Flexibilidade laboral: a urgência de um novo paradigma

  • José Pedro Fernandes
  • 29 Outubro 2025

A flexibilidade não é uma ameaça à disciplina, mas sim a prova de que confiamos nos trabalhadores, de que acreditamos que o valor não se mede em horas de trabalho, mas no impacto de cada pessoa.

Nos últimos anos, muito se tem falado sobre o futuro do trabalho. A tecnologia, a escassez de mão de obra e as novas expectativas das gerações mais jovens estão a abalar as velhas certezas que durante décadas moldaram a vida profissional. No centro desta transformação está uma reflexão importante: a flexibilidade. Não apenas como tendência passageira, mas como condição essencial para que empresas e trabalhadores consigam responder a uma sociedade em mudança.

A flexibilidade no trabalho é uma das tendências mais claras do mercado, uma mudança que já se tem vindo a manifestar em vários setores. Os horários atribuídos a partir de um escritório, com fórmulas rígidas e sem espaço para o contexto pessoal de cada trabalhador, já não é sustentável. Compreender as diversas realidades e assumir que o bem-estar é estratégico para a eficiência já não é uma utopia, mas sim a forma de nos prepararmos para o futuro do trabalho.

Em setores como o retalho, a hotelaria, os cuidados de saúde ou os transportes, a rotação e a cobertura 24 horas por dia, sete dias por semana, são uma necessidade estrutural. O verdadeiro salto qualitativo é conjugar a eficiência operacional e o bem-estar da força de trabalho e isto só pode ser conseguido com um planeamento inteligente.

É precisamente aqui que entra a importância das ferramentas de workforce management, soluções que aliam a produtividade e a qualidade de vida, equilibrando a relação entre as empresas e os colaboradores.

As ferramentas de gestão da força de trabalho ajudam a converter dados em decisões mais justas, oferecendo uma visão completa das equipas, em tempo real, alertando para possíveis lacunas nas operações, e propondo soluções adaptadas a cada realidade. E, acima de tudo, permitem que se gaste menos tempo com tarefas administrativas, proporcionando à chefia mais tempo para se concentrar na liderança das equipas.

Muita gente ainda olha para a flexibilidade como um privilégio concedido por algumas empresas mais modernas. A flexibilidade não é uma ameaça à disciplina, mas sim a prova de que confiamos nos trabalhadores, de que acreditamos que o valor não se mede em horas de trabalho, mas no impacto que cada pessoa consegue gerar. A lei continua presa ao passado.

Modelos como os horários self-service mostram que outra forma de organizar o trabalho é possível. São um sopro de realidade: mães, estudantes, reformados, todos podem contribuir se o sistema os deixar. Não é utopia, é pragmatismo.

Uma das aplicações mais tangíveis das soluções de WFM é o modelo de Open Shifts, que consiste na oferta de ‘turnos em aberto’ que os trabalhadores podem selecionar de acordo com as suas preferências e disponibilidade. Isto democratiza a gestão do tempo, reduz o atrito no preenchimento de vagas e melhora o envolvimento do pessoal.

O futuro do trabalho não será apenas sobre algoritmos, será, sobretudo, sobre a coragem de reformar leis, práticas empresariais e mentalidades. Temos de criar oportunidades para redefinirmos uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal como um ativo estratégico. Flexibilidade não significa improvisação, mas sim a capacidade de adaptação sem perder o controlo.

  • José Pedro Fernandes
  • Vice-presidente da SISQUAL

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