: vamos retomar as centrais a carvão. Retomou o quê? Nada. E porque é que não retomou? Não é que tenha mudado de ideias… O setor privado punha-se a investir biliões nisto?

Em relação à pergunta: se é bom ou mau que ganhe o Trump ou a Kamala Harris? É evidente que é mais seguro, mais previsível, que ganhe a Kamala Harris. Mas no caso [da vitória de Trump], Trump pode não conseguir, ou não querer, ter essa rutura [com as renováveis]. Se seria um desastre? Se calhar não, à luz do passado, embora não seja exatamente a mesma coisa.

Então, voltando aqui ao panorama nacional, terminou recentemente a consulta do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC). A Greenvolt participou desse processo? Como avalia o plano? E há temas que gostava de ver alterados?

Participámos sim. Globalmente, acho que o plano é positivo. Se tiver que dar duas indicações, é o seguinte: a nível do projeto, no mundo solar, os volumes globais são fortes, mas cerca de 15 gigas (gigawatts) estão para o solar centralizado e para aí 5 GW para o descentralizado. Devia ser mais equilibrado, no mínimo.

50/50?

Diria que sim. O solar descentralizado tem imenso potencial. Segundo, ao nível de baterias, [a meta] também parece relativamente baixa.

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