Movidos a propósito: a nova força no trabalho

  • Paula Peixoto
  • 14:00

Atrair, motivar e reter talento jovem exige repensar os modelos tradicionais de gestão. No fundo, a Geração Z procura mais do que um emprego. Quer fazer parte de algo com propósito.

Nunca foi tão claro que a nova geração de profissionais procura muito mais do que apenas um emprego. A geração Z está a redefinir o que significa crescer e prosperar no mercado de trabalho, trazendo novas expectativas sobre como viver e trabalhar.

Segundo a mais recente versão do “Deloitte Global Gen Z and Millennial Survey”, esta geração, em conjunto com os millennials, será responsável por 74% da força de trabalho global até 2030. Mais relevante ainda, estes profissionais estão a contrariar estruturas tradicionais de trabalho e a procurar carreiras que combinem impacto, bem-estar e segurança financeira.

São também profundamente focados em aprender e evoluir: sete em cada dez jovens dizem desenvolver competências semanalmente, dando destaque às soft skills, à gestão de tempo e ao conhecimento técnico. Muitos atribuem ainda mais valor a experiências práticas e a programas de reskilling do que a percursos académicos tradicionais.

No campo da liderança, as expectativas também são claras. A Gen Z procura mentoria, inspiração e apoio para definir objetivos e manter o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. No entanto, muitos sentem que os seus líderes se focam sobretudo na supervisão das tarefas diárias.

Também a retenção de talento se revela um desafio: quase um terço destes jovens admite querer mudar de empregador nos próximos dois anos e, entre os millennials, 17% afirmam o mesmo. E tudo isto acontece num contexto de forte pressão, marcado por custos de vida elevados, stress e expectativas profissionais exigentes.

Perante este retrato, o desafio para as organizações é evidente. Atrair, motivar e reter talento jovem exige repensar os modelos tradicionais de gestão. O sucesso, para esta geração, mede-se menos em promoções e cargos hierárquicos e mais na capacidade de aprender continuamente, contribuir e sentir que acrescenta valor.

Por isso, uma cultura de propósito, comunicação transparente e flexibilidade deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade estratégica. Da mesma forma, a aprendizagem contínua deve ser uma prioridade real para as empresas. Programas de formação, mentoria e liderança emergente são benefícios e ferramentas essenciais para preparar profissionais cada vez mais autónomos e resilientes.

O setor tecnológico, por exemplo, tem sentido essa transformação de forma clara. O que mais atrai e retém jovens talentos não são apenas os projetos tecnológicos desafiantes, mas a forma como as organizações colocam o bem-estar, a formação e a escuta ativa no centro da experiência profissional. Da experiência que temos, percebemos que o acompanhamento próximo, oportunidades reais de aprendizagem e espaço para ser ouvido fazem a diferença desde o primeiro dia. E no nosso caso, esta aposta em proximidade e cuidado torna-se tão ou mais valorizada do que qualquer benefício material.

Além disso, o papel da liderança também precisa de ser repensado. As organizações que desenvolverem líderes capazes de inspirar, orientar e apoiar emocionalmente terão uma vantagem competitiva clara. E nenhuma estratégia será sustentável se não integrar também o bem-estar e a saúde mental.

Criar espaços seguros, disponibilizar apoio psicológico e promover um equilíbrio entre vida pessoal e profissional traduz cuidado em ação e gera ambientes produtivos, colaborativos e inovadores. É igualmente importante reconhecer que líderes e profissionais, muitas vezes, partem de expectativas diferentes sobre desempenho, crescimento ou equilíbrio pessoal. Cabe às organizações criar pontes que aproximem estas visões e, quando essa gestão é feita com transparência e diálogo, a nova geração encontra o espaço que precisa para dar o seu melhor e crescer.

A mensagem para empresas e líderes parece-me simples. Construam confiança, pratiquem escuta ativa e cultivem proximidade genuína. Quando os profissionais sentem que podem ser autênticos, crescer e ser apoiados, conseguimos criar um círculo de interação, retenção e sucesso coletivo.

No fundo, a Geração Z procura mais do que um emprego. Quer fazer parte de algo com propósito, onde possa acrescentar valor, aprender e sentir-se bem. E as organizações que compreenderem e abraçarem este princípio estarão preparadas para prosperar no novo mercado de trabalho.

  • Paula Peixoto
  • Diretora de People and Culture da Olisipo

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