Em Oeiras, mora o terceiro hub da gestora de ativos que está em fase de expansão e reforço de equipa. CEO assegura que corrente anti-ESG não contagiou NAM, que reitera confiança nos critérios.
Desde a inauguração do hub em Oeiras, no ano passado — o terceiro do grupo — a gestora de ativos Nordea Asset Manegement (NAM) já conta com uma equipa de 100 pessoas e um desempenho que está “acima das expectativas“. Ao ECO/Capital Verde, o CEO, Nils Bolmstrand, garante que o objetivo é consolidar a atividade em Portugal, revelando estar em curso uma expansão dos escritórios na Quinta da Fonte, em Oeiras, e um reforço da equipa. “Existe uma bolsa de talentos cá que nos permite crescer nesse sentido”, indica o responsável.
Numa altura em que se nota uma corrente vinda dos EUA que questiona se os critérios ambientais, sociais e de governaça (ESG) devem ser tidos em conta nos investimentos, Bolmstrand rejeita que isso contagie a posição da NAM. Atualmente, a gestora de ativos conta com um portefólio avaliado em 239 mil milhões euros, sendo considerada uma das maiores gestoras globais de ativos sustentáveis. Riscos geopolíticos e uma taxa de infração “teimosamente alta”, fazem com que a NAM se mantenha focada em continuar a investir em ativos com maior previsibilidade e um “perfil ESG robusto”, garante Bolmstrand.
Dois terços dos ativos geridos pela Nordea Asset Management (NAM) estão alinhados com os critérios ESG [ambiente, social e governança]. Mas vemos agora duas vagas no mundo financeiro: uma que põe em causa o valor dos critérios ESG e outra que ainda apoia. Qual é a posição da NAM?
Continuamos a apoiá-los.
Porquê?
Penso que se trata mais de uma questão geográfica. Se olharmos para os EUA, algumas partes têm sido muito vocais contra o ESG e têm criado alguma mossa, mas também temos outras partes dos EUA que são muito progressistas. Por exemplo, na Califórnia. Por isso, penso que não é fácil dizer que existe um grupo e um segundo grupo, e a força de cada um.
Mas temos vozes muito fortes que são contra. Recentemente, a BlackRock pronunciou-se contra, afirmando que os critérios estão a ser politizados.
Temos diferentes formas de encarar os critérios. Integrámos o ESG na totalidade da nossa gestão de portefólios. Há partes que são geridas tendo em conta o ESG, mas as outras partes também têm em conta os riscos associados a estes critérios. Por isso, não temos ativos nos quais não pensamos de todo nas questões ESG, porque há também fatores claros de riscos ambientais que temos de ter em conta quando avaliamos as empresas.
Ademais, nos nossos fundos, temos sempre em consideração os artigos 8 e 9 [do Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (Sustainable Finance Disclosure Regulation – SFDR)], além de existirem, de forma geral, critérios básicos de exclusão. Há coisas com as quais simplesmente não concordamos.
Os gestores de portefólios centram-se inerentemente em empresas de crescimento estrutural com um modelo de negócio comprovado: uma posição de mercado competitiva, um forte poder de fixação de preços e um perfil ESG robusto.
Como por exemplo?
Escravatura, bombas atómicas ou de fragmentação, perfuração no Ártico… Temos um limiar do que consideramos aceitável, e que se existe numa empresa tem que representar uma parte muito pequena da sua atividade. Caso contrário, não investimos nela.
Mas o que acontece com aquele terço do portefólio da NAM que ainda não está alinhado com o ESG?
Ambos os ativos estão dentro deste quadro básico que referi que usamos como fatores de exclusão quando falamos do que estamos dispostos a investir. O que os difere daqueles dois terços é que não estão abrangidos por aquilo a que chamamos de alinhamento de [Acordo de] Paris.
E essas empresas que não estão alinhadas com o Acordo de Paris estão dispostas a fazer essa transição?
Penso que as empresas do setor petrolífero e algumas do setor da eletricidade estão a alinhar-se. Mas varia de empresa para empresa.
Por que é que ainda não chegaram lá?
Pode ser difícil para a própria empresa. Se estivermos num determinado setor, como o do aço, por exemplo, pode ser difícil. É preciso muita energia e eletricidade para produzir aço e, quando se faz isso, é natural que seja um poluidor maior do que muitas outras indústrias. Essas empresas podem estar a fazer alguma coisa em prol do clima — no caso do aço, estão a produzir materiais necessários para a transição energética — e a ser intensivas em carbono, à mesma.
Essa parte do portefólio que ainda não está alinhada com o Acordo de Paris é mais rentável?
Não diria que são mais rentáveis, mas por se tratar de uma empresa petrolífera que produz petróleo, é normal não estarem alinhadas. Podem estar a alinhar-se e isso podemos aceitar até certo ponto. Encontramos várias empresas que nos parecem bem, que estão a tentar investir [na descarbonização] e a tornar-se menos dependentes do carbono e do petróleo. Estamos a olhar para esses investimentos no futuro. Se há empresas que nos dizem que hoje investem fortemente em petróleo mas que estão a a utilizar uma grande parte da estratégia para investir em energia eólica e solar, conseguimos perceber que está em curso uma transição, que está a ser traçado um caminho para desinvestirem no petróleo e reinvestirem em energias renováveis. E esse é o tipo de empresa que nós diríamos que está alinhada com [o Acordo de] Paris. Estamos dispostos a investir neste tipo de empresas.
Há algum risco de greenwashing no meio disto tudo?
É um pouco difícil definir exatamente o que é greenwashing. Existe uma expressão idiomática em inglês que diz que o rótulo da lata deve representar o que está efetivamente na lata. Devíamos mudar isso para um frasco de vidro. É mais transparente. Deve ser visível e compreensível para os clientes em que é que estão a investir e não devemos dizer nada que não façamos.
Quais são as tendências de investimento que a NAM está a observar neste momento?
Diria que o clima continua a ser a área mais importante nos investimentos dos clientes. Trata-se de uma carteira muito grande de ativos que estamos a gerir. E também vemos cada vez mais que as pessoas estão a começar a interessar-se por temas ligados à transição energética.
Acredito que as duas megatendências de hoje vão manter-se nos próximos anos: a transição climática e a digitalização. Ambas apresentam riscos e oportunidades de investimento significativos para os setores privado e público e forjam novas alianças entre setores e geografias. As empresas que estão posicionadas na interseção destas duas tendências são particularmente interessantes.
Para além dos riscos climáticos, temos assistido a um acumular dos riscos financeiros — pandemia, guerra na Ucrânia, inflação e subida das taxas de juro, e agora a guerra em Israel. Como prevê que será próximo ano? Sente que os investidores estão mais reticentes?
Para além da turbulência política, persiste uma inflação teimosamente elevada. Acredito que vai demorar algum tempo a combater a inflação, o que significa que vamos ter taxas de juro elevadas também. Hoje temos muitas pessoas a manter o seu dinheiro em depósitos a prazo porque sentem que recebem remunerações mais altas. Mas, geralmente a inflação é mais elevada do que os juros, portanto, na realidade, as pessoas estão a ficar mais pobres a cada dia que passa.
Como esperamos um ambiente de taxas mais elevadas durante mais tempo, os gestores de portefólios têm-se focado inerentemente em empresas de crescimento estrutural com um modelo de negócio comprovado: uma posição de mercado competitiva, um forte poder de fixação de preços e um perfil ESG robusto. Este processo de seleção permite-nos escolher empresas que proporcionam um grande nível de previsibilidade no que toca ao cash flow e a rentabilidade, ao mesmo tempo que são capazes de navegar através de vários ciclos de negócios.
Com o recente aumento das taxas de juro, creio que, dada a incerteza geopolítica, as soluções de rendimento fixo oferecem estatuto de porto seguro. Tanto a duração como os riscos de crédito devem ser considerados pelos investidores num ambiente em que a inflação está a diminuir e a atividade económica ainda é resistente.
A transição climática e a digitalização são duas megatendências hoje. As empresas que estão posicionadas na interseção destas duas tendências são particularmente interessantes.
Quais têm sido os resultados do hub que a NAM inaugurou em Oeiras? Já passou um ano desde que se instalaram aqui.
Na verdade, estamos em Portugal desde 2020. Mas o hub abriu no ano passado e tem estado acima das expectativas, tem sido fantástico.
Admito que tivemos um início atribulado. Tivemos um incêndio mesmo antes de nos mudarmos [para os escritórios da Quinta da Fonte, em Oeiras] e tivemos de começar tudo de novo. Isso atrasou a nossa mudança, mas continuámos a contratar pessoas. Agora temos mais de 100 pessoas na equipa, e vamos continuar a crescer. Estamos a alargar o nosso espaço para o outro lado da rua já pensar nisso. Portanto, tem estado definitivamente acima das expectativas.
Em que áreas pretendem reforçar especificamente?
Quando abrimos este hub, penso que a proximidade geográfica com os clientes estratégicos foi um aspeto muito importante para conseguirmos valorizar toda a cadeia de valor. Além de estarmos próximos do cliente, aqui conseguimos assegurar o lado do apoio e serviço do cliente, mas também temos o lado do back office, uma equipa de corretores. Não temos uma área específica da equipa que pretendemos reforçar. Queremos continuar a crescer em Portugal. Existe uma bolsa de talentos cá que nos permite crescer nesse sentido.
Existem 11 nacionalidades a trabalhar neste hub. A maioria é portuguesa?
Sim, é a maioria. Atualmente a NAM tem 70 colaboradores portugueses no escritório de Lisboa. Mas apesar de termos trabalhadores de Cuba, do Brasil, de Marrocos ou de Itália, por exemplo, a maioria teve formação profissional aqui em Portugal. Portanto, podem não ser portugueses, mas formaram-se em Portugal e em universidades portuguesas.
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Nordea Asset Management quer “crescer” em Portugal e mantém confiança nos critérios ESG
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