Pais e filhos no Instagram
A rede social lançou novas ferramentas de controlo parental. Importa entender o que podem fazer, mas também quais as suas limitações.
Foi preciso um abanão dos mercados para o Facebook levar um pouco mais a sério a segurança dos seus utilizadores. Esta semana, o grupo anunciou um conjunto de recursos que dão aos pais algum controlo parental sobre os filhos no Instagram.
Já lá iremos. Para já, importa dizer que desde meados de setembro até este mês, o Facebook perdeu metade do seu valor. Na bolsa não existem coincidências: foi em setembro que uma ex-trabalhadora do Facebook tornou públicos milhares de documentos reveladores sobre a empresa. Deve recordar-se: o seu nome é Frances Haugen.
Mas insisto e repito – desde a polémica fuga de informação protagonizada por Frances Haugen, o valor do Facebook caiu para metade, fixando-se em torno dos 550 mil milhões de dólares. Significa que, em apenas seis meses, o Facebook perdeu praticamente 500 mil milhões (em números redondos), o equivalente a mais de 60 Galps. Não esquecer que, em junho passado, chegou a dar cartas no campeonato dos biliões.
Não é só a perda astronómica de valor que está em causa. Durante esse semestre, Mark Zuckerberg mudou por completo o foco da companhia, transformando um conglomerado de redes sociais num grupo que quer ser a referência quando se fala do “metaverso”, um conceito de universo paralelo virtual, onde se pode conviver e até trabalhar.
A decisão não terá sido pacífica internamente, escrevem os jornais internacionais. Mas para sinalizar que é uma aposta séria, o fundador mudou o nome do grupo para Meta no passado mês de outubro.
Voltemos então ao Instagram. Num comunicado, Adam Mosseri, chefe da plataforma, deu a conhecer o trabalho que está a ser feito no campo do controlo parental. É relevante porque a rede social tem um público muito novo e, apesar de restringir o acesso a menores de 13 anos, o bloqueio é relativamente fácil de se contornar – e com frequência.
Ao longo das próximas semanas, a Meta vai lançar o Centro Familiar, plataforma onde agregará essas ferramentas, que terá também conteúdos didáticos para os encarregados de educação.
Não, o Instagram não vai deixar os pais vasculharem na conta dos filhos. Mas estes vão poder saber quanto tempo os filhos passam ao telemóvel, assim como ver quem os segue e quem os filhos escolhem seguir. Além disso, se o menor reportar alguém por abuso, os pais são informados através de uma notificação.
Nesta fase, para se iniciar a supervisão, o menor tem de dar consentimento na aplicação. A empresa planeia também lançar brevemente alguns recursos adicionais, como a possibilidade de os pais definirem em que janela horária é que os filhos podem usar o Instagram.
Para uma melhor informação dos adultos, é também importante esclarecer o que é que estas ferramentas não são capazes de fazer. Por um lado, não têm como abranger contas secundárias que os filhos possam ter criado no Instagram. De resto, outra prática comum conhecida por “finsta” (de fake e insta).
Por outro, e talvez o mais importante, não fazem nada para resolver o enorme problema que tem o Instagram: o impacto negativo na saúde mental dos adolescentes, sobretudo pelo agravamento de doenças como a depressão, e principalmente nas raparigas.
Essa foi uma das revelações dos documentos de Frances Haugen. Espero que o Facebook seja mais proativo. Não é razoável ter de esperar até que desvalorize os restantes 50%.
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