O mercado transacional caiu em Portugal nos primeiros seis meses do ano. Houve menos operações e o volume de capital movimentado recuou. As firmas de advogados antecipam o que podemos esperar.
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O arranque do ano não trouxe boas notícias para o mercado transacional português. No primeiro semestre do ano, concretizaram-se 244 negócios de fusões e aquisições (M&A), uma redução de 23% em relação aos mesmos seis meses de 2024, segundo dados da TTR Data. Uma descida que também se verificou no capital mobilizado, que recuou 38%, para cerca de 4.041 milhões de euros.
Apesar do início pouco auspicioso, as sociedades de advogados mostram-se otimistas q.b. em relação à segunda metade do ano. “O segundo semestre promete materializar a inversão da tendência de contração da atividade de M&A e testemunhar a concretização de algumas, há muito aguardadas, grandes transações”, perspetiva Paula Gomes Freire, managing partner da Vieira de Almeida (VdA).
O primeiro semestre até se revelou positivo para a VdA. Foi a firma que liderou as principais operações por valor total, cerca de 490 milhões de euros, com seis operações. “O balanço é muito positivo, tendo a VdA registado no fecho do primeiro trimestre um crescimento a dois dígitos face ao período homólogo de 2024”, revela a managing partner. Já em termos de número de operações, a liderança foi para a Cuatrecasas, que no período prestou assessoria jurídica em 20 M&A.
A TTR Data selecionou como transação do primeiro semestre a conclusão da aquisição da Somincor pela Lundin Mining. Uma operação que contou com a assessoria jurídica da Uría Menéndez e da Morais Leitão.
Apesar de admitir que os primeiros seis meses do ano foram marcados por uma “retração expressiva”, também o sócio da Garrigues, Mário Lino Dias, garante que a firma registou um crescimento “significativo” em relação a 2024, “resultado que reconhecemos estar desalinhado com a tendência geral do mercado de M&A”.
Para a Uría Menéndez, outros dos players na área de M&A, o nível de atividade “relativamente contido” nos primeiros seis meses do ano refletiu a conjuntura económica global e a persistência de fatores de incerteza, “o que levou à suspensão de várias transações e a uma postura mais prudente por parte dos investidores”. Mas o mercado, no segundo trimestre, começou a refletir uma inversão desta tendência, com “sinais claros de retoma do dinamismo”, aponta a sociedade de advogados.
“Este movimento resulta do aumento da confiança e da visibilidade quanto ao contexto macroeconómico, bem como, por um lado, da pressão de muitos investidores para colocarem capital e executarem as suas estratégias de crescimento e, por outro lado, da pressão para desinvestir de investidores institucionais que se aproximam do final do seu ciclo de investimento”, assume Joana Torres Ereio, sócia da Uría.
Um segundo semestre promissor?
Sinais que fazem com que Joana Torres Ereio esteja expectante com a evolução no segundo semestre e confiante do interesse de investidores institucionais e estratégicos, tanto nacionais e internacionais, apesar da crescente tensão geopolítica e dos acentuados níveis de incerteza.
“Embora o mercado, em geral, não esteja a atravessar um período extraordinário, temos conseguido estar presentes em muitas transações, algumas delas de grande relevância no mercado, e o pipeline continua bastante favorável”, refere a sócia da Uría, antecipando um ano “muito positivo” para a Uría, tanto em termos de operações, como de volume de negócios.

Não é a única a estimar uma evolução positiva no que toca a este tipo de operações, como é o caso de Paula Gomes Freire, com a managing partner da VdA antecipar uma inversão do recuo sentido na primeira metade do ano.
Menos confiante mostra-se Mário Lino Dias. O sócio da Garrigues admitiu não esperar uma “mudança significativa” no mercado em relação ao primeiro semestre, uma vez que não se perspetiva um aumento claro do número de operações. “Ainda assim, identificámos setores e operações específicos que nos permitem manter uma perspetiva positiva e acreditar na possibilidade de continuar a crescer”, acrescenta.
Áreas motor de crescimento
Infraestruturas, energia e bancário & financeiro são para Paula Gomes Freire as principais áreas que podem vir a ter mais expressão no segundo semestre, aponta a managing partner da VdA.
Já Mário Lino Dias aposta no setor tecnológico e no de agribusiness e alimentar, uma vez que considera que permanecem entre os mais dinâmicos e com potencial para novas operações relevantes. Mas não só. “A operação do Novo Banco, pelo seu impacto e visibilidade, poderá também funcionar como catalisador para novas transações no setor financeiro, incluindo segurador”, aponta o sócio da Garrigues.
Mário Lino Dias alerta ainda que existem setores que atravessam uma fase de “indefinição”, como a conversão energética, os data centers — a ser reavaliados pelos principais investidores internacionais, nomeadamente norte-americanos — e a indústria farmacêutica, atualmente condicionada por questões tarifárias.
Por fim, a sócia da Uría Menéndez acredita que as áreas de energia, tecnologia, saúde, infraestruturas, imobiliário e em subsetores específicos “considerados particularmente resilientes” podem ter um “nível particularmente elevado de atividade”.
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Operações de M&A em queda. O que esperar no segundo semestre?
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