Empresas portuguesas promovem menos mulheres, que ganham menos do que os homens
Na direção executiva das empresas portuguesas, por cada euro que é pago a um homem, uma mulher aufere apenas 89 cêntimos, diz um estudo do BCSD.
As empresas portuguesas ainda têm de “pedalar” para dar resposta ao problema da desigualdade de género. Quanto mais alto o cargo, menor é a prevalência de mulheres, que, ao longo da carreira, são menos promovidas do que os homens. Os salários “delas” também ficam aquém.
Estas são algumas das conclusões preliminares do estudo “Diversidade, Equidade e Inclusão no meio empresarial português”, apresentado pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD Portugal) e elaborado em parceria com a consultora Ernst & Young (EY).
No estudo lê-se que nos processos de promoções internas a representação do género feminino é significativamente mais baixa, de 33,7%, em espelho com o 66,3% correspondente aos homens. “Portanto, as mulheres são discriminadas nas promoções. E têm qualificações iguais aos homens”, avalia António Pires de Lima, presidente do BCSD, em declarações ao ECO/Capital Verde.
“Naturalmente, se são menos promovidas, chegam a funções diretivas ou de administração menos mulheres do que homens”, continua o líder do BCSD. E de facto o estudo aponta que, no nível hierárquico mais baixo, “administrativos e operacionais”, o peso se distribui de forma quase igual pelos dois géneros, e no seguinte também. Mas, chegado ao nível de “Gestão e coordenação” os homens passam a clara maioria (66,1%), e, chegado ao patamar da direção executiva, o balanço é de 72,7% homens, face a 27,3% de mulheres.
Em paralelo verifica-se ainda que o género masculino tende a auferir um rendimento mais alto do que o género feminino. Esta diferença acentua-se na Direção Executiva. Nestes cargos, por cada euro que é pago a um homem, uma mulher aufere apenas 89 cêntimos. Há um hiato entre os salários dos homens e o das mulheres, beneficiando os homens, que fica entre os 5% e os 20%, dependendo da função.
Quais as razões? O BCSD irá aprofundar essa análise no futuro, mas um dos fatores que é reconhecido como tendo influência é a maternidade. “A maternidade, de uma forma geral, acaba por ser um fator, às vezes um pretexto, para as mulheres ficarem para trás em termos de carreira profissional”, reconhece o presidente do BCSD, para depois sublinhar: “As sociedades mais competitivas, com melhores empresas e melhor governação são aquelas que ultrapassaram este tema, nomeadamente as sociedades do norte da Europa escandinava”.
"Se calhar há muitos preconceitos ainda culturais vigentes na sociedade portuguesa que levam a que o mundo dos homens escolha mais homens.”
No entanto, este pode não ser o único fator. O presidente do BCSD acrescenta que “se calhar há muitos preconceitos ainda culturais vigentes na sociedade portuguesa que levam a que o mundo dos homens escolha mais homens”.
Este estudo contou com uma amostra de 73 empresas, das quais metade são grandes empresas, 20% médias empresas e 16,4% pequenas empresas. Os restantes 12,3% dos inquiridos são microempresas. A maioria localiza-se em Lisboa e, dos respetivos 96.757 trabalhadores, 46,1% é do género feminino. Contribuíram para as conclusões 1.376 trabalhadores.
"As empresas mais competitivas são as empresas onde a paridade de género, a diversidade e a inclusão são mais respeitadas.”
Feito este “diagnóstico” inicial, o próximo passo, indica Pires de Lima, é partilhá-lo com os membros do BCSD. A partir de dezembro haverá condições para definir prioridades de atuação para os associados, para que o possam trabalhar nos próximos anos.
E porque é que este caminho importa para as empresas? “Eu acredito genuinamente, por experiência própria, que conselhos de administração onde a paridade é mais respeitada são conselhos de administração mais competentes. As empresas mais competitivas são as empresas onde a paridade de género, a diversidade e a inclusão são mais respeitadas“, justifica António Pires de Lima.
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