Responsabilidade social corporativa 5.0. em tempos de crise
Procurando que as nossas pessoas tivessem as condições necessárias para manter alguma “normalidade” no seu quotidiano, a necessária tecnologia foi adquirida, reutilizada, adaptada.
Comecei a escrever este breve texto na qualidade de profissional de recursos humanos.
No entanto, após dois rascunhos, achei que seria pertinente complementar a abordagem técnica empresarial sobre os desafios de gestão atual com uma partilha mais pessoal, pois todos nós, que temos responsabilidades corporativas, vivemos nessa espécie de sandwich diária que nos conduz, estou em crer que na maior parte das vezes, a decisões mais ajustadas perante os desafios que enfrentamos.
Esta realidade é ainda mais verdadeira quando essa responsabilidade é para com os colaboradores da empresa, os nossos colegas.
O atual contexto pandémico veio ensombrar o presente e gerar inquietude em relação ao futuro, surpreendendo-nos com problemas complexos que implicam, não raras vezes, disrupção no status quo vigente no nosso tecido empresarial, “a frio”, sem pré-aviso passível de um ajustamento adequado.
De um dia para o outro, tivemos de dar respostas urgentes a exigências críticas no âmbito da Segurança e Saúde no Trabalho, da garantia da atividade funcional e da continuidade do negócio.
Procurando que as nossas pessoas tivessem as condições necessárias para manter alguma “normalidade” no seu quotidiano, a necessária tecnologia foi adquirida, reutilizada, adaptada, possibilitando o teletrabalho a uma velocidade avassaladora e diria que sem precedentes. Até, em alguns casos, tivemos o cuidado de partilhar boas práticas sobre esta situação de home-office, procurando dar dicas sobre worklife balance, ergonomia, entre outras temáticas.
Mas, neste momento, em que a resposta imediata à crise até correu bem, o meu foco está no amanhã, nas situações pós-traumáticas que ainda agora estão a ter as primeiras manifestações e isso preocupa-me…
Se houve altura na minha vida em que me questionei, em que tive que pensar sobre o que estava a fazer, como o estava a fazer e com que propósito, este é o tempo em que urge… repensar, redefinir as prioridades e as estratégias, planeando apenas a curto prazo, pois o que aí vem é incerto e as variáveis desconhecidas ou, pelo menos, não controláveis…
Ainda não consegui ter um quadro conceptual e operacional perfeitamente limpo, resultante deste processo reflexivo contínuo, e acredito que felizmente, pois as certezas, nestes tempos de crise, são perigosas e enganadoras, toldam a visão… mas tenho a certeza que o que quero garantir, enquanto profissional de Recursos Humanos, e que simultaneamente quero ter presente, na qualidade de colaboradora, é o sentimento de que impera, sobretudo, uma preocupação com a singularidade, com o fator humano constatável na diversidade corporativa e que potencia os resultados e o bem-comum.
Os valores corporativos, que tanto publicitamos nas várias plataformas de comunicação das empresas, têm que ser experienciados, vividos, como nunca… acredito que será essa a “luz ao fundo do túnel” para todos nós, enquanto profissionais.
O sentimento de pertença, a união, a entreajuda, a solidariedade, entre tantas outras variáveis que orientam a cultura da empresa, devem e têm que ser relembrados hoje, agora e sempre, mais do que nunca.
Todos nós temos receios naturais decorrentes da instabilidade, da incerteza que paira, e todos nós precisamos de alento para continuar a procurar fazer melhor, mobilizando o nosso potencial e determinação e, por isso, quando pensamos no quadro de desafios a curto prazo, temos que considerar, inquestionavelmente, o bem-estar das nossas pessoas.
Se a Responsabilidade Social Corporativa já fazia todo o sentido, no atual contexto, paralelamente à sustentabilidade do negócio, deve ser central no quadro de preocupações da gestão.
A missão passou a ser garantir que as nossas pessoas se sentem parte viva da empresa, verdadeiros players estratégicos, que são vistas e entendidas como profissionais, mas sobretudo como seres humanos, respeitando todas as suas especificidades, salientando e fomentando o que de melhor têm, mas, fundamentalmente, auxiliando a ultrapassar eventuais fragilidades, suas ou dos seus.
No paradigma da sociedade 5.0 refere-se o retorno à Humanização… e vivemos um tempo em que essa centralidade tem que ser assegurada, sendo a tecnologia apenas um instrumento de que dispomos para que o consigamos concretizar.
Esta luta agora iniciada só pode ser vencida se verdadeiramente sentirmos todos os demais como parte integrante da família, em que os sacrifícios fazem sentido, pois têm um propósito maior, o de sermos responsáveis por nós e por todos.
A voz de comando que muitas vezes exigimos ao board, à liderança de topo, tem que vir da nossa alma, do nosso coração, tem que ser ela a guiar-nos, de forma responsável e altruísta, num equilíbrio adaptado entre uma atitude mais disciplinadora e uma mais paternalista… sim, porque todos os dias estão a ser diferentes, e se estamos convictos de que tudo “vai correr bem” – e acreditamos firmemente nisso! – tal dependerá, também, da forma como nos sentimos enquanto pessoas, equipa e empresa.
*Carla Caracol é membro da direção da APG.
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