A todos os jovens, vamos escolher a direção certa em 2021?
Se não soubermos para onde vamos, acabaremos a andar “às voltas”. Aqui ficam algumas lições do que aprendi em 2020.
Há precisamente um ano, escrevi sobre a década que começava: “Nós somos responsáveis pelos vinte, vinte.” Em retrospectiva, acho que escolhi as palavras erradas (fruto do entusiasmo e otimismo dos meus vinte e três anos). A maturidade e as experiências ensinam-nos que existem muitos fatores externos (seja na nossa vida profissional e carreiras, seja na nossa vida pessoal) que não controlamos, e pelos quais, por consequência, não somos responsáveis. 2020 foi a prova disso.
Terminei o meu mestrado em dois países diferentes e vi de perto a dificuldade de tantos jovens brilhantes (nas mais diversas áreas), a quem a Covid “estragou” os planos. Ainda assim, a teoria de um mindset de crescimento continua a aplicar-se: podemos não controlar a situação, mas temos controlo sobre a forma como reagimos à mesma. Mas como sabemos, tudo na teoria costuma parecer mais simples do que na prática. 2020 foi um ano que tornou complicado praticar o mindset de crescimento: ficámos fechados em casa, fomos obrigados a parar e a aprender a pensar no curto prazo.
Alguns jovens voltaram para casa dos pais, regressaram a Portugal, perderam o emprego, viram as suas áreas e empresas em layoff, foram impedidos de praticar os seus desportos, ficaram afastados da família e amigos e proibidos de viver “as coisas de jovem” com as quais sonhavam. O longo prazo ficou definido pela incerteza. Para a minha geração, a palavra incerteza é difícil de entender. Somos uma geração naturalmente impaciente e habituada a obter respostas em segundos. Crescemos com os olhos postos no mundo, damos a globalização como um dado adquirido e temos opinião sobre tudo e mais alguma coisa (muitas vezes, erradamente). Encontrar um obstáculo sobre o qual não temos controlo e que, está tudo menos alinhado com as nossas expectativas, foi duro.
2020 foi um teste à nossa resiliência, capacidade de superação e saúde física e mental. Continuamos a crescer a acreditar que os mais bem sucedidos são os mais fortes (apesar de Darwin ter provado há anos, que não é sobre o mais forte, mas sobre aquele que se adapta melhor às mudanças). Se esse pensamento que associa sucesso a força ainda existe, o que passámos, prova que está totalmente incorreto. Acho que todos tivemos dias (muitos dias), em que sentimos que não éramos, de todo, “os mais fortes”. Todos tivemos dias em que nos sentimos deprimidos, esgotados e desmotivados – a viver numa montanha russa emocional (entre fazer desporto na sala e procurar motivação em cursos online, no quarto).
Não me entendam mal. Este artigo não se destina a falar sobre os desafios da geração de jovens em Portugal de forma egocêntrica (este ano trouxe desafios a todo e qualquer indivíduo de forma única e particular – basta pensarmos nos nossos avós, que temeram passar os seus últimos dias fechados e sozinhos). Contudo, para podermos avançar na direção certa, é sempre preciso parar e perceber de onde partimos. Partimos de um ponto, no mínimo, desafiante. Não obstante, muito interessante.
Depois de concluir o meu mestrado, comecei a trabalhar (em pleno pico da pandemia e depois de escrever e defender duas teses a partir de casa), numa empresa extraordinária. E há uns dias tive uma conversa sobre desenvolvimento de carreira. Falávamos sobre possibilidades. Imaginem isto: Cada um de nós é um ponto dentro de um círculo. Podemos ocupar qualquer posição dentro desse círculo (matematicamente falando, são infinitas as nossas possibilidades). Mas ao contrário do que muitas vezes pensamos (em especial, nós, jovens), existe um limite criado pelas nossas decisões. O limite (condicionado por fatores como as 24 horas que temos em cada dia, as áreas que desenvolvemos, as nossas ambições pessoais e profissionais, entre outros), é a circunferência. Economicamente, poderíamos chamar a esse limite o nosso custo de oportunidade (porque inevitavelmente, tal como Steve Jobs defendia, quando dizemos “sim” a uma oportunidade dizemos “não” a outra).
O segredo está em dividir o círculo em diferentes partes e escolher em qual delas vamos querer estar – no fundo, a que oportunidades dizer “sim”. O mais interessante? Continuamos a ter (matematicamente), infinitas possibilidades, mas desta vez, encontrámos uma direção (a parte da circunferência que definimos).
Eis o foco deste artigo. A direção certa. A todos os jovens que o lêem, somos responsáveis pela direção que escolhemos na década dos vinte. Somos responsáveis pelas nossas escolhas. A nós, jovens de hoje, que somos naturalmente preocupados com causas maiores e que procuramos um sentido de missão em tudo o que fazemos, deixo algumas mensagens e lições que aprendi no ano de 2020.
- A primeira, a teoria de Darwin está a nosso favor. Temos uma capacidade de adaptação extraordinária: passámos a aprender online em dias, acabámos licenciaturas e mestrados através de ecrãs e começámos novos trabalhos e estágios por videoconferência. Apesar disso, temos de praticar ainda mais a resiliência. Trabalhar e aprender a viver as pequenas conquistas de cada dia (e não ansiar constantemente pelo sonho que queremos realizar amanhã). O sentido de propósito e missão motiva-nos e alimenta os nossos projetos, mas não pode limitar a forma como medimos o nosso sucesso e produtividade. Para desenvolver a minha capacidade de resiliência, todos os anos escrevo os meus objetivos para o ano seguinte.
Este ano utilizei um método balinês (dividindo os meus objetivos em quatro áreas que fazem sentido para mim e que me poderão proporcionar uma vida equilibrada). Esta técnica ajuda-nos a perceber como podemos trabalhar a nossa resiliência recordando-nos das nossas ambições de longo prazo mas motivando-nos em cada dia (não resumindo as nossas 24 horas a ideias pré-concebidas de produtividade de curto prazo). Incluam áreas pessoais que façam parte da vossa rotina diária e revisitem os vossos objetivos regularmente.
- A segunda, precisamos de mais empatia e sentido de compromisso. Empatia, porque como percebemos, todos enfrentamos desafios particulares (e como me disseram uma vez, “podemos navegar na mesma tempestade, mas estamos todos em barcos diferentes”). Isto aplica-se às mais diversas áreas, da cultura ao mundo empresarial em Portugal.
É preciso trazer esta consciência para as empresas e para a cultura corporativa no nosso país. Se pensarmos a longo prazo, será da nossa responsabilidade construir a cultura dos lugares por onde passarmos. Portanto, mantenhamos a consciência que 2020 nos trouxe sobre os que nos rodeiam (os melhores resultados são obtidos em equipas diversas, inclusivas e empáticas). Compromisso, porque tendemos a desistir facilmente. Temos standards e ideias preconcebidas de como tudo deve ser. É importante darmos oportunidade aos projetos, empresas e organizações para aprendermos e acrescentarmos valor. Explorarmos mais sobre outras áreas pode ajudar-nos a trabalhar a big picture.
Somos uma geração das redes sociais. Possamos então tirar o maior partido das mesmas, expandir a nossa rede de contactos, conhecer pessoas com backgrounds diferentes e mentores que nos possam enriquecer, guiar com as suas experiências e sentido de compromisso nas suas organizações.
- A terceira, devemos continuar com sede de viver. Somos uma geração que luta por sistemas de liderança mais horizontais, por uma sociedade mais inclusiva e diversa, por um mundo mais equilibrado. Somos uma geração gradualmente mais consciente sobre temas como a saúde mental, a igualdade de género, orientação sexual ou as alterações climáticas. Não podemos deixar de lutar por tudo aquilo em que acreditamos. Isso inclui exercer o nosso direito ao voto.
Não são apenas as eleições nos Estados Unidos que importam, temos o dever de votar em Portugal por uma sociedade mais justa e com mais oportunidades para todos, incluindo os jovens. A conversa romântica sobre “as decisões dos jovens de hoje terá impacto nas gerações futuras”, tem mais de real do que de romântico. Por isso, mantenhamos sempre esta paixão e ação pelas causas que nos fazem acordar todos os dias (porque mais do que nunca, estas causas podem trazer-nos a motivação extra de que precisamos).
- Finalmente, em quarto lugar, não podemos desistir. Esta é a minha última mensagem para os jovens, como eu. Não desistam. O mercado de trabalho está a atravessar um momento difícil. A economia prepara-se para enfrentar um momento decisivo. Continuaremos privados, em 2021, de muitos dos planos que colocámos em pausa em 2020.
Podemos não atingir alguns dos nossos objetivos no prazo que estabelecemos, poderemos precisar de repensar a nossa área e os projetos dos nossos próximos cinco anos a nível pessoal e profissional. Mas não desistam. Temos a oportunidade de redesenhar o futuro do trabalho: como serão os escritórios do futuro, como podemos continuar a trabalhar sem comprometer a inovação, relações interpessoais e competências sociais? Temos a oportunidade de pensar em formas mais inclusivas de viver, trabalhar e aprender. Temos a oportunidade de repensar o nosso estilo de vida e decisões de longo prazo, de redefinir prioridades. Existem sempre oportunidades (mesmo quando estas parecem estar “fechadas”).
Ao longo do caminho não se esqueçam que um “não” não é um “nunca” e que a direção é mais importante que a velocidade (2020 ensinou-nos que nem tudo é mau, quando temos de abrandar). Continuemos a procurar e a trabalhar para todos os dias fazer parte de algo que nos trará oportunidades de crescimento profissional (e pessoal). Continuemos a perguntar e a procurar respostas (tal como a comunidade científica fez, em tempo recorde, para que pudéssemos encontrar o farol no meio da tempestade).
Não acredito no poder exclusivo das resoluções de ano novo. Mas se há algo que aprendi em 2020 é que devemos saber em que direção caminhamos. Recordam-se do círculo? Se não soubermos para onde vamos, acabaremos a andar “às voltas”. Comecei a refletir sobre as palavras erradas que escolhi há um ano. Contudo, encontrei nesse artigo que escrevi em 2020, uma frase que nunca antes fez tanto sentido: “Os vinte, vinte não serão fáceis. Talvez sejam os mais desafiantes. Mas é no desafio que nasce a oportunidade.” Vamos escolher a direção certa em 2021?
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