2017: quanto pior para a Europa, melhor para Portugal?

Portugal pode pedir ao Pai Natal e ao Menino Jesus “um pouco” de incerteza política para o próximo ano: ou seja, para o ano, quanto “um pouco” pior para a Europa, melhor para Portugal.

No meu primeiro artigo aqui no ECO, referi que, paradoxalmente, uma melhor conjuntura externa poderia ser pior para Portugal, já que levaria a menos apoio por parte do BCE e consequentemente, taxas de juro mais altas.

De certa forma, isso já se foi materializando. A atividade económica tem continuado a recuperar na Zona Euro e nos EUA, e a inflação, ainda que continue baixa e contida, vai dando sinais de vida já que os riscos de deflação ou de forte desinflação são já uma história do passado, principalmente do lado de lá do Atlântico. Consequentemente, a ação dos Bancos Centrais tornou-se mais restritiva no caso do FED e vai tornar-se menos expansionista no caso do BCE.

Começando pela Reserva Federal, depois da reunião da semana passada, é agora esperado que as taxas de juro subam mais e (ligeiramente) mais rápido. Embora a decisão de subir a taxa de juro de referência em 25 pontos base não tenha surpreendido as expectativas do mercado, o perfil mais “agressivo” de subida de taxas para o próximo ao: três aumentos em vez de dois, acabou por surpreender os economistas e as expectativas do mercado.

O enviesamento é agora claramente para taxas mais altas. E poderá até aumentar com a administração Trump. Durante a campanha, Donald Trump criticou por diversas vezes as decisões do FED, pelo que provavelmente deverá nomear “falcões” para o conselho de governadores

Quanto ao BCE, este já começou de certa forma a delinear a sua estratégia de saída, diminuindo o volume de compras a partir de março do próximo ano. No entanto, bem ao seu estilo, Mario Draghi não fechou completamente a porta a mais estímulos.

Na conferência de imprensa, Draghi referiu que a incerteza (política) mantém-se elevada. E apesar de isso não ser propriamente uma surpresa, significa que o BCE se manterá vigilante e poderá aproveitar qualquer crise política como uma “desculpa” para aumentar os estímulos.

Nem de propósito, no seu último boletim económico, o BCE avalia o impacto da incerteza na economia da Zona Euro desde a crise financeira de 2008 e da crise das dívidas soberanas. Ou seja, o staff do BCE já estará a avaliar o que fazer caso a incerteza aumente outra vez em 2017. E de facto, 2017 está recheado de eleições e de eventos de elevada incerteza principalmente na Europa: eleições na Holanda, França, Alemanha e possivelmente Itália, e ainda as negociações sobre o Brexit

À partida, um aumento da incerteza prejudicaria a performance económica de Portugal, através de dois fatores: redução das exportações e o aumento dos custos de financiamento e/ou maior restrição de crédito. No entanto, no atual contexto, provavelmente o segundo fator não só não se materializará como até poderá funcionar em sentido contrário.

Caso a incerteza política aumente de tal forma que o BCE considere que possa vir a ter um impacto significativo na atividade económica, provavelmente, Mario Draghi terá então todos os argumentos para convencer os falcões mais próximos do Bundesbank e do Sr Weidman e, assim, aumentar os estímulos.

Assim, o impacto será positivo para Portugal! Com um aumento do programa do BCE, as yields da dívida pública provavelmente descerão e, por arrasto, também o custo de financiamento do setor privado.

Claro que caso os piores cenários se materializem: a eleição de Marine le Pen em França, uma maioria nacionalista anti-europeia na Holanda e uma forte viragem à direita na Alemanha (com ou sem entrada da AfD no Governo) todo o projeto de construção europeia pode ficar em risco… e nesse cenário, até a própria atuação do BCE poderá ser posta em causa, e nem o Super-Mario nos salvará…

No entanto, estes cenários são ainda “cisnes negros” e caso aconteçam terão impactos bem mais profundos do que um simples aumento das yields. Por isso, Portugal até pode pedir ao Pai Natal e ao Menino Jesus “um pouco” de incerteza política para o próximo ano: ou seja, para o ano, quanto “um pouco” pior para a Europa, melhor para Portugal.

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