O investimento empresarial e o (nosso) crescimento
Qual foi a evolução e os determinantes do investimento das empresas? O livro ‘Investimento Empresarial e o Crescimento da Economia Portuguesa’ analisa o que foi feito e o que temos de fazer.
O livro ‘Investimento Empresarial e o Crescimento da Economia Portuguesa’, realizado para a Fundação Calouste Gulbenkian por iniciativa da Presidência da República, por investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Coimbra, analisou a evolução e os determinantes do investimento das empresas numa perspetiva longa. A entrada no século XXI coincidiu com a entrada num regime de baixo crescimento, que se prolongou até aos dias de hoje.
A paragem no crescimento da economia portuguesa seguiu-se a um período de taxas de investimento muito elevadas – próximas dos 30% do PIB no final da década de 90 -, o que sugere que mais do que um problema de reduzido investimento, tivemos mau investimento. De facto, o crescimento dos anos 80 e 90 foi alimentado pelo crescimento dos sectores não transacionáveis, sectores protegidos da concorrência internacional e com baixo potencial de crescimento da produtividade. Em certa medida, este crescimento foi natural dada a fase desenvolvimento em que nos encontrávamos: desenvolvimento do Estado Social, urbanização, construção de infraestruturas.
No século XXI, insistimos no modelo de desenvolvimento das décadas passadas, o que pode vir a ficar na história como um erro estratégico de grandes proporções.
Entretanto, a mudança do mundo acelerou com a revolução das tecnologias de informação e comunicação, com o aprofundamento da globalização económica e financeira, a criação do euro, o alargamento a Leste da União Europeia, a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, entre outras alterações. Estas mudanças criaram novas oportunidades de desenvolvimento que não soubemos aproveitar. No século XXI, insistimos no modelo de desenvolvimento das décadas passadas, o que pode vir a ficar na história como um erro estratégico de grandes proporções.
Aumentar o produto potencial da economia e retomar o processo de convergência para os níveis de rendimento dos países mais ricos implica dirigir os recursos (hoje mais escassos) para os sectores transacionáveis com maior potencial de crescimento da produtividade. A entrada num novo ciclo virtuoso passa pelo aproveitamento das oportunidades criadas pela revolução tecnológica em curso e pelas mudanças na natureza da globalização.
Para além de medidas que reforcem a confiança dos investidores na sustentabilidade das finanças públicas e que possibilitem melhorias na competitividade fiscal, a qualificação dos recursos humanos, que responda às necessidades da nova economia, é o elemento chave para a atração de investimento produtivo. Todavia, também a atração de recursos humanos e a sua fixação é dificuldades pela elevada tributação dos rendimentos do trabalho, quando comparada com países como a Espanha ou a França.
Apesar da melhoria na condição financeira das empresas nos últimos anos, o elevado endividamento constitui um entrave à realização de investimento. No entanto, os nossos resultados sugerem igualmente que a dimensão do fenómeno das empresas zombie – empresas que não conseguem cumprir as suas obrigações financeiras, mas que se mantêm vivas com o apoio dos bancos – afeta uma parte muito significativa das empresas, reforçando a ideia de que o setor financeiro teve e tem um problema na afetação do crédito.
Esse problema reflete-se no baixo crescimento da economia portuguesa, dado que essas empresas representam uma afetação ineficiente dos recursos e, por outro lado, distorcem a concorrência. O prolongamento artificial da vida de empresas inviáveis pelos bancos constitui mais um obstáculo à necessária transformação estrutural da economia. É, por isso, urgente que o sector financeiro identifique de entre as empresas zombie as que são viáveis e as que são inviáveis.
Por outro lado, a transformação estrutural necessária ao aumento do produto potencial requer que os recursos financeiros sejam afetados aos setores e às empresas mais dinâmicos. Numa economia com baixas taxas de crescimento do produto potencial e com uma dinâmica demográfica negativa, o crescimento das empresas terá necessariamente de assentar nos mercados externos.
De facto, na análise que fazemos às características das empresas mais dinâmicas, destacam-se as empresas exportadoras. De entre estas, salientam-se as empresas que pertencem ao setor da indústria transformadora e que investem em I&D. Se o investimento fluir para projetos produtivos com estas características, a alteração estrutural da economia terá lugar e a economia poderá voltar a apresentar taxas de crescimento elevadas. Para que tal aconteça, as políticas públicas e as políticas de atribuição de crédito têm de estar orientadas para os sectores mais dinâmicos e com maior potencial de crescimento.
Há um aspeto que nos parece ser essencial para o futuro próximo do país: o suporte à permanência de Portugal na área do euro.
Finalmente, ainda relativamente ao enquadramento institucional, há um aspeto que nos parece ser essencial para o futuro próximo do país: o suporte à permanência de Portugal na área do euro. O suporte (popular, partidário e internacional, nomeadamente do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia) à permanência de Portugal na área do euro constituirá para os investidores uma condição indispensável para a realização de investimentos significativos em Portugal. Sem esse suporte, o investimento em Portugal teria diminuído ainda mais do que aconteceu nos últimos anos. Assim, é no contexto da pertença à área do euro, com as restrições e oportunidades que ela propicia, que as medidas para estimular o investimento e o crescimento devem ser propostas.
Nota: Por opção próprio, o autor escreve de acordo com a grafia antiga
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