Novos tempos de mudança para a diversidade

  • Daniela Castelbranco
  • 8 Março 2023

Lucros da empresa e o desempenho em bolsa podem ser cerca de 50% mais elevados quando há uma maior representação das mulheres em posições de liderança.

Que têm em comum figuras como Marie Curie, Rosa Parks, Valentina Tereshkova, Malala Yousafzai e Greta Thunberg, além do facto óbvio de todas serem mulheres? Que laços partilhados poderão ter uma cientista, um símbolo dos direitos civis da população negra, uma cosmonauta, uma ativista pelo direito à educação das raparigas e uma defensora do planeta contra a mudança climática?

Aparentemente, nem as suas origens nem o próprio resultado dos seus legados parecem partir de uma base comum. Contudo, todas elas personificam modelos femininos fortes e inspiradores, para a sociedade e para o mundo, por via de características como a ambição para objetivos de grande escala, a determinação para os perseguir e a resiliência para enfrentar as adversidades decorrentes desse processo.

Apesar destes exemplos marcantes, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 70% dos 1,3 mil milhões de pessoas que vivem em condições de pobreza são mulheres; 40% das famílias mais pobres são lideradas por mulheres; as mulheres respondem por 50 a 80% da produção global de alimentos, mas possuem menos de 10% das terras do mundo.

O Dia Internacional da Mulher vem lembrar-nos destas e de outras disparidades persistentes, mas também destacar a importância de se apoiar quem abre caminho, figuras de renome e heroínas desconhecidas, em objetivos que dizem respeito a todos.

Se é verdade que os exemplos no feminino em posições de destaque se vão multiplicando, também se verifica que o potencial trazido pela diversidade persiste bastante irrealizado. Nas últimas décadas observámos um progresso significativo na luta pela igualdade de género, mas ainda há muito caminho por realizar: de acordo com o último Relatório Global de Desigualdade de Género do Fórum Económico Global, ainda serão necessários 132 anos para se poder atingir a paridade total; e a pandemia veio atrasar os progressos já alcançados em mais de 30 anos.

“Duas cabeças pensam melhor do que uma”, sugere-nos, e bem, o ditado popular. Num ambiente empresarial fortemente competitivo, diversificar perspetivas e perceções é meio caminho andado para garantir soluções mais criativas e eficazes para todo o tipo de desafios, assim como para responder a oportunidades progressivamente mais exigentes. Efetivamente, diversos estudos têm vindo a provar que as mulheres são boas para os negócios, mostrando que os lucros da empresa e o desempenho em bolsa podem ser cerca de 50% mais elevados quando há uma maior representação das mulheres em posições de liderança. Mas o seu impacto vai mais além dos fatores puramente financeiros: as mulheres líderes são mais ativas na promoção do bem-estar dos colaboradores e da Diversidade e Inclusão no local de trabalho, fatores que contribuem para aumentar a satisfação e o compromisso das suas equipas. São, também, mais propensas a apoiar e oferecer mentoria a outras mulheres, atuando assim como elemento acelerador da equidade de género nas empresas.

É cada vez mais evidente que a sub-representação das mulheres priva as empresas de competências, liderança e recursos muito necessários. E, embora o progresso incremental ainda seja progresso, não é suficiente e precisamos de uma maior participação dos empregadores para intensificar a mudança e fazer a diferença.

Dados do estudo do ManpowerGroup, “The New Human Age”, mostram-nos que embora as mulheres estejam a regressar ao local de trabalho, os seus níveis de stress são elevados e muitas sofrem de burnout – com 67% a desejar que o seu gestor compreendesse melhor o impacto do trabalho no seu bem-estar mental e o peso das responsabilidades de cuidado que têm em casa.

Por outro lado, e apesar de elementos como a formação e desenvolvimento (procurada por 67% das mulheres) e o regresso aos escritórios para um trabalho mais colaborativo (valorizada por 4 em 10) continuarem a ser relevantes, a pandemia e as subsequentes crises económicas e sociais têm aumentado a importância dos elementos de segurança nas prioridades das trabalhadoras. Um quarto das mulheres (25%) tem dúvidas quanto a mudar de emprego neste momento, devido à incerteza económica, e 1 em cada 3 mulheres acredita que o atual clima económico é uma ameaça direta ao seu emprego.

Em face deste cenário, o Dia Internacional da Mulher deve ajudar-nos a refletir e a promover um ambiente de trabalho que apoie a autonomia das mulheres, o equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar e o bem-estar mental. Porque a equidade de género não é apenas uma questão de mulheres; é uma questão de desenvolvimento humano.

Não tenhamos dúvidas: oportunidades equitativas alicerçam comunidades, organizações e países mais prósperos. Determinante para a justiça social, a diversidade alarga as audiências, incentiva bons desempenhos e favorece retornos positivos. Se o poder da ligação humana – o vínculo que se forma entre pessoas quando se sentem reconhecidas e valorizadas – continuar a fazer a diferença num mundo cada vez mais dominado por máquinas, a diversidade, a equidade e a integração terão espaço para florescer.

  • Daniela Castelbranco
  • Diretora de marketing e comunicação do ManpowerGroup

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