A (quase) invisível pegada do digital no ambiente

  • Tiago Ferreira Henriques
  • 17:14

Vivemos rodeados de ecrãs. Tudo isto parece leve, limpo e silencioso. Mas este mundo digital tem um lado invisível e poluente.

É relativamente fácil imaginar o impacto ambiental de um avião a descolar ou de uma fábrica a operar a todo o vapor. Mas quem pensaria que ver uma série, enviar um e-mail ou guardar fotografias na “cloud” também contribui para as alterações climáticas?

De facto, vivemos rodeados de ecrãs. Trabalhamos online, comunicamos por mensagens instantâneas, ouvimos música em streaming e passamos (demasiadas) horas nas redes sociais. Tudo isto parece leve, limpo e silencioso. Mas este mundo digital tem um lado invisível e poluente.

O que acontece é que cada uma destas ações digitais depende e necessita de uma ampla infraestrutura física como servidores, cabos submarinos, centros de dados espalhados por todo o mundo, a funcionar continuamente, a consumir energia e… a produzir emissões. Nós não vemos esta realidade, mas… ela está lá… a suportar cada clique, cada scroll, cada mensagem de voz, cada vídeo que vemos.

Mesmo algo tão simples como guardar um ficheiro cloud requer armazenamento permanente em i que precisam de refrigeração constante para não sobreaquecerem, por exemplo. Estes centros de dados, que são invisíveis à maioria, funcionam 24 horas sobre 7 e alojam tudo (desde os vídeos virais até a sistemas de gestão de empresas). E quanto mais os usamos, mais espaço ocupamos e… mais energia é necessária.

A ilusão digital nasce de uma leveza aparente. Na realidade, não vemos, não ouvimos ruído, não sentimos cheiro. Aqui, ao contrário de uma chaminé ou de um tubo de escape, o impacto está escondido! Mas não se iludam, porque isto não o torna menos real.

E agora com o crescimento da inteligência artificial, da IoT (Internet of Things), da realidade aumentada e dos conteúdos em alta-definição? O peso ambiental do digital tende a aumentar e esta tendência acontece num momento em que se espera que as emissões comecem a diminuir.

É de facto um paradoxo curioso… pensar que quanto mais desmaterializamos, mais nos esquecemos que há (sempre) um custo material por trás. E é precisamente esta invisibilidade que torna o problema tão desafiante.

Atenção que não se trata de rejeitar a tecnologia! Ela é essencial e traz-nos enormes benefícios. Mas talvez seja tempo de nos consciencializarmos que o mundo digital também tem uma pegada.

É possível medir esta pegada de forma precisa e eficiente, e implementar medidas que a possam minimizar, sem colocar em causa os benefícios evidentes dos processos de digitalização e desmaterialização da atividade.

Reconhecer que este mundo não é tão imaterial como possamos pensar é um passo importante para começarmos a olhar para a tecnologia com outros olhos. Sem culpa. Mas com consciência.

A era digital, em que vivemos, não é neutra. E o futuro… Se quisermos que seja para todos, terá de aliar o digital à consciência ambiental.

  • Tiago Ferreira Henriques
  • ESG Senior Manager da KPMG Portugal

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