Cooperação: a renovável que falta para atingirmos a independência energética em 2030
O setor privado é um parceiro relevante neste caminho e os governos devem estimular a sua participação, seja através de incentivos diretos, seja através da simplificação de processos de licenciamento.
Em 2030, a Europa poderá ser energeticamente independente. Este é o futuro que o mais recente estudo do Instituto Potsdam de Investigação sobre o Impacto Climático (PIK, na sigla alemã) nos apresenta. Não se trata de uma utopia. Neste estudo, os cientistas são muito claros e concretos: recorrendo às tecnologias e fontes de energia renovável que dispomos ao dia de hoje, em 2030 a Europa pode ambicionar produzir toda a eletricidade que precisa para se alimentar, de forma limpa e verde, podendo retirar todos os combustíveis fósseis do seu sistema energético até 2040.
Como tal, perante a urgência do combate às alterações climáticas e os repetidos e crescentes apelos dos cidadãos europeus para que os seus líderes não fiquem de braços cruzados, é agora tempo de os governos europeus darem passos ousados e se unirem em torno de uma estratégia energética coordenada entre todos. Cada região europeia e cada Estado-membro deve tirar partido das suas características geográficas e recursos únicos, por forma a alimentar um sistema energético europeu integrado e verdadeiramente diversificado.
A Europa do Norte, por exemplo, deverá aproveitar os vastos recursos eólicos e capacitar a sua infraestrutura eólica em terra e mar. Já a Europa do Sul, e Portugal em específico, deverá colher o benefício da ampla exposição solar e incentivar a instalação de infraestrutura e centrais de produção de energia solar – algo que o nosso país tem mostrado ser um exemplo, com uma aposta muito forte neste campo e que nos tem permitido bater recordes de produção de energia renovável a nível europeu.
Sabemos que esta é uma meta ambiciosa, mas é também um passo indispensável para tornar a Europa o primeiro continente neutro em carbono, em 2050, conforme ambicionado pela Comissão Europeia. Além disso, os benefícios que iremos colher de alcançar este objetivo vão muito além da descarbonização energética, com ganhos tanto na economia do dia-a-dia dos consumidores, que verão o preço da eletricidade descer, como da autonomia estratégica da Europa, que deixará de estar sujeita à vontade e à pressão de países terceiros, produtores de energias fósseis.
Para alcançar esta meta, teremos de ir além dos níveis atuais de produção de energia renovável e juntar todos os operadores na missão de acelerar a transição energética. O setor privado é um parceiro relevante e essencial neste caminho e os governos devem estimular a sua participação, seja através de incentivos diretos, seja através da simplificação dos processos de licenciamento, que tantas vezes atrasam e comprometem a realização de infraestruturas vitais para a produção de energia renovável. A transição energética da Europa não pode ficar presa na burocracia.
A par destes estímulos nacionais, será importante ainda que a Europa desenvolva uma Política Industrial Europeia, que incentive a produção interna de componentes essenciais à produção e distribuição de energias renováveis, como as células fotovoltaicas, e que se reestruture o Sistema de Energia Europeu, assegurando que o desenvolvimento de infraestruturas produtoras de energia verde decorre de forma coordenada e integrada no espaço comunitário.
Não podemos desperdiçar esta oportunidade quando o caminho para alcançar a independência energética é tão claro. Um futuro próspero, sustentável e neutro em carbono depende da gestão que hoje fazemos dos nossos recursos renováveis, seja do solar ou do eólico, seja daquele que mais precisa de ser capitalizado hoje: a cooperação europeia.
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