Pessoas inteligentes valorizam mulheres

“Acredito que, se tivéssemos um mundo onde a participação das mulheres no topo das decisões políticas fosse mais observada, provavelmente teríamos um mundo melhor, com menos guerras, menos exibicionismos alfa a conduzirem muitas vezes a crises e guerras.”

Esta frase foi retirada de uma entrevista com o presidente do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD Portugal), António Pires de Lima, publicada no ECO/Capital Verde.

O responsável por esta organização, que tem por missão ajudar as empresas a serem mais sustentáveis, fez esta afirmação no contexto da apresentação de um estudo promovido pelo BCSD, o qual deteta ainda um grande hiato entre homens e mulheres no meio empresarial português.

De acordo com o estudo, em 2023, as mulheres são menos promovidas e, sem grandes surpresas, acabam a ganhar menores salários para as mesmas funções. Infelizmente, não é mesmo novidade, apenas uma confirmação da realidade que já conhecemos e que é avaliada (com nota negativa) com relativa frequência, no que toca a este tipo de discriminação.

O que continua a surpreender é a falta de inteligência que está implícita nestas escolhas. Está mais do que documentado, tanto em estudos como por experiência, que as melhores decisões são aquelas que são tomadas por um grupo com diferentes mais-valias, um grupo que tenha uma visão mais alargada e sensibilidades diferentes. É sabido que as mulheres acrescentam, tanto neste sentido como, simplesmente, pela competência — que sim, temos muita.

Se os “velhos hábitos” se sobrepõem a isto, não posso deixar de assinalar que, quem os segue em vez de tirar partido deste “recurso” humano valioso, tem visão curta, ou por outras palavras, falta de visão. É olhar a pequenos interesses em vez de procurar algo maior, que valha realmente a pena. Uma pena. É que o resultado final destas escolhas não afetará só as mulheres, pelo contrário.

Se a inteligência, a capacidade de raciocinar e assim contrariar vícios, não se sobrepõe e não é usada para quebrar caixas e pensar fora delas, aparece então como insuficiente. E assim perdem-se oportunidades, sobretudo de se avançar mais rápido e melhor.

Que o digam as Nações Unidas, que conseguem apontar pelo menos cinco razões pelas quais as mulheres são necessárias no combate às alterações climáticas. “O que é necessário é que os países sejam proativos em como procuram atingir a paridade de género em papéis de decisão locais, nacionais e internacionais, no que à política climática diz respeito”, escreve a organização.

Este caminho é feito de muitas formas. Já temos as leis da paridade de género — sim, comecei por ficar ofendida com esta medida, porque acredito no mérito, mas já percebi que é das poucas formas rápidas e eficazes que há disponíveis. Há também políticas de parentalidade que podem reduzir o impacto na carreira de apenas um dos pais, geralmente, a mãe. Mas se, como António Pires de Lima referiu, o problema é também em grande medida cultural, pequenas alterações no dia a dia de trabalho podem fazer a diferença. Basta exercitar a autocrítica e praticar a mesma consideração por todos os colegas e superiores, sejam eles homem ou mulher.

É tudo uma questão de governança — boa, ou má — e que vai dar azo a resultados — melhores, ou piores — desde o pequeno negócio até às grandes empresas e ao governo do país.