
Os prémios de reconhecimento que só chegam a alguns
A máquina que se encontra por trás destes prémios é pesada e não é acessível a todos, muito menos aos que praticam uma advocacia isolada ou em pequenos escritórios.
Há um período no ano no qual o LinkedIn se enche de inúmeros “congratulations” dirigidos a advogados e sociedades de advogados, por terem alcançado o tão desejado prémio de reconhecimento num dos muitos diretórios que anualmente assinalam o mérito de assessorias realizadas.
São inúmeros os diretórios existentes, uns mais credíveis, nos quais fará mais sentido apostar, outros que se alimentam de contrapartidas comerciais, nos quais apostam os que não conhecem tão bem o sector da advocacia.
Sem desprimor para os premiados, até porque tenho a sorte de fazer parte desse número, acabo sempre a pensar na (in)justiça que os mesmos podem representar.
A máquina que se encontra por trás destes prémios é pesada e não é acessível a todos, muito menos aos que praticam uma advocacia isolada ou em pequenos escritórios, e que por isso mesmo nunca verão o seu mérito reconhecido, seja por via da opinião dos clientes seja por via das transações realizadas com o seu contributo.
Para que se apresente candidatura a um destes diretórios é preciso investir dinheiro numa assessoria especializada, que sabe quais são as transações valorizadas pelos mesmos. E nem todos se podem dar a esse luxo.
Acresce que os clientes ouvidos para classificar o advogado e a sociedade, são referenciados pela própria, e que se saiba, nunca referenciaram um cliente de uma transação que tenha corrido menos bem. Contudo, e haja justiça, é também sabido que estes inquéritos são anónimos, os clientes nem sempre são simpáticos como os advogados presumem, e menos ainda o são os seus “pares” quando ouvidos pelos ditos diretórios. O sector é competitivo, o ego é grande! Todos são os melhores.
Pergunto eu: Não seria mais imparcial a atribuição de prémios independentemente do número de transações e ações judiciais ou valores envolvidos? Mas como seria? Prémios não são a contrapartida do mérito?
São, e é isso que na maior parte dos casos é esquecido. Primeiro porque muitos não têm a possibilidade de poder dispor de uma assessoria especializada em candidaturas a diretórios, depois porque muitos de nós não têm acesso a transações de valores elevados, não significando isso que as nossas qualidades não possam ser reconhecidas. A questão é, como se poderia realizar esse processo num país pequeno como o nosso, em que o mundo da advocacia empresarial é competitivo, e vive num mundo à parte da advocacia individual.
Não é preciso dizer que a maior parte dos advogados, já para não falar das sociedades de advogados, que alcançam prémios, são necessariamente os que atingem a maior fatia de faturação no mercado nacional, ou seja os que têm acesso às grandes transações e aos “grandes” clientes.
E são estes, sempre os mesmos, que investem o que podem para angariar prémios e com isso clientela, numa soma que se traduz em mais faturação. Aliás, há muito advogado que recebe o prémio devido à notoriedade da sociedade em que está inserido, e não pelo seu especial mérito.
E os clientes esses, acham que é o prémio que lhes dá o selo da qualidade na prestação do serviço, pagando honorários por vezes absurdos, quando um advogado igualmente bom, sem prémio, faria o mesmo serviço de excelência por menos de metade do valor cobrado.
Que fique claro que não sou contra os prémios, embora não defenda a obsessão pelos mesmos, até porque acho que são fator de atração de clientes para as sociedades de advogados e motivação pessoal para os seus advogados.
Mas a todos aqueles que não os recebem, fica uma palavra de reconhecimento do mérito pelo trabalho de qualidade que todos os dias, nas pequenas transações, demonstram e nos fazem ter a certeza de que os prémios são sinónimo de faturação e deixam de fora tantos de nós.
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