Os títulos não fazem os líderes
A realidade é ambígua, complexa e para tal, é preciso deixar cair certos padrões que não servem mais e não nos levam a lado nenhum.
Perante um cenário de transformações que vivemos no momento atual, com mudanças ao nível do comportamento humano nas sociedades e nas organizações, o papel do líder é o que mais se destaca, numa procura de estabilidade que tanto se anseia.
Aqueles que consideravam a liderança como uma função apenas destinada a alguns, veem agora que ela está refletida em comportamentos e atitudes, e que qualquer pessoa a pode exercer. Nessa perspetiva, as atitudes que uma pessoa toma, pode levar os outros a considerarem-na um líder.
Rompemos o paradigma de que a liderança está ligada a um título e com ele veio uma nova liderança, sem género, sem idade, mais conectada, mais ligada a valores e ao exemplo.
Esta reflexão, leva-nos a uma pergunta: quais são as atitudes e os comportamentos que caracterizam o líder do futuro?
Ser um líder de si próprio
Sendo a liderança um processo de influência, o exemplo tem de partir do próprio. Se o líder defende a ideia de uma liderança mais próxima, ele tem de ser o exemplo na proximidade ao outro. Se defende a ideia de uma forma de trabalhar mais cooperativa, ele tem de promover mais a cooperação entre todos. Tem de ser coerente entre aquilo que diz e o que faz, caso contrário nunca será visto como um líder.
Ter maturidade emocional
A liderança no futuro estará cada vez mais ligada à capacidade do líder se colocar no lugar do outro, ouvi-lo, perceber as suas necessidades, perceber de que forma pode ajudar os outros. Se o líder ainda não tem maturidade emocional, se ainda se debate com as suas inseguranças quanto à possibilidade de alguém lhe tirar o lugar, então não tem capacidade para liderar ninguém. Os desafios no futuro serão cada vez maiores para todos. A realidade é ambígua, complexa e para tal, é preciso deixar cair certos padrões que não servem mais e não nos levam a lado nenhum.
Saber planear e organizar
Num mundo que tende cada vez mais a ser rápido em todos os aspetos, é preciso aprender a navegar em águas turbulentas e ainda assim, vencer os obstáculos e alcançar os objetivos. Para isso, não se pode ignorar a importância de saber gerir bem o tempo que se tem, para se conseguir fazer mais, com menos tempo, pois a nossa atenção está cada vez mais dividida entre executar tarefas e responder a notificações.
Saber tomar decisões
No futuro (que já começou), o líder deve ser capaz de tomar decisões rápidas e eficazes que o próprio ambiente lhe pede, isso leva-o à capacidade de saber agir em ambientes incertos, sabendo que por vezes pode tomar uma má decisão, fruto de lhe faltar toda a informação necessária, mas pior que uma má decisão, pode ser não tomar decisão nenhuma. Decisões são escolhas, que nos levam ao sucesso ou ao fracasso. É preciso tirar as aprendizagens que decorrem daí.
Saber comunicar
Muitos pensam que para comunicar bem, basta falar o mesmo idioma, mas está longe de ser apenas isso. Comunicação é a arte de ser entendido e, como tal, requer habilidades ao nível da escuta, da linguagem adequada e da construção da mensagem de forma assertiva. Um líder no futuro tem de ter a capacidade de saber chegar às pessoas através da forma como se comunica com elas. Isso requer, atenção, paciência, perspicácia e capacidade de adaptação. Saber lidar com a diversidade, respeitando as diferenças e conseguindo trazer ao de cima o melhor de cada pessoa.
Estamos a dar os primeiros passos numa mudança de paradigma e como tal, a visão ainda pode ser turbulenta, mas é preciso que nos antecipemos às inúmeras possibilidades que o futuro nos reserva. Um líder nunca saberá todas as respostas, mas essa é beleza da vida. Cabe a cada um dar o seu melhor naquilo que faz, sempre contemplando o bem-estar do outro.
É isso que faz um líder e não um título.
*Anabela Chastre é consultora e presidente da Cimeira Lusófona de Liderança
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