A Oeste Nada de Novo: o setor de atividade de M&A em 2023

  • Manuel Santos Vítor
  • 3 Maio 2023

O setor de M&A é muito sensível a fatores de instabilidade e volatilidade. Quando ocorrem, levam com efeitos quase imediatos ao adiamento e cessação de operações e de atividades no setor.

“A Oeste Nada de Novo” era um dos filmes nomeados para o Óscar de 2023 de melhor filme. Ganhou “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”.

O título desse filme poderia aplicar-se a uma análise do setor de M&A na transição de 2022 para 2023.

Depois de um segundo semestre forte no setor de M&A em 2021, o mundo foi surpreendido em finais de fevereiro de 2022 com a invasão da Ucrânia e, a partir daí, uma enorme instabilidade decorrente de uma conjugação de fatores, como o aumento exponencial dos custos de energia, incerteza no seu fornecimento, o aumento das taxas de juro e da inflação. Essa instabilidade perdurou durante o ano de 2022 e afetou a maior parte da economia dos países ocidentais.

O setor de M&A é muito sensível a fatores de instabilidade e volatilidade. Quando ocorrem, levam com efeitos quase imediatos ao adiamento e cessação de operações e de atividades no setor.

No final do ano, tinha-se registado em Portugal um significativo retrocesso em relação a 2021 com menos 15% de transações e menos 25% no seu valor global.

E nada de novo ocorreu até agora em 2023. Ou será que não é bem assim?

Continua a guerra, sem fim à vista, a inflação parece ter estabilizado e começado a regredir mas as taxas de juro continuam a aumentar. Parece ter também estabilizado o setor da energia e de abastecimento de matérias primas essenciais graças aos esforços por parte dos países ocidentais e outras economias mais impactantes em ultrapassar as dificuldades de 2022: novas alternativas de abastecimento, redução do consumo de energia, onde também ajudaram as condições climatéricas suaves, e o recurso a novas alternativas de abastecimento de matérias primas.

Ou seja, os principais fatores que levaram a que a atividade de M&A contraísse em 2022 permanecem em 2023, quando muito com ligeiras melhorias. Por isso, e se não houver novidades, o ano de 2023 poderá ser igual a 2022 ou talvez um pouco melhor.

A probabilidade de o ano ser, a final, melhor que 2022 não é ilusória. Quais as possíveis razões para tanto?

  1. Os players do setor já terão, na medida do possível, contabilizado e incorporado nos seus modelos de avaliação os fatores de instabilidade de 2022;
  2. Alguns desses fatores registam ligeiras melhorias, como a inflação;
  3. Há dinheiro para novos projetos, por exemplo no setor de private equity e mesmo grandes grupos empresariais, e os nossos bancos parecem sair da letargia em que estavam enredados com sucessivas crises, taxas de juros negativas ou quase, e a viverem de comissões em vez de empréstimos e financiamentos de projetos;
  4. Alguns setores permanecem robustos, dinâmicos e com oportunidades interessantes como sejam, os setores de energia, imobiliário, agroindustrial e empresas tecnológicas;
  5. Operações como a privatização da Efacec e da TAP, a capitalização da EDP e outras pré-anunciadas podem influenciar positivamente o mercado;
  6. Algumas empresas portuguesas tem adquirido empresas noutras jurisdições, sobretudo na Europa, aproveitando oportunidades;
  7. É provável que 2023 seja o ano em que se sinta (finalmente….) o efeito da bazooka europeia o que pode gerar, indiretamente, oportunidades de M&A;
  8. Também podem surgir oportunidades em setores mais afetados por via de restruturações de grupos empresariais e venda de distressed assets.

Mantemo-nos moderadamente otimistas, esperando que os próximos meses tragam mais confiança e fatores positivos que mexam positivamente com o setor. Até lá, vejam o filme e leiam o livro.

  • Manuel Santos Vítor
  • Sócio da Abreu Advogados

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