Simões de Almeida (Marsh): “Ser nº1 permite melhor serviço aos clientes”

A Marsh está a fazer 150 anos com liderança entre as corretoras mundiais e uma posição de topo em Portugal. Sem esperar outros 150 anos, o CEO quer o grupo a crescer já e em várias frentes.

Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Marsh Portugal, em entrevista ao ECO Seguros - 23SET21
Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Marsh e da Mercer em Portugal: “A maior parte do negócio em Portugal tem origem cá, localmente, pelas nossas equipas, pela qualidade de trabalho que fazemos todos os dias”.Hugo Amaral/ECO

Operando em 130 países, com 76 mil colaboradores dos quais 40 mil especialistas e mais de 17 mil milhões de dólares de faturação em 2020, o Grupo Marsh está a fazer 150 anos no mundo. A fundação remonta a 1871, após um grande incêndio em Chicago, e em 1905 a propósito de caminhos de ferro, também em Chicago, Henry Marsh – a quem é atribuída a máxima “your problem is risk, not insurance” e Donald McLennan decidiram fundir os seus negócios. O Grupo está em Portugal desde 1967 quando se associou ao broker Newstead & Porter e é liderado por Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Marsh e da Mercer Portugal, que foi entrevistado por ECOseguros.

Quais os momentos mais marcantes dos 150 anos de vida do Grupo Marsh e quais os temas mais relevantes da história do grupo?

O grupo Marsh começou de facto há 150 anos como o primeiro corretor de seguros que existiu e, no momento, foi uma grande inovação. Com estes 150 anos de história passou por todas as dificuldades, crises, revoluções, guerras, pandemias, epidemias, porque a primeira pandemia que assistimos no último século não é o Covid, já tivemos outras antes, passou por todos esses episódios marcantes e foi vencendo os desafios.

E como se foi organizando ao longo do tempo?

Foi diversificando a sua atividade, entrando em negócios complementares e que hoje formam o grupo no seu conjunto. Talvez o mais marcante seja a Mercer como a segunda grande empresa do grupo Marsh McLennan, que é líder na área de consultoria de pessoas. Mais tarde juntou-se a Oliver Wyman, outra empresa do grupo que faz consultoria estratégica e que também foi adquirida. O grupo é hoje formado por quatro empresas: a Marsh, que é a inicial e por aí que o grupo começa, a Guy Carpenter que também atua no mundo do risco, faz resseguro para companhias de seguros, a Mercer que trabalha em consultoria de pessoas e a Oliver Wyman, que faz consultoria estratégica em várias matérias, nomeadamente em Portugal, em que trabalhou muito com a banca portuguesa e é o consultor no Banco Central Europeu.

Qual o momento mais difícil na história da empresa?

O episódio de longe mais difícil de ultrapassar e mais marcante na história do grupo foi o dia 11 de setembro de 2001. Nas torres gémeas que foram alvo de ataque, estavam lá a trabalhar mais de duas mil pessoas do grupo Marsh. O primeiro avião embateu diretamente nos andares onde estavam os nossos escritórios, morreram quase trezentos colaboradores e cinquenta consultores que estavam a visitar a empresa e ainda outro que estava num dos aviões.

É raro no setor mas, de vez em quando, seguradoras têm problemas e podem dar problemas aos vossos clientes, nunca aconteceu?

Há sempre uma questão reputacional, mas temos um processo de market security, um método de avaliação dos parceiros absolutamente robusto e muito rígido que permite uma avaliação permanente da qualidade das seguradoras. Infelizmente, tal como muitos episódios que assistimos no mundo, nomeadamente na crise financeira, nem tudo se pode controlar a 100%.

Todas as seguradoras que façam parte da nossa lista de seguradoras aprovadas para trabalharmos são muito queridas. Todas elas.

E em relação a Portugal, a história foi mais curta, não é, mas ainda assim é longa?

São cinquenta e quatro anos de história, desde 1967, ano em que a Marsh fez uma parceria com o broker Newstead & Porter e passa a representar o grupo a partir dessa data. Mais tarde esse broker foi comprado e totalmente integrado na Marsh. Em 1993, há 28 anos, chegou a Mercer a Portugal e, portanto, as duas maiores empresas do grupo em Portugal já têm uma história longa no país. É um compromisso grande com Portugal e, claramente, representa uma estratégia de muito longo prazo a desenvolver no país.

Há alguma tendência para um cliente ser cliente de mais que uma empresa do grupo?

O objetivo é cada vez mais termos clientes que sejam clientes de todas as empresas do grupo e aproveitar as sinergias comerciais que temos e unificar a nossa proposta de valor o melhor possível. Claramente, as empresas têm necessidades transversais que tocam em todas as empresas do grupo. E aí há a destacar em Portugal a Marsh e Mercer ou Mercer e Marsh, as duas que têm presença mais antiga e mais forte. Temos cá, também, a Guy Carpenter, que tem uma operação muito forte, mas no fundo trabalha exclusivamente com companhias de seguradoras, enquanto a Mercer e a Marsh trabalham com todo o tipo de indústrias e de empresas no mercado português. O cruzamento de proposta de valor pode ser muito potente e potenciar essa relação faz parte claramente da nossa estratégia de crescimento no futuro.

Têm seguradoras preferidas no mundo, ou preferidas em Portugal?

Todas as seguradoras que façam parte da nossa lista de seguradoras aprovadas para trabalharmos são muito queridas. Todas elas.

O que é exigido para pertencerem a essa lista? Dimensão?

São critérios de vários níveis, é um modelo que é próprio do grupo, não é público, mas obviamente passa por critérios financeiros, de fortaleza financeira, passa por critérios de reputação, operacionais, de capacidade, enfim de uma série de critérios, que é um modelo interno não revelável, mas que tem dado provas de ser robusto e que nos dá muitas garantias quando trabalhamos com as seguradoras, que são aceites nessa análise.

Entre os clientes há muito alinhamento internacional? Ou já há negócio feito em Portugal, com empresas portuguesas?

Claro que há alinhamento internacional. A grande vantagem de sermos uma multinacional presente em 130 países é que as empresas que operam em Portugal com origem de qualquer um desses 130 países, possam trabalhar connosco. Obviamente temos aí uma boa alavanca no negócio, mas representa uma pequena parte do nosso livro, uma pequena parte da nossa conta de resultados. A maior parte do negócio em Portugal tem origem cá, localmente, pelas nossas equipas, pela qualidade de trabalho que fazemos todos os dias, com os profissionais que temos dentro de casa e que permitem de facto entregar essa proposta de valor aos clientes e ter uma proposta de valor credível.

Está a a assistir-se a um gradual aumento da concorrência, está a ficar mais sofisticada, há muitas corretoras internacionais que estão a entrar cá. Essa realidade pode trazer crescimento ao mercado ou apenas concorrência no mercado que já existe?

São bem-vindos concorrentes com qualidade, com capacidade e com uma proposta de valor que seja positiva e que ajude o mercado a compreender e a gerir melhor o risco. Não diria que estamos num momento de concentração dos nossos concorrentes, houve alguma troca de mãos, mas não necessariamente de concentração dentro do próprio mercado, portanto o número de players, nos últimos tempos mantém-se o mesmo. Houve entrada de dois ou três internacionais no capital de empresas já presentes cá e isso poderá permitir, uma maior aproximação ao modelo de negócio do grupo Marsh McLennan, o que vejo como positivo. Somos líderes mundiais, temos de facto uma capacidade de especialização e de diferenciação muito forte em tudo o que fazemos, achamos muito favorável o mercado a alinhar por essas qualidades e por essa exigência na gestão de risco e, claramente, vemos o que passa como uma enorme oportunidade de crescimento.

A fusão falhada entre a AON e a Willis, permitiu à Marsh manter a liderança mundial. É mesmo importante ser número 1?

Mais do que ser número um ou número dois, a dimensão com certeza que ajuda. Permite uma maior capacidade de investimento e, portanto, uma maior capacidade de prestar serviço aos nossos clientes. Não vamos negar que ajuda, mas não é tudo. Muito mais importante do que essa enorme dimensão, é a enorme qualidade dos profissionais que temos no grupo. Eu não gostava muito de comentar o que aconteceu com os nossos concorrentes, mas posso dizer que neste último ano e meio foi possível crescer muito em todas as geografias com base na qualidade das equipas que temos e no talento que fomos capazes de atrair neste último ano e meio. Esse talento é talento de mercado, que tem obviamente várias origens em vários setores e conseguimos atrair talento com qualidade porque somos um grupo estável, com uma proposta de valor muito forte e credível.

O cenário concorrencial mantém-se…

No mercado nacional a quota de mercado dos players internacionais não é de todo a maior. Com ou sem fusão da AON e Willis, continuamos a ter muitos concorrentes de muito respeito com quem nos temos que enfrentar, independentemente dessa fusão ter falhado ou não.

A Marsh tem especialidades ou apetência especial por alguns riscos?

Podemos trabalhar com qualquer setor de atividade, industrial, serviços, primário temos essas capacidades especializadas na nossa proposta de valor, com base nos especialistas que temos em Portugal e também com base nos especialistas que temos a nível internacional e que nos apoiam sempre que necessário. Essa é uma das grandes fortalezas de uma multinacional, seja na Marsh, na Mercer, na Guy Carpenter e inclusivamente na Oliver Wyman. Essa capacidade de gerir o serviço aos clientes utilizando especialistas de qualquer parte do mundo acontece com muita recorrência.

Existe a mesma competência dentro das companhias de seguros portuguesas ou a operar em Portugal?

Há companhias de seguros mais generalistas e companhias de seguros mais especializadas. Em Portugal temos, por exemplo, companhias especializadas em risco de crédito. São companhias especializadas que tratam dessas áreas e não gerem outros ramos. As companhias generalistas, tratam todo o tipo de riscos habituais que as empresas enfrentam e tratam menos os riscos mais especializados, que dependem de seguradoras internacionais, presentes ou não no mercado português. Falamos de riscos como o risco cibernético, como o risco de transações de fusão e aquisição, enfim de vários tipos de risco em que o mercado internacional dá uma resposta mais forte.

Dimensão com certeza que ajuda, permite uma maior capacidade de investimento e, portanto, uma maior capacidade de prestar serviço aos nossos clientes

Os riscos estão muito pouco segurados em Portugal. Acha que há aí uma possibilidade de expansão ou é uma batalha perdida?

Acho que o risco catastrófico tem espaço de melhoria, do ponto de vista de cobertura. Na área agrícola, há riscos que estão pouco cobertos, mas com um potencial de melhoria e acaba por ser uma grande oportunidade para o mercado segurador e logicamente também para nós, como operador nesta área. Agora, há uma boa parte do risco que é risco sistémico e podíamos discuti-lo, onde é que deve estar assente, deve ser coberto pelas empresas individualmente ou se poderá ou não ser o Estado, seja em parcerias público-privadas, seja diretamente no orçamento de estado, que deve assumir esses riscos. Há países, como Espanha, que assumem o risco sísmico, por exemplo, dentro de um consórcio especial, é um risco que está assegurado pelo Estado.

O projeto do Fundo sísmico está parado em Portugal?

Existe um projeto de um fundo para cobertura de risco sísmico que já tem algumas décadas, no começo, e que gostávamos muito de ver acelerar. O grupo Marsh McLennan tem trabalhado bastante no âmbito da pandemia, com os Estados, com Estados de várias geografias, na tentativa de encontrar soluções para cobertura de risco de pandemia ou riscos de tipo catastrófico. Temos soluções que criámos nomeadamente na Califórnia, para ajudar à cobertura de risco dos wildfires. Existem soluções, é preciso é que haja vontade de as contratar.

No caso concreto de Portugal por que motivo o fundo de catástrofes não avança?

Não sei porquê! O nosso grupo está 100% disponível para colaborar na tentativa de encontrar soluções, isso é a única coisa que prometo ou garanto.

A Marsh sente-se representada na associação setorial APROSE, há uma parceria com os outros ou há uma vida autónoma na distribuição de seguros?

A resposta está mais na cultura portuguesa que não é suficientemente associativa. Podíamos ter mais força, trabalhando mais em conjunto. De qualquer maneira, a APROSE agrega operadores com tipologias muito diferentes, portanto em número são muito mais os agentes do que os mediadores ou os corretores e de facto as prioridades de cada um são diferentes. É difícil que a associação possa dar uma resposta completa a todos, mas faz o que pode.

Daqui a dias está previsto que terminem moratórias para pagamento de seguros por parte das empresas. O que prevê?

Houve alguma utilização das moratórias nos seguros, diria que não sentimos que fosse transversal à economia. A enorme maioria das moratórias do pagamento de prémios foi mais específico para empresas de menor dimensão, que precisaram de recorrer a elas e ainda bem que apareceram para ajudar muitas dessas empresas a sobreviver.

Qual é que será o impacto com o fim das moratórias?

Existe bastante confiança na resiliência das empresas que duraram até aqui independentemente de moratórias. Existe espaço de crescimento no país que está a dar bons sinais de crescimento pós-pandemia. Não temos uma situação normalizada, ainda não temos um setor de turismo a funcionar em pleno, mas acreditamos que a resiliência das empresas permite agora pensar bastante no crescimento.

Pode dizer-se que há assim um patamar de faturação para ser interessante para ambas as partes trabalhar com a Marsh?

Nós temos várias áreas de negócio e dependendo das áreas de negócio, permite-nos trabalhar com todo o tipo de empresas. Outra coisa é ser de uma forma mais abrangente ou de uma forma mais específica para determinadas linhas de produto mas, na prática, todas as empresas são alvo de trabalho para o nosso grupo.

Prevê crescimento do número de colaboradores?

A nossa maior prioridade é reter bem o talento que temos dentro de casa, que é muito e muito bom, a segunda prioridade é continuar a crescer e para isso é preciso obviamente juntar pessoas de grande qualidade a esta equipa. Portanto estamos confiantes em relação ao futuro, esperamos poder continuar a contratar pessoas na medida em que sejamos capazes de investir.

O que será a Marsh em Portugal nos próximos 150 anos? Ou, vá lá, nos próximos 15 anos?

Estamos muito confiantes com os próximos 150 anos. O grupo sobreviveu 150 anos com tudo a que assistimos no passado, e com tudo o que aconteceu ao longo destes últimos anos, quer de adaptação do negócio, quer de adaptação de forma de estar, a rapidez da evolução dos últimos anos e todas as catástrofes em que vivemos. Da última Covid saímos muito fortalecidos e o grupo vai apresentar este ano resultados recorde, que é absolutamente extraordinário. Passando a Portugal, estamos há cinquenta e quatro anos, começou com a Marsh, depois com a presença da Mercer, há uns anos iniciámos a aventura também de centro de serviços partilhados em Portugal, que começou com quatro pessoas e hoje são quase quinhentas. Mais do que acompanhando, somos bastante pioneiros nessa tendência dos centros de excelência em Portugal, neste caso centros de alto valor acrescentado, atuários na sua enorme maioria e vamos continuar a apostar nessa área, vamos continuar a apostar no negócio local. Há muito espaço de crescimento para a Mercer, há muito espaço de crescimento para a Marsh, há um espaço de crescimento para a Guy Carpenter e haverá também espaço de crescimento para a Oliver Wyman. Acreditamos muito no futuro. Se vamos durar 150 anos, nenhum de nós vai estar cá para dizer, mas podemos ter a confiança de que isso vai acontecer.

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