Os diretores de pessoas que marcaram 2019 (e o que estão a preparar para 2020)

Recrutamento, formação e projetos por concretizar. 2019 foi um ano “cheio” para estes diretores de recursos humanos. Arranque de 2020 traz novos desafios e muitas formas diferentes de gerir… pessoas.

Graça Rebôcho, na Altice. Luiza Izquierdo, na Microsoft. Francisca Matos, na Talkdesk. Maria João Ferreira, na Mercadona. Catarina Horta, no Novo Banco, Pedro Raposo, no Banco de Portugal. Joana Queiroz Ribeiro, na Fidelidade. Sete nomes, sete empresas e sete formas diferentes de gerir pessoas. Escolhidas pela Pessoas por diferentes razões, sete diretores de recursos humanos partilham as suas matrizes de atuação, os maiores de desafios do ano que passou e, claro, antecipam tendências e oportunidades de 2020.

2019 representou para a Microsoft o fim do plano de reestruturação de dois anos e foi cenário para a inauguração do escritório renovado no Parque das Nações, em Lisboa. O espaço é mais ágil e integra dinâmicas dos escritórios do futuro, a pensar no bem-estar das centenas de trabalhadores que a tecnológica emprega na sede lisboeta.

O ano que passou foi também um marco histórico para a cadeia de supermercados espanhola Mercadona, que escolheu Portugal como mercado de estreia para os primeiros passos na internacionalização. Em 2019, a gigante de distribuição abriu 10 lojas a norte e contratou mais de 1.000 trabalhadores em Portugal, estreando novos conceitos de retenção de talento e aposta na formação. Em 2020, a Mercadona quer continuar a crescer e, em breve, chegará à capital.

A empresa portuguesa de desenvolvimento de software Talkdesk reforçou a equipa e atingiu o patamar dos 500 colaboradores, apesar das dificuldades na atração de talento que se vivem nesse mercado. A empresa com estatuto de unicórnio encontrou soluções para um setor onde a procura continua a ultrapassar a oferta, através de uma parceria com a Universidade de Coimbra, para recrutar jovens para a empresa. Em 2019, abriu o terceiro escritório e um centro de inovação.

Ilustração de Louise Farias.Louise Farias

No setor das seguradoras, o departamento de pessoas da Fidelidade destacou-se por querer tornar “único” cada um dos 3.400 colaboradores, através de programas de avaliação de desempenho, formação de jovens talentos e de integração dos colaboradores mais séniores na empresa.

Colaboradores descontentes, despedimentos e um setor em reestruturação. É assim no Novo Banco, herança do BES, onde os desafios para lidar com os colaboradores ganham outra dimensão. Para contornar os obstáculos, o departamento de RH do banco tem tentado devolver alguma normalidade aos trabalhadores e, para 2020, tem previstos acordos e o descongelamento de planos de carreira.

No Banco de Portugal começam a sentir-se os ventos da mudança. Em 2020, o banco central nacional ficará mais jovem, com mais mulheres do que homens a trabalhar na empresa e terá um novo governador a partir de julho.

A atração de talento, o recrutamento, a igualdade e diversidade dos colaboradores, a formação e requalificação de colaboradores, os benefícios e até a reformulação do espaço de trabalho, completaram o caminho estratégico do departamento de recursos humanos nestas sete empresas, onde as pessoas tiveram um papel central na implementação e na gestão da mudança.

Luisa Izquierdo, diretora de recursos humanos da Microsoft

Isabel Izquierdo DRH Microsoft Iberia
Luisa Izquierdo, diretora de recursos humanos da Microsoft Hugo Amaral/ECO

Nova Casa a pensar nos colaboradores

Transformar os escritórios em espaços mais ágeis, focados no bem estar dos colaboradores, tem sido a aposta de grandes empresas um pouco por toda a Europa. A Microsoft não ficou atrás. Em 2019, abriu as portas da nova Casa, no Parque das Nações, e revelou um escritório totalmente aproveitado, mais sustentável, mais ágil, inclusivo e com conceitos como o remote, o clean desk e o hot seat.

2019 foi também o ano de arriscar. Em julho, a Microsoft abriu a primeira loja na Europa, em Londres, que ocupa três andares e 22 mil metros quadrados. Foram contratados 150 colaboradores no Reino Unido.

Luisa Izquierdo, diretora de recursos humanos da Microsoft, acredita que a valorização dos recursos humanos pode começar em algo tão simples como a reorganização do espaço e uma nova arquitetura, mais familiar, propícia à criatividade e colaboração, a pensar nos “sonhos e ambições” dos 850 colaboradores em Portugal.

Maria João Ferreira DRH Mercadona
DR

Maria João Ferreira, diretora de recursos humanos da Mercadona

Frutos de uma boa vizinhança

Tudo começou há quatro anos. A Mercadona começou a planear a internacionalização e optou pelo mercado português para ser o eixo para essa expansão. Com este crescimento, não se esqueceram as pessoas. Em 2019, a cadeia espanhola de supermercados já empregava 1100 trabalhadores em Portugal, com 10 lojas abertas a norte do país. Pouco menos de um ano depois de chegar a solo nacional, em dezembro, a Mercadona anunciava a abertura de mais uma loja em 2021, em Santo Tirso e, dentro de dois anos, estará a chegar à capital.

Nesta empresa, os clientes são tratados por «chefes» e os colaboradores são o fator chave para a expansão da empresa e o que tem permitido ultrapassar desafios, reafirma Maria João Ferreira, diretora de recursos humanos da Mercadona. A cadeia espanhola tem dado passos de gigante na igualdade de género, tendo hoje mulheres em todos cargos hierárquicos da empresa.

“O facto de termos uma equipa com colaboradores 100% satisfeitos e 100% comprometidos, que acompanha estas rápidas e constantes mutações, é o que nos permite assumir uma visão de longo prazo para fazer tudo o que for necessário para transformar a Mercadona”, explica Maria João Ferreira.

Francisca Matos, talent director da Talkdesk

Francisca Matos DRH Talkdesk
Hugo Amaral/ECO

Um unicórnio português em expansão

Mais de mil milhões de dólares. Foi a avaliação atingida pela Talkdesk em 2018, juntando-se assim às outras duas empresas com estatuto de unicórnio em Portugal, e não ficou indiferente à comunidade internacional. Foi considerada uma das 100 melhores empresas privadas na cloud do mundo, segundo a revista Forbes.

Mas não só de números se faz um negócio. Em 2019, a empresa de desenvolvimento de software baseado na cloud, fundada por Tiago Paiva e Cristina Fonseca, duplicou o número de colaboradores. Em 2019, abriu as portas do terceiro escritório no Porto e anunciou um novo centro de inovação em Aveiro. Numa área onde a oferta de talento escasseia, a Talkdesk tem encontrado alternativas de encontrar e reter talento. Lançou o Tech Dojo, um programa de seis meses dinamizado em todos os escritórios da Talkdesk em Portugal e direcionado a recém-licenciados e mestres nas áreas da engenharia Informática, com uma taxa de retenção de 100% dos jovens para a empresa.

Graça Rebôcho, diretora de recursos humanos da Altice

Graça Rebocho DRH Altice
Hugo Amaral/ECO

Altice: as pessoas no centro

“E se o sucesso não fosse o indicador mais importante para os líderes e para os gestores? E se a felicidade passasse a ser uma forma de medir a liderança?”, questionava Alexandre Fonseca, CEO da Altice, durante uma conferência sobre liderança numa conferência sobre liderança, em outubro do ano passado.

Em 2019, a Altice deu por terminado o plano de reestruturação iniciado em 2017, reafirmou o compromisso com as tendências atuais do contexto de trabalho e colocou os colaboradores no centro da mudança. A gigante de telecomunicações assumiu a aposta nos recursos humanos, através de programas para o rejuvenescimento do capital humano, a formação de novos líderes e a qualidade de vida dos colaboradores, afirmando a «estabilidade laboral» como prioridade estratégica.

Ao longo do ano, a Altice lançou o programa Darwin, para o rejuvenescimento dos quadros e a integração de jovens universitários como trainees, e o Next Generation ComEx, que aproximou jovens promissores aos órgãos de decisão da empresa.

Joana Queiroz Ribeiro, diretora de recursos humanos da Fidelidade

Joana Queiróz Ribeiro DRH Fidelidade
Hugo Amaral/ECO

O seguro são as pessoas

Na Fidelidade, uma coisa é segura: humanidade na gestão de pessoas e valor em cada (potencial) cliente, defende Joana Queiroz Ribeiro, responsável pela organização e gestão de recursos humanos da seguradora.

Num setor onde se cruzam gerações, a Fidelidade tentou adaptar-se, criando soluções à medida para todos os grupos etários da organização. Ao longo do ano, foram implementados programas de avaliação de desempenho, de formação de jovens talentos e de integração dos colaboradores mais séniores na empresa, como são exemplo os programas “Valorizar a Experiência” e “Fyouture”. “Aquilo que temos de fazer é garantir que as pessoas vejam em nós alguém que está ali por ela. Claro que é dos nossos clientes que queremos cuidar mas todos os outros são potenciais clientes”, sublinha a diretora de RH.

Fora de portas, 2019 foi um ano de conquistas para a Fidelidade, tendo sido a companhia de seguros mais premiada ao longo do ano. Arrecadou os prémios Superbrands, a Escolha do Consumidor e foi a seguradora que obteve o melhor índice Marktest Reputation Index 2018.

Em 2020, a seguradora vai lançar o centro de conhecimento da Fidelidade – Wevolution – que inclui programas de formação para todos os colaboradores.

Pedro Raposo, diretor de recursos humanos do Banco de Portugal

 

Pedro Raposo DRH Banco de Portugal
Hugo Amaral/ECO

Mais mulheres e mais jovens

Em 2020, o Banco de Portugal terá um novo governador. Carlos Costa está em final de mandato – termina em julho de 2020 – e na linha da frente para a sua sucessão estão os nomes do ministro das Finanças, Mário Centeno, e do vice-governador, Luís Máximo dos Santos. Mas esta é apenas uma das grandes mudanças que ocorrerão no novo ano dentro do banco central nacional.

O Banco de Portugal é uma instituição com mais de 170 anos. De certa maneira, a história tem sempre forma de se manifestar dentro de uma organização. Isso será verdade, mas a história também nos conta um sentido de evolução de uma instituição com o peso e relevância que o Banco de Portugal tem na sociedade. No que diz respeito aos recursos humanos, 2020 trará ao supervisor da banca dois acontecimentos carregados de simbolismo, mas que terão impacto palpável na sua cultura organizacional no futuro: pela primeira vez trabalharão no banco central mais mulheres do que homens; por outro lado, a geração mais jovem será maior do que as anteriores gerações. Esses serão os maiores desafios.

Catarina Horta, diretora do departamento de capital humano do Novo Banco

Catarina Horta, DRH Novo Banco
Hugo Amaral/ECO

Normalizar a vida dos trabalhadores

Não é fácil liderar o departamento de recursos humanos de um banco que quase todos os dias figura nas primeiras páginas dos jornais pelas piores razões. Também não traz o melhor conforto do mundo saber que se trabalha numa instituição e num setor que continua em profunda reestruturação e com necessidade de fazer despedimentos em larga escala.

O ano de 2019 voltou a ser assim para o Novo Banco. O banco que nasceu em 2014 da resolução do BES continuou a registar prejuízos volumosos. É o legado do BES que continua a pesar nas contas e que tem obrigado o banco a fazer pedidos milionários ao Fundo de Resolução que caem cada vez pior na opinião pública. Por outro lado, a instituição financeira pediu e obteve luz verde do Governo para poder rescindir com 310 trabalhadores por mútuo acordo até 2021, ano em que termina o rigoroso plano de reestruturação. Os trabalhadores ficaram desconfiados com as intenções da administração.

O Novo Banco continua a fazer o seu caminho e a querer mostrar a todos que não é apenas um sorvedouro de dinheiro. Para os trabalhadores da instituição, para lá do desgaste diário que é ver nos jornais o nome da casa onde trabalham, 2020 poderá trazer melhores notícias: está a ser preparado um novo modelo de plano de carreiras, que estão congelados desde 2011. Trata-se de um passo importante na normalização da vida dos trabalhadores do Novo Banco.

(*Artigo retificado com mais informação relativa à TDX-UC Data Science Academy)

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