Emissões zero: Nove requisitos para uma transição sustentável
Esses requisitos estão agrupados em três categorias: elementos físicos, ajustes económicos e sociais, e governação, instituições e compromisso.
Numa altura em que os líderes globais se reúnem na COP26, a sustentabilidade marca a agenda mediática e traz à discussão a urgência de colmatar a crise climática. Embora esta seja uma necessidade cada vez mais reconhecida, o caminho para alcançar a neutralidade carbónica ainda se afigura longo e sinuoso. Concordando com o objetivo final que nos move, importa também assegurar que a transição para esse objetivo é justa, ordeira e inclusiva.
Avançar do compromisso para a ação não tem provado ser tarefa fácil – seja por falta de financiamento, inércia, pouca capacidade de lidar com os “custos” sem experienciar os benefícios imediatos, ou receio das consequências que as transformações necessárias à transição climática possam trazer.
Como podemos então alcançar as emissões zero? Numa abordagem desenvolvida pela McKinsey & Company, concluímos que são nove os requisitos necessários para a transição verde. Esses requisitos estão agrupados em três categorias: elementos físicos, ajustes económicos e sociais, e governação, instituições e compromisso.
No que respeita aos componentes físicos, há que destacar a importância da inovação tecnológica, essencial para a redução das emissões globais. De acordo com o estudo, mais de 85% das emissões na Europa podem ser reduzidas com tecnologias já testadas. Contudo, e para além de termos de continuar a investigar novas tecnologias neutras em carbono, importa sobretudo desenvolver as tecnologias existentes, tornando-as mais económicas e eficazes, a fim de incentivar uma ampla adoção.
Por sua vez, para desenvolver e implementar estas tecnologias, será necessário aumentar a capacidade de produção e distribuição de cadeias de abastecimento globais, bem como construir novas infraestruturas para que os sistemas neutros em carbono possam funcionar. A disponibilidade de recursos naturais, tais como matérias-primas, terra e água, será igualmente decisiva na implementação destas tecnologias e na criação das cadeias de abastecimento e infraestruturas.
Já em relação aos ajustes económicos e sociais, um dos principais requisitos para uma transição bem-sucedida assenta na alocação de capital. As estimativas da McKinsey sugerem que o cenário de neutralidade carbónica em 2050 implicaria gastos de cerca de 8 biliões de euros por ano, mais 3 biliões de euros do que é gasto atualmente. Acresce que é necessário acelerar o investimento em determinadas áreas, nomeadamente na reconversão da matriz energética e na melhor utilização dos solos, nomeadamente através da atividade florestal.
Por outro lado, é necessário considerar que as mudanças inerentes à transição verde refletir-se-ão no aumento da procura de bens e serviços neutros em carbono, assim como no aumento dos custos de produção a curto prazo devido aos investimentos iniciais necessários para aumentar a capacidade de produção com base em tecnologias neutras em carbono. O custo da descarbonização em certos setores continua a ser significativo e precisa de ser gerido através da identificação de mecanismos de compensação e da harmonização de políticas e padrões além-fronteiras que facilitem a coordenação global para alavancar incentivos e limitar disrupções no comércio global.
Sem um planeamento e compromisso sólidos em matéria de equidade e justiça ambiental, as comunidades de maior risco poderão ser afetadas desproporcionalmente pela transição verde, tornando-se também necessário o desenvolvimento de mecanismos de compensação fundamentais para atenuar estes impactos e promover o compromisso coletivo para com a transição.
Por último, no que respeita ao papel das diferentes instituições e dos seus líderes, há que reconhecer que o ritmo, a escala e a natureza sistémica desta transição implica uma transformação profunda do modelo de governação das instituições. Pode mesmo ser necessário criar novas instituições que acelerem a (re)alocação de capital em escala e giram impactos desiguais entre os stakeholders. Ao mesmo tempo, devem ser reforçados os processos de definição e validação dos padrões de medição das emissões e das ações mitigadoras em curso pelas diversas instituições.
Tais padrões permitem que as emissões sejam devidamente consideradas nas decisões sobre preços e investimentos, nas escolhas dos consumidores e mesmo num modelo equitativo para o comércio global. O mesmo se aplica aos mecanismos de financiamento da transição que deveriam ter mecanismos de monitorização apropriados para assegurar que o progresso está a ser feito rapidamente.
Finalmente, a transição verde exigirá que os líderes do setor público e privado se comprometam e trabalhem em conjunto, tanto para pôr os componentes físicos em vigor, como para assegurar os ajustes económicos e sociais necessários à transição. Mas, acima de tudo, o apoio dos cidadãos será uma parte crucial de uma transição justa e inclusiva – um público que reconheça o imperativo da transição verde será essencial para estimular a ação por parte dos líderes.
Não existe uma solução predefinida para alcançar a neutralidade carbónica. Reajustar a forma como o mundo e a economia funcionam é um desafio inegável e requer a colaboração de todos os stakeholders – indivíduos, empresas e Governos. Juntos, têm de enfrentar a inexorável realidade: precisamos de assegurar a sustentabilidade do nosso planeta, mas o caminho para essa sustentabilidade tem ele próprio de ser sustentável.
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