São bilionários, integram a lista dos mais ricos da Bloomberg e Forbes e também já investiram no futebol português. Quem são os novos donos da bola?
Quando a temporada 2024-2025 da liga portuguesa de futebol arrancar mais logo em Alvalade, o Sporting vai defrontar um Rio Ave cujo controlo que acabou de mudar para as mãos do homem mais rico da Grécia.
Evangelos Marinakis detém uma fortuna avaliada em 3,6 mil milhões de dólares, e construída em torno dos barcos e jornais e a… escrever músicas.
O bilionário grego fechou recentemente a compra de 80% da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) vila-condense, com o emblema português a juntar-se ao portefólio do bilionário grego que já conta com os históricos Olympiacos (Grécia) e Nottingham Forest (Inglaterra).
Embora seja considerado periférico, o campeonato português está a começar a atrair o interesse dos grandes investidores internacionais, entre fundos de investimento, magnatas e empresários que fazem parte das seletivas listas dos mais ricos do mundo da Bloomberg e da Forbes.
Tentam tirar o seu quinhão do apetecível negócio do futebol. Mas por que apostam num mercado tão pequeno como o português?
“Estamos posicionados como uma liga intermédia, com capacidade para valorizar jogadores e garantir a sua transferência para os principais mercados europeus”, explica o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista.
“Tem sido o nosso papel formador e os nossos recursos humanos, somado à descoberta de talentos, a fazer a diferença”, acrescenta o dirigente.
O advogado Fernando Veiga Gomes – que assessorou Marinakis na compra de 80% da SAD do Rio Ave — concorda: “O talento inesgotável de Portugal é um dos fatores”. Mas não só.
Em Portugal não existe um limite de número de estrangeiros e é possível um clube ter, além do plantel principal, uma equipa B, uma equipa C, uma equipa de sub-23, sub-21, sub-19, e escalões inferiores. “Isso permite aos investidores terem várias dezenas de jogadores em Portugal”, aponta sócio e co-coordenador da Área de Prática de Direito do Desporto da Abreu Advogados.
Por outro lado, Portugal tem servido de trampolim para os jogadores que vêm sobretudo da América Latina e de África. “Dá uma primeira experiência de adaptação à Europa. (…) Portugal é um país tranquilo para os jovens jogadores se adaptarem”, frisa, lembrando ainda que o preço de aquisição dos passes dos atletas é “ainda muito acessível” se compararmos com os valores praticados nas chamadas Big-5.
Em 2023, os clubes portugueses conseguiram receitas de quase 600 milhões de euros com a transferência de jogadores, com Portugal a ser o sétimo país com mais “exportações” de talento futebolístico, segundo os dados da FIFA.
Metade dos clubes tem capital estrangeiro
A centralização dos direitos televisivos – que será obrigatória a partir da época desportiva 2028-2029 – poderá ser o gamechanger, segundo Veiga Gomes: mais receitas para os clubes chamarão a atenção dos investidores.
Atualmente, metade das sociedades desportivas que controlam os 18 clubes da primeira liga tem capital estrangeiro, de acordo com os dados de transparência da Federação Portugal de Futebol (FPF). Certamente não ficará por aqui até porque a tendência lá fora é evidente.
Em 2012, 40 clubes faziam parte de uma estrutura de MCO (“Multi-Club Ownership”). Dez anos depois, o número de clubes com vários proprietários disparou para 180 clubes e mais de 6.500 jogadores estão contratados por equipas ligadas a estes grupos, de acordo com o último relatório “European Club Footballing Landscape report” da UEFA.
Tanto Joaquim Evangelista como o advogado Fernando Veiga Gomes assumem que o futebol português não vai escapar a este movimento. Trazendo consigo vários benefícios sobretudo do ponto de vista da estabilidade e sustentabilidade financeira, mas exigindo escrutínio para evitar erros do passado.
“A presença destes investidores é positiva para o futebol português. Trazem capital, novos recursos humanos, know-how e acesso a grupos internacionais. As SAD passam a ter a sua administração própria e separada da influência que tradicionalmente os três clubes grandes exerciam, o que é positivo”, observa o advogado.
“Garantindo o escrutínio da idoneidade desses investidores, prevenindo os conflitos de interesses e exigindo transparência e um modelo de governação sustentável, vejo como boa a entrada deste investimento”, destaca o presidente do sindicato.
Três grandes? “Não demorará muito” até abrirem capital
Nos três grandes, a maioria do capital das SAD continua nas mãos dos clubes (leia-se sócios), apesar da presença de investidores com posições minoritárias: José António dos Santos no Benfica, o Álvaro Sobrinho no Sporting e os irmãos Oliveira no FC Porto. “Mas não demorará muito” até que abram o capital a grandes investidores estrangeiros, refere Fernando Veiga Gomes.
“Poderá ser uma solução para terem acesso a outro tipo de capital para investimento e para que possam reter talento sem terem todos os anos que vender as suas principais pérolas”, atira o advogado.
Só assim poderão recuperar a competitividade a nível internacional, sublinham Evangelista e Veiga Gomes.
Na verdade, os fundos internacionais como a Apollo e Ithaka já estão dentro dos grandes do futebol: no primeiro caso ajudou os leões a saldarem a dívida junto da banca, através da antecipação de receitas televisivas; no segundo através de um recente acordo para a venda de 30% da empresa que vai gerir o naming dos dragões.
E esta sexta-feira a Bloomberg dá conta do interesse do grupo americano Lenore na participação de 16% que José António dos Santos detém na SAD encarnada, num negócio avaliado em 49 milhões de euros.
Quem são os novos donos da bola
Bilionário israelita em Famalicão
O israelita Idan Ofer é o principal dono da Quantum Pacific Group, um conglomerado industrial que controla a Quantum Pacific Shipping. Além do transporte e contentores, tem ainda interesses nas áreas da energia e automóveis: é acionista da Israel Corporation e da Kenon Holdings. Com um património avaliado em 20,3 mil milhões de dólares, ocupa o lugar 96 da lista dos mais ricos do mundo elaborada pela Bloomberg.
Em 2019, o grupo adquiriu 85% da SAD do FC Famalicão através da Quantum Pacific Management Ltd.
SAD: FC Famalicão
Fundo (% na SAD): Quantum Pacific Management Ltd (85%)
Investidor (País): Idan Ofer (Israel)
Fortuna ($): 20,3 mil milhões
Interesses: Transportes, logística, automóveis e energia
Homem mais rico do Egito aposta em Guimarães
Descendente da família mais rica do Egito, Nassef Sawiris é um conhecido investidor da indústria do desporto. É um dos donos do clube inglês Aston Villa, da Premier League. Também detém uma participação de 5% na empresa Madison Square Garden Sports, cotada em Nova Iorque, proprietária das equipas NBA New York Knicks e NHL Rangers. Detém ainda 6% da gigante alemã de equipamento desportivo Adidas.
Tem um património avaliado em 8,8 mil milhões de dólares, lidera a OCI, um dos maiores produtores mundiais de fertilizantes e a Orascom Construction, uma empresa de engenharia e construção. Também surge no ranking da Bloomberg, no lugar 308.
Através do fundo V Sports, entrou no capital do clube vimaranense no ano passado.
SAD: Vitória SC
Fundo (% na SAD): V Sports (29%)
Investidor (País): Nassef Sawiris (Egito)
Fortuna ($): 8,6 mil milhões
Interesses: Desporto, Construção e Engenharia
Qataris viajam de Paris a Braga
A Qatar Sports Investments é foi fundada em 2005 em Doha para responder às ambições do país de ganhar protagonismo mundial atrás do desporto e entretenimento. É uma subsidiária do fundo soberano qatari, sendo liderada por Nasser Al-Khelaïfi.
Desde 2011 que controla do clube francês PSG, onde somou investimentos avultados na contratação de jogadores como Messi, Neymar e Mbappé.
O fundo soberano comprou no ano passado 5% da Monumental Sports & Entertainment, que detém os Washington Wizards (NBA), as Washington Mystics (WNBA) e os Washington Capitals (NHL), num negócio de mais de quatro mil milhões de dólares.
Antes disso, em dezembro de 2022, a Qatar Sports Investments entrou na SAD do SC Braga.
SAD: SC Braga
Fundo (% na SAD): Qatar Sports Investments (29,6%)
Investidor (País): Nasser Al-Khelaïfi (Qatar)
Fortuna ($): 8 mil milhões
Interesses: Desporto
Bilionário grego desagua no Rio Ave
Tem uma armada de mais de 100 navios, escreve letras de música e também é um conhecido investidor do mundo do futebol: detém o clube grego Olympiacos (que acabou de conquistar a Liga Conferência) e ainda o histórico clube inglês Nottingham Forest. Evangelos Marinakis é também um magnata dos media: através da Alter Ego Media, o maior grupo de media grego que tem no seu portefólio o canal de televisão Mega TV e os jornais históricos TO VIMA e TA NEA.
Tem uma fortuna avaliada em mais de três mil milhões, segundo a revista Forbes.
Agora acabou de comprar 80% da SAD do Rio Ave, através da RAH Sports Investments.
SAD: Rio Ave
Fundo (% na SAD): RAH Sports Investments (80%)
Investidor (País): Evangelos Marinakis (Grécia)
Fortuna ($): 3,6 mil milhões
Interesses: Transporte marítimo, Media e Desporto
Da NBA para Estoril
Detém participações em equipas nas principais ligas americanas: Philadelphia 76ers (NBA), New Jersey Devils (NHL), Real Salt Lake (MLS), Cleveland Guardians (MLB).
Na Europa já controla clubes de futebol de menor dimensão, de onde se destaca o Crystal Palace (Inglaterra). Mas foi através da Global Football Holdings que construiu o seu portefólio no desporto-rei: Brondby (Dinamarca), Ado Den Haag (Países Baixos), Augsburg (Alemanha), Alcorcón (Espanha) e SK Beveren (Bélgica), através da Global Football Holdings. É através desta sociedade que também passou a controlar o Estoril-Praia desde junho de 2021.
Segundo a Forbes, David Blitzer tem uma fortuna avaliada em 3,1 mil milhões de dólares.
SAD: Estoril-Praia
Fundo (% na SAD): Globalon Football Holdings (84,53%)
Investidor (País): David Blitzer (EUA)
Fortuna ($): 3,1 mil milhões
Interesses: Desporto
(Notícia atualizada às 16h22 com interesse do grupo americano Lenore na SAD do Benfica)
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