Equívocos sobre a Inteligência Artificial

  • João Veiga
  • 13:10

Inteligência artificial tornou-se um slogan que encanta. João Monteiro Veiga, fundador da Elysian Consulting, ensina a detectar quando se está perante um software realmente IA.

Há uns dias, estava a tomar café com um amigo que trabalha numa área de negócio muito distinta dos seguros, e ele comentava-me que tinha ido ver a apresentação de um software com Inteligência Artificial para a sua área de negócio. Fiz-lhe duas ou três perguntas sobre o que ele tinha estado a ver e, surpresa (!!!), estavam a vender-lhe “gato por lebre”, pois de Inteligência Artificial aquele software não tinha nada.

Infelizmente é hoje comum muitas empresas de software dizerem que o software de gestão que produzem/vendem tem Inteligência Artificial, apenas porque esse software é capaz de executar um par de processos automáticos e pouco mais…

A Inteligência Artificial (IA) é composta por um vasto conjunto de níveis e funcionalidades muitas vezes mal compreendido. Há que trazer alguma luz ao que realmente é a Inteligência Artificial (IA), e assim ajudar-nos a todos a perceber quando estamos ou não diante de uma solução de software com IA.

O que é a Inteligência Artificial:

  • Um campo de estudo e tecnologia: a IA abrange uma vasta gama de técnicas e aplicações, todas elas destinadas a permitir que as máquinas executem tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. Estas tarefas incluem a aprendizagem, a resolução de problemas, o processamento da linguagem (falada e escrita) e a tomada de decisões;
  • Um conjunto de algoritmos e modelos: a maior parte da IA ​​é baseada na capacidade de aprendizagem automática – Machine Learning – onde os sistemas são treinados com grandes quantidades de dados para terem a capacidade de efetuar previsões ou classificações. Dentro do Machine Learning, existem subconjuntos como a aprendizagem profunda, que envolve o uso de redes neuronais, e a aprendizagem por reforço, que se concentra em sistemas de treino através de feedback baseado no reconhecimento ou não do sucesso;
  • Foco estrito: a maioria dos sistemas de IA mais recentes são concebidos para executar tarefas específicas, uma categoria conhecida como IA estrita (Narrow AI). Por exemplo, a IA pode destacar-se na tradução de idiomas, no reconhecimento facial ou em jogos como o xadrez. A Narrow AI tem aplicação prática e real em setores como a saúde, serviços financeiros (seguros !!!), logística e serviço ao cliente;
  • Baseado em dados e normas: os sistemas de IA dependem fortemente de grandes conjuntos de dados para aprender padrões. Os algoritmos processam dados, detetam relações entre eles e utilizam-nos para fazer previsões ou automatizar ações. A IA é desta forma muito diferente da cognição humana, pois não tem capacidade de compreensão ou consciência genuína.

Então, para podermos determinar se um software se qualifica como Inteligência Artificial (IA) ou não, implica que esse software tem de conter as seguintes características principais:

Aprendizagem e Adaptação: um software com IA aprende com os dados e melhora o seu desempenho ao longo do tempo sem estar explicitamente programado para cada cenário. Isto é geralmente conseguido através de algoritmos de aprendizagem autónoma (Machine Learning);

  • Autonomia: um software com IA pode realizar tarefas sem intervenção humana, tomando decisões com base em entradas de dados e regras ou modelos predefinidos;
  • Processamento de Linguagem Natural (PLN): se o software consegue compreender, interpretar e responder à linguagem humana, provavelmente incorpora IA. Exemplos disto são os chatbots e os assistentes virtuais;
  • Reconhecimento de padrões: um software com IA pode identificar padrões e fazer previsões com base em dados. Isto é comum em aplicações como o reconhecimento de imagem, deteção de fraude e sistemas de recomendação;
  • Resolução de problemas: um software com IA pode resolver problemas complexos analisando dados, identificando tendências e tomando decisões. Isto inclui sistemas especializados que imitam os processos de tomada de decisão humana;
  • Adaptabilidade: um software com IA pode adaptar-se a novas situações e ambientes, ajustando o seu comportamento com base em novas informações;

Portanto, se o software que apresentaram ao meu amigo tivesse as características descritas acima, então eu já podia concordar que lhe tinham apresentado um software com (um bocadinho…) de Inteligência Artificial.

Tal como já disse lá em cima, é importante ter em conta que a Inteligência Artificial é um campo amplo e nem todos os sistemas de Inteligência Artificial terão todas estas características em simultâneo. A chave para reconhecer se uma ferramenta de software possui algum tipo de Inteligência Artificial é identificando a sua capacidade de aprender, adaptar e executar tarefas de forma autónoma.

  • João Veiga
  • Founder & CEO da Elysian Consulting

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