A PGR Lucília Gago e a ‘Barbie’, de Greta Gerwig
Curioso que em momento algum falou ou pediu desculpa pelas sucessivas violações do segredo de Justiça (em fases em que só Ministério Público e polícias sabem o que se passa nas investigações).
Este mês, a PGR Lucília Gago presentou-nos, finalmente, com uma entrevista em pleno horário nobre da RTP. Aquela que foi a primeira em seis anos de mandato (e com certeza será a única, já que este termina em outubro), tem sido criticada por tudo e todos. Ora, eu devo dizer que esperava pior. Bem pior. Concretizando: só quem não conhece o Ministério Público a fundo e não conhece quem o compõe, representa e lidera, é que poderia achar que nestes cerca de 30 minutos de entrevista, sairia um assumir de culpas, uma postura de autocrítica ou, até mesmo, uma aprendizagem no sentido do que, daqui para a frente, o MP e a PGR não podem continuar a fazer. Impensável!
Porque a PGR – titular da investigação criminal – continua investida numa postura de arrogância, de superioridade e mantém um erro crasso que é achar que, em nome de uma autonomia, os magistrados não devem prestar contas. Ou que estes não devem ser pressionados ou dar justificações a quem os lidera.
Ainda assim, foi assertiva, foi corajosa (no sentido em que não teve papas na língua) e foi direta ao assunto. Mas, na cabeça de Lucília Gago, a culpa de parágrafos que resultaram na demissão de ex-primeiros ministros e que, oito meses depois, ainda não deram em nada, detenções a durarem mais de 15 dias até se saberem medidas de coação ou escutas a governantes por mais de quatro anos, não é problema dela.
Apontou baterias a Marcelo Rebelo de Sousa (aqui até concordo que foram justas), à ministra da Justiça (que perplexidade ser criticada por um membro do executivo!), aos juízes de instrução que demoram a decidir as medidas de coação e até às sucessivas greves dos oficiais de justiça que são, no fundo, os grandes malandros responsáveis pelos atrasos na Justiça.
Curioso que em momento algum falou ou pediu desculpa pelas sucessivas violações de segredo de Justiça (em fases judiciais em que só Ministério Público e polícias sabem o que se passa nas investigações) nem tão pouco pediu desculpa pela Justiça de espalhafato que acontece precisamente por essas violações. Espalhafato que, segundo a própria, não é seu apanágio. Ainda assim, podia ter sido bem pior. Senti-me como que a sair do filme ‘Barbie’ em que as minhas expectativas eram tão baixas mas tão baixas que até acabei a gostar. Ou a suportar.
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