Rajoy, “el asesino impasible”

Mariano Rajoy prestou juramento na Zarzuela. Cinco anos depois, tudo é diferente, menos Rajoy, que resistiu e voltou a ganhar eleições.

Depois de mais de 300 dias de bloqueio institucional, Mariano Rajoy tomou posse como presidente do XII governo de Espanha. Este homem, que teve que aplicar cortes sociais e aumentar a pressão fiscal como poucos, que se viu salpicado por casos de corrupção de pessoas próximas como o ex-tesoureiro do Partido Popular (PP), Luis Bárcenas, que ostenta a duvidosa honra de comandar o primeiro partido da democracia – o PP – imputado pelos juízes, que foi criticado pela sua inação e a quem muitos colunistas conservadores e progressistas davam por condenado, este homem volta a assumir o mais alto cargo do Executivo espanhol.

Não só não conseguiram tirá-lo do cargo, como todos os que tentaram afastá-lo foram embora do partido ou continuam forasteiros, acabaram no charco. Nos artigos publicados sobre a investidura, chamam-lhe ‘el asesino impasible’ [o assassino imperturbável]’. Numa fotografia desta semana, em que aparecia a prestar juramento no Palácio da Zarzuela, a residência do monarca espanhol, Felipe VI, tudo era diferente em relação ao mesmo juramento de há cinco anos.

O ambiente, os personagens, até o Rei é diferente. Há cinco anos, estava D. Juan Carlos e agora esteve D. Felipe. Só Rajoy se manteve. Tinha um ar esotérico, como se fosse imortal. E como é possível que este candidato conservador, com quem ninguém estava há apenas dois anos, tenha levado a sua avante? A resposta é simples: não tinha ninguém à sua frente.

Os dois partidos rivais progressistas, os socialistas do PSOE e a esquerda mais radical do Podemos, o primeiro e o segundo grupo em termos de importância no Parlamento, respetivamente, estão desaparecidos numa profunda divisão interna e demonstraram debilidades e pouca consistência nas suas respetivas lideranças.

Especialmente o PSOE, que afastou há escassos dias o seu secretário-geral, Pedro Sánchez, numa espécie de ‘golpe de coronéis’, para desbloquear a situação política e facilitar desta forma o governo de Mariano Rajoy.

É precisamente por causa desta fragilidade que Rajoy chega ao poder, apoiado pelos seus rivais mais diretos, é também por isso que muitos pensam que o Governo que acaba de arrancar será instável e efémero.

Assim, a questão agora não é tanto a tomada de posse de Rajoy, que se consumou, mas como se governa um país com apenas 137 deputados (são necessários 176 para a maioria absoluta) e com alguns membros do Partido Popular a ‘circularem’ pelos tribunais. Foi precisamente este problema que se viu nas últimas semanas, com o PP a perder todas as iniciativas levadas ao Congresso, graças aos votos contra do PSOE e do Podemos.

Para resolver o dilema, Rajoy traçou um mapa com o objetivo de poder chegar ao fim da legislatura de quatro anos. Alguns não acreditam nele. Também não acreditaram na última, que durou cinco, um ano mais do que o legalmente previsto.

Com o objetivo de blindar o Governo, o PP vai recorrer a um leque de vazios legais. Uma das principais armas será o Tribunal Constitucional. O Executivo do PP planeia recorrer à máxima instância judicial espanhola para que o Congresso respeite o seu direito de veto nos projetos de lei que a oposição possa elaborar contra o governo e que suponham um aumento de despesa pública ou uma diminuição da receita orçamental, que iriam contra os compromissos de redução do défice combinados com a União Europeia.

Além disso, o PP está consciente de que o PSOE não pode ultrapassar determinados limites nas críticas a Rajoy. Os socialistas precisam de tempo para curar as feridas internas. Não só apenas uns meses, mas bastante mais. Se esticarem demasiado a corda, correm o risco de quebrar um Executivo recém-nomeado e forçar eleições gerais para as quais não estão preparados.

Comícios precipitados trariam militância e agravariam a profunda divisão interna. É por isso que os populares se mostram confiantes em tirar partido dos orçamentos e de determinadas reformas brancas, para acalmar a ira de Bruxelas. Se a oposição bloquear as contas do Estado, haveria novas eleições em maio e os partidos de esquerda teriam de enfrentar novamente os seus demónios.

Ora, isso seria mau para todas os partidos… exceto para Rajoy, que já demonstrou ser capaz de ter o maior número de deputados no Congresso. Os espanhóis deixaram claro na legislatura que acaba de começar: a economia é mais importante do que a corrupção. E Rajoy demonstrou ser um bom gestor de dinheiros públicos.

Diretor do El Confidencial (www.elconfidencial.com)

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