
Agricultura e Floresta: dois lados de uma estratégia comum de crescimento sustentável
É preciso darmos às florestas e agricultura o devido destaque e valor, por serem estratégicas para um país – e uma União Europeia – que se quer de vanguarda em áreas de alto valor acrescentado.
O recente Eurobarómetro, direcionado para as perceções e preocupações da população europeia para com o setor agrícola e florestal comunitário, é uma excelente ferramenta de trabalho junto de quem pretende desenvolver uma política mais direcionada para as necessidades dos cidadãos. Tal, por via de uma utilização sustentável que os recursos naturais europeus e nacionais têm para oferecer.
Não por acaso, este inquérito, que inclui Portugal, refere que cerca de 7 em cada 10 cidadãos europeus considera a Política Agrícola Comum um importante modelo de trabalho para a gestão sustentável dos solos, também para a criação de empregos, o combate às alterações climáticas e manutenção dos bens a preços mais acessíveis. Inclusivamente, mais de metade dos inquiridos considera estarmos perante uma prioridade, tudo o que diga respeito ao esforço em promover as áreas rurais.
Estes resultados são compreensíveis, perante a generosidade e diversidade do território com que todos nos deparamos quando saímos das grandes urbes e nos dirigimos para o interior, pleno de oportunidades. Os europeus demonstram estar perfeitamente cientes que apenas uma política integrada para o que poderemos denominar como zonas verdes dos Estados-Membros poderá resultar em algo verdadeiramente enriquecedor para todos. Os desafios que se levantam, com o caudal de transformações políticas e económicas a que todos assistimos nas últimas semanas, e que não parece ir abrandar nos tempos mais próximos, exige que de uma vez por todas algo se faça em prol dos interesses e bem comum de quem vive nesta vasta comunidade.
É o caso do setor florestal português. Desde finais do século XIX, a paisagem rural do país mudou radicalmente. O crescente abandono dos campos, por via do êxodo de centenas de milhar de pessoas para as cidades, levou a uma necessária reformulação do espaço. A pequena agricultura, sobretudo no Centro e Norte do país, deixada para trás neste êxodo apressado resultou em vastas áreas abandonadas que hoje colocam em causa o ordenamento do território e, sobretudo, a sua resiliência em termos de fogos rurais. O potencial existe certamente, pois ontem existiam hortas e comunidades amplas que cultivavam os campos, hoje temos uma vasta área abandonada que precisa de ser gerida com ajuda de políticas públicas. Estas áreas sempre que bem geridas são motivo de orgulho para o país, já sem gestão assumem-se como um problema que só tem tendência a agigantar-se.
A opinião pública que por vezes trata o campo de forma complacente, aquele lugar mais ou menos remoto, onde se podem passar alguns dias bucólicos, longe do stress diário, foi bem clara, em sede de conclusões do Eurobarómetro, dando às zonas rurais um lugar de protagonismo naquilo que é a sua vocação económica, ambiental e social.
Havendo consenso, em torno do aproveitamento sustentável de uma das grandes riquezas do país, que é a floresta, esta pode e deve ser aproveitada.
Num território em que 36% do território continental é constituído por floresta é necessária mais gestão, para além daquela que é feita pela indústria ou proprietários florestais profissionais. Os dados mais recentes, referentes ao 4º trimestre de 2024, indicam que as exportações do setor da pasta, papel e cartão aumentaram 11% no últimos três meses do ano, quando comparadas com igual período de 2023. Um aumento 2,75 vezes superior do crescimento das exportações nacionais no seu todo. Evidências que traduzem um setor dinâmico, em constante diálogo com a inovação.
Cabe à Europa encontrar respostas para as questões que se levantam atualmente. O Relatório Draghi é bem claro na necessidade de encontrar alternativas industriais, capazes de dar ao continente as valências necessárias para manter o seu modo de vida. Não é possível descurar um território tão vasto, como as florestas. E Portugal muito menos, por via de uma demografia envelhecida e muito concentrada nos centros urbanos que faz perigar a coesão territorial e social.
Dados no INE apontam para um setor florestal e indústrias associadas a contribuir com mais de 5% do PIB nacional, para além de significar cerca de 10% das exportações portuguesas. Números relevantes, resultantes de um ecossistema feito de inovação e desenvolvimento tecnológico e digital, capaz de ombrear à escala global.
Se dúvidas houvesse quanto ao papel central das florestas e agricultura, deixaram de existir. Agora que os cidadãos europeus, onde que se incluem os portugueses, se expressaram de forma inequívoca, é preciso darmos às florestas e agricultura nacionais o devido destaque e valor, por serem estratégicas para um país – e uma União Europeia – que se quer de vanguarda em áreas de alto valor acrescentado.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Agricultura e Floresta: dois lados de uma estratégia comum de crescimento sustentável
{{ noCommentsLabel }}