A estratégia deste Banco de Fomento está errada

  • Henrique Cruz
  • 11:22

A oferta do Banco Português de Fomento é cara para as empresas. O modelo retalhista ambicionado está atolado em requisitos burocráticos.

Depois de estabelecer acordos de parceria com o Grupo Banco Europeu de Investimento e com as Redes Europeias de Bancos de Fomento ELTI/NEFI e EVFIN, um dos meus últimos atos públicos enquanto presidente da IFD (ex-Banco de Fomento), em 9 de outubro de 2020, foi a assinatura de um Memorandum of Understanding com o HDBI, o braço de capital do Banco de Fomento da Grécia, que visava “a identificação de áreas de interesse comum, uma cooperação estreita entre as duas organizações em futuras iniciativas conjuntas de investimentos de capital em empresas através do desenvolvimento de ações transfronteiriças, da troca de informações, know-how e boas práticas, bem como da implementação de ações promocionais e eventos”. O site do HDBI regista esse ato.

A Grécia separou o negócio de crédito (empréstimos e garantias) do HDB do braço de instrumentos de capital do HDBI, num modelo de negócio exclusivamente grossista, utilizando cofinanciamentos com Bancos e participações em Fundos de Capital de Risco.

Desde então, o HDBI estabeleceu uma parceria de assistência técnica com o Banco promocional Francês “BPI France”, financiado pelo Serviço de Apoio às Reformas Estruturais da Comissão Europeia. Foram examinadas as estruturas e produtos financeiros de outros bancos e organizações europeias de desenvolvimento, para que fossem adotadas as melhores práticas aplicadas e adaptadas às suas necessidades e circunstâncias Economia grega. Em maio de 2021 o HDBI integrou no seu Conselho de Administração, com funções não executivas, um alto quadro do BPI France.

Com o apoio do BPI France, foram desenhados diversos instrumentos financeiros de capital e quase-capital, seguindo um modelo grossista de Fundo de Fundos. Destaco, em especial, um programa de investimento em Fundos de Reestruturação com o objetivo de apoiar empresas necessitadas de reestruturação/reorganização que atuem principalmente na produção e indústria transformadora, no montante total de 150 milhões de euros.

O HDBI assinou em abril de 2022 um outro protocolo de cooperação com BPI France, KfW Capital (o braço de capital do Banco de Fomento Alemão), a TESI (Fundo Finlandês de Apoio a Start-Ups) e o VÆKSTFONDEN (Dinamarca). O HDBI assumiu também a gestão de recursos do Ministério do Desenvolvimento e Investimentos para participação em Fundos de Capital de Risco Verdes (desenvolvimento sustentável e economia circular), coinvestimentos com
investidores privados (private equity) da Grécia e do exterior; apoio à investigação, a inovação e às empresas na fase de arranque, através de aceleradoras de negócios, incubadoras e transferência de tecnologia.

Em 2022, o HDBI celebrou um acordo de coinvestimento e cooperação, de importância estratégica, com o grupo de investimento Mubadala, que é o braço de investimento estatal dos Emirados Árabes Unidos, para investimentos conjuntos (coinvestimentos) no valor de 400 milhões de euros (ou seja, 200 milhões de euros de cada lado) em empresas gregas. No mesmo ano, o HDBI celebrou acordo com o ADQ a Holding de Investimento do Abu Dhabi para financiar investimentos no valor de 4.000 milhões de euros em diversos setores da economia Grega.

A ênfase tem sido colocada na continuação da “política extrovertida” da Administração e intercâmbio de know-how sobre as melhores práticas internacionais.

De forma diversa, a estratégia do Banco Português de Fomento aglutinou numa única instituição a execução dos instrumentos financeiros de dívida, garantias e capital, mantendo ainda uma participada que gere fundos de capital de risco, e pretende ainda criar uma seguradora de crédito. Insiste na integração de atividades retalhistas e de influência significativa sobre as sociedades de garantia mútua e dedica imensos recursos à prestação de serviços de back office de baixo valor às suas participadas. Não se conhecem iniciativas de parceria internacional para integração das experiências já testadas noutros países: é público o afastamento à parceria com o Grupo Banco/Fundo Europeu de Investimento (que aliás é visto como concorrente na oferta de garantias de crédito).

A oferta do Banco Português de Fomento é cara para as empresas. O modelo retalhista ambicionado está atolado em requisitos burocráticos, que num modelo grossista são assegurados pelos intermediários financeiros, e exige uma estrutura de uma dimensão economicamente inviável atendendo ao número reduzido de clientes que um Banco de Fomento pode vir a servir diretamente para suprir falhas de mercado, já para não referir o elevadíssimo risco reputacional das operações diretas. Esta estratégia está errada. E os (fracos) resultados do modelo retalhista estão à vista: 3 operações diretas no programa deal by deal e 15 operações no programa de recapitalização estratégica totalizam 110 de uma dotação de 400 milhões de euros.

  • Henrique Cruz
  • Ex-presidente da IFD

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