Ficção ou realidade?

António Bico, CEO da Zurich, procura a montante da indústria seguradora indicações sobre como será o futuro. E parte das três mais simples hipóteses: melhor, pior ou ambas.

A criatividade de um filme de ficção não seria suficiente para imaginar a realidade que o último ano nos fez enfrentar. Começou por ser um vírus lá bem ao longe, que rapidamente deu lugar a uma pandemia instalada em todos os pontos do globo. O mundo fechou-se e, de seguida, a crise sanitária evoluiu, provocando um severo impacto na economia e múltiplos efeitos sociais, alguns já visíveis e outros que só veremos com maior nitidez num futuro próximo.

Em simultâneo, assistimos a descalabros políticos, extremismos, nacionalismos e devastações causadas pelas alterações climáticas. O colapso dos sistemas de saúde e, recentemente, o ataque ao Capitólio ou a tempestade Filomena, são apenas episódios muito reais nesta série, que poderia, de facto, ser de ficção.

Embora a caminhada para nos livrarmos desta ficção seja demasiado dura e carregada de uma desumanidade plena de dor, tenho uma profunda convicção de que podemos e devemos caminhar para um mundo melhor. Como será o futuro? Tomemos as três mais simples hipóteses: melhor, pior ou ambas.

Quando sou assaltado por trajetórias de futuro que me preocupam e me enchem de dúvidas, não hesito em fixar-me nos aspetos positivos, no que está ao nosso alcance mudar, recriar ou reinventar. Dirijo sempre o meu pensamento, a minha reflexão, os meus olhos, a minha energia e as minhas ações para o mundo melhor que temos pela frente e que coletivamente saberemos, não apenas construir, mas manter num movimento de melhoria contínua. O rumo do amanhã avança a cada nanosegundo e algumas mudanças podem ter a nossa decisão e a nossa intervenção.

Otimista, mas realista como sou, acredito sempre que conseguimos criar, influenciar e dinamizar mudanças positivas que tragam luz e clarividência. É tempo de colocarmos barreiras a um futuro traumático, pleno de inquietação, receios e ansiedade, porque as mazelas desta pandemia não podem permanecer na agressão sanitária, social e económica para além do seu tempo. Qualquer noção de tempo para tragédias deste calibre levam-nos, sistematicamente, a uma métrica: é tempo demais!

Para ultrapassarmos, rapidamente, toda esta verdadeira e brutal real ficção, é tempo de interpretar os potenciais efeitos da pandemia e lançar as medidas que permitam gerar autoestima, confiança, esperança e futuro.

Precisamos que a sociedade considere e reconheça que as tragédias universais nos atingem a todos e que o respeito, a solidariedade e a colaboração entre indivíduos, famílias, empresas e governos são fundamentais no sentido de trabalharmos, decidirmos e investirmos com o propósito de contribuir para um mundo melhor. Este é um desejo coletivo, estou certo! Há demasiados riscos de larga escala que apenas a articulação entre o setor privado e o público tornará possível e potencialmente eficaz, gerir e mitigar.

Dentro das empresas, também estou certo de que será repensado o relacionamento interpessoal, para que se torne ainda mais compreensivo, afetuoso, tolerante e colaborativo. Não podemos prescindir de modelos de negócio e de trabalho que produzam melhor qualidade de vida, com mais tempo para apreciarmos a nossa esfera pessoal e a convivência com a família e os amigos.

As empresas saberão, com certeza, concretizar estas mudanças, garantindo que elevarão o índice de satisfação por parte dos Colaboradores e que se tornarão mais atrativas para trabalhar. Este nível superior de engagement corresponderá a uma entrega de maior qualidade para o Cliente e para os Parceiros de Negócio.

Um a dois anos de confinamento e teletrabalho que foi e continua a ser importante cumprir e todas estas mudanças abruptas a que conseguimos corresponder, adaptando-nos e reinventado tanto em nosso redor, desafiando os nossos limites em diversas ocasiões, terão invariavelmente um impacto determinante na nossa saúde mental e no nosso futuro.

Circunscrevamos esta maldita pandemia, controlemos a nossa vivência com um vírus que passará a ser parte do nosso ecossistema e agarremos o mundo melhor que já hoje é possível vislumbrar, tratando e resolvendo as fragilidades que nos surgiram com este ciclo que nos quis derrubar, mas não conseguiu. Ficção ou realidade? A escolha é de cada um de nós!

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