Os analistas antecipam uma subida dos lucros das cotadas do PSI no terceiro trimestre e perspetivam mais um ano de resultados recorde em 2023. EDP e BCP são decisivos para este desempenho positivo.
A Jerónimo Martins e a Navigator dão esta quarta-feira o pontapé de saída na época de resultados do terceiro trimestre das cotadas da bolsa portuguesa, com os analistas a apontarem para a manutenção da evolução positiva das contas das companhias em 2023, embora a um ritmo menos intenso do que nos anos anteriores.
Tendo em conta as médias das estimativas dos analistas para as 16 cotadas que integram o PSI, os lucros consolidados do índice deverão ascender a 5,5 mil milhões de euros no conjunto de 2023, um crescimento sólido de 16,2% face a 2022. A confirmar-se, será o terceiro ano consecutivo de lucros recorde, que surge depois de três anos de evoluções negativas.
Apesar do ciclo positivo, é evidente um crescimento mais brando, também natural após aumentos muito pronunciados nos anos anteriores. Os lucros tinham aumentado mais de 50% em 2021, beneficiando por comparar com o primeiro ano da pandemia. Em 2022 cresceram 34%, o que corresponde ao dobro do previsto para este ano.
Esta travagem no crescimento dos resultados das cotadas portuguesas é mais evidente na evolução das receitas e do EBITDA, que são mais sensíveis à evolução da atividade económica. Segundo as estimativas dos analistas, as receitas e o EBITDA das cotadas do PSI deverão subir apenas 1% este ano, o que compara com taxas de crescimento de dois dígitos dos dois indicadores em 2021 e 2022.
As estimativas dos analistas para 2023 evidenciam como o efeito inflação está a perder força no impulso dos resultados das empresas, que são também penalizados pelo abrandamento da economia e pelo impacto das taxas de juro mais elevadas. A margem EBITDA das cotadas portuguesas baixou para 17,4% em 2022 (18,1% em 2021 e 19% em 2020), sendo que este ano devem descer mais uma décima, para 17,3%, o que corresponde a um mínimo desde 2018.
Estes números agregados indiciam que as empresas já não estão a aproveitar a inflação para aumentar os preços e as margens. Uma tendência que, para já, ainda não é muito visível na evolução dos lucros.
Comparando os valores estimados para 2023 com os registados há cinco anos (2018), é notório o crescimento das cotadas portuguesas nos três indicadores. As receitas estão 44% mais elevadas, o EBITDA é 52% superior e os lucros aumentam 63%. No espaço de cinco anos, as maiores cotadas portuguesas geram mais 30 mil milhões de euros em receitas anuais, quase 6 mil milhões de euros em EBITDA e 2,1 mil milhões de euros em lucros.
Receitas caem no trimestre
Olhando apenas para o terceiro trimestre, é mais evidente o menor fulgor da atividade das empresas ao nível das receitas, mas sem reflexo na evolução dos resultados operacionais, que até invertem da tendência negativa registada no segundo trimestre.
A média das estimativas dos analistas para 10 cotadas do PSI apontam para uma descida de 10,3% nas receitas que, a confirmar-se, será a mais intensa desde o quarto trimestre de 2020. Isto depois de nos dois trimestres anteriores as receitas já terem quase estagnado face ao período homólogo. Uma tendência bem distinta das taxas de crescimento de dois dígitos registadas entre o segundo trimestre de 2021 e o quarto trimestre do ano passado.
Ao nível dos lucros e do EBITDA, a tendência é diferente. Os analistas estimam um aumento de 29% nos lucros entre julho e setembro, recuperando da quebra no segundo trimestre, que foi a mais intensa desde o início da pandemia (-28,3%). No caso do EBITDA, a subida de 9,3% estimada para o terceiro trimestre é substancialmente inferior à queda homóloga de 27% sofrida nos três meses anteriores.
EDP, Galp e BCP com ano recorde
É necessária cautela nas conclusões globais dos lucros agregados do PSI, tendo em conta que um número muito reduzido de empresas tem um peso muito elevado no índice. Entre as 16 cotadas do PSI, oito devem aumentar os lucros e outras tantas baixar, mas as empresas de maior dimensão estão sobretudo na metade que consegue uma evolução positiva.
A EDP continua no topo do ranking, com os analistas a estimarem lucros de 1.125 milhões de euros em 2023, um crescimento de 65% face ao ano passado, que está em linha com a previsão do CEO da empresa de superar os 1.100 milhões de euros. A elétrica liderada por Miguel Stilwell já atingiu por várias vezes a fasquia dos lucros anuais com 10 dígitos, mas 2023 poderá ficar marcado por um recorde.
Já a Galp Energia pode superar pela primeira vez a marca dos mil milhões de euros de lucros anuais, continuando a beneficiar com os elevados preços do petróleo, embora as receitas e o EBITDA tenham descido face a 2022.
O BCP deverá subir este ano ao pódio dos lucros mais elevados, sendo de longe a cotada com a maior progressão face a 2022, em termos relativos e também em volume. Os analistas veem os lucros do banco liderado por Miguel Maya subirem quase quatro vezes para 787 milhões de euros, o valor anual mais elevado de sempre para o BCP e que reflete o bom momento do setor devido ao agravamento das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu.
A soma dos lucros estimados para a EDP, Galp e BCP em 2023 é superior a metade dos lucros estimados para todas as 16 cotadas do índice. Se os resultados líquidos da EDP e BCP estagnassem em 2023, os valores globais do PSI desceriam 6,5%, o que é revelador da importância destas duas cotadas na subida de 16% prevista dos lucros do PSI.
Com tendência inversa estão empresas que atingiram lucros elevados em 2022 à boleia de uma conjuntura muito favorável no setor da pasta e papel que não se repete este ano. As estimativas dos analistas apontam para uma queda de 41% nos lucros da Navigator, que também pressionam a Semapa, enquanto os lucros da Altri devem descer 66%. A Nos deverá baixar os lucros em 34%, uma vez que a venda de ativos empolou os resultados de 2022.
EUA já está a dar a volta e Europa ainda em queda
A elevada preponderância de um conjunto diminuto de empresas nos resultados globais está longe de ser um exclusivo da bolsa portuguesa, sendo até uma das marcas da atual earning season do maior mercado acionista do mundo. Os lucros das denominadas “sete magníficas” (Apple, Meta, Amazon, Alphabet, Microsoft, Tesla e Nvidea) deverão aumentar 35,9% no terceiro trimestre, mitigando a tendência ainda negativa do agregado das cotadas do índice norte-amerinoca S&P500.
As estimativas recolhidas pela Refinitiv apontam para uma descida de 2,3% nos lucros das empresas do índice norte-americano no terceiro trimestre, naquele que será já o quarto trimestre consecutivo de evoluções negativas. Contudo, tendo em conta que habitualmente as empresas superam as previsões por alguma margem, os analistas admitem que o terceiro trimestre possa ser o primeiro de uma série de trimestres em alta.
Embora insuficiente para impulsionar Wall Street, os resultados que já foram apresentados pelas companhias norte-americanas têm superado as estimativas, com destaque para a banca e empresas como a Netflix. As estimativas da Refinitiv apontam para um aumento de 7% nos lucros no quarto trimestre de 2023 e primeiro trimestre de 2024, com taxas de crescimento de dois dígitos a partir daí.
No que diz respeito às empresas europeias, as perspetivas são mais sombrias, embora a tendência de queda seja mais curta. As previsões recolhidas pela Refinitiv apontam para uma descida de 10,4% nos resultados líquidos das empresas do Stoxx600 no terceiro trimestre, uma queda mais intensa do que a sofrida no segundo trimestre (-5,9%). Os analistas projetam mais dois trimestres de evoluções negativas, com o crescimento a ser perspetivado apenas para o segundo trimestre do próximo ano.
As cotadas portuguesas destoam pela positiva, com as estimativas da Refinitiv a apontarem para um aumento de 12,4% nos lucros das empresas nacionais que integram o índice Stoxx600. Melhor só as cotadas da Irlanda, Espanha e Suíça. França destaca-se pela negativa, com uma queda superior a 20% nos lucros.
Tendo em conta as previsões para a totalidade do ano, os analistas veem os lucros das cotadas do S&P500 a subirem 1,8% em 2023 e os resultados líquido das cotadas do Stoxx600 a aumentarem 0,7%. Os mercados acionistas globais estão a registar em outubro o terceiro mês consecutivo de desvalorizações, pelo que os resultados empresariais podem ser determinantes para um movimento de recuperação, ou agravamento da tendência negativa.
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Bolsa a caminho de lucros recorde à boleia do BCP e da EDP
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