
Não é só requalificar. É reconfigurar o futuro do trabalho
É tempo de trocar o “regresso à escola” por percursos formativos que se integram no quotidiano profissional.
Vivemos numa era em que a transformação digital deixou de ser um destino para se tornar um ponto de partida. A automação, a inteligência artificial e os novos modelos de negócio estão a redesenhar as estruturas laborais. Para quem trabalha ou quer trabalhar, isso levanta uma questão urgente: estamos a formar as pessoas certas para as necessidades certas?
De acordo com o último Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação nas Empresas (INE, 2024), apenas 28% das empresas portuguesas afirmam ter estratégias estruturadas para melhorar as competências digitais dos seus colaboradores. Ao mesmo tempo, o Eurostat mostra que mais de 45% dos adultos portugueses têm competências digitais abaixo do básico. Este desfasamento entre o que o mercado precisa e o que os trabalhadores sabem fazer é, cada vez mais, uma questão de competitividade — e, sobretudo, de inclusão.
Mas a solução não está apenas na requalificação tradicional, aquela que replica modelos formais, longos e distantes da realidade prática. O que o país precisa é de uma abordagem que reconfigure o próprio conceito de aprender ao longo da vida: ágil, modular, orientada para o trabalho real e ancorada em tecnologias emergentes. É tempo de trocar o “regresso à escola” por percursos formativos que se integram no quotidiano profissional.
A Agenda para as Competências da União Europeia insiste na importância da aprendizagem contínua e da requalificação como motor de coesão social e crescimento económico. Em Portugal, programas como o Impulso Jovens STEAM ou o Plano de Recuperação e Resiliência já demonstraram que, com investimento certo e visão prática, é possível requalificar milhares de profissionais para áreas como o digital, a cibersegurança ou o desenvolvimento de software. Mas o número de adultos em formação continua abaixo da média europeia, apesar das diversas possibilidades que o mercado formativo oferece a nível nacional.
É por isso que precisamos de mudar o discurso. A questão já não é se devemos requalificar quem perdeu o emprego. É como vamos garantir que todos — empregados, desempregados, jovens ou seniores — têm acesso a caminhos viáveis para acompanhar o ritmo de mudança. O futuro do trabalho será, acima de tudo, o futuro da aprendizagem. O conceito de aprendizagem ao longo da vida num cenário de transformações tecnológicas e sociais permite-nos manter relevantes e competitivos no mercado de trabalho, adquirindo novas competências para enfrentar as alterações emergentes no mercado de trabalho. E isto começa agora.
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